story:tell:her

29.6.05

Inside information

A doutora psiou um bocadinho de mim para dentro de um tubo, enquanto insistia para que eu visse na televisão o espectáculo de luz e um bocadinho de dor. Passo. Já percebi que nenhum dos meus colos voltará a ser o que era e não se fala mais nisso.

N.B. As citologias cervicais são nossas amigas.

Red spirit


Por acaso, da próxima vez estará tudo avermelhado.

After Kustu



Ali ao pé dos teatros, subimos para conhecer o atelier da Daniela (Krtsch, sem vogais). Sentei-me no sofá e fotografei os óleos na memória. Parece que ainda demora algum tempo a secar. Como a plasticina.

No caminho refrigerei outras imagens.

28.6.05

A cores - take 2



É verão quando me arrisco desta maneira.

A cores


Azul, verde, cor de laranja e castanho. Perdemos o norte ao vermelho e ao amarelo. O risco é leve porque agarra em cima. Eu escrevo com uma força média no papel e traço de uma só vez, não hesito em sublinhados iterativos. Gosto de desenhar. Como será ela? Como fará a casa, o cão, a montanha? Lembro-me de escrever a família em papel manteiga. Já não desenho há tanto tempo. Há muitos anos fiz um curso de ilustração científica e aprendi sofisticações de tinta da china, aparos, gesso e carvões. Nem sei onde pára o estojo com estas relíquias. Também, a nossa vidinha agora é a cores.

27.6.05

Skyscrapper


low profile

Acho-lhe graça de todos os lados.

Serial watcher

Tenho impressão que ontem à tarde vi um bocadito das donas de casa desesperadas ou isso. Não tenho a certeza porque estava sem som (a piolha tinha aterrado no chão ao lado do sofá e nunca se interrompem estes momentos abençoados, nem para cortar as unhas e ai se isso é uma necessidade), porque não vi o início, não percebi a história, aliás, só acho que talvez seja porque acabou de repente, como acabam as séries e eu percebi que não era um filme. Na jantarada alguém tinha comentado a coisa e alguns viam cá no pt outros lá no uk. Seja como (não) for, no me gusta. Eu gostava muito da Ally McBeal e The Practice. Eram as nossas séries de sem filhos, quando ainda conseguíamos enroscar-nos no sofá com calma e ver o vídeo da gravação das três da manhã anterior. Agora não vejo nada regular, aliás vejo pouco, muito pouco. Às vezes esforço-me por encontrar no cabo os makeover das casas, que eu admito que acho graça. Eu sei quem é o George. O meu preferido não encontro de cá e é o Grand Designs.
No sábado à noite o pequeno rectângulo reproduziu os courts de Wimbledon. Deixem lá isso. Não havia mais nada e sempre se viram umas vistas de Brighton (e eu a cotovelar o Rui, viste? viste? pois se tem olhinhos...).

19 meses



Ela fala, fala, fala. Fala muito e diz coisas giras, pequenas frases com sujeito, predicado e pronomes possessivos. Tem uma óptima memória e, como todos os putos, gosta de repetições. Quando cai, não faz fitas; tem os joelhos cheios de arranhões e nódoas negras. Dorme a noite toda, mas é preciso adormecê-la. De manhã quando acorda chama pela mamã e pede leitinho. Depois vestimos uma "roupa gira" e vamos à rua comprar pão. Vemos os Tweenies, o Bob construtor e choramos um bocadinho até chegar outra vez o fim da tarde. Adora tomar banho e quer ser ela a usar a esponja. Eu, muito esperta, comprei outra esponja igual, em forma de flor, convencida que assim não perdia o domínio da higiene. Ah. Depois de a pentear e por os ganchos pede o espelho. A Eugénia hoje avisou-me que não tarda vai querer escolher a roupa. Tremo ao pensar na guerrilha matinal e na possibilidade de não ter herdado os meus genes do gosto. Tremo ao lembrar-me que está quase a ir para a escola. Gosta de "titinha" (chichinha), pão, "lhala" (bolacha), pêa (toda a fruta) e "tuta" (iogurte). De massas e queijo. Do cavalinho, dos cubos e do popó. Não aprecia filmes nem telejornais, mas gosta dos canais de "quica" (música) e com animais verdadeiros. Acho que vêm aí mais uns dentes porque pede muito a "bu" (chucha). Com a bu vem a "faudinha" (fraldinha). Gosta de falar no "tou" com o avô João. Ontem o avô João fez anos, mas ainda não consegui ensinar parabéns. Falaram de cocós, como de costume.

25.6.05

I am your boss and all I got was this lousy cigar


A maioridade de group leader já lhe tinha sido concedida aquando da contratação de um postdoc chinês, mas ainda assim não conseguiu resistir aos sinais exteriores de senioridade e lá esfumou com dificuldade uns engasganços em honra de todos os pedidos de financiamento e relatórios contabilísticos de projectos, na convicção de que vale a pena quando se tem um grupo de trabalho tão porreiro.

