story:tell:her

29.11.05

This way up

Já tenho saudades de mim aqui. De me contar a mim própria, aos que conheço e me lêem aqui, aos que só conheço daqui. Se calhar até tenho saudades dos que não conheço, que não me conhecem, mas que até parece que sim. Eu, que não meto conversa com ninguém, que baixava os olhos envergonhada nas lojas quando a minha mãe conversava com os empregados, quando me explicava e às minhas necessidades aos empregados, quer fossem camisolas de gola alta ou collants ou tecido a metro. Lembro-me de vir a Lisboa comprar tecidos com a minha mãe. De subir escadas de madeira e percorrer primeiros andares de pó e lã virgem. Já não há lojas em primeiros andares. Pois eu, que não cruzo olhares nos transportes, nos elevadores, que não tenho opinião pública sobre o tempo nem o Governo, que gosto de supermercados grandes, eu tenho saudades de vir aqui contar a vidinha.
Hoje passámos a manhã no notário para dizer adeus à casa velha. Que é nova para os outros que também perderam a manhã. Nunca mais lá fui, quase um ano. A minha filha já não se lembra dela, mas ainda lá está a barra do quarto. Foi uma boa casa, com horizonte da ponte ao Bugio, dos 25 aos 32. Adeus casa, pingo uma saudade por ti, por nós.
E aproveito para entornar mais um bocadinho por coisa nenhuma, por coisas de nada, como ela faz a toda a hora.

28.11.05

PomPom



Um ano depois da Péu e dois depois da Piolha.

27.11.05



Um requeijão, 5 ovos, uma mãe de farinha, açúcar a gosto, um pai de canela.

24.11.05

Partida, Lagarta, Fugida

No domingo fazemos dois anos.
Lembro-me que pouco antes dela nascer organizei um seminário e andei a lufar de barriga, a transpirar, a sentir dores baixas, literalmente a segurar a vida com a palma da mão. Esta semana lufo estreita de barriga e engordada de culpa, transpiro e, sentindo dores altas, penso na vida que tenho na mão.
Está tudo bem, corre tudo bem, só corre muito.

19.11.05

Se eu tivesse aqui à mão uma amiguinha, apetecia-me passar o resto da noite a dizer parvoíces, a fazer piadinhas tolas, à desgarrada. Quanto mais cansada estou, mais me salta o humor, o despropósito. Lembro-me de fins de trabalhos, fins de exames, fins de noite gargalhantes, doridos de abdómen e maxilar. Agora é muito raro rir assim, em quantidade. (Sor)rio com profissionalismo, com circunstância, com gentileza, mas raramente sem filtro. Tenho amigos com muita piada, mas a última vez que estivémos todos juntos foi no meu casamento. E isso não tem graça. Aparvalhar em conjunto é uma coisa muito séria, uma intimidade. Às vezes one laugh stand faz uma amizade para a vida.
Esta semana ela fez-me a primeira careta. A miúda tem futuro.

:-) amarelo



A Mariana está a aprender as cores. Foi muito mais rápida com os números. Troca muitas vezes os nomes das cores mais comuns, mas sabe sempre o castanho, o laranja, o roxo. Será um espírito indie?
A mim apeteceu-me amarelo. Smile, o seu IP está a ser registado!

16.11.05

Full Mum



A Mariana está exilada na avó, mais a virose que trouxe do infectário. Que eu acho que se asilou em mim. Aluo-me com mais tarefas do que um horário saudável permitiria.

15.11.05

in Formação

Estou a ter uma formação ali nas avenidas novas. Estranho aquela city, as ruas, a população, os cafés, as lojas. Quando tiver mais tempo faço uma análise SWOT, agora vou aproveitar o resto da hora de almoço para ide(i)alizar, que logo sou eu a formar.

Footnotes:
A Mariana está constipadíssima. E rabugenta. Coitadas de nós.
Este blog fez ontem um ano, mas foi a Sónia a dar por isso.
Eu hoje à noite vou matar o Rato Mickey e só devo chegar a casa lá para a meia-noite.

13.11.05

Contradi(c)ção



Eu não uso v-e-r-m-e-l-h-o.

Mas hoje foi dia de (a)propriedade e vestidos (o meu com calças, o dela não). Na casa do Xesus molharam o puto e velaram-lhe uma luz. Gosto da imagem da luz. Não aprecio nada do resto; a insistência na exclusão, no preço da falta de sacramentos, nas obrigações. Preferia que me explicassem as alegrias, que me fizessem sorrir. Não podemos pertencer ao que não reconhecemos como nosso.
Eu já pedi, não sei bem a quem, mas sei o quê. Gosto de igrejas. Já me comovi só de entrar no Sacré Coeur, pela beleza, pela fé alheia, pela capacidade de convocar a vontade humana, pelo conceito de abrigo. Também me lembro de entrar numa igreja holandesa e es/ntranhar tudo, a luz, o quadrado central, a diferença. A mesma diferença que faz com que na Escócia dezenas de ex-igrejas funcionem como qualquer outra coisa, feiras, salas de concerto, recintos de salsa. Dessa vez, enquanto torcia o corpo, esforçava-me por torcer o entendimento. Saí sem entorses.
Nós não nos prometemos até à morte, mas eu quero gostar dele para sempre. E acredito que o Xesus não a vai deixar de fora só porque não lho pedimos alto.

