story:tell:her

31.12.05

2006 rules



Ou, como redisse uma amiga, rule 2006.

30.12.05

all about me



Calço 37, visto 27.
Peso 53 e alturo 1,63.
Serei simétrica?

O pequeno post dos medos



Está na altura de lhe comprar o livro.
Com o role-playing vieram os maus. Ai que medo! Inventa medos e maus e feios e medos dos maus feios. A mamã abraça muito.

29.12.05

Apetecia-me ser estudante. Assim, ter aulas e fazer exames. Sempre gostei dos exames. Apetecia-me estudar numa biblioteca quentinha, escolher o papel e as canetas, fazer apontamentos. Eu comigo, que nos damos tão bem. Gosto da intimidade do estudo, dos livros. De me ensinar, de aprender. Lembro-me da biblioteca do Darwin Building, da cave das revistas, de poder entrar e sair a desoras. Do prazer de encontrar a referência, de querer outra e mais outra e estarem ali. Só nunca gostei das fotocópias, da tinta nos dedos, do cheiro do toner, de escancarar as lombadas. Se eu precisasse de uns óculos queria de massa lilás ou verde. Ontem vi uns óculos tão lindos que quase me desejei míope. Blocos de linhas encostadas, leves, pontas de feltro fina. Não pode fazer barulho, a caneta não pode fazer barulho, não pode pic, pic, pic, picotar-me o ouvido. Os dossiers da Papelaria da Moda, baços.
História de Arte parece-me um bom curso.
Estudar é nada, o sol doira, sem literatura. Não acho.
Ela adora livros. Liga-lhes muito, mexe-lhes muito. Fico tão contente. Tenho saudades de ler mais livros. Há livros tão bonitos.
Acumulo cadernos, espero exames.

28.12.05

Escancarei a porta do bar



Vou tricotar-lhe uma gola, não achas?

27.12.05

D'este viver aqui neste post descripto


Noventa e seis meses de nós e de todas as coisas que são nossas.

26.12.05

(Black and) White Christmas



Isto este ano não correu muito bem. Não sei, ou sei, mas o espírito não me desceu. Temo que tenha chegado a ser antipática. Contrafiz comida de que não gosto, para que não tenho mão. A miúda sobreviveu a bolachas, queijo, iogurte e fatias douradas. Adora fatias douradas, como eu. Para mim o Natal é o cheiro das fatias douradas. Corto-lhas aos bocadinhos e come sozinha, com garfo. Está tão crescida, fala tanto. Estava cheia do sono que amorteceu no panda. Adorou o panda do avô. E o avô. Mais as frutas, o supermercado e o carrinho do bebé. Tão nova e já tem quatro filhos. Ainda há embrulhos por abrir, vou racionar a coisa durante as tardes de inverno.
Despedimos a família a tempo de resgatar a casa e um bocadinho de sofá. Finalmente sentei-me depois de dois dias, dois anos. Ele comentou que tudo devia ser bissexto.

23.12.05

Wish list



Querido Pai Natal,
O que eu gostava mesmo de receber era um cabelo mais liso.
Ana, (ainda) de caracóis

23, a conta que não se fez

A Mariana estava marcada para 23 no calendário da barriga. Fazia hoje dois anos se há dois anos tivesse nascido hoje. Chegou um mês antes, muito linda e pequenina, o que foi uma grande vantagem porque escorregou melhor de mim e poupou-nos dificuldades comemorativos que duram uma vida. Lembro-me de pensar que tinha engravidado na mesma altura da Maria, certamente com mais gozo, mas equiparada de ciclos com a Maria. Eu e a Maria tivemos barrigas do mesmo tamanho na mesma altura do ano. Ela não deve ter feito a morfológica, pelo que eu vi o meu bebé primeiro.
No primeiro Natal ela estava nas palhinhas e dormiu o tempo todo. No segundo já andava de mota. Amanhã abraçará um panda, sabiamente escolhido pelo avô.
Eu ando há dois Natais a safar-me das couves, mas amanhã tenho-as prometidas.

22.12.05

A mulher que jantou com a amiga

Ontem recuperei-me de saudades acumuladas, de maledicências latentes, de ser a Ana amiga da Patrícia. Ontem, eu comi arroz de pato e ela comeu pataniscas de bacalhau com arroz de feijão na Tasca do Manel, entrincheiradas entre outros, outras conversas, casadas de memórias, segredos, evidências, queixumes e gargalhadas.
Para além da ementa, registo aqui que ela usa o X-Small e calça 36. Tudo o mais serão boatos. Continua bonita, com brilhinhos na cara e manchinhas no coração.
(A)lojámos desnecessidades no Bairro Alto, enquanto desnomeávamos personagens da vidinha com hálito a basílico mastigado no Vertigo. Espreitámos o Bartis com a porta ainda fechada, verificámos que o meu carro ainda não tinha sido rebocado do lugar levemente proibido onde alojei aquela circunstância, que por travessas (literalmente, já não subia pela Pç. da Alegria há que anos) acelerei desde o outro lado da cidade.
Já não se faz o caminho do táxi.
Há anos que fizeram umas pontes.

21.12.05

My name is Time

Just in time
[via pontomedia]

On l'appele le samba

Diz ele.

Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei, como encantado
Ao lado teu

Divulgação imediata

To whom it may concern
(que é como quem diz a todos os desgraçados que tinham sido putativamente convidados para um eventual queijo e vinhos de Natal, hoje, lá em casa)

Por manifesta incapacidade do anfitrião, é com pesar que desconvidamos toda a gente. Não haverá queijo. Não haverá vinho. Não haverá fondue de chocolate. Haverá microorganismos e quiçá produtos fermentados, mas não é de bom tom estar aqui a descrevê-los publicamente.
Note-se que a culpa desta situação não pode ser atribuída à criança, boicotadora de tantas outras ocasiões no passado, mas absolutamente isenta desta responsabilidade, uma vez que levou as suas otites e canções brejeiras para casa dos avós. Todo e qualquer pus sito lá, na morada do convite, deverá ser atribuído ao meu marido. O meu marido é um ranhoso.
Agradecemos a vossa compreensão e desejamos ao ranhoso um rápido restabelecimento, já que há três dias que eu durmo no chão.

20.12.05

O que eu gosto de caleidoscópios. Lembrei-me que gostava de caleidoscópios (também gosto da palavra, é uma palavra bonita, dita e escrita) por causa deste self portrait tuesday.

DeLuxe

Pela hora do almoço, o pappy voltou para casa e enfiou a febre debaixo dos cobertores, o que me deixou com várias criaturas debilitadas e horizontais cá em casa, incluindo as figuras de chocolate que ela tirou da árvore e descascou de manhã. Apanhei-a quando já se preparava para abocanhar um sino e enfiei-lhe uma colherada de actifed. Aposto que é por isto que não vou ter presentes no Natal.
Voltei a trazer bolachas (c)húngaras do Minipreço. São uma versão rasca das Viennese Fancy, mas eu não ando sofisticada, contacto diariamente com ranho verde e compro collants de lã. Metade das bolachas está coberta de chocolate e na versão preço baixo esta manobra culinária é performada sem grande cuidado.
Tendo em conta as secreções que expulsa, a miúda está surpreendentemente bem disposta. Apanhei-a a cantar a versão brejeira do Jingle Bells, aquela do papel de jornal. A escola, para além do contacto com agentes infecciosos, também a prepara para o mundo real. É que se o gagabé não se percebe de imediato, o numfazmaulimpasojonau não deixa dúvidas.
A elegância da minha terça-feira acabou à dentada num McRoyal Deluxe resgatado no drive de Oeiras enquanto eles sorviam a sopa. There are times when a woman has to do what a woman has to do.

Piolhite (actualização)

Otite nos dois ouvidos.
Também, numa cabeça tão pequena parece-me fácil a coisa passar de um lado ao outro.

19.12.05

Piolhite

Adenoidite. Otite. Merdite.
Enfardo Oreos para esquecer.
As borbulhas da cara são reacção ao ranho purulento. Não há condições. Sai-lhe líquido amarelo do ouvido direito. Eu já ouvia tudo torto.
Parece que estamos sempre em reabilitação, a um dia de cada vez. Vou passar a escrever a lápis na agenda. Isso e deixar de fantasiar com uma vida social de qualquer espécie, you stupid woman.

diAgnostica

Tosse. Muita tosse. Umas borbulhas despropositadas na cara. Febre média. Ranho verde. Constipada. Tosse irritativa, constante. Varicela, herpes, alergia, dentes?
Soro. Xaropes.
Esgotaram-se-me as m(a)ezinhas.
Dói, Dói, Trim, Trim 808 24 24 00.
Esta noite começou finalmente a melhorar. Cabeceira levantada. Nebulizamo-nos (dei atrovent, ah pois dei). A mãe, quéo a mãe, xarope de cenoura, colchão da mãe no chão do quarto. Dorme-se bem ali. Doutoramo-nos hoje às oito.

17.12.05

Cold war



Sempre quis ter um palavrão cheio de palavrinhas. Ofereceram este ao pappy e eu já me declarei.

16.12.05

Tempo de vista

Ontem treinámos o olhar.
No jornal aprendi a respeitar as imagens com a mesma estima que reconheço às palavras. Gostei de alguns trabalhos a pares, gostava de explicar porque é que estávamos ali e reconhecer o interesse do serviço biónico. Além de que há fotógrafos mesmo giros.
Se eu tivesse tempo para cursos pedia ao Pai Natal uma máquina nova, só para mim. Como não tenho paradoxo-lhe um relógio.

