story:tell:her

31.1.06

Things fall down. People look up. And when it rains, it pours.

Parece que o Tom Cruise vai ganhar um mau prémio por ser mau actor. Ouvi hoje na rádio e sorri. Eu não embirro com o Tom, até o acho giro e sim, vi o Cocktail. Embirro é com a fleuma ensimesmada com que muita gente renega os seus próprios deslizes culturais. A necessidade pacóvia de mentir sobre a espreitadela no horóscopo ou o filme lamecha. Acho tão ridículo que só me apetece provocar. Uma criatura que desconheço, mas que falava na Radar, esse portento de erudição, cuspia malvadezes sobre o Tom e assumia só o ter gostado no Magnólia. Daí a uns minutos, a colega, parola, interrompia o alinhamento para recuperar também o Eyes Wide Shut. Ah, pronto. Entreolhámo-nos, risonhos, revirámos os olhos e as memórias. O Magnólia. Ainda me hão-de explicar os sapos. Já nem me lembro se gostei do Magnólia. Lembro-me dos sapos. Nem me lembro bem do Tom, eu é mais sapos. Os sapos e o John C. Reilly.
É como a televisão. Eu até estou à vontade, vontadinha, para falar da televisão. Eu não gosto muito da televisão e sou imune ao zapping. Eu vejo pouca televisão e até já não a tive. Nós temos uma televisão antiga, que não é flat e cabia dentro do Smart. Temos só uma e nunca haverá uma no quarto, embora o construtor da minha casa tenha pensado nisso. Mas eu vejo televisão quando me apetece e o que me apetece. Porque eu sou mais eu. Eu via a telenovela da Malu quando estava de licença de parto porque ficava acordada até à uma à espera da mamada e comia bolachas de aveia (que li que fazia bem ao leite, a aveia) e via a coitadinha da Malu a ser maltratada pela outra. Eu é mais sapos.

30.1.06

Os piolhos sabem nadar, iô



Sentámos a amizade na alcatifa e esperámos juntos pelos bichos. São boas estas amizades de rabo no chão, de massa com pesto e bolo de chocolate. De verdades e verdadinhas, birras e nódoas de fruta. A Mariana pediu beijos ao filho e histórias ao pai, amiga. Eu pedi desculpa pela massa, que afinal era um elogio. Esqueci-me de mostrar o resto da casa, onde não estão os brinquedos e por isso não interessa. Se pudesse pedia mais tempo para conversas de amigas. Daquelas que não se vêem, mas se sentem.
Da próxima somos nós a descer o rectângulo, lá mais para o verão. Brrrrrr.

27.1.06

Capoeira

Hoje sonhei com uma amiga que já não vejo há uns dois anos, mas sei que não consegue engravidar. Há duas semanas escorreu-lhe uma FIV e comparámos inundações. Recordei dores e procedimentos. Já quase esqueci a angústia.

Doidas, doidas, doidas andam as galinhas

Quase toda a gente tem filhos, parece-nos. Como a miúda de 16 anos, uma bola redonda, redonda, no corpinho apertado; o cabelo liso, infantil, as pulseiras de prata, o ex-namorado; descuidou o sábado e agora estava ali ao meu lado, que ecografava uma barriga derrotada, tumular.

Para por o ovo lá no buraquinho

Fomos ao casamento deles. É um casal muito bonito, saudável. Quando éramos miúdas enfrentei-lhe nem sei quantos pretendentes. Os olhos azuis, rasos. Porque quem ainda não tem não sabe se vai ter, porque parece que toda a gente tem menos nós, que queremos tanto.

Raspam, raspam, raspam, para alisar a terra

É como os jogos de vídeo, cheio de níveis. Eu passava logo o primeiro, mas aterrava no segundo. Há quem não consiga começar a jogar. O contador a passar e os jogadores imóveis. O árbitro a mandar seguir, a não registar faltas, e o esférico parado.