Performance



Hoje foi o baptizado do primo da Mariana. Depois de bentos fomos passear ao Palácio de Queluz. Assim que saímos para o jardim reconheci-o e temi que na Cozinha nos servissem coração.

12.11.05

Ca/erteira



Agora, que já tenho idade para andar de porta-moedas na mão.

Modus vivendi



Não resisto ao slo(w)gan. Nem ao resto.
Começou tudo com umas calças e 70% de desconto. Usei-as tanto que estão quase transparentes. Seguiram-se os ténis da minha vida e uma ganga perfeita. Agora foi a loucura. Ela também é uma TDi.

11.11.05

Há semanas que ele anda a puxá-lo do Kazaa.

ContraTempo

Tenho saudades de não ter pressa. De não estar atrasada para alguma coisa ou em alguma coisa. A última vez que não tive pressa deve ter sido na licença de parto. Ou talvez não, possivelmente tinha pressa que ela segurasse a cabeça, que comesse a sopa, que sei lá. Invejo quem anda na rua sem pressa, quem não estuga a vidinha entre duas dentadas do tempo. Provavelmente são os jovens e os velhos, uns de muito outros de pouco.
Muitas vezes faço força para não me apressar, para a deixar cansar-se dos miminhos, da água quente do banho, das migalhas do pão, de me pular na barriga. Faço força para não interromper a vida com a vidinha. Sinto muitas vezes que roubo tudo o que tenho, roubo a família ao trabalho e o trabalho à família, roubo-lhe ele a ela e ela a nós, roubo o jantar aos lápis de cera e tudo ao sono. Tenho saudades de marcar passo, de ver passar os eléctricos, de pensar na morte de bezerras. No outro dia uma amiga confessou-me aquilo que eu já sabia: que no banho planeia o expediente da manhã, porque não há tempo para tomar banho. Doidas, somos umas doidas. Como as galinhas, que provavelmente não pensam nisso porque nunca tomam banho.

8.11.05

Terra do Sempre

É injusto não reconhecer as vantagens:
Decido e isso é bom. Decido melhor porque tenho mais prática.
Mando, o que às vezes é bom outras ricocheta, mas aprendi a desviar-me.
(Des)Confio com maior clareza. Confio-me.
Relaciono as coisas umas com as outras, o que é divertido porque há cada vez mais coisas giras guardadas no meu cérebro. E mais inutilidades, o que às vezes também pode parecer giro.
Conheço/ci mais pessoas interessantes.
Vivi mais coisas, vivi mais coisas boas.
Jã não tenho medo de guiar.
Aprendi a falar ao telefone com estranhos, o que é bom porque agora falo mais com eles do que com os amigos.
Não como nabos, arroz de grelos nem pescadinhas fritas.
Ela.
Ele, às vezes in a funny way.

Peter P(Ana)

Também ando cheia de consciência da minha idade. Não me apetece ser "crescida" como me querem obrigar*

Acho que é mesmo disto que se trata. A verdade é esta: já não sou jovem. Sou adulta, uma adulta jovem, mas não uma jovem adulta. Tomo conta de pessoas, bens e serviços. Tenho uma hipoteca e o jantar para fazer. Congelo cebola picada e sei escrever cartas institucionais. Sou formadora, não sou formanda. Quanto mais penso nisso mais rotas são as calças que compro, o que me lixa a participação nas conversas sobre "os jovens só quererem andar de ténis". Preciso de dormir, de descansar, tenho dores nas costas e ambiciono a fisioterapia. Guardo restos de comida em caixinhas que depois acabam esvaziadas num lixo culpado. Vejo DVDs, não vou ao King. Leio revistas de gaja, mas não de pita. Já comprei a Pais&Filhos e não vou à BD da Amadora. Tenho rugas de expressão e expressões com rugas. Não sei mandar SMSs rapidamente e gosto de brócolos. Começo demasiadas frases com "A mãe..." em vez de "A Ana...", que eu tinha a mania de falar de mim na terceira pessoa. Agora eu sou a terceira pessoa. Organizo Natais, elogio as propriedades do peixe e muitas vezes prefiro a fruta e não o doce. Há miúdas com o dobro do meu corpo e metade da minha idade. Não faço fitas quando me aleijo. Sei pregar botões.


