story:tell:her

18.10.05

Shity shity bang bang

A escola da Mariana tem dois patos e eu até tive muita sorte. Não sei bem onde, mas em alguma altura pousei a mala no chão. Talvez quando lhe tirei o casaco, quando sacudi as migalhas ou quando fui lá atrás guardar o carrinho. Tive muita sorte porque só dei conta quando me sentei no comboio e ainda nem tinha pousado a mala no colo. Muita sorte porque o nariz das mães detecta cocós com muito maior facilidade, é uma coisa que se adquire, esta capacidade de torcer o nariz, de desconfiar quando alguma coisa está suja. A sorte continuou porque tinha comigo lenços de papel e pude limpar o cocó do pato - deve ser do pato que nesta altura do ano mais ninguém tem treino de bacio. A sorte foi ter-me cheirado logo, a mim e a todos à minha volta, mas eu não levantei os olhos e por isso não tive que dar explicações nem falar de patos. Não que eu nessa altura conseguisse falar, transpirada, cansada, esfalfada, ocupada a limpar o cocó do pato do canto da minha mala. Ainda era bastante cocó, tive mesmo sorte em não ter barrado mais nada, ufa. Outra coisa positiva é que eu sei que é mesmo assim, que o cheiro do cocó demora a passar, às vezes até é preciso abrir a janela e mesmo aborrecido é quando já é de noite e ficam aquelas moléculas a perdurar no quarto. Que o cocó nas criaças é uma coisa persistente e cíclica. Nos patos também. E agora no canto da minha mala. Eu devia era ter toalhetes húmidos comigo, isso é que tinha sido uma sorte. Paciência, assim já não foi mau.