Bicam, bicam, bicam para fazer o ninho

Outros amigos chegaram a mudar de casa, de carro, para uma vidinha que não chegou, que entretanto se dividiu em duas. Porque parece mesmo que toda a gente tem. Como quem entrou comigo naquela tarde, com 31 semanas de enfado e que no dia seguinte passeava os cigarros no corredor, que só lhe vi sempre os cigarros e o enfa(r)do. Quem não tem não sabe se vai ter e isso é uma grande aflição. Escorrem-se sonhos e expectativas.
De manhã acordou cedo e pediu-me o leitinho. Agarrei-a quentinha, agarrei-a tanto. Atrasámo-nos mais um bocadinho com toques de mimo, deitadas, amigas, 26 meses de juntas.
A ver se ligo à Rita.

26.1.06

The Muppet Show



Ontem tive muito frio. Passei o dia encolhida numa versão low profile a preto e branco. Hoje até collants e uma camisola peluda. Pareço uma personagem dos Marretas ou da Rua Sésamo.
Os meus meninos portaram-se lindamente. Vinham arranjados e cooperantes, um bocado encolhidos também, mas valentes. Passou-se bem. Começou a aula pelo meio, que tinha o power point mais colorido. Ensaiámos entradas e descontracções. Empoei o nariz, mas não consegui segurar as mãos. Done.
Next.
Preparo uma viagem ao fim do arco-íris. Ainda devia ir saldar um fato. Os que me ficaram da fase quadrada não me servem no momento cúbico. Queria um fato preto, mate, cintado. Isso e um programa para o fim-de-semana. Mergulhamos? Mentimos?

25.1.06

Re(search)style

Tenho coisas atrasadas, como sempre. Vivo no passado dos compromissos adiados, dos prazos perdidos. Tenho um estilo de investigação rétro. Talvez mesmo démodé.

Na caixa

Hoje vamos ter a televisão na aula. Uma meta-entrevista que alvoroça mesmo quem é da casa. A imagem, a nossa imagem, é uma coisa estranha, a que não estamos habituados. O espelho é uma versão contrária e 2D. Ao espelho todos fazemos boquinhas, descansamos as sobrancelhas e localizamos o olhar. Os outros conhecem-nos, mas nós não. Estranhamos a voz, o volume do cabelo, o nariz, o riso. Estranhamo-nos. E o pior de tudo é os outros dizerem-nos que somos mesmo assim, que aquela é a nossa imagem, o nosso registo. Nós somos mesmo assim. Argh.
Na semana passada uma amiga foi fotografada para uma revista. Tem dois filhos, é bonita. Escolheu do armário um conjunto que não tivesse nódoas de papa ou ranho. Ao que uma pessoa chega. Escolher uma pose por defeito de nódoas. A minha sorte é que uso calças cada vez mais tortas. Descubro-me muitas vezes manchada de vidinha. Palavra que não percebo como fazem as mulheres arranjadas. Devem dormir pouquíssimo para conseguir montar o show diário da base, do brilho no cabelo, das unhas bonitas. Eu continuo sem perceber como esfolo tanto as biqueiras dos sapatos, agora que já nem tenho recreio.
Hoje à tarde, o meu grande objectivo é evitar um ataque de tosse. Baixo as expectativas e convenço os alunos de que não custa nada. Uma coisa invasiva, espinhosa, implacável, milhares de olhos a aperceber-me o nariz e eu estudo uma descontracção tão fingida que me merece, pelo menos, um óscar de argumento, já que o guarda-roupa está para sempre fora dos meus cabides.

24.1.06

A doente-leitora

Ontem fui ao médico, ali na vila. Já lá tinha levado a tosse no ano passado. Auto-comiserada, afónica e tússica, desiludi-me de penas graves perante a receita: cêgripe e maxilase. Razão tinha o meu pai e eu devia ter sido médica. Pelo menos auto-médica. Durante o esquisso da sentença, distraí-me pelo gabinete, o boné e o casaco de veludo pendurados, uma pilha de livros e uma tese de mestrado em francês jaziam na maca para observação. Gostava tanto de saber mais francês. É de uma elegância intemporal, o francês.
Pode ter-me recusado o estatuto de um antibiótico, mas o meu médico é um published author.
Não vale a pena explicar às pessoas que não têm filhos como é que tudo muda depois de os ter. É como explicar a que sabe o chocolate a quem nunca provou chocolate. Ou, para o caso, anis. O anis sabe esquisito como só o anis. Os filhos também.
As mães sofrem muito, como sofrem todos os amantes, e por isso merecem alguma compaixão. Um beijo, um abraço, um telefonema, uma palavra e lá ficam o dia todo a pular ou a choramingar. As dúvidas, a ansiedade, a espera, o pensamento a fugir. Um sorriso deles e lá aguentam mais uma semana de sobressalto e criadagem. É um extenuo. Mas as pessoas com filhos não são melhores pessoas, são só pessoas diferentes. Às vezes manifestam uma tendência indecente para fazer crer que atingiram um estado evolutivo superior, que amam mais e melhor e que isso é de alguma forma redentor. Mas só é volumoso. Enche-nos por todos os lados menos por um que é o istmo. Incha o peito, às vezes literalmente.
Gosto mais da minha filha do que de pão com manteiga e no entanto já tive ganas de a enfiar numa gaveta ou fechá-la na rua. Já perdi o cabimento na gaveta, mas estou à espera de uma oportunidade para a fantasia da soleira. A minha miúda é gira. Quando acorda despenteada e quentinha, quando puxa risinhos de conquista, quando canta. O meu amor por ela é como as planárias, que se regeneram depois da machadada. Tenho o coração aos golpes e isso não se consegue explicar.

23.1.06

Eyes wide shut

Desde miúda que esfrego os olhos fechados para ver padrões. São poliméricos, caleidoscópicos, lembram as réguas mágicas ou os interlúdios da televisão antiga. Eu, que nunca consegui ver bem estereogramas, gosto muito de fractais. Há dias em que me refugio mais no meu pequeno espectáculo de ausências.

Recorte de imprensa

Leio no jornal que Investigador britânico conclui que hoje é o dia mais deprimente do ano:

Não se trata de futurologia, defende Arnall, mas de um cálculo matemático a partir de seis factores que se conjugam no primeiro mês do ano: o frio do Inverno, o tempo que decorreu desde o Natal, o regresso ao trabalho depois das festas, a chegada das facturas para pagar, as resoluções de ano novo frustradas e a ausência de expectativas em relação a uma melhoria do panorama nas semanas que se seguem.

E mais uma semi-voz, arranhada e cansativa, um corpinho mole e escorregadio que evita as mangas das camisolas e descalça uma paciência já de si bastante fragilizada, culminando num cocó de última hora e uma estupidez natural que me arrasta a manhã no centro de saúde na ilusão de uma consulta. Assoei-me de ranho e piedade de lá até aqui, sem lenços que me ensopassem a vidinha, já que o último tinha-lhe apanhado uma berraria esverdeada no adro, quando o livro, enorme e despropositado, lhe escorregou para a confiscação final. Comprei o resto do caminho com um espelho do Snoopy, de que em boa verdade não preciso para encarar a miséria do resto do dia.

Mas se há um dia verdadeiramente mau do ano, a boa notícia é que, de acordo com a mesma fórmula, existe outro que tem tudo para ser excepcional. Acontecerá a 23 de Junho, sexta-feira. Faltam 151 dias.

22.1.06

Sem título

De manhã fomos à Escolinha. A miúda ainda se distraíu, eu achei aquilo uma merda. Acabei de escrever merda nas piolhices porque não estou muito bem disposta. Continuo semi-muda, ou pior, semi-falante. Ao domingo não se consegue um médico sem ser no hospital e eu não fui semi-tossir para lá. Fomos antes à Escolinha. Cantavam pessimamente. Eu já acho a maior parte das letras de uma mediocridade significativa, mas o espectáculo nem sequer as canta. É uma cena assim pseudopedagógica. O guarda-roupa é feio e o cenário não merece descrição. E pensar que foi ali que vi o Carteiro. A única atracção foi a Bárbara e o Dinis, de calções tiroleses. Ainda me deixou mais desconchavada, a Bárbara. Bonita, arranjada. Ontem levei as unhas a arranjar, mas não resultei mais animada. As mãos já estão todas bicadas da vidinha e os pés vieram descorados. Tenho uma micose na unha grande. Não sei como é que ela a viu, mas parece que estão lá milhares de fungos e não se devem pintar unhas colonizadas. Eu esforço-me para licorar dez unhas que ninguém vê e receitam-me Canesten em spray. Aposto que a Bárbara não tem fungos nas unhas dos pés. A culpa deve ser minha, como sempre, que em boa verdade não tomo banhos decentes há dois anos.
Ontem fizémos um ano na casa ex-nova. A vida agora é tão intensa que parece que sempre cá vivemos. Já consigo arrumar o carro na garagem.
A miúda está, numa palavra, insuportável. Não sei o que lhe deu. Passou dois dias nos avós numa beatitude que me esmaga. Comeu e dormiu, sempre adorável. Já decidi que não volto a queixar-me à frente deles. É impossível acreditarem-me.
Hoje acordou às 7h15 e passou a hora seguinte em cima de mim, a cotovelar-me. Desde aí dormiu 45 minutos em trânsito e há bocado deixei-a esganiçada na cama, sem apelos. No jardim chamou-me má. Outra vez culpa minha que a insultei de manhã, quando pela segunda vez se tentou descadeirar no carro, sem razão que não uma vontade volátil de me contrariar. Se calhar devia ter-lhe vestido mais saias e não desprezar o ovo estrelado e as golas bordadas. Devia pintar mais vezes as unhas e pentear o cabelo. Assim, sou uma mãe e ainda por cima desgrenhada. A minha filha espoja-se no chão dos teatros e nem se desprega porque não está pregueada e já trazia nódoas de iogurte na manga. Palavra que estas coisas às vezes esmagam-me. E se ao menos eles não cantassem tão mal. Uma das raparigas parecia a Uma. Ontem vimo-la noutra desilusão. Quando o gremlin acordar vamos votar e já faltará menos para segunda-feira.

21.1.06

Numa palavra

af...n...c...
......o...i...a

19.1.06

Janeiras

Quando eu era miúda, faziam-se desenhos em papel manteiga com pincéis molhados em frascos de iogurte. Especializei-me no barco, no moinho e nos símbolos da época, o cravo e o punho. Aquilo do punho ainda me deu trabalho a dominar. A curvatura do polegar, os músculos do pulso.
Tenho dado por mim a fechar as mãos. Encolho-me na própria palma, às vezes até a dormir. Terei frio? Definitivamente não é uma metáfora pecuniária, nunca gastei tanto dinheiro na minha vida. Diz-se que os escoceses são stingy. Eu lá era cheap, que a vida em libras não se esbanja.
Será só a mim que o slogan confunde? Estar sempre comigo nos momentos difíceis só me lembra a anedota do "então dás-me azar". Não me apetece nada votar, eu que tremelico sempre na excitação da cruzada. É que 'tá-se mesmo a ver e a coisa aborrece-me. Nem acredito que se cantem as Fevereiras.
Também me apliquei nos perfis. Aprendi a encaixar o nariz e os lábios, a curvar a testa. Aquilo foi uma empreitada artística e o psicólogo conclui que eu não quero encarar a vida de frente e decerto me falta o pai. Totó. O meu pai estava sempre escondido dentro da banheira, atrás dos cortinados, indiscreto, generoso, à minha espera.
Encaracolo-me. Será frio? É verdade que já não dou tanto as costas ao colchão, as pernas em flamingo. Mas ainda assim vou votar com arte. Pena que não tenham lá pincéis.

18.1.06

Ooops

Clarifying the Relationship Between Parenthood and Depression
Journal of Health & Social Behavior, Volume 46, Number 4, December 2005, pp. 341-358

...parenthood does not appear to confer a mental health advantage for individuals...

Entremeada

Tenho cá para mim que as mães afinam o tacto. Que mudam o toque. Eu não gosto que me agarrem, com força, tolhida, nem por ela, mas sempre mexi muito nas pessoas de quem gosto. Ponho a mão no ombro, na mão, toco no cotovelo. Nos amigos, às vezes no cabelo. Nela, toda. Uma sem-cerimónia que ela também tem. Eu pertenço-lhe e ela reclama-me.
Gostei muito de amamentar. Era fisicmente muito bom. Lembro-me das contracções que provocava, logo depois, contracções boas, saudáveis, inesperadas, repuxadas, as entranhas a entranharem-se novamente, ficou tudo como novo. Depois era o ritmo, a sofreguidão, a exigência, mas também o consolo, o calor. Aquele quentinho de gente presa a mim é uma das minhas memórias mais queridas.
E o meu toque mudou. O peso da mão, o compasso, o ângulo. Ela era pequenina como um telemóvel de última geração. Agora que já é uma menina, descubro a reciprocidade, o mimo intencional, o valor do meu colo e do sorriso da mãe amiga. Aflige-se quando me sente zangada, distante. Agarra-me a perna e sussurra escupa. Reconciliamo-nos com abraços.