Pijama party

Ainda me faltam alguns presentes. E presenças, faltam-me sempre presenças. Presenças em sítios destes (fauvismo em Janeiro), assim ou no café/restaurante que parece que abriu na Casa dos Dias d'Água.
Os presentes há anos que me urticam, desgastam. Fico muito contente com os e desmaiada de entusiasmo com uns. Esforço-me sem resultados garantidos, embrulho-me de (in)consciências com os excessos. Gosto de surpresas pequeninas e de receber um pijama. Sim por não, comprei-me um pijama. Gosto de oferecer surpresas e pijamas (que depois não ofereço porque só eu é que devo gostar de receber pijamas). Ela vai ter um pijama, de surpresa. Tudo neste Natal vai ser uma surpresa porque ela não se lembra dos outros natais. Nem de que gosta de fatias douradas.

15.12.05

(heart) Breaking news

Hoje é a festa de Natal na escolinha. Eu sei que ela é pequenina e não vai perceber que há uma festa a que ela não vai, mas a mim custa-me à brava. Quando eu era miúda era muito sensível a estas coisas. Ainda hoje me lembro do teatrinho a que faltei, e onde faria de princesa (de princesa!), porque calhou no dia do exame psicológico a que os meus pais me levaram porque não comia peixe. Houve uma altura em que eu não queria comer peixe, não porque não gostasse, mas porque tinha um medo aterrador das espinhas. Coitados dos meus pais, aquilo devia ser uma grande preocupação. Lembro-me do meu pai me desfiar o peixe toda à minha vista e ainda assim era um demónio. E eu não fiz de princesa. Tive que esperar mais de 15 anos para baloiçar uma saia comprida e rodada. Ela não vai porque não está melhor, porque está pior, porque de noite teve febre e tossiu mais que sei lá e acordou com a cara crocante de ranho. Até me assustei. Tinha uma camada de ranho seco, arrepanhado, como uma máscara. Yuk. Coitadinha. Entalei a manhã com malas e viagens interconcelhias, exilei-a nos avós e só a vejo outra vez amanhã à noite porque hoje vou falar de reportagens. Re-portagens, reporta-gens, repor-tagens... tenho que preparar melhor a aula ou ainda percebem de vez que nunca mais serei a mesma.

14.12.05

Amanhã/o-me

As nossas manhãs são uma dramédia. Quem me dera que fossemos as duas carecas e nunca estivesse frio para collants. Eu não uso, mas aprisiono-lhe as pernas quase sempre. Vale-me o CD das doidas para a distrair.
Tenho cá para mim que as mães de filhos pequenos deviam entrar uma hora mais tarde do que todos.
Solavanco-me com a tosse dela e espero pelo melhor, que é como quem diz que não tenha febre.
Ofereci-me mais dez minutos de atraso para poder vir sentada no comboio e encarreirar um verde musguinho no castanho do gorro. Que agora me parece pequeno.
Baixo os olhos.

13.12.05

Da idade

Reconheço-me madura,

- se me apetece pinto as unhas e depois corto-as rente, que são as minhas melhores mãos
- nos transportes públicos, quando posso sento-me
- já não tenho medo das empregadas das perfumarias
- consigo responder "tu eras um cavalo de corrida" quando alguém diz "e agora?" e manter a face
- cansa-me a contrafacção
- ontem enfrentei um trânsito doentio, consegui estacionar no Rato e, quando depois do exame do pediatra percebi que não tinha fraldas para mudar, dobrei uma de pano e desenrasquei-nos à antiga
- dou três dígitos por umas boas calças
- voltei e quase não conseguia sair; olá Ana, queres vir lanchar connosco?*

*senhoras educadas, assunto sério

Oh-Oh-Oh

Confirma-se. A maioria das vezes ela diz Mãe-Natal e não Pai-Natal.

Hum...

- já percebeu que sou eu que compro tudo cá em casa
- sou eu que vou ao supermercado (agora veste o casaco, põe-se à porta e diz que vai ao supémecado; às vezes também acena e diz já venho, vou ao supémecado)
- acha-me gorda (eu não sou gorda, nem estou gorda... pois não?)
- eu não uso vermelho
- adivinhou que sou eu que vou ficar a arranjar o cabrito até às duas da manhã da véspera
- sou eu que vou fazer o pudim do Abade
- a minha mala é grande
Mas,
- é sempre o pappy que faz os foguinhos na lareira
- foi o pappy que ofereceu o lindo leitor de CDs do Mickey
- ele usa vermelho
- ele, definitivamente, não é gordo
- está bem que também não tem uma voz grossa...
- ele usa chapéu e eu uso boné

Sim por não vou ter mais atenção ao buço.

11.12.05

Improvável



A paleta. Acho que vou seguir para gorro e chamar-lhe mirtilo de nuvem sobre trança.

O sopro do coração



Nisto já nem de ar precisas
Só meras brisas,
Raras
*

Mirtilo sobre seda



A arte contemporânea é um gosto que se adquire, como o abacate ou a beringela. A mim desafia-me, in a good way. Achei a colecção permanente pouca, onde está o resto? Gosto do Rui Chafes, nem por isso de Pedro Costa. Não tenho à vontade com o vídeo, custa-me aquele meio quase fim, que não é cinema nem televisão, que loopa. Quase que prefiro os stills, quase que entro um dia destes no Hotel para ver um trabalho que me impressiona.


O meu underwater love.


Eu, no lago.

Diz-me, espelho meu



Há alguém mais perto de cair no lago do que eu?

Fundações



Tivemos os pés presos às pedras do caminho. Descansámos em dois dias pedonais, preguiçosos. Se não nos tivéssemos perdido a tentar aFundar teria sido perfeito. Lembrem-me para não voltar ao Porto de carro*.

*Salvou-nos a caridade de uma senhora despachada que nos norteou quando já só queríamos era sular, onde "Centro" também não indica o centro, mas nós já sabemos isso.

7.12.05

Pontes espigadas

Amanhã subimos o rectângulo. A menina fica a tomar conta dos avós. Levo o tricô e expectativas sobre o pequeno-almoço. Ela leva a franja cortada. Depois daquele domingo assombrado voltou a ser uma querida (eram os dentes? a barriga? a chuva? a chuva não bate assim). Tenho muita vergonha de me queixar da minha filha, mas não consigo evitar-me. Gosto mais dela do que de pão com manteiga.
Ao fim da tarde fomos ao adro ver as luzes e estavam a montar o presépio. O presépio cá de casa é muito simples, de gesso branco. A ver se trazemos uma bola nova para a árvore. No sábado vamos à Casa e à Fundação. É uma pena não ter tido tempo para temperar o cabelo de canela, ficava bem com o casaco quentinho. Vou tricotar na viagem e talvez acabe o cachecol. Vamos bem, fica bem.

Na Rua da Escola

Ontem fui à Politécnica. Espreitei as obras do Laboratório. Lembrei-me das bancadas tortas onde escorregavam os tubos, onde não se conseguia acertar o menisco, do anfiteatro desergonómico com as poltronas na fila de baixo, das gargalhadas, das mangueiras das condensações a esguicharem por todo o lado. Há 15 anos apinhávamo-nos para as aulas das 8:00 com o Catarino e fugíamos pelas janelas no meio das demonstrações da Higina. Horas a fio no jardim, na Císter. Uma meia de leite e um croissant com creme. Mudaram os empregados todos, não mudaram os croissants. "Não, não pode vir à janela olhar para o jardim", disse-me e eu não quis acreditar. E eu lá voltei para a lâmina molhada do lago. O cheiro da Ginkgo, as folhas de herbário, a cera da Biblioteca. O sol nas escadas, o pêndulo, a formica da cantina. Ontem vi Borboletas a esvoaçar no próximo Outono.

6.12.05

Acknowledging

Foi o primeiro blog que eu li, o blog que me explicou o que era um blog. Continua (a)postado.

5.12.05

Tantrum* verde

Hoje de manhã tossiu umas três vezes e eu quase me desfiz. Passou-lhe, deve ter sido da noite, da chucha, dos engasgos ensonados. Ontem não tinha tosse. Ontem já preenchia os ticks necessários para voltar para o infectário. Estou aqui impaciente, para ver o que sai dali. Choramingou um bocadinho, pois foi, muitos dias fora, muito mimo. Esqueceu-se com a boneca da outra menina. Eu arrastei-me dali, transpirada, chuvida, com o boné enfiado e a expectativa de fora. Não há meio de me deixar de doer a garganta.

*a display of bad temper; "she threw a tantrum", ou o meu fim-de-semana numa palavra.

Manifesto



Hoje é segunda-feira. Think positive.

4.12.05

Arvorados



A nossa árvore foi um presente do casamento, dois dias depois do Natal. É linda. As bolas vieram de muitos sítios e descombinam umas com as outras. Sempre quis ter uma árvore assim, que crescesse connosco, com enfeites que redescobrimos todos os anos. Não aprecio as árvores de revista, combinadas de cores ou temas. A nossa tem todas as cores, como a vidinha. Tem bolas grandes e pequenas e ricas e tortas, oferecidas por nós ou para nós. A nossa árvore é nossa.

m&m



Não sei de onde vem tanta cola. Ele há dias em que não me larga. Puxa-me, exige-me, entope-me dela. Rabuja por tudo. Choraminga por nada. Eu podia não ligar, mas é verdade que me incomoda. Incomoda-me ter uma filha colada às pernas, aos braços, ao pescoço. Será que está doente, que lhe doem os dentes, a barriga? Será demasiado mimo, demasiado colo? Descolo-me como posso, como já não posso.

Teen spirit



Encasaquei-me num sítio improvável. O forro é preto, mas a etiqueta é bonita. Ainda me demorei em curtas metragens, engelhos e misturas de fibras. Firmei-me no plano inicial, fitei o adversário, o moral estava alto, não havia esférico nem onze do outro lado, mas eu concretizei. 1-0 para mim contra mim.
Ainda tentei a Rua do Norte. Cada vez que lá vou prometo-me voltar e não pecar em centros comerciais globalizados. Mas não havia casacos a jeito. Numa das lojas identificaram-me o crachá.
Namorei saias e camisolas. Malas. Piercings. 27,45€ por um ponto negro biónico. Procuro espaços distantes onde ainda sou adolescente.

2.12.05

O meu gabinete tem um ar condicionado que ainda não domino. Tenho as mãos frias. Lá fora continua miserável. Tenho uma baba de melga na testa. Só na minha casa é que ainda devem viver melgas, o que provavelmente ajuda ao argumento de que ainda não é preciso ligar o aquecimento. Sonho com a toalha de banho quentinha. A dela aqueço no radiador. Mãos frias, coração quente, amor ardente. Tirei o verniz vermelho e agora tenho umas marcas rosadas nas bermas das unhas. É mais ou menos como ter raízes no cabelo. Eu não era nada de unhas, mas agora sinto falta daquele carmim no teclado. Parece que me aliviava a pressão do que lá escrevo. Unhas carmim, trabalho pendente, cabeça ausente. Trouxe a camisola nova. É quentinha. Penso no casaco. Está-se mesmo a ver que não vou gostar de nenhum. Queria preto, por cima do joelho, cintado. E o forro, aposto que não vai haver forro de jeito. Deu-me para o preto. Eu, que não era de preto. Mas fica bem com as unhas. E com o batôn 155 da Biotherm, que não encontro em lado nenhum, só vi a amostra. Devia ter trazido a amostra. Estava nova, ninguém compra maquilhagem Biotherm. Agarro o bafo em concha. Vou saber se está melhor. Mãos quentes, coração frio, amor vadio.

1.12.05

vira casacos

Ontem comprei uma camisola de gola alta. Hoje vou procurar um casaco. Porque está a ficar frio e, como li ontem na revista, chega uma altura em que uma mulher percebe que não pode viver só com casacos curtos. Que era o meu caso. Mas casacos curtos e calças baixas não é uma coisa saudável. É um desconsolo quando se empurra um carrinho, quando se apertam os cintos da cadeira no carro, quando se dá colo e se apanham chuchas do chão, quando está frio. Quando as camisolas também são curtas. Eu não gosto de vestir cobertores, de pesar, de arrastar nos degraus ou prender nas portas. Mas chega uma altura em que percebemos o que é que a mãe queria dizer com aquilo de investir num bom casaco. Eu, que lhe procuro bodies em todas as lojas, que lhe entalo collants e camisolas, que lhe escolho sempre os casacos polares mais confortáveis, que insisto nas pantufas e ando há semanas a querer ligar o aquecimento, eu arrisco os quadris e sinto-me uma verdadeira fashion victim. Vou procurar o casaco. Não vai ser fácil. May the force be with me.

Espirrismo abstracto



Costumam ser oito bibes, mas a coisa tem andado por baixo. Por baixa. A Mariana ontem já gazetou a agora acaba de seguir com o , para ver as cocós. Porque nós amanhã vamos para a escola, mas ela não. Por causa das rosetas nas bochechas, da cabeça inclinada, do sossego. Snif.
Eu tenho a garganta virulenta, pelo menos no sentido médico. E dói-me um bocadinho de tudo. Custa-me deixá-la, que fica bem, que eu sei que fica bem, mas custa-me isto de dar uma trabalheira, de fazer malas de fraldas e recados, de alijar carga. Levava o gorro novo. É tão giro, tem uns pompons cor-de-rosa e tapa as orelhas. E lá foi o livro novo das letras. Já conhece o M, o P e o R. E os lápis, também foram os lápis. Fiquei a preto e branco.

29.11.05

This way up

Já tenho saudades de mim aqui. De me contar a mim própria, aos que conheço e me lêem aqui, aos que só conheço daqui. Se calhar até tenho saudades dos que não conheço, que não me conhecem, mas que até parece que sim. Eu, que não meto conversa com ninguém, que baixava os olhos envergonhada nas lojas quando a minha mãe conversava com os empregados, quando me explicava e às minhas necessidades aos empregados, quer fossem camisolas de gola alta ou collants ou tecido a metro. Lembro-me de vir a Lisboa comprar tecidos com a minha mãe. De subir escadas de madeira e percorrer primeiros andares de pó e lã virgem. Já não há lojas em primeiros andares. Pois eu, que não cruzo olhares nos transportes, nos elevadores, que não tenho opinião pública sobre o tempo nem o Governo, que gosto de supermercados grandes, eu tenho saudades de vir aqui contar a vidinha.
Hoje passámos a manhã no notário para dizer adeus à casa velha. Que é nova para os outros que também perderam a manhã. Nunca mais lá fui, quase um ano. A minha filha já não se lembra dela, mas ainda lá está a barra do quarto. Foi uma boa casa, com horizonte da ponte ao Bugio, dos 25 aos 32. Adeus casa, pingo uma saudade por ti, por nós.
E aproveito para entornar mais um bocadinho por coisa nenhuma, por coisas de nada, como ela faz a toda a hora.

28.11.05

PomPom



Um ano depois da Péu e dois depois da Piolha.

27.11.05



Um requeijão, 5 ovos, uma mãe de farinha, açúcar a gosto, um pai de canela.

24.11.05

Partida, Lagarta, Fugida

No domingo fazemos dois anos.
Lembro-me que pouco antes dela nascer organizei um seminário e andei a lufar de barriga, a transpirar, a sentir dores baixas, literalmente a segurar a vida com a palma da mão. Esta semana lufo estreita de barriga e engordada de culpa, transpiro e, sentindo dores altas, penso na vida que tenho na mão.
Está tudo bem, corre tudo bem, só corre muito.

19.11.05

Se eu tivesse aqui à mão uma amiguinha, apetecia-me passar o resto da noite a dizer parvoíces, a fazer piadinhas tolas, à desgarrada. Quanto mais cansada estou, mais me salta o humor, o despropósito. Lembro-me de fins de trabalhos, fins de exames, fins de noite gargalhantes, doridos de abdómen e maxilar. Agora é muito raro rir assim, em quantidade. (Sor)rio com profissionalismo, com circunstância, com gentileza, mas raramente sem filtro. Tenho amigos com muita piada, mas a última vez que estivémos todos juntos foi no meu casamento. E isso não tem graça. Aparvalhar em conjunto é uma coisa muito séria, uma intimidade. Às vezes one laugh stand faz uma amizade para a vida.
Esta semana ela fez-me a primeira careta. A miúda tem futuro.

:-) amarelo



A Mariana está a aprender as cores. Foi muito mais rápida com os números. Troca muitas vezes os nomes das cores mais comuns, mas sabe sempre o castanho, o laranja, o roxo. Será um espírito indie?
A mim apeteceu-me amarelo. Smile, o seu IP está a ser registado!

16.11.05

Full Mum



A Mariana está exilada na avó, mais a virose que trouxe do infectário. Que eu acho que se asilou em mim. Aluo-me com mais tarefas do que um horário saudável permitiria.

15.11.05

in Formação

Estou a ter uma formação ali nas avenidas novas. Estranho aquela city, as ruas, a população, os cafés, as lojas. Quando tiver mais tempo faço uma análise SWOT, agora vou aproveitar o resto da hora de almoço para ide(i)alizar, que logo sou eu a formar.

Footnotes:
A Mariana está constipadíssima. E rabugenta. Coitadas de nós.
Este blog fez ontem um ano, mas foi a Sónia a dar por isso.
Eu hoje à noite vou matar o Rato Mickey e só devo chegar a casa lá para a meia-noite.

13.11.05

Contradi(c)ção



Eu não uso v-e-r-m-e-l-h-o.

Mas hoje foi dia de (a)propriedade e vestidos (o meu com calças, o dela não). Na casa do Xesus molharam o puto e velaram-lhe uma luz. Gosto da imagem da luz. Não aprecio nada do resto; a insistência na exclusão, no preço da falta de sacramentos, nas obrigações. Preferia que me explicassem as alegrias, que me fizessem sorrir. Não podemos pertencer ao que não reconhecemos como nosso.
Eu já pedi, não sei bem a quem, mas sei o quê. Gosto de igrejas. Já me comovi só de entrar no Sacré Coeur, pela beleza, pela fé alheia, pela capacidade de convocar a vontade humana, pelo conceito de abrigo. Também me lembro de entrar numa igreja holandesa e es/ntranhar tudo, a luz, o quadrado central, a diferença. A mesma diferença que faz com que na Escócia dezenas de ex-igrejas funcionem como qualquer outra coisa, feiras, salas de concerto, recintos de salsa. Dessa vez, enquanto torcia o corpo, esforçava-me por torcer o entendimento. Saí sem entorses.
Nós não nos prometemos até à morte, mas eu quero gostar dele para sempre. E acredito que o Xesus não a vai deixar de fora só porque não lho pedimos alto.

Performance



Hoje foi o baptizado do primo da Mariana. Depois de bentos fomos passear ao Palácio de Queluz. Assim que saímos para o jardim reconheci-o e temi que na Cozinha nos servissem coração.

12.11.05

Ca/erteira



Agora, que já tenho idade para andar de porta-moedas na mão.

Modus vivendi



Não resisto ao slo(w)gan. Nem ao resto.
Começou tudo com umas calças e 70% de desconto. Usei-as tanto que estão quase transparentes. Seguiram-se os ténis da minha vida e uma ganga perfeita. Agora foi a loucura. Ela também é uma TDi.

11.11.05

Há semanas que ele anda a puxá-lo do Kazaa.

