story:tell:her

31.12.05

2006 rules



Ou, como redisse uma amiga, rule 2006.

30.12.05

all about me



Calço 37, visto 27.
Peso 53 e alturo 1,63.
Serei simétrica?

O pequeno post dos medos



Está na altura de lhe comprar o livro.
Com o role-playing vieram os maus. Ai que medo! Inventa medos e maus e feios e medos dos maus feios. A mamã abraça muito.

29.12.05

Apetecia-me ser estudante. Assim, ter aulas e fazer exames. Sempre gostei dos exames. Apetecia-me estudar numa biblioteca quentinha, escolher o papel e as canetas, fazer apontamentos. Eu comigo, que nos damos tão bem. Gosto da intimidade do estudo, dos livros. De me ensinar, de aprender. Lembro-me da biblioteca do Darwin Building, da cave das revistas, de poder entrar e sair a desoras. Do prazer de encontrar a referência, de querer outra e mais outra e estarem ali. Só nunca gostei das fotocópias, da tinta nos dedos, do cheiro do toner, de escancarar as lombadas. Se eu precisasse de uns óculos queria de massa lilás ou verde. Ontem vi uns óculos tão lindos que quase me desejei míope. Blocos de linhas encostadas, leves, pontas de feltro fina. Não pode fazer barulho, a caneta não pode fazer barulho, não pode pic, pic, pic, picotar-me o ouvido. Os dossiers da Papelaria da Moda, baços.
História de Arte parece-me um bom curso.
Estudar é nada, o sol doira, sem literatura. Não acho.
Ela adora livros. Liga-lhes muito, mexe-lhes muito. Fico tão contente. Tenho saudades de ler mais livros. Há livros tão bonitos.
Acumulo cadernos, espero exames.

28.12.05

Escancarei a porta do bar



Vou tricotar-lhe uma gola, não achas?

27.12.05

D'este viver aqui neste post descripto


Noventa e seis meses de nós e de todas as coisas que são nossas.

26.12.05

(Black and) White Christmas



Isto este ano não correu muito bem. Não sei, ou sei, mas o espírito não me desceu. Temo que tenha chegado a ser antipática. Contrafiz comida de que não gosto, para que não tenho mão. A miúda sobreviveu a bolachas, queijo, iogurte e fatias douradas. Adora fatias douradas, como eu. Para mim o Natal é o cheiro das fatias douradas. Corto-lhas aos bocadinhos e come sozinha, com garfo. Está tão crescida, fala tanto. Estava cheia do sono que amorteceu no panda. Adorou o panda do avô. E o avô. Mais as frutas, o supermercado e o carrinho do bebé. Tão nova e já tem quatro filhos. Ainda há embrulhos por abrir, vou racionar a coisa durante as tardes de inverno.
Despedimos a família a tempo de resgatar a casa e um bocadinho de sofá. Finalmente sentei-me depois de dois dias, dois anos. Ele comentou que tudo devia ser bissexto.

23.12.05

Wish list



Querido Pai Natal,
O que eu gostava mesmo de receber era um cabelo mais liso.
Ana, (ainda) de caracóis

23, a conta que não se fez

A Mariana estava marcada para 23 no calendário da barriga. Fazia hoje dois anos se há dois anos tivesse nascido hoje. Chegou um mês antes, muito linda e pequenina, o que foi uma grande vantagem porque escorregou melhor de mim e poupou-nos dificuldades comemorativos que duram uma vida. Lembro-me de pensar que tinha engravidado na mesma altura da Maria, certamente com mais gozo, mas equiparada de ciclos com a Maria. Eu e a Maria tivemos barrigas do mesmo tamanho na mesma altura do ano. Ela não deve ter feito a morfológica, pelo que eu vi o meu bebé primeiro.
No primeiro Natal ela estava nas palhinhas e dormiu o tempo todo. No segundo já andava de mota. Amanhã abraçará um panda, sabiamente escolhido pelo avô.
Eu ando há dois Natais a safar-me das couves, mas amanhã tenho-as prometidas.