Quando fui a primeira vez para a Escócia, ele avisou-me para não mexer nas pessoas. Eu, uma exótica que mexia em estrangeiros. Aprendi. Pendi a mão várias vezes, pendurei sorrisos atrapalhados a meio caminho do beijo. O meu chefe, um homem extraordinário, quis partilhar a minha sularidade e dava-me verdadeiros encontrões na bochecha. Não sabia dosear o impulso de toda a sua massa inglesa.

Quando ela nasceu, ele parecia-me enorme, depropositado, com umas orelhas assustadoras, uma aspereza desconhecida. Ele, sempre doce, atencioso. Cheguei a mimá-lo com jeitos de embalo, palmadinhas breves, só não o pus ao ombro porque já sabe arrotar sozinho.
Ela adora entremear-nos. Não nos permite abusos, grandes abraços ou aconchegos. É verdade que está lá no meio, para sempre. Mas isso também pode ser bom.

w-hat i k-now i-s

Com colegas, partilho a minha primeira wiki. Aqui.

Home sweet home

Enquanto não aprendo as htmlices necessárias, vamos continuar a utilizar o plano A. Ou outro qualquer feito por profissionais. Mas um plano.

Ajudas de custo

Ontem foi às 5h, hoje eram 4h30. Uma choradeira mimalha, mas persistente. Sinto as defesas enfraquecidas, preciso tanto de dormir. O pappy reforçou a linha da frente. Ontem funcionou, hoje nem por isso. E depois a miúda ressona que se farta. Faz-me festinhas, amacia-me, desperta-me mimo, mas desperta-me. Além de me pegar ressonâncias pouco animadoras na caixa toráxica, a mim, que entre quinta à noite e sexta tenho doze horas de aulas para expressar. Maxilaso-me/nos.

For the record:
And goes running for the shelter of a mother's little helper
And two help her on her way, get her through her busy day

17.1.06

Pulsátil

Apetecia-me passar a tarde a fazer isto e a beberricar chá. Gosto da palavra beberricar. Eu beberrico, tu beberricas, ele beberrica,...

La fura dels maus

Sou uma malvada. Uma mamã malvada que se zanga com renúncias de xarope encarnado e desafios vários. Uma mamã que dá palmadas no rabo porque acredita que são precisas, mas também porque se enfurece. Moléstia. Se eu conseguisse dava-me palmadas. Agora tenho que ir ali à Medicina Dentária embora me doam é as costas. Disfunções.

16.1.06

Depois de me guiar para os saldos a um sábado, hoje trouxe o carro para Lisboa. Questiono-me. Eu sou uma miúda do transporte público, daquelas que não era preciso levar a casa. Não gosto muito de guiar nem de insultar os outros. Aburguesei-me? Claro que vou votar à esquerda, mas desta vez isso nem é muito significativo, que são tantos.
A miúda está tússica e estava muito frio. Sucedi na primeira prova ao sair incólume da garagem. Recordo a bolha, enquanto meço Golfadas de mala. Estava tão atrasada, tão preocupada com um putativo telefonema febril, tão a uma hora de a poder resgatar. Vim.
Teorizo que uma das razões para as filas de trânsito é a condução de feira, com acelerador e travão, sem caixa. Não se percebem estas lagartas de lata no asfalto, acordeónicas, imprevisíveis. Ganhei a meia-hora que me acolchoa a culpa. Falo sobre o trânsito.
Lembro-me da tosse. Ontem fez birra para tomar xarope. Sim, para tomar mais uma vez. Acha graça à boca aberta. Estava tão instável, tão chorosa e tolinha. Cruza os braços e encosta-se às paredes, a choramingar. Uma dramédia caseira. Nem me aborreci com ela, tão ridícula era a personagem. Pobrezinha, não saiu de casa o dia inteiro, de ranho em punho. Logo vou ganhar outra meia-hora de (des)consolo e isso desculpa-me.