Jantarices



Ontem fomos 10 ao jantar.
Alguém tinha mencionado barbecue, mas o mais que concedi às chamas foi chouriço assado com tequilla (a suposta aguardente afinal era vinho branco...). O resto segue depois dos dois pontos e travessão na outra linha:
- 10 pessoas não comem um quilo de arroz
- quando se cozinha caril é sempre bom ter um segundo prato
- os ovos ainda demoram algum tempo a cozer
- quando da lista das compras constam items mais selectos, como leite de côco ou legumes chineses é mais seguro assegurarmos nós a sua presença, carregada em duas asas de plástico doutro concelho, por transportes públicos; os gajos juram sempre que não estavam lá, num dos maiores hipermercados da capital
- a Mariana porta-se lindamente em sociedade
- a Mariana aprendeu a enfiar palitos de pão frito no nariz; porque lho ensinaram
- os homens também encolhem a barriga, quando o assunto é o ganho de peso dos últimos anos
- na Amadora (a minha terra natal) usam-se expressões verbais desconhecidas noutros concelhos
- a malta diz que não, mas é muito preconceituosa para com os subúrbios dos outros
- o Tang de morango tem propriedades misteriosas, potencialmente criadoras de habituação (eu não resisti ao pacote no MiniPreço e eles ao jarro vermelho de aparência radioactiva)
- o meu corte de cabelo novo foi aprovado por maioria
- é preciso uma vontade férrea e alguma antipatia para seguir a ordem certa da ementa; nós comemos tudo ao mesmo tempo
- em algum momento a conversa masculina versará sobre flatulência
- a música do mundo dá logo outro tema de conversa; habibe, habibe...
- a expressão amadorense supostamente desconhecida era farfalheira
- não interessa a que (des)horas ela se deitou, é para acordar, é para acordar.

24.6.05

Rated: over 18*


Ou a importância de seleccionar leituras. Lá para os 12 anos, eu consegui ler A Religiosa do Diderot, sem perceber a homossexualidade. Vou trocar o leopardo pelo elefante.

* months?

Arte XX



Ali no Chiado. Ou aqui.


Na tua. É a ordem que ouço na hora de dormir há umas duas semanas para cá.
Hoje, com cheiro a maresia, chegou-me o recado.
Porque a graça de ela saber usar os pronomes tem que ter limites. Está bem que um quarto de hora depois a deslocalizo e dorme a noite toda na cama dela, como sempre, mas já está pesada e eu tenho discos danificados L5/S1. Vou avisar a vizinhança.

My name is Ana, I live on the second floor
I live upstairs from you, Yes I think you've seen me before
If you hear something late at night,
Some kind of trouble, some kind of fight
Just don't ask me what it was

23.6.05

Vintage de 1972

Tudo isto e mais:

- as lágrimas com as desgraças do Marco
- olarepipu e montanhas com neve (o que é neve?)
- o Dartacão
- se queres ser dos nossos tens que ter um Fá, Fá é fabuloso é piramidal (?!)
- saias de xadrez e meias até aos joelhos
- Cónaaaaaaaaaaaaaaaan
- os documentários sobre expedições no mar, nas tardes infinitas das férias de Verão
- o creme Nívea sem protector
- os blocos com folhas de cheiro e a colecção dos Dias Felizes
- Hey, hey, hey, Hey Vicky Hey, Levanta bem a vela
- pessoas a falar brasileiro na televisão, todos os dias, à mesma hora
- Diga a frase (quando o telefone toca)
- o jornal O Jornal
- o fiat 127 do meu pai
- depois a Peugeot 204
- a Fama

The importance of being Mariana

Lá fora, no quintal:

Como é que te chamas?
Maiana.

E nós, cá dentro, ouvimos, olhámos um para o outro e ficámos com aquele sorriso parvo dos pais quando os filhos fazem uma coisa inaudita.

Agenda emocional

Ando a precisar de debulhar umas lágrimas, assim tipo revisão dos 15000 km, para mudar o óleo aos humores. O melhor é arranjar um filme dos bons para estas purgas, antes que o dique rache inoportuno. Bem faz a minha miúda, que liberta todos os dias um bocadinho de humidade. Os crescidos esquecem-se disso e secam, às vezes por dentro. Ontem vi um vídeo de um homem que não chorava há 10 anos e se deixou emocionar a pedido, pela arte, com fundo de peça clássica, ali, à nossa frente. A coisa durou mais de 5 minutos. No princípio é estranho e quase ridículo, aquele voyeurismo de frente. Depois comecei a sentir vergonha por estar ali, numa sala com estranhos, a ver um homem crescido a chorar tão generosamente. Chorou seco, que 10 anos ainda é muito tempo. Eu humedeci e postei a nota mental: chorar em breve.

Mission statement

A minha sala de trabalho só tem gente nova, mais nova do que eu, todos rapazes e economistas, menos eu. É divertida e tem excelentes picos de produtividade, para cima e para baixo. Ontem, abaixo do eixo, discutimos as modas, os nossos gostos e passados. Temos um beto genuíno, da Lapa, daqueles porreiros que toda a vida vão usar a mesma roupa porque sim, que abusam um bocadinho das riscas nas camisas e do azul escuro. Temos o surf do cabelo cuidadosamente despenteado, o mais fashion, com ténis e óculos giraços. Temos um muito parecido ao meu lá de casa, o casual com toques pontuais de rebeldia, que conhece as melhores músicas, calado mas com o melhor sentido de humor e que percebe sempre o que eu quero dizer. