story:tell:her

8.11.05

Peter P(Ana)

Também ando cheia de consciência da minha idade. Não me apetece ser "crescida" como me querem obrigar*

Acho que é mesmo disto que se trata. A verdade é esta: já não sou jovem. Sou adulta, uma adulta jovem, mas não uma jovem adulta. Tomo conta de pessoas, bens e serviços. Tenho uma hipoteca e o jantar para fazer. Congelo cebola picada e sei escrever cartas institucionais. Sou formadora, não sou formanda. Quanto mais penso nisso mais rotas são as calças que compro, o que me lixa a participação nas conversas sobre "os jovens só quererem andar de ténis". Preciso de dormir, de descansar, tenho dores nas costas e ambiciono a fisioterapia. Guardo restos de comida em caixinhas que depois acabam esvaziadas num lixo culpado. Vejo DVDs, não vou ao King. Leio revistas de gaja, mas não de pita. Já comprei a Pais&Filhos e não vou à BD da Amadora. Tenho rugas de expressão e expressões com rugas. Não sei mandar SMSs rapidamente e gosto de brócolos. Começo demasiadas frases com "A mãe..." em vez de "A Ana...", que eu tinha a mania de falar de mim na terceira pessoa. Agora eu sou a terceira pessoa. Organizo Natais, elogio as propriedades do peixe e muitas vezes prefiro a fruta e não o doce. Há miúdas com o dobro do meu corpo e metade da minha idade. Não faço fitas quando me aleijo. Sei pregar botões.


*fonte protegida, devidamente identificada