15.1.06



Ou porque é que eu precisava de cortar o cabelo.

Boot camp



37, eu calço 37 e não se fala mais nisso.
Ontem, por causa do peso da troca, levei o carro. É um momento de viragem, este, de levar o carro para ir às compras. Muito mais definitivo do que ir ao cabeleireiro só para lavar.

Strolling



Chiado abaixo, Chiado acima. Arrisquei uma mini-saia, coroada de básicos que duram uma mão cheia de anos.

13.1.06

Por exemplo




Hoje fiz uma trança. Estou mesmo a precisar de cortar o cabelo. Demoraram-me a chegar, uma infelicidade nos carris, os olhares despudorados. Fito o Tejo, que hoje estava bonito. Está frio, a trança destapa as orelhas. Sexta, 13. Onde está o DNA? Apercebi-me que mudou tudo, mas não percebo nada. Vão usar-se outra vez os jeans justos e isso é uma informação importante.

12.1.06

A menina da rádio

Durante anos foi motivo de brincadeira. Cheguei a recortar anúncios para dobragens de filmes infantis. O esquilo. A vida na floresta mágica. Ainda consigo fazer as gargalhadas, nem sempre de propósito.
Com o tempo aprendi a falar, a colocar-me, a recursar-me de tons institucionais, afáveis, sérios, divertidos. A dar apertos de mão e terminar com trivialidades. Mas serei eu uma menina para a rádio? De vez em quando penso nisso, pensam-me nisso, rimo-nos disso. Falo depressa, ainda não aprendi a reduzir, a embraiar uma de força e não de velocidade. Vou treinando tons com ela, para quem faço tantos papéis. Good cop, bad cop, funny cop, mad cop, de vez em quando fora-da-lei.

Inquieta

T(r)emo ter-me enganado no número delas. Precavi-me e não pisei as pedras do caminho, mas amarrotei o humor. Que infantil. Pendo tarefas e tarefinhas, inconveniências. Preciso de um caderno que esqueci em nenhures, ali para os lados da Politécnica. Tenho que aprender a letra do Rei e da barriguinha, ela gosta tanto. Ela é uma querida, anda uma querida. Só é pena os gritinhos, deve ser uma fase. A boneca da mãe, a minha boneca. Fazemos desenhos a meias. Ela pinta o cabelo. Mais ou menos no sítio certo ou uma estética alternativa. Preciso de cortar o cabelo. E provavelmente de as trocar. Bugger. Vou trazer um creme das mãos para o gabinete. Quase nunca ponho creme nas mãos, mas devia. Passo a vida de molho na vidinha, resseco-me. Belisco-me para avaliar a elasticidade. Hum, já passei os 30 e vou ter um creme para as mãos na gaveta. Lembra-me o laboratório, o pó das luvas. Quando eu vivia de luvas. Há anos que não visto a bata.

Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer
Qualquer coisa que eu devia perceber
Há sempre qualquer coisa que eu tenho que fazer
Qualquer coisa que eu devia resolver
Cá dentro inquietação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda

abridged

11.1.06

All the ducks are swimming in the water

Ou a excitação de tomar banho com os sapos, o polvo, o crocodilo, a lula, todos os frascos abertos e a roupa da mamã.

Sintonizo-me.

Retemplar forças

Ando às voltas com um template novo. Por enquanto são umas voltas muito apertadinhas, arranjo daqui, estrago dali.
O html é mais difícil do que a linguagem dos pês.
Onde é que eu encontro uma palete com as cores e os números delas?
Bof.
Depois há a questão conceptual. Quero girly, fashion, minimal, smart, ou isto tudo ao mesmo tempo? Eu, que sempre escrevi tudo a Arial no papel e Verdana no computador, que não gosto de perninhas nas letras nem vermelho, dou por mim a usar camisas de folhos. E a gostar disso.
Mas mais urgente do que tudo isto é a desnecessidade de um batôn que usarei na mala para combinar com elas. Less than two hours to go.