*fonte protegida, devidamente identificada
Se calhar devia beber Red Bull (nunca bebi red bull, sabe a quê?). Ou aquelas bebidas dos desportistas que vêm em garrafas giras. Algo que me desse movimento, momento, mento. Upa, vamos lá a animar. Amorteço-me em tarefas que nunca estão terminadas, atrito-me com (des)empenhos parciais, pesa-me o lastro, contamino a maré com invasivas recolhidas noutros mare(é)s. Apetece-me queixar-me, queria ir comer panquecas e chás. Hoje tive que acordar a miúda e forçá-la a despir, a vestir, a ir. Coitadinha da filharuca, era cedo e hoje é que lhe deu para dormir. É como a chuva que cai no fds e não durante a semana. Mas hoje ainda chove. Talking about the weather, hã? Sou uma chata oficial. Ontem no comboio refilei com umas jovens. Boring. No filme, havia uma altura em que o parvalhão dizia que a miúda nova não era nervosa, nem preocupada como a noiva, que era só fixe. Eu quero ser fixe. O Soares se calhar também quer voltar a ser fixe. Are we doomed?

7.11.05

EmBirra

A garota dormiu nos avós uma noite. Literalmente, que eles são demasiado permissivos à insidia nocturna de uma piolha espertalhuça. O resultado foi esta noite acordarmos de hora a hora com lágrimas despropositadas e exigências entornadas na almofada. Queria vir para a nossa cama, ressonar para a nossa cama, mesmo ali ao pé do meu ouvido, provavelmente em cima do meu ouvido, a pontapear-me, a puxar-me o cabelo, a desgastar-me o mimo de a ter ali com silvos nasais e tossidelas. Não deixei. Cheguei a sentir-me malvada, mas resisti. Defendi as minhas fronteiras. Antes das 6 da manhã não deixo.
Ainda assim estou um bocado brain dead. E heart dead. E hair dead. E isso.

6.11.05

Dramedy

É um bring-your-own-bottle filme porque é um filme normal sobre pessoas normais. Tem um anti-herói, um totó e uma ref/verência elegante com o vinho. O diálogo intimista com a Maya é uma verdadeira message-in-a bottle. Ainda bem que alguém partiu o nariz ao amigo.

De Baixa



Ontem ensolarámos a manhã na Baixa. Fomos de comboio, uma excitação. "Fecha a póta!", imperiava a piolha, que as portas (e as gavetas e tudo o que mexa) são para fechar (e abrir e fechar e abrir e fechar, com sorte sem entalar). A excitação da locomoção, o sol quentinho, o "máie" que se via da janela, as subidas e caídas do banco, com tudo adormeceu na Rua do Arsenal e só voltou a acordar quando a mãe escolhia canetas. Escolher canetas é uma coisa séria e ainda leva o seu tempo. Fomos comer "bolinho" à Confeitaria Nacional, espaventar os pombos no Rossio, Chiadar. Empurrei-nos mais de duas horas pelos meus locais preferidos, que eu gosto muito da Baixa. O pai resgatou-nos mesmo a tempo, quando um senhor que partilhava o muro connosco nos confidenciava que não se podia vir às compras com mulheres e que já se tinha sentado mais de 50 vezes. Achámo-lo um exagerado, não foi filha?

4.11.05

Insatisfação



Há semanas que não encarreiro nada de jeito. Queria fazer-lhe um cache-coeur curtinho para o vestido das festas e já só faltam 23 dias para a liveline.

Satisfação

Desde que dei por mim a fazer vários telefonemas dentro de um táxi enquanto negociava com o condutor o melhor caminho, percebi porque é que não tenho tempo para postar. É porque não tenho tempo nenhum. A menina está bem, obrigada. Eu aprendi a utilizar a palavra ressarcida, o que diz tudo sobre a vidinha de uma pessoa. Exemplo: eu não sou ressarcida da vida que desconto a telefonar dentro de táxis.

1.11.05

Hearttakeoff

Desde o livro que ando com saudades lá das terras altas e nem a chuva de cá é como a de lá, miudinha, oblíqua, ubíqua, mas raramente intempestiva e claro que nunca imprevisível. A chuva na Escócia era sempre visível.
O Bryson faz descrições excelentes, daquelas que quem (re)conhece reconstitui imediatamente. Muitas vezes sorri para comim nestes últimos dias.
Ontem, o filme era lá, Heartlands, mais abaixo mas lá, onde verde mais verde não há. E mostrava Blackpool, que eu só vi no livro e confirmei que estava certo. Que é uma cidade geminada de Quarteira, que não é como Brighton. Apetecia-me viajar.

A propósito da efeméride, nas salas dos B&B encontram-se frequentemente casais de idosos em que a mulher do coronel parece que pôs o bâton no meio de um terramoto.