22.12.05

A mulher que jantou com a amiga

Ontem recuperei-me de saudades acumuladas, de maledicências latentes, de ser a Ana amiga da Patrícia. Ontem, eu comi arroz de pato e ela comeu pataniscas de bacalhau com arroz de feijão na Tasca do Manel, entrincheiradas entre outros, outras conversas, casadas de memórias, segredos, evidências, queixumes e gargalhadas.
Para além da ementa, registo aqui que ela usa o X-Small e calça 36. Tudo o mais serão boatos. Continua bonita, com brilhinhos na cara e manchinhas no coração.
(A)lojámos desnecessidades no Bairro Alto, enquanto desnomeávamos personagens da vidinha com hálito a basílico mastigado no Vertigo. Espreitámos o Bartis com a porta ainda fechada, verificámos que o meu carro ainda não tinha sido rebocado do lugar levemente proibido onde alojei aquela circunstância, que por travessas (literalmente, já não subia pela Pç. da Alegria há que anos) acelerei desde o outro lado da cidade.
Já não se faz o caminho do táxi.
Há anos que fizeram umas pontes.

21.12.05

My name is Time

Just in time
[via pontomedia]

On l'appele le samba

Diz ele.

Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei, como encantado
Ao lado teu

Divulgação imediata

To whom it may concern
(que é como quem diz a todos os desgraçados que tinham sido putativamente convidados para um eventual queijo e vinhos de Natal, hoje, lá em casa)

Por manifesta incapacidade do anfitrião, é com pesar que desconvidamos toda a gente. Não haverá queijo. Não haverá vinho. Não haverá fondue de chocolate. Haverá microorganismos e quiçá produtos fermentados, mas não é de bom tom estar aqui a descrevê-los publicamente.
Note-se que a culpa desta situação não pode ser atribuída à criança, boicotadora de tantas outras ocasiões no passado, mas absolutamente isenta desta responsabilidade, uma vez que levou as suas otites e canções brejeiras para casa dos avós. Todo e qualquer pus sito lá, na morada do convite, deverá ser atribuído ao meu marido. O meu marido é um ranhoso.
Agradecemos a vossa compreensão e desejamos ao ranhoso um rápido restabelecimento, já que há três dias que eu durmo no chão.

20.12.05

O que eu gosto de caleidoscópios. Lembrei-me que gostava de caleidoscópios (também gosto da palavra, é uma palavra bonita, dita e escrita) por causa deste self portrait tuesday.

DeLuxe

Pela hora do almoço, o pappy voltou para casa e enfiou a febre debaixo dos cobertores, o que me deixou com várias criaturas debilitadas e horizontais cá em casa, incluindo as figuras de chocolate que ela tirou da árvore e descascou de manhã. Apanhei-a quando já se preparava para abocanhar um sino e enfiei-lhe uma colherada de actifed. Aposto que é por isto que não vou ter presentes no Natal.
Voltei a trazer bolachas (c)húngaras do Minipreço. São uma versão rasca das Viennese Fancy, mas eu não ando sofisticada, contacto diariamente com ranho verde e compro collants de lã. Metade das bolachas está coberta de chocolate e na versão preço baixo esta manobra culinária é performada sem grande cuidado.
Tendo em conta as secreções que expulsa, a miúda está surpreendentemente bem disposta. Apanhei-a a cantar a versão brejeira do Jingle Bells, aquela do papel de jornal. A escola, para além do contacto com agentes infecciosos, também a prepara para o mundo real. É que se o gagabé não se percebe de imediato, o numfazmaulimpasojonau não deixa dúvidas.
A elegância da minha terça-feira acabou à dentada num McRoyal Deluxe resgatado no drive de Oeiras enquanto eles sorviam a sopa. There are times when a woman has to do what a woman has to do.