ContraTempo

Tenho saudades de não ter pressa. De não estar atrasada para alguma coisa ou em alguma coisa. A última vez que não tive pressa deve ter sido na licença de parto. Ou talvez não, possivelmente tinha pressa que ela segurasse a cabeça, que comesse a sopa, que sei lá. Invejo quem anda na rua sem pressa, quem não estuga a vidinha entre duas dentadas do tempo. Provavelmente são os jovens e os velhos, uns de muito outros de pouco.
Muitas vezes faço força para não me apressar, para a deixar cansar-se dos miminhos, da água quente do banho, das migalhas do pão, de me pular na barriga. Faço força para não interromper a vida com a vidinha. Sinto muitas vezes que roubo tudo o que tenho, roubo a família ao trabalho e o trabalho à família, roubo-lhe ele a ela e ela a nós, roubo o jantar aos lápis de cera e tudo ao sono. Tenho saudades de marcar passo, de ver passar os eléctricos, de pensar na morte de bezerras. No outro dia uma amiga confessou-me aquilo que eu já sabia: que no banho planeia o expediente da manhã, porque não há tempo para tomar banho. Doidas, somos umas doidas. Como as galinhas, que provavelmente não pensam nisso porque nunca tomam banho.

8.11.05

Terra do Sempre

É injusto não reconhecer as vantagens:
Decido e isso é bom. Decido melhor porque tenho mais prática.
Mando, o que às vezes é bom outras ricocheta, mas aprendi a desviar-me.
(Des)Confio com maior clareza. Confio-me.
Relaciono as coisas umas com as outras, o que é divertido porque há cada vez mais coisas giras guardadas no meu cérebro. E mais inutilidades, o que às vezes também pode parecer giro.
Conheço/ci mais pessoas interessantes.
Vivi mais coisas, vivi mais coisas boas.
Jã não tenho medo de guiar.
Aprendi a falar ao telefone com estranhos, o que é bom porque agora falo mais com eles do que com os amigos.
Não como nabos, arroz de grelos nem pescadinhas fritas.
Ela.
Ele, às vezes in a funny way.

Peter P(Ana)

Também ando cheia de consciência da minha idade. Não me apetece ser "crescida" como me querem obrigar*

Acho que é mesmo disto que se trata. A verdade é esta: já não sou jovem. Sou adulta, uma adulta jovem, mas não uma jovem adulta. Tomo conta de pessoas, bens e serviços. Tenho uma hipoteca e o jantar para fazer. Congelo cebola picada e sei escrever cartas institucionais. Sou formadora, não sou formanda. Quanto mais penso nisso mais rotas são as calças que compro, o que me lixa a participação nas conversas sobre "os jovens só quererem andar de ténis". Preciso de dormir, de descansar, tenho dores nas costas e ambiciono a fisioterapia. Guardo restos de comida em caixinhas que depois acabam esvaziadas num lixo culpado. Vejo DVDs, não vou ao King. Leio revistas de gaja, mas não de pita. Já comprei a Pais&Filhos e não vou à BD da Amadora. Tenho rugas de expressão e expressões com rugas. Não sei mandar SMSs rapidamente e gosto de brócolos. Começo demasiadas frases com "A mãe..." em vez de "A Ana...", que eu tinha a mania de falar de mim na terceira pessoa. Agora eu sou a terceira pessoa. Organizo Natais, elogio as propriedades do peixe e muitas vezes prefiro a fruta e não o doce. Há miúdas com o dobro do meu corpo e metade da minha idade. Não faço fitas quando me aleijo. Sei pregar botões.


*fonte protegida, devidamente identificada
Se calhar devia beber Red Bull (nunca bebi red bull, sabe a quê?). Ou aquelas bebidas dos desportistas que vêm em garrafas giras. Algo que me desse movimento, momento, mento. Upa, vamos lá a animar. Amorteço-me em tarefas que nunca estão terminadas, atrito-me com (des)empenhos parciais, pesa-me o lastro, contamino a maré com invasivas recolhidas noutros mare(é)s. Apetece-me queixar-me, queria ir comer panquecas e chás. Hoje tive que acordar a miúda e forçá-la a despir, a vestir, a ir. Coitadinha da filharuca, era cedo e hoje é que lhe deu para dormir. É como a chuva que cai no fds e não durante a semana. Mas hoje ainda chove. Talking about the weather, hã? Sou uma chata oficial. Ontem no comboio refilei com umas jovens. Boring. No filme, havia uma altura em que o parvalhão dizia que a miúda nova não era nervosa, nem preocupada como a noiva, que era só fixe. Eu quero ser fixe. O Soares se calhar também quer voltar a ser fixe. Are we doomed?

7.11.05

EmBirra

A garota dormiu nos avós uma noite. Literalmente, que eles são demasiado permissivos à insidia nocturna de uma piolha espertalhuça. O resultado foi esta noite acordarmos de hora a hora com lágrimas despropositadas e exigências entornadas na almofada. Queria vir para a nossa cama, ressonar para a nossa cama, mesmo ali ao pé do meu ouvido, provavelmente em cima do meu ouvido, a pontapear-me, a puxar-me o cabelo, a desgastar-me o mimo de a ter ali com silvos nasais e tossidelas. Não deixei. Cheguei a sentir-me malvada, mas resisti. Defendi as minhas fronteiras. Antes das 6 da manhã não deixo.
Ainda assim estou um bocado brain dead. E heart dead. E hair dead. E isso.

6.11.05

Dramedy

É um bring-your-own-bottle filme porque é um filme normal sobre pessoas normais. Tem um anti-herói, um totó e uma ref/verência elegante com o vinho. O diálogo intimista com a Maya é uma verdadeira message-in-a bottle. Ainda bem que alguém partiu o nariz ao amigo.

De Baixa



Ontem ensolarámos a manhã na Baixa. Fomos de comboio, uma excitação. "Fecha a póta!", imperiava a piolha, que as portas (e as gavetas e tudo o que mexa) são para fechar (e abrir e fechar e abrir e fechar, com sorte sem entalar). A excitação da locomoção, o sol quentinho, o "máie" que se via da janela, as subidas e caídas do banco, com tudo adormeceu na Rua do Arsenal e só voltou a acordar quando a mãe escolhia canetas. Escolher canetas é uma coisa séria e ainda leva o seu tempo. Fomos comer "bolinho" à Confeitaria Nacional, espaventar os pombos no Rossio, Chiadar. Empurrei-nos mais de duas horas pelos meus locais preferidos, que eu gosto muito da Baixa. O pai resgatou-nos mesmo a tempo, quando um senhor que partilhava o muro connosco nos confidenciava que não se podia vir às compras com mulheres e que já se tinha sentado mais de 50 vezes. Achámo-lo um exagerado, não foi filha?

4.11.05

Insatisfação



Há semanas que não encarreiro nada de jeito. Queria fazer-lhe um cache-coeur curtinho para o vestido das festas e já só faltam 23 dias para a liveline.

Satisfação

Desde que dei por mim a fazer vários telefonemas dentro de um táxi enquanto negociava com o condutor o melhor caminho, percebi porque é que não tenho tempo para postar. É porque não tenho tempo nenhum. A menina está bem, obrigada. Eu aprendi a utilizar a palavra ressarcida, o que diz tudo sobre a vidinha de uma pessoa. Exemplo: eu não sou ressarcida da vida que desconto a telefonar dentro de táxis.

1.11.05

Hearttakeoff

Desde o livro que ando com saudades lá das terras altas e nem a chuva de cá é como a de lá, miudinha, oblíqua, ubíqua, mas raramente intempestiva e claro que nunca imprevisível. A chuva na Escócia era sempre visível.
O Bryson faz descrições excelentes, daquelas que quem (re)conhece reconstitui imediatamente. Muitas vezes sorri para comim nestes últimos dias.
Ontem, o filme era lá, Heartlands, mais abaixo mas lá, onde verde mais verde não há. E mostrava Blackpool, que eu só vi no livro e confirmei que estava certo. Que é uma cidade geminada de Quarteira, que não é como Brighton. Apetecia-me viajar.

A propósito da efeméride, nas salas dos B&B encontram-se frequentemente casais de idosos em que a mulher do coronel parece que pôs o bâton no meio de um terramoto.

30.10.05

Shi mian mai fu*



Ou o título possível do meu fim-de-semana, na antítese de qualquer Heroísmo e sem tréguas da minha Ama, aqui num look Amidala Outono/Inverno 2005.

*House of flying daggers

28.10.05

ziG-Giz



Na escola, usaram a técnica do giz com leite para desenhar em cartolinas pretas imagens que parecem galáxias.
Upgrade: Na escola, eu tenho um quadro negro e galáxias, verdadeiras.

Se eu fosse ao cinema...

Ia ver As bonecas russas do Cédric Klapisch, que fez a A residência espanhola.
Assim, fico à espera do DVD.

27.10.05

A room with(out) a view

Conheci-o, e ao seu espaço, numa workshop e achei-lhe graça. Está no CCB.

26.10.05

Kustumes



Sapato preto, sapato branco

Ponto alto



23 meses

Ponto baixo



Entrada.

Plano B


O incêndio reacendeu-se e eu vou ficar por aqui a ler instruções...

Este edifício está cheio de anacronismos com estilo. Documentarei.

Trendspotting

Há pessoas que se divertem com o train spotting*. Eu, no comboio e outros lugares, gosto de fazer trend spotting. Acho graça observar os aficionados do sudoku, os que forram o Código da Vinci com papel pardo, os sacos de papel das perfumarias onde as senhoras que usam malas minúsculas transportam a garrafa de água, a Caras e o iogurte, os penduricalhos que os jovens penduram nas mochilas, os rins que todas temos à mostra, os sapatos desanatómicos e profundamente feios que algum misógino inventou há duas estações, a avidez de leitura dos jornais gratuitos. Às vezes vejo uma senhora de meia idade a tricotar e cusco-lhe os pontos, a técnica. Será knitting spotting?