10.1.06

Desassossegada

Quase (quase, quase) por acaso, vi-as.
Uma troca, de uma lua que mingou, (des)calçou-as de preço e oportunidade.
Preparo-me para o arremate final, já as sinto a escorrer-me. Vampirizo o orçamento em nome da/o rosa.

Depois do grande leãozão

Desde que Fungágámos pela segunda vez no domingo, que a soundtrack mudou lá em casa.
Ontem à noite, para descansar de tanta aventura, pedimos ao pappy o Nick mais calminho. Isso ou, como sempre, tudo menos a miúda.

9.1.06

Two (3, 4...) of a kind



Depois de um sábado inteiro de filhos partilhados com amigos:

- os miúdos parecem todos iguais, principalmente quando têm a mesma idade
- os miúdos não são todos iguais, mas quase
- os pais não parecem todos iguais
- a idade serena não só os filhos, mas também os pais
- a Mariana gosta mais de correr com a bola na mão do que chutá-la
- a Mariana, e todos os miúdos, gostam de correr
- alguns pais gostam de correr enquanto empurram os carrinhos dos filhos
- com os filhos lá sentados
- está na hora de abandonar a banheira pequena e comprar um bom tapete anti-derrapante
- os desníveis do jardim da Gulbenkian são melhores para namorar do que para empurrar carrinhos
- há douradinhos de frango!
- há miúdos capazes de se despir para chamar a atenção antes de dormir; felizmente a minha não assistiu a este truque prodigioso que também pode funcionar com crescidos
- eu tenho amigos com casas muito giras
- o IKEA para os miúdos devia receber um prémio de living moderno
- dica para os aerossóis: tirar o tubo e ligar na mesa do pequeno-almoço para ambiente e inspiração stress free
- a exposição do Einstein tem uma parte muito escura que assusta os miúdos
- as escadas interiores da Gulbenkian são um dos sítios favoritos da minha filha; tenho que ir lá passear mais vezes; espero que limpem as alcatifas
- daqui a uma dúzia de anos vamos poder envergonhar os miúdos com a história do banho comum.

6.1.06

Post hit da mothern

E lembre-se: a rose is a rose. Mas uma calça da Diesel is uma calça da Diesel.
Mais não digo.

Tip(ografia)



Mine. Mine. Mine.
Yours?

Abductados

Na véspera da minha filha nascer, enquanto descaía a barriga no CCB, comprei para o pai dela umas meias que diziam: demain je change de planète.
Hoje estou que não posso, telhada, m(v)al desperta. Palmou-me a madrugada e eu acabei a palmá-la a ela, descontroladamente. De manhã saíu sem comer, por birras várias. Eu saí capaz de comer lume. Ela ficou a chorar e eu empurrei uma desgraçada no comboio para me desatrasar um bocadinho. Uma cena triste. Alienígena.
Essa moça tá diferente
Supermothernizei no caminho, reconstituindo-me. Agora quase ninguém me toparia replicante.

PatrAn(h)as



Há muitos anos, tantos que ainda só havia a mesa da cozinha na casa velha, fiz o jantar para um grupo de amigos.
Já viste que vamos comer o teu sábado em meia hora?
Agora, não só se comem os meus fins de tarde em menos disso, como levo outro tanto a resgatá-los do chão.

5.1.06

Velada

Acho que estou a ficar transparente, fina, um véu. Isso ou reflectora. Reflexo-os, reflexo a rua, as outras pessoas, por isso não me vêem. Ouvem-me (eu falo muito), às vezes encontram-me o ombro, o pára-choques, mas não me vêem. Sou a mãe dela, a mulher dele, a filha da mãe, do pai. Sou por interposta pessoa. Eu, que gosto de bolos de arroz, de ler jornais, desmaterializo-me perante a massa alheia. Refiz há pouco tempo a minha página web pessoal. Tenho esferas profissionais e depois Ana. Não tenho nada em Ana. Não fui capaz de me explicar, de me linkar, de me ligar a nada que seja meu. Sou um véu. Vou ao supermercado, limpo lágrimas, verto lágrimas, compro roupas giras e até nisso perco espessura. Ninguém olha para mim na rua, no comboio. Diluo-me na meia de leite, no casaco comprido. Preciso de uns bons sapatos, para quando for preciso. Quero cortar o cabelo, mas tenho medo que não mo encontrem, ao cabelo. Que falhem o corte. Falham-me quase sempre o corte. Grisalho-me, não por fora, por dentro.