Piolhite (actualização)

Otite nos dois ouvidos.
Também, numa cabeça tão pequena parece-me fácil a coisa passar de um lado ao outro.

19.12.05

Piolhite

Adenoidite. Otite. Merdite.
Enfardo Oreos para esquecer.
As borbulhas da cara são reacção ao ranho purulento. Não há condições. Sai-lhe líquido amarelo do ouvido direito. Eu já ouvia tudo torto.
Parece que estamos sempre em reabilitação, a um dia de cada vez. Vou passar a escrever a lápis na agenda. Isso e deixar de fantasiar com uma vida social de qualquer espécie, you stupid woman.

diAgnostica

Tosse. Muita tosse. Umas borbulhas despropositadas na cara. Febre média. Ranho verde. Constipada. Tosse irritativa, constante. Varicela, herpes, alergia, dentes?
Soro. Xaropes.
Esgotaram-se-me as m(a)ezinhas.
Dói, Dói, Trim, Trim 808 24 24 00.
Esta noite começou finalmente a melhorar. Cabeceira levantada. Nebulizamo-nos (dei atrovent, ah pois dei). A mãe, quéo a mãe, xarope de cenoura, colchão da mãe no chão do quarto. Dorme-se bem ali. Doutoramo-nos hoje às oito.

17.12.05

Cold war



Sempre quis ter um palavrão cheio de palavrinhas. Ofereceram este ao pappy e eu já me declarei.

16.12.05

Tempo de vista

Ontem treinámos o olhar.
No jornal aprendi a respeitar as imagens com a mesma estima que reconheço às palavras. Gostei de alguns trabalhos a pares, gostava de explicar porque é que estávamos ali e reconhecer o interesse do serviço biónico. Além de que há fotógrafos mesmo giros.
Se eu tivesse tempo para cursos pedia ao Pai Natal uma máquina nova, só para mim. Como não tenho paradoxo-lhe um relógio.

Pijama party

Ainda me faltam alguns presentes. E presenças, faltam-me sempre presenças. Presenças em sítios destes (fauvismo em Janeiro), assim ou no café/restaurante que parece que abriu na Casa dos Dias d'Água.
Os presentes há anos que me urticam, desgastam. Fico muito contente com os e desmaiada de entusiasmo com uns. Esforço-me sem resultados garantidos, embrulho-me de (in)consciências com os excessos. Gosto de surpresas pequeninas e de receber um pijama. Sim por não, comprei-me um pijama. Gosto de oferecer surpresas e pijamas (que depois não ofereço porque só eu é que devo gostar de receber pijamas). Ela vai ter um pijama, de surpresa. Tudo neste Natal vai ser uma surpresa porque ela não se lembra dos outros natais. Nem de que gosta de fatias douradas.

15.12.05

(heart) Breaking news

Hoje é a festa de Natal na escolinha. Eu sei que ela é pequenina e não vai perceber que há uma festa a que ela não vai, mas a mim custa-me à brava. Quando eu era miúda era muito sensível a estas coisas. Ainda hoje me lembro do teatrinho a que faltei, e onde faria de princesa (de princesa!), porque calhou no dia do exame psicológico a que os meus pais me levaram porque não comia peixe. Houve uma altura em que eu não queria comer peixe, não porque não gostasse, mas porque tinha um medo aterrador das espinhas. Coitados dos meus pais, aquilo devia ser uma grande preocupação. Lembro-me do meu pai me desfiar o peixe toda à minha vista e ainda assim era um demónio. E eu não fiz de princesa. Tive que esperar mais de 15 anos para baloiçar uma saia comprida e rodada. Ela não vai porque não está melhor, porque está pior, porque de noite teve febre e tossiu mais que sei lá e acordou com a cara crocante de ranho. Até me assustei. Tinha uma camada de ranho seco, arrepanhado, como uma máscara. Yuk. Coitadinha. Entalei a manhã com malas e viagens interconcelhias, exilei-a nos avós e só a vejo outra vez amanhã à noite porque hoje vou falar de reportagens. Re-portagens, reporta-gens, repor-tagens... tenho que preparar melhor a aula ou ainda percebem de vez que nunca mais serei a mesma.