*Também o título de uma black comedy extraordinária, passada numa Edimburgo que desconheço, que lançou o Ewan quando ele ainda não cantava e dizia: Choose life. Choose a job. Choose a starter home. Choose dental insurance, leisure wear and matching luggage. Choose your future. But why would anyone want to do a thing like that?.

24.10.05

passado, Presente, futuro



Hoje, a amiga é que faz anos, mas eu é que tenho uma linda base de caneca nova.

23.10.05

Housewives: as (des)esperadas*

Uma das coisas boas de viver fora, à jovem, era não ter verdadeiramente house onde ser wife. A malta vivia no laboratório, no office, no pub, nas livrarias e nos cafés. A Mrs Feeney fornecia lençóis lavados every two weeks e estava tudo bem. A roupa era lavada nas máquinas da Union e (des)encarquilhava nos radiadores do aquecimento. No Sainsbury havia muita variedade de comida 5/4 de feita (às vezes já parecia mesmo mastigada) e as saladas não precisam de ser cozinhadas. Os luxos vinham sob a forma de folhas de basílico frescas (porque é que cá não há disto?) com tomtes cereja, pre-cooked pecan pies e microwavable chicken korma.
Agora não.
Descobri as virtudes do Minipreço, onde peregrino quase todos os dias e venho carregada de víveres não processados e talões de desconto. Quanto mais roupa se tem mais roupa se suja, apesar da constância de pernas e braços. Já descobri a cebola e o alho congelados, o molho bechamel, os espinafres com queijo e o bacon cortadinho. Comprámos uma mini arca congeladora. Se calhar a solução para o cabelo era mesmo uns rolos...
E apesar desta (des)evolução falta-me sempre o leite do dia ou o iogurte de morango ou o feijão verde ou as cenouras ou a paciência. O chão só estaria limpo se levitássemos e a maior parte dos lençóis são pequenos para a nossa cama, que é mais larga do que o normal, numa antecipação de génio para as noites de ménage a 2+1/5. Agora vou ali aproveitar que ela aterrou no sofá para tirar os pêlos das pernas, ou qualquer dia já não me servem as meias**.

*Eu não vejo a série, mas sei que existe, como a gripe das aves.
**Os pêlos das pernas ainda hão-de ter um post próprio, quando formos mais íntimos.

22.10.05

Ocean's Five


Foi giro. As partes cantadas eram mesmo muito giras, com bons ritmos, alegria e muitas palmas dos putos. Os diálogos eram um bocadinho longos, sendo para crianças, e não gostei do excesso de ênfase com a gordura da baleia nem do sotaque afrocaricaturado do caranguejo. A única que sabia mesmo cantar era a Sofia, mas o tubarão fazia uns raps fabulosos. A minha miúda portou-se bem e, mais importante, divertiu-se. Palavra* nova de hoje: caco (palco).

* e papupa (pantufa).

Just turn it



After Erwin Wurm, escultura, fotografia e vídeo no Museu do Chiado.

Nota de agenda: Arte Lisboa

Yellow submarine


Hoje vestimos os pés. Umas galochas (eu sempre quis ter umas galochas...), umas pantufas, os primeiros ténis dela (after Mama Smith), os xésimos ténis da mãe. Foi uma excitação de pés, de meias, ela experimentou todos, mesmo os meus (mas eu continuo sem umas galochas), abanava os pés e chamava a atenção do rapaz da loja, "olha!", e eu lá o dispensei com um "eu experimento sozinha, não se incomde", coitado, que ainda nem tinha bem idade para namorar quanto mais aturar F1s.
Mas claro que nada se comparou em entusiasmo às galochas (os meus são giros, mas não são umas galochas), prontamente estreadas no quintal por uma Sgt Pepper de trazer por casa.

21.10.05

Romã - ãmoR

Acho as romãs mesmo bonitas. São objectos de decoração, modelo de natureza morta e às vezes também se comem. Lembro-me de, em miúda, comer baguinhos vermelhos com açúcar. Na fase gourmet lá de casa acompanhou peixes assados e até já só enfeitou a fruteira. No outro dia reparei numa romãzeira no jardim do Palácio, mas a verdade é que este blog já teve mais fotografias. O JMS também as viu.

20.10.05

22m22d


Este blog já teve mais fotografias, mas a minha filha nunca foi mais linda.

A Piolha-mãe errou

Na edição de ontem, a mãe queixou-se do (in)sono da Mariana. Reconhecendo o seu direito de resposta, consagrado na Lei de Imprensa, publicamos aqui hoje a correcção:

Esta noite dormiu das 21h30 às 7h30, sem choraminguices, tosses, engasgos ou chuchas perdidas, acordou bem-diposta e salvou os pais de chegarem irremediavelmente atrasados, depois do pai ter desligado o despertador à hora do costume, confiante no seu próximo chamamento sem compaixão. Para mais se informa que, em represália por queixumes maternais repetidos e ingratos, acordou alegre a chamar Rui, Rui, Rui...

19.10.05

A balada da minha vida é Anjo da Guarda, do António Variações, cantada pelos Três Tristes Tigres. É a música da minha barriga, da minha filha, aquilo que queria ser para ela, que me dá vontade de rir e de chorar, a primeira música que ele gravou para nós. Se eu tivesse um dom gostava de (en)cantar.
Gosto de músicas diferentes umas das outras. Às vezes sabe-me bem embalar,

On me dit que nos vies ne valent pas grand chose,
Elles passent en un instant comme fanent les roses.
On me dit que le temps qui glisse est un salaud que de nos chagrins il s'en fait des manteaux pourtant quelqu'un m'a dit...
Que tu m'aimais encore,
C'est quelqu'un qui m'a dit que tu m'aimais encore.
Serais ce possible alors?

Sonorápida

Tenho um amigo, com uma filha duas semanas mais nova que a Mariana, que me dizia que a dele "uma semana come, outra semana dorme", não acumulando (dis)funções. A Mariana come ou quase-come. Deve ter dormido, decentemente, umas duas semanas quanto muito.
Quando nasceu tinha um miado baixo, que não incomodava nada, mas comia de 3 em 3 horas ou menos. Comeu de noite até mais de um ano, a certa altura mais de 1/5 litro de leite por noite. De dia dormia dez minutos, com esforço, e acordava fresca. De noite nunca mais de 9-10 horas. Nunca "até mais tarde". Nunca ronha. Já não se quis deitar, já se quis deitar comigo, já quis acordar comigo ou só acordar, quando não é o nariz é a tosse ou os dentes ou os sonhos ou as tolas na madeira. Oo o tal eitinho que temos que ir buscar as duas, escadas abaixo, tropeções acima. Esta noite foi a tosse, os aerossóis, o xarope de cenoura, o mel, quase que tentei a cebola no quarto. No meu quarto, pois claro. Já não me lembro de dormir descansada. Mesmo quando fica uma noite fora deixa lá ficar a minha vigília, o sobressalto a meio da noite, "o bebé?", que é assim que me falo dela, que acordo por ela, com ela. Tenho um sono acumulado, comprimido, entranhado, irrecuperado, que já não me deixa mal-disposta, faz-me mal-disposta, e desconfio que me encaracola ainda mais o cabelo. Preciso mesmo de ir ao cabeleireiro. Abrirão de noite?

18.10.05

Ambrósia

Claro que a minha filha tem muito mais happenings do que eu. Por enquanto sou eu que lhos marco, aqui, mas estou à espera do efeito escola para multiplicar as nossas obrigações sociais.
No outro dia Fomosalibebé, de que gostei médio, achei um bocadinho pós-moderno e não havia necessidade nenhuma daquele pano voador inicial que deixou um rasto de choro, também no meu colo.
O ano passado fomos ao Fungagá e divertimo-nos à brava as duas. Quase que me apetece ir outra vez, já passou um ano. No sábado vamos à Canção dos Oceanos e em Dezembro aos Ninicos-dança. O ano passado fomos à música para bebés e gostámos.
Claro que a minha filha não fica no meu colo, nunca, e eu passo o tempo a recuperá-la de palcos, escadas e birras várias. Aposto que quando me levar ao Lux vai empoleirar-se nas colunas.

Dadora

Acabo de receber o meu primeiro recibo de vencimento. Da vida, que bolsas e recibos verdes isentos não conta. Diz quanto ganho por parcelas, atribui um valor pecuniário à minha hora, ao meu dia. É, na verdade, um bocado assustador. Como se eu já não sofresse o suficiente quando a acordo, quando lhe tiro o pijama com promessas de roupa gira, quando avalio mentalmente o tempo disponível para cumprimentar os patos, quando me demoro a ver os desenhos na sala e depois corro para apanhar o rápido. Pimba, x euros para ficar a ler a história da gotinha de água. Não posso doar-me à ciência tão cedo, tenho que viver-me mais um bocadinho.

Pic(o)ar o ponto

Sete, éramos sete: 2+2+2+1. Tricotei uma linha, mas não faz mal que o mais giro dos encontros de tricô é falar de tricô, não é fazer tricô. A Patita também foi e encarreirou logo naquilo, é uma natural born crafter. No sábado de manhã vamos ver lãs lá na lojinha da terra. Sim, que eu não sou a única a achar que a parte mais excitante da coisa são os novelos, as cores, as mesclas. Ontem estavam lá uns Phildar lilás extraordinários. Pronto, não sabemos bem o que fazer com 100% de lã não muito macia e irregular, mas são uns lindos novelos. Agora tenho que ir procurar as instruções do ponto risotto que vi num gorro...