4.1.06

Ontem morreu o Cáceres.
Oh. Sabia-o doente.
Ontem ainda pensei subir à Estrela, mas já era tão tarde e ela ainda estava tão longe, tão sem pijama e eu tinha uns sapatinhos tão ridículos.
Olá, está boa? (dois beijinhos, havia sempre beijinhos)
Sim, obrigada. Boa viagem (um aceno).

DR 1/2006, de 3 de Janeiro

Ontem fui ao Parlamento. Com os meus sapatinhos excrescidos pisei alcatifas e quasei encerei o chão de quatro. Cera e lustro. Perdi passos e entrei na câmara. Não digam que vos trouxe cá. É mais pequena do que imaginei. É sempre mais pequeno do que imaginamos, mais humano, mais dimensionado. Quando os vemos de cima parecem mais longe. Mas não. É como um anfiteatro de escola.
Por acaso, alcatifei uma entrevista no Parliament no dia em que votaram o Iraque. I'm afraid I can't show you the green room today. Mas vi a vermelha. Tão pequena. As alcatifas delimitam arenas, pedigrees. You see, they should not step on the red carpet. Cera e lustro. Tomei chá numa sala apainelada. E eles a escolher o Iraque. Tudo o resto muito calmo, eu a sorver o chá e pimba, verde p'o Iraque.
Foram afáveis. Admirei-me com o desassombro do Presidente. Gosto em vê-la. Está bem que eu tinha uns ganchos novos, brancos, de click-clack, mas não lhe percebi o gosto. Não me conhece. Nunca me viu. Gostou-me, pronto. Uma de nós tinha sido professora dele, sempre lhe justificava o gosto, mas eu? Deve ser do pó das alcatifas, dos voláteis da cera. Mas lá que lhe gramei o discurso, gramei.
Not even the government are gonna stop you now
But are you ready to be heartbroken?

3.1.06

Ballerina

Hoje tenho uma reunião de trabalho ao fim do dia e não calcei ténis. Equilibro-me nuns sapatinhos semi-ridículos com um saltinho excrescente e moderno, mínimo, mas que me muda o andar. Martelo o chão, faço barulho. Prefiro um andar mudo. Com a idade estou a ficar noise sensitive. E um bocadinho surda. Mas por vezes mais alta, mais direita. Gosto de tweed. The best british clothing for the worst british weather. Engraço com slogans. Há uma hora aqui no gabinete em que preciso de boné. O sol descara-se em cima de mim, num ângulo manhoso que me desfoca. Preciso de fazer um pdf com links e não sei como. Nunca leio os manuais de nada. O relógio novo está atrasado cinco minutos. A culpa é tua e eu agora desgraço-me sem comboios perdidos. Correr com saltinhos é tão risível. Como é que se deve seccionar o tronco para fazer um soalho que resista aos saltos das senhoras? Pergunta de exame, há 15 anos. Também aprendi a fazer koji.
Fermento ilusões.
Preferia ser a Carrie, mas tenho traços de Charlotte (Oeiras, amiga?). Sempre gostei de laços. Vou resgatar uma bandelete. E misturá-la com desbotados e descosturas. Estou sempre atrasada para o JL.

Pós-mothernismo



Ganhei de presente da mothernaça.
Autografado.
Publicamente, muito obrigada.

2.1.06

Wish 2006: something new



A onda, quero apanhar uma boa onda.
Isso, uns óculos grandes, castanhos, e uma blusa preta com pintinhas brancas.

Wish 2006: something old



Tempo para as pedras da calçada. Tempo para o que for preciso e, principalmente, para o que não for preciso.

The only way is up, baaaaby



Pela primeira vez na vida, ficou acordada até à meia-noite. Vai buscar.
Depois disse que queria beber champanhe e eu enfiei-lhe um pijama.