14.12.05

Amanhã/o-me

As nossas manhãs são uma dramédia. Quem me dera que fossemos as duas carecas e nunca estivesse frio para collants. Eu não uso, mas aprisiono-lhe as pernas quase sempre. Vale-me o CD das doidas para a distrair.
Tenho cá para mim que as mães de filhos pequenos deviam entrar uma hora mais tarde do que todos.
Solavanco-me com a tosse dela e espero pelo melhor, que é como quem diz que não tenha febre.
Ofereci-me mais dez minutos de atraso para poder vir sentada no comboio e encarreirar um verde musguinho no castanho do gorro. Que agora me parece pequeno.
Baixo os olhos.

13.12.05

Da idade

Reconheço-me madura,

- se me apetece pinto as unhas e depois corto-as rente, que são as minhas melhores mãos
- nos transportes públicos, quando posso sento-me
- já não tenho medo das empregadas das perfumarias
- consigo responder "tu eras um cavalo de corrida" quando alguém diz "e agora?" e manter a face
- cansa-me a contrafacção
- ontem enfrentei um trânsito doentio, consegui estacionar no Rato e, quando depois do exame do pediatra percebi que não tinha fraldas para mudar, dobrei uma de pano e desenrasquei-nos à antiga
- dou três dígitos por umas boas calças
- voltei e quase não conseguia sair; olá Ana, queres vir lanchar connosco?*

*senhoras educadas, assunto sério

Oh-Oh-Oh

Confirma-se. A maioria das vezes ela diz Mãe-Natal e não Pai-Natal.

Hum...

- já percebeu que sou eu que compro tudo cá em casa
- sou eu que vou ao supermercado (agora veste o casaco, põe-se à porta e diz que vai ao supémecado; às vezes também acena e diz já venho, vou ao supémecado)
- acha-me gorda (eu não sou gorda, nem estou gorda... pois não?)
- eu não uso vermelho
- adivinhou que sou eu que vou ficar a arranjar o cabrito até às duas da manhã da véspera
- sou eu que vou fazer o pudim do Abade
- a minha mala é grande
Mas,
- é sempre o pappy que faz os foguinhos na lareira
- foi o pappy que ofereceu o lindo leitor de CDs do Mickey
- ele usa vermelho
- ele, definitivamente, não é gordo
- está bem que também não tem uma voz grossa...
- ele usa chapéu e eu uso boné

Sim por não vou ter mais atenção ao buço.

11.12.05

Improvável



A paleta. Acho que vou seguir para gorro e chamar-lhe mirtilo de nuvem sobre trança.

O sopro do coração



Nisto já nem de ar precisas
Só meras brisas,
Raras
*

Mirtilo sobre seda



A arte contemporânea é um gosto que se adquire, como o abacate ou a beringela. A mim desafia-me, in a good way. Achei a colecção permanente pouca, onde está o resto? Gosto do Rui Chafes, nem por isso de Pedro Costa. Não tenho à vontade com o vídeo, custa-me aquele meio quase fim, que não é cinema nem televisão, que loopa. Quase que prefiro os stills, quase que entro um dia destes no Hotel para ver um trabalho que me impressiona.


O meu underwater love.


Eu, no lago.

Diz-me, espelho meu



Há alguém mais perto de cair no lago do que eu?

Fundações



Tivemos os pés presos às pedras do caminho. Descansámos em dois dias pedonais, preguiçosos. Se não nos tivéssemos perdido a tentar aFundar teria sido perfeito. Lembrem-me para não voltar ao Porto de carro*.

*Salvou-nos a caridade de uma senhora despachada que nos norteou quando já só queríamos era sular, onde "Centro" também não indica o centro, mas nós já sabemos isso.