Shity shity bang bang

A escola da Mariana tem dois patos e eu até tive muita sorte. Não sei bem onde, mas em alguma altura pousei a mala no chão. Talvez quando lhe tirei o casaco, quando sacudi as migalhas ou quando fui lá atrás guardar o carrinho. Tive muita sorte porque só dei conta quando me sentei no comboio e ainda nem tinha pousado a mala no colo. Muita sorte porque o nariz das mães detecta cocós com muito maior facilidade, é uma coisa que se adquire, esta capacidade de torcer o nariz, de desconfiar quando alguma coisa está suja. A sorte continuou porque tinha comigo lenços de papel e pude limpar o cocó do pato - deve ser do pato que nesta altura do ano mais ninguém tem treino de bacio. A sorte foi ter-me cheirado logo, a mim e a todos à minha volta, mas eu não levantei os olhos e por isso não tive que dar explicações nem falar de patos. Não que eu nessa altura conseguisse falar, transpirada, cansada, esfalfada, ocupada a limpar o cocó do pato do canto da minha mala. Ainda era bastante cocó, tive mesmo sorte em não ter barrado mais nada, ufa. Outra coisa positiva é que eu sei que é mesmo assim, que o cheiro do cocó demora a passar, às vezes até é preciso abrir a janela e mesmo aborrecido é quando já é de noite e ficam aquelas moléculas a perdurar no quarto. Que o cocó nas criaças é uma coisa persistente e cíclica. Nos patos também. E agora no canto da minha mala. Eu devia era ter toalhetes húmidos comigo, isso é que tinha sido uma sorte. Paciência, assim já não foi mau.

17.10.05

Rentrée

Logo vou Picoar com as lãs e as agulhas...

16.10.05

Linner



Aos domingos gosto de não jantar, de ajantarar. Sabe-me bem um cheiro de forno*, de castanhas, de café com leite. Já que não consigo instituir o brunch, consolo-me com um linner.

*Scones, abridged: 2 colheres de tudo menos de farinha, que são 12.

Easy like sunday morning

Fui finalmente ver a menina da S. É pequenina e linda como a minha era. Como são sempre as nossas meninas. A Mariana está crescida. Hoje comeu um prato de papa sozinha, comigo a ver e a dar cotoveladas ao pai. Se houver baba no sofá é minha que não consegui fechar a boca com a visão da técnica, da confiança, da colher a limpar os cantos da boca. Sabe contar e cantar. Canta o que não conheço, com coreografias que me despistam, que me fazem rir. Brinca connosco, tem humor, faz olhares, domina as sobrancelhas, abre portas e gavetas, decide. Reconhece os caminhos de carro e de carrinho, lembra-se de tudo o que já viu no jardim, em casa da avó, no supermercado. De noite já não posso fazer de conta que não a percebo a chamar. Quer tomar banho em pé, beber pelo copo, calçar os sapatos, tirar a fralda, por o creme. Percebe os castigos e os miminhos. A minha doce. Ajardinámos toda a manhã, molhámos as calças na relva, vimos cogumelos e bichos de conta, desconcentrámos o tai-chi. Hoje gozámo-nos de beijos, de brincadeiras, amortecemos preguiças no edredão, branco, lavado, a cheirar bem, já sabe bem o edredão, macio de mimos e conversas tolas.

15.10.05

Amiga em segundo grau

A miúda espreitou o blog, viu o post da Belinda, foi buscar a menina e apresentou-me a menina! a Patícia!, muito sorridente.

(re)Play

A roupa é uma coisa gira. Diverte-me, gosto de pensar nisso e altera-me o humor. Hoje comprei umas calças porque me apaixonei pela etiqueta. As calças são fixes, mas têm uma etiqueta fantástica. Cada vez mais ligo às pequenas coisas. Como as etiquetas, os forros, os botões. Tenho uma capacidade extenuante de embirrar com pespontos. Os pespontos são uma coisa fundamental. E ele há pespontos terríveis. Por enquanto ainda não gasto fortunas em roupa interior. Sou uma básica, não me rendo, não me enchumaço, já me acetinei mas deixei-me disso. Mas admito que talvez venha com a idade, isso de dar três digitos por cuecas. Como a cena dos forros. No outro dia vi uma saia com um cós lindo. Não a trouxe porque me ficava francamente mal. Tenho uns sapatos com um forro lilás que acho bonito, é uma pena não se ver. Gosto de solas, também gosto de solas. Aquela etiqueta de hoje vai mudar-me o guarda-roupa. Eu compro tudo solto, nunca há "um conjunto", até embirro com twin sets. Nada é comprado para nada em particular, o look é sempre parcial. Tenho mais roupa do que o que preciso*. Tenho roupa mal comprada e peças usadas até ao excesso. Dou muitas coisas, não me custa. Gasto muito os sapatos, embora não goste muito de sapatos. Gosto de malas. Reparo sempre numa mala bonita. Conheço-as, avalio-as, julgo por elas. Por causa da etiqueta, hoje quase me calcei de rosa, mas não havia o meu número.
Sou uma caçadora solitária. A minha mãe acha-me mais chata do que a minha avó e nunca vamos às compras juntas. Há muitos anos que não tenho amigas para ir às compras. Ninguém me adivinha os gostos. É muito raro oferecerem-me coisas para usar e provavelmente ainda bem. Ele não me compreende, apesar de me ver tantas vezes. E também nunca dá o palpite certo quando lhe pergunto, o que é injusto da minha parte, esse é um jogo perdido. Não sei se alguém me aprecia as (des)combinações porque eu não pergunto e não incentivo comentários. Talvez o meu pai me ache alguma graça. Foi a única pessoa com quem já partilhei roupa.
Basta-me um olhar rápido para ver, avaliar, rotular. Lembro-me do que alguém tinha vestido há 20 anos. Um desperdício de memória. Às vezes, raramente, na rua, vejo alguém assim. Quase que me apetece falar-lhe. Hoje, ela experimentou as minhas calças e levou outras. E eu tinha acabado de namorar noutra loja as que ela trazia vestidas. Também tinha um cós (p)refeito dos filhos e um busto desgostoso, lamentámo-nos. Estava ali uma putativa amiga, devia ter-lhe pedido o telefone.

*Não assumo quaisquer responsabilidades pela utilização futura deste desabafo.

14.10.05

Britcom(mon)

Uma amiga ofereceu-me um livro de viagens no Reino Unido, que tenho lido nos transportes quando descanso dos ataques de tosse. Deixou-me cheia de saudades. Por outro lado, ontem apercebi-me o que era que eu sentia de familiar e ao mesmo tempo estranho no meu novo edifício: é como lá, mas cá. A eficiência logística, a estante do correio, o estilo confortável para trabalhar mas sem tiques de casa cláudia, a secretaria e o computador do economato, o encerado, as alcatifas, o cheiro, as casas de banho, o rosa-salmão das pinturas (a paleta de cores britânica é sempre a mesma, das paredes aos guardanapos de papel e às gabardines), o convívio das secretárias às refeições, sempre à mesma hora. Felizmente a cantina é muito tuga, por sinal óptima, e não creio que sirvam macaroni cheese. Mas que tenho vontade de arranjar uma mug, lá isso...

12.10.05

Baby-Dolls



Belinda. Vamos chamar-lhe Belinda. Achas bem Pat?
A Belinda nasceu aqui.

Nodding

Ontem vimos um episódio do Noddy na "tuão". Era sobre o suposto dia de sorte do Noddy, prometido por uma espécie de fortune cookie da terra dos brinquedos, e de como tudo afinal corria mal nesse dia. No fim, o taxista imberbe de barrete e guizo percebia que a sorte era ter tantos amigos, blá,...
A seguir deu o Bob.

Ora:
- eu hoje sou o Noddy, embora o meu carro já não seja amarelo (já foi)
- hoje ensopei os pés, a paciência e um bolo de arroz
- dói-me o nariz de tanto o assoar
Mas,
- hoje lembraram-me que,

Some girls are bigger than others
Some girls are bigger than others
Some girl's mothers are bigger than
Other girl's mothers

Send me the pillow ...
The one that you dream on ...
Send me the pillow ...
The one that you dream on ...
And I'll send you mine


Como perguntaria o Bob: Equipa, vamos conseguir? Sim, vamos conseguir.

Depois é que vai sendo

Agora que me apercebi da verdade, que a partilhei com amigos, que espreitei os bastidores da parentalidade, da vida adulta, agora já sei que é assim. Quero dizer, que a vidinha é assim. Não é o que vai ser ou o que poderia ter sido, é assim, vai sendo. Como concordava ontem uma voz amiga ao telefone, rouca e tússica como a minha, "a vida é isto; não vale a pena estar sempre a dizer depois é que vai ser". Vou só ali tirar um curso e depois é que vai ser, vou viver uns anos ali e depois é que vai ser, vou ter um filho e depois das fraldas é que vai ser. Não, vai sendo, por isso mais vale aproveitar as coisas boas todas, quando aparecem, e não ficar à espera delas para dias maiores, mais calmos e decansados, mais iguais aos outros dias todos.
Como tão bem disse a Cat, os putos são todos iguais. Uns comem, outros dormem, uns choram até aos 2 meses, aos 2 anos, aos 20 anos, todos têm diarreias e vomitam e babam a roupa das mães e puxam pelos braços (principalmente se a mãe estiver num computador) e pedem colo (às vezes já matreiros, na reinação, quando a mãe está a fazer xixi), têm ranhos e às vezes piolhos. Em todas as casas há cotão e louça suja e roupa amachucada e armários desarrumados e contas. Toda a gente devia comer mais peixe e mais legumes e menos bolos. Não há mães insolúveis quando ainda não são oito e está a chover tanto que ainda não me secaram as calças. Toda a gente chega atrasada de vez em quando e muitas pessoas deixam cair bolos de arroz nas escadas do metro. Muitas pessoas têm vergonha de se assoar nos transportes públicos, sabendo que ninguém gosta de ouvir entupimentos e imaginar secreções esverdeadas, quanto mais tirá-las de si com elegância e discrição.
Não, as noites nunca mais vão ser inteiras e descansadas porque depois das constipações e dos pesadelos e dos xixis vão chegar as discotecas e as borbulhas e os namorados. Depois de já saberem tomar banho sozinhos vão deixar de querer tomar banho. A vida não vai ser depois de nada em particular, vai sendo com todas as coisas no geral. Com festinhas na cara da mãe enquanto se apertam os sapatos, com papas recusadas, cuspidas, empurradas e bolos de arroz perdidos em escadas e encontrados outra vez em qualquer pastelaria, uma especialidade da casa.

11.10.05

Antiself

A farmácia estava escondida por prédios altos e um labirinto de semáforos. Cheguei lá com indicações que incluiam uma agência funerária, o que não me parece a ordem natural da coisas. Não tinham Cêgripe. Não tinham. Está em falta. Como está em falta? Agora que até já chove falta-lhes o Cêgripe? Não, não quero outra coisa. Não quero porque tenho um estômago com muito mau feitio. Quero o Cêgripe! (não gritei, mas passei a ser antipática). Já estive melhor. Ela parece que está bem, disseram-me e eu acreditei, que quero acreditar. Tenho comichão, deve ser uma gripe alérgica. Ou isso, ou então rejeito-me a mim própria num (in)esperado ataque de autoimunidade conceptual.

O bug do ano 2005

Preciso de um anti-vírus.

9.10.05

What you vote is what you get

E assim acontece no rectângulo. Lá na minha terra, com (Isal)tino e sem vergonha. Eu escolhi com dificuldade, mas convicta que BEm. Siga, pelo menos para linha.

A miúda continua a arfar e nós com ela. Os bichos ontem atacaram-me a garganta e moeram-me o corpo. Uma injustiça, doer-me a garganta logo na tarde que passo com a amiga Pat. Fomos à loja do momento, desfiámos novidades com meses de atraso e velhidades do próprio dia. Falámos de nós e da nossa circunstância, de afectos e ergonomias. Para além da massagem emocional, tenho uns presentes lindos que hei-de imagear quando a logística me voltar a favorecer. Boa viagem amiga. Deixa lá que aqui está a chover* como já não me lembrava...

*No nosso retiro de saúde em casa da ascendência, a brincadeira ontem era pedir colo ao para ir ver a chuva.

7.10.05

Piolhite



A culpa pode ser dos dentes, mas tão depressa não me vêem os meus. A miúda fez uma inflamação respiratória considerável. Tem uma faringite ou uma laringite ou lá o que é. Tem pieira que eu aprendi que é uma chiadeira respiratória, assim um barulho com mau ar, com pior ar do que os engasgançso das ranhocas, assim uma falta de ar. Telefonemas da escola (nunca é uma coisa boa, os telefonemas da escola) por causa da pieira (que na altura eu ainda não sabia o que era, mas googlei e descobri em brasileiro), depois por causa da febre. Fomos às urgências do centro de saúde, que em boa verdade são é nossas que as urgências são sempre nossas, nunca são do centro de saúde. O médico era lento, de pés e de cabeça. As sessões de aerossóis* foram um extenuo soprado por um tubo. A primeira foi sempre em pranto, a segunda foi sempre em canto, que não há nada como pais desafinados mas persistentes. Safou-me um CD de putos onde aprendi que tenho uma boneca assim-assim, que veio de Paris para mim-para mim e versões rap das galinhas doidas.
Daqui a bocado lá vou (desen)cantar outra vez o repertório para lhe pulverizar os remédios pelo nariz, que a boca está ocupada com tosses, chuchas e semi-dentes.

*Arejámos o sol pela primeira vez com um mês, mas afinal eram apenas os cornetos do nariz desenvolvidos e a ressonadela passou quando lhe cresceu o nariz até ao tamanho dos cornetos.

5.10.05

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É cada vez mais difícil encontrar um sítio para passear e estar e almoçar num feriado, fora de casa, em Lisboa. Hoje, conseguimos desorar todos três de manhã, depois de uma falsa partida às 7h30. Mas depois ficou tudo engatado, que as preguiças empatam mais do que um toque na faixa da esquerda. Muita gente, em todo o lado, a feriar. Voltámos.

3.10.05

Entalados

No dia em que o sol parecia uma uacha trincada, o pappy amanheceu do hospital com uma tala no médio que ontem embateu no muro. Logo de manhã, na cola, a Mariana diarreiou os calções enquanto eu estreava oficialmente o trabalho novo, coisa que ninguém deu conta (o trabalho, que a diarreia notou-se). As pedalices ficam assim em pousio e espero que as diarreias também. Cá para mim é tudo culpa dos molares que estão a romper. Como o osso torto da avó que amanhã os doutores vão endireitar (o osso, que a avó já é 89 anos de assim). Há dias em que nem uma roupa gira anima a malta.

1.10.05

Happy Hour



Juntaram-se, leram as piolhices para inspiração e, apesar disso, acharam que eu era colorida. Ofereceram-me o tempo que me deram, nas gargalhadas, nas discussões sobre tudo - especialmente os outros, nas ajudas com o programa que should be named no more, na vidinha dos últimos três anos. Obrigada, muito obrigada. We'll swatch ourselves around.

Funkie goes to BairroAltwood



O jantar era no indiano do Bairro Alto às nove e meia. Eu já não vim a casa e entretive-me a Chiadar. Gosto da animação, das lojas, dos cafés. Subi mais Alto e descobri uma loja com uma luz péssima e uma roupa fantástica. Daquela que se reconhece logo como my cup of tea. Trouxe um fato dobrado em A4 num saco verde. Um fato (no sentido em que são duas peças - calças e casaco - do mesmo tecido) que se dobra assim só pode ser uma boa compra. Tiracolei-o o resto da noite com gosto, como um troféu, uma prova de mim no-funkie na minha nova vida no-skunkie.

A noite foi muito divertida. O riso, escancarado, sentido, torcido, deixou-me os músculos doridos. Não dançámos, mas doem-me as pernas por estar tanto tempo de pé com (tantos) copos tanto tempo de mão. Já não bebia um B52 há mais de 10 anos. O Joaquim ganhou-me o shot, mas o balcão era alto e eu estava em bicos de pés para chegar à palhinha. Quero desforra. E sim, os bolos de Campo de Ourique são os melhores de Lisboa. Trouxe bolas e merendas para o pappy levar de Avalanche. Já trouxe saudades.

30.9.05

Deve/Haver

Hoje é o meu último dia no emprego com vista para o Tejo. Foi um bom emprego, com uma boa vista. Não gosto muito de vincar as mudanças, prefiro o fluir natural, o part-time de transição. A minha secretária continua como sempre esteve e eu, nela, continuo como sempre estive. Tenho que nos arrumar.
Este projecto foi uma ideia de fim de Julho, um desafio que me distraíu de outro que saíu de mim com anestesia geral. Foi uma das vezes em que a ideia era suficientemente forte para sustentar o porque não? Tenho que agradecer ao Manel por também ter acreditado.
Nem de propósito, chegaram-me as provas de um paper. Devia ter escrito mais, lido mais, feito mais. Fiz poucas de umas coisas e desfiz muitas outras. Fiz newsletters, amizades grandes e pequeninas, conferências, projectos, aulas, erros no Excel e uma filha. Desfiz ideias feitas, contactos, erros no Excel, projectos e uma Ana de quem me lembro às vezes. Acho que estou a crescer; aprendi muitas coisas muito depressa. Ainda me falta dominar completamente o comando do DVD, mas especializei-me em ajudas modernas para refeições rápidas que parecem demoradas, distribuição de mimos e ralhetes e como conseguir fazer o maior número de coisas entre as 18h30 e as 20h30 de um dia de semana.
Vou ter saudades de trabalhar no que me apetece, dos pratos vegetarinaos da cantina lá de cima e das gargalhadas desbragadas da malta da 403. Ainda não tenho amiguinhos no sítio novo, mas já estou a preparar um ofício para resolver o problema (uma office-warming party?). Tenho que contrabandear um selo branco ou pelo menos umas bebidas espirituosas.

29.9.05

Actualização

[em estilo de agência noticiosa]

- ela hoje choramingou um bocadinho em coro com a aquéu (Raquel), agarrando-se cada uma a uma mamã e uma chucha
- o uate (Duarte) mordeu o dedo da Nana segundo recado da Lúcia no caderninho (ainda bem que eu não tenho um caderninho na minha escola ou estaria sempre cheio)
- a mummy e o pappy andam cansados e culpados por não passarem mais tempo com a Nana
- ela tem adormecido mais cedo e sem fitas
- nós, para não adormecermos em todo o lado, fazemos imensas fitas
- entre os dois, a mummy e o pappy andam a tentar desencavar 5 milhões de euros públicos, o que requer muita imaginação e uma baixa taxa de sucesso
- quem quiser contribuir pode usar uma T-shirt a dizer: Eu amo a Ciência
- ela anda a tentar cantar
- eu canto-lhe a pedido, não muito bem, mas com empenho; bocejo sempre nas pausas o que não é bom, mas sempre a distrai do facto do balão do João ser levado pelo vento e o caraças
- quer comer sempre sozinha e beber por um copo
- eu amanhã vou beber copos e jantar às 9h30, como os jovens e com os jovens*.

*se não adormecer entretanto.

27.9.05

22

Vinte e dois meses de amor e hoje foi a primeira a chegar à escola.
Os meninos?
E o meu coração encolheu e eu com ele até caber na casinha de brincar.