7.12.05

Pontes espigadas

Amanhã subimos o rectângulo. A menina fica a tomar conta dos avós. Levo o tricô e expectativas sobre o pequeno-almoço. Ela leva a franja cortada. Depois daquele domingo assombrado voltou a ser uma querida (eram os dentes? a barriga? a chuva? a chuva não bate assim). Tenho muita vergonha de me queixar da minha filha, mas não consigo evitar-me. Gosto mais dela do que de pão com manteiga.
Ao fim da tarde fomos ao adro ver as luzes e estavam a montar o presépio. O presépio cá de casa é muito simples, de gesso branco. A ver se trazemos uma bola nova para a árvore. No sábado vamos à Casa e à Fundação. É uma pena não ter tido tempo para temperar o cabelo de canela, ficava bem com o casaco quentinho. Vou tricotar na viagem e talvez acabe o cachecol. Vamos bem, fica bem.

Na Rua da Escola

Ontem fui à Politécnica. Espreitei as obras do Laboratório. Lembrei-me das bancadas tortas onde escorregavam os tubos, onde não se conseguia acertar o menisco, do anfiteatro desergonómico com as poltronas na fila de baixo, das gargalhadas, das mangueiras das condensações a esguicharem por todo o lado. Há 15 anos apinhávamo-nos para as aulas das 8:00 com o Catarino e fugíamos pelas janelas no meio das demonstrações da Higina. Horas a fio no jardim, na Císter. Uma meia de leite e um croissant com creme. Mudaram os empregados todos, não mudaram os croissants. "Não, não pode vir à janela olhar para o jardim", disse-me e eu não quis acreditar. E eu lá voltei para a lâmina molhada do lago. O cheiro da Ginkgo, as folhas de herbário, a cera da Biblioteca. O sol nas escadas, o pêndulo, a formica da cantina. Ontem vi Borboletas a esvoaçar no próximo Outono.

6.12.05

Acknowledging

Foi o primeiro blog que eu li, o blog que me explicou o que era um blog. Continua (a)postado.

5.12.05

Tantrum* verde

Hoje de manhã tossiu umas três vezes e eu quase me desfiz. Passou-lhe, deve ter sido da noite, da chucha, dos engasgos ensonados. Ontem não tinha tosse. Ontem já preenchia os ticks necessários para voltar para o infectário. Estou aqui impaciente, para ver o que sai dali. Choramingou um bocadinho, pois foi, muitos dias fora, muito mimo. Esqueceu-se com a boneca da outra menina. Eu arrastei-me dali, transpirada, chuvida, com o boné enfiado e a expectativa de fora. Não há meio de me deixar de doer a garganta.

*a display of bad temper; "she threw a tantrum", ou o meu fim-de-semana numa palavra.

Manifesto



Hoje é segunda-feira. Think positive.

4.12.05

Arvorados



A nossa árvore foi um presente do casamento, dois dias depois do Natal. É linda. As bolas vieram de muitos sítios e descombinam umas com as outras. Sempre quis ter uma árvore assim, que crescesse connosco, com enfeites que redescobrimos todos os anos. Não aprecio as árvores de revista, combinadas de cores ou temas. A nossa tem todas as cores, como a vidinha. Tem bolas grandes e pequenas e ricas e tortas, oferecidas por nós ou para nós. A nossa árvore é nossa.

m&m



Não sei de onde vem tanta cola. Ele há dias em que não me larga. Puxa-me, exige-me, entope-me dela. Rabuja por tudo. Choraminga por nada. Eu podia não ligar, mas é verdade que me incomoda. Incomoda-me ter uma filha colada às pernas, aos braços, ao pescoço. Será que está doente, que lhe doem os dentes, a barriga? Será demasiado mimo, demasiado colo? Descolo-me como posso, como já não posso.

Teen spirit



Encasaquei-me num sítio improvável. O forro é preto, mas a etiqueta é bonita. Ainda me demorei em curtas metragens, engelhos e misturas de fibras. Firmei-me no plano inicial, fitei o adversário, o moral estava alto, não havia esférico nem onze do outro lado, mas eu concretizei. 1-0 para mim contra mim.
Ainda tentei a Rua do Norte. Cada vez que lá vou prometo-me voltar e não pecar em centros comerciais globalizados. Mas não havia casacos a jeito. Numa das lojas identificaram-me o crachá.
Namorei saias e camisolas. Malas. Piercings. 27,45€ por um ponto negro biónico. Procuro espaços distantes onde ainda sou adolescente.

2.12.05

O meu gabinete tem um ar condicionado que ainda não domino. Tenho as mãos frias. Lá fora continua miserável. Tenho uma baba de melga na testa. Só na minha casa é que ainda devem viver melgas, o que provavelmente ajuda ao argumento de que ainda não é preciso ligar o aquecimento. Sonho com a toalha de banho quentinha. A dela aqueço no radiador. Mãos frias, coração quente, amor ardente. Tirei o verniz vermelho e agora tenho umas marcas rosadas nas bermas das unhas. É mais ou menos como ter raízes no cabelo. Eu não era nada de unhas, mas agora sinto falta daquele carmim no teclado. Parece que me aliviava a pressão do que lá escrevo. Unhas carmim, trabalho pendente, cabeça ausente. Trouxe a camisola nova. É quentinha. Penso no casaco. Está-se mesmo a ver que não vou gostar de nenhum. Queria preto, por cima do joelho, cintado. E o forro, aposto que não vai haver forro de jeito. Deu-me para o preto. Eu, que não era de preto. Mas fica bem com as unhas. E com o batôn 155 da Biotherm, que não encontro em lado nenhum, só vi a amostra. Devia ter trazido a amostra. Estava nova, ninguém compra maquilhagem Biotherm. Agarro o bafo em concha. Vou saber se está melhor. Mãos quentes, coração frio, amor vadio.

1.12.05

vira casacos

Ontem comprei uma camisola de gola alta. Hoje vou procurar um casaco. Porque está a ficar frio e, como li ontem na revista, chega uma altura em que uma mulher percebe que não pode viver só com casacos curtos. Que era o meu caso. Mas casacos curtos e calças baixas não é uma coisa saudável. É um desconsolo quando se empurra um carrinho, quando se apertam os cintos da cadeira no carro, quando se dá colo e se apanham chuchas do chão, quando está frio. Quando as camisolas também são curtas. Eu não gosto de vestir cobertores, de pesar, de arrastar nos degraus ou prender nas portas. Mas chega uma altura em que percebemos o que é que a mãe queria dizer com aquilo de investir num bom casaco. Eu, que lhe procuro bodies em todas as lojas, que lhe entalo collants e camisolas, que lhe escolho sempre os casacos polares mais confortáveis, que insisto nas pantufas e ando há semanas a querer ligar o aquecimento, eu arrisco os quadris e sinto-me uma verdadeira fashion victim. Vou procurar o casaco. Não vai ser fácil. May the force be with me.

Espirrismo abstracto



Costumam ser oito bibes, mas a coisa tem andado por baixo. Por baixa. A Mariana ontem já gazetou a agora acaba de seguir com o , para ver as cocós. Porque nós amanhã vamos para a escola, mas ela não. Por causa das rosetas nas bochechas, da cabeça inclinada, do sossego. Snif.
Eu tenho a garganta virulenta, pelo menos no sentido médico. E dói-me um bocadinho de tudo. Custa-me deixá-la, que fica bem, que eu sei que fica bem, mas custa-me isto de dar uma trabalheira, de fazer malas de fraldas e recados, de alijar carga. Levava o gorro novo. É tão giro, tem uns pompons cor-de-rosa e tapa as orelhas. E lá foi o livro novo das letras. Já conhece o M, o P e o R. E os lápis, também foram os lápis. Fiquei a preto e branco.