26.9.05

Anúncio

Procura-se curso de comportamento institucional, de preferência por correspondência, ou melhor, e-learning.
Oferece-se compensação compatível.

Dia -5

Só devia começar para a semana, mas começou já hoje. Mal.
Por outro lado a Mariana hoje ao jantar contou alto até dez. Só se esqueceu do sete.
Eu esqueci-me do senso. Deviam tê-la contratado a ela.

25.9.05

Message board

Heart-broken
Perdi o coração da Hilda, mas ela guardou-o. Snif, que era um dos meus favoritos.

UL sem FC
Não é na fcul, Pat. É só (so?!) UL e mete reitorias e arredores. Mas vais ver que ainda me reconheces.

Chás e Rosas
A minha vida de chalada dificultar-se-á com o emprego novo, pelo que aposto nesta semana, talvez numa plaza perto de si? E uma feira de quinta? Isso é que era...

Imaterial
É injusto Sónia, tu continuas a assombrar-me em versão Warhol.

100 estojo

Já estão os dois deitados e eu tenho finalmente um momento. Ele hoje fez os 100 de Mafra. Ela fez os 100 de Mummy. Acordou antes das oito, dormiu menos de uma hora antes de almoço e até agora foi sempre a bombar. Sempre gostava eu de conhecer os miúdos que dormem 12 horas e ainda fazem sestas. São um mito urbano.
De manhã fomos passear a Belém, que sempre os mesmos baloiços já não escorregam. A mãe hesitou tanto que não trouxe o estojo de que agora até gostava. Preciso de um estojo. Mas já não quero de pita, quero de crescida. Mas não de crescida amanuense, quero de crescida gira, daquele tipo de giras que para escolher um estojo parece que estão a comprar um prédio.
Gosto do CCB. Hoje não comemos queque nem entornámos meias de leite. Trouxémos um livro fantástico, em que todos os bonecos são de plasticina. Bem, mas são muitas imagens, aquilo é uma arte. Lembrou-me a Daniela.
Ainda me trespassou enfiar-nos nalguma das exposições, mas arejei a tempo. Não é uma boa ideia. Lembro-me das esquinas.
Depois comprei-a com meia queijada e arranjei mais um blaser divertido na loja das pitas. Não tinham estojos. Lembro-me do meu estojo da joaninha. Durou imensos anos. Aquele preto de hoje é que era.
À tarde a Mariana aprendeu o que era uma escultura ("tua", for short). Engraçado que não (des)identificou nenhum equipamento urbano por engano. Sorte de principiante. Aposto que escolhia um estojo num instante.

Blasé-r


Pela primeira vez, tenho um emprego com uma face institucional. Onde, para além de ser profissional terei que parecer profissional. Ando a desarrumar prateleiras há semanas e já percebi que, sem despacho reitoral, não me enfio em cinzentos integrais. O segredo está nos casacos. Uma pessoa de casaco parece logo estruturada. Até acho que consigo combiná-los com as calças rotas.

23.9.05

That's all folks

A reunião acabou, os estranjas foram apanhar aviões, cervejas e fados e eu voltei à vidinha, com agendas sobrepostas e sem sopa feita.
O microfone ficou afónico logo no início da minha apresentação, pelo que falei, literalmente, presa por fio ao sistema de som da mesa. Não fez mal. Tinha levado a minha saia de ganga gira, os ténis e o sotaque que os anos de British Council poliram até à irritação. Como toda a gente, quando estou mais tensa ou nervosa salta-me o sotaque e depois ando a explicar que sim, sou portuguesa, mas nós cá temos legendas e toda a gente fala bem estrangeiro (já devo ter a boca torta de tanto imitar os franceses).
Tenho um amiguinho novo com quem combinei umas cervejas para a semana, assim ele consiga sobreviver às férias pelas estradas portuguesas. Na última parte sentámo-nos cá atrás e partilhámos malavadezes sobre os presentes. Revirei tanto os olhos que devo estar ligeiramente estrábica. Não há nada como a maledicência para descobrir uma alma gémea.
Entretanto, será cada vez mais difícil ir passar uma temporada a Paris desde que ontem o meu garfo ganhou vida própria e encheu de nódoas a senhora da OCDE. Ainda bem que não estava cá ninguém da UNESCO.
Continua a não haver paciência para quem não consiga relaxar um bocadinho insistindo na postura de inteligente-trabalhador-compulsivo, sem tempo para jantaradas nem manifestações de polícias no caminho para o restaurante. Que no CCB, para que conste, não se (re)Commenda. A sobremesa era tão pós-moderna que não chegava a ser uma sobremesa e ficou sobre a mesa. [Só para gourmets: parece que há um sítio extarordinário em Campo de Ourique chamado Maria da Fonte, com produtos italianos e cursos e assim]
Hoje ao almoço consegui não prejudicar o meu futuro profissional porque quase não comi quando finalmente ouvi as mensagens no telemóvel, incluindo o tom desesperado do meu futuro chefe a requisitar-me para uma task force de emergência, que afinal é só para segunda-feira, que a função pública tem o devido respeito pelos fins-de-semana.

22.9.05

Needs, Status and New Developments

Podia ser uma reunião de trabalho sobre a vidinha, mas não.

21.9.05

Obrigada

A restaurar a efeméride, convenci-me mais uma vez que a primeira ideia é muitas vezes a melhor: com miúdos, repastar em casa.

Por jogarem as letrinhas anti-spam. Muito obrigada.

Por me telefonarem depois de meses de interregno, de vidinha, e por passarmos quase todo o telefonema a tentar combinar um encontro que não vai dar jeito nenhum, mas que me apetece mesmo tentar.

Estilistas das lojas baratas de miúdas onde desencavei umas cenas giras à brava, sem remorsos.

Querido pappy e seus desvios por corredores comerciais ingratos.

Mãe e Pai.

Anaversário

Ontem tinha 32, hoje tenho 33.

Negativo:
- 33 é pior que 32
- é a idade da crucificação
- vou ter que deixar de dizer que tenho 30 anos
- ontem o pappy ainda não tinha presente
- já não posso gabar-me à Pat de ser mais nova
- tenho mais 8 anos do quando me casei; e 5 quilos.

Positivo:
- 33 é melhor que 34
- é a idade da ressureição
- já posso fazer um ar maduro e dizer que tenho mais de 30 anos
- ontem o pappy ainda não tinha presente (tradition...)
- já posso gabar-me à Pat de também ter 33
- casei-me há 8 anos e ainda gosto dele; eu era magra demais
- a Mariana hoje deu-me a mão e entrou contente na sala. Não chorou. A Mariana hoje não chorou.

20.9.05

Eu também queria ter um 20

Eu conheci a Heather seguindo um link da Rosa.
Todas temos filhas pequenas. Eu acho-lhe graça porque 1)ela tem graça, 2)eu percebo posts como este.
Por enquanto as minhas drogas são ben-u-ron, valdispert ou casal garcia, mas já houve uma altura em que achei mesmo que precisava doutras. Em que chorava mais do que admitia, nunca mais do que a Mariana, mas isso é mérito dela e não meu, muitas vezes com a Mariana, o que não favorecia o meu lado da competição visto que as minhas lágrimas desesperavam a miúda que me tinha desesperado a mim. Houve semanas em que eu não conseguia trabalhar e tratar dela e da casa e da vida e de tudo, como sempre tinha feito. Tratava mais ou menos dela, comíamos massa todos os dias e não trabalhava porque não conseguia atinar. Espero que a FCT nunca veja isto e me obrigue a devolver o dinheiro. Eu até pensei em suspender a bolsa com atestado médico, mas obviamente que o técnico que me atendeu nunca tinha ouvido tal coisa e já devia estar suficientemente aterrado com o meu tom desesperado. Desesperada, mas não parva, que nunca lhe disse o meu nome, nem lhe dei referência nenhuma que o pudesse ligar a um NIB. Claro que se eu não andasse a dizer a toda a gente que não trabalhava ninguém percebia porque eu aprendi a disfarçar.
Uma vez li que não interessa o tamanho da bosta, cheira sempre mal, o que qualquer mãe de crianças de fraldas pode confirmar, mas acho que quer dizer que não se pode comparar dores alheias. Se calhar não devia ter traduzido como bosta, mas como cocózinho, já que depois falei de crianças.
A maternidade para mim também não veio sem dores pós-parto. Às vezes ainda me dói muito. Não sei se as outras mães não têm dores ou têm vergonha de falar nelas. Eu tenho muita vergonha. Porque a minha filha é linda e saudável e inteligente e eu ainda assim queixo-me à brava. Porque a vidinha muda mais do que eu pensei ser possível, se bem que ninguém pensa muito nisso. Porque três não é dois mais um é dois mais as múltiplas personalidades da criança, da mãe e do pai. Porque a minha vida era minha e agora é dela. Porque o amor por ela me engordou um coração que muitas vezes me comprime o estômago. E isso dói.

19.9.05

Undercover



Já chegaram aqui.

Honey-mum

Outro spin-off do casamento é ter sido considerada uma "mãe com mel". Ela não me larga e chama-me, de vício, a toda a hora. Sempre fomos um bocadinho peganhentas, mas esta adesividade toda exponenciou-se com a escola. Passou a acordar de noite (outra vez) e a chamar por mim num tom lamentoso. Um sinal engraçado da sua habilidade linguística é a variedade de títulos: mamã, mãe, mummy, tudo muito lamuriado e quase sempre ainda de olhos fechados. Quer sentir-me, quer sempre saber onde estou. Só espero que tanto pólen não lhe faça alergia.

18.9.05

A tri-loja



Sabe tão bem ver coisas bonitas. Assim, destas.
E destas.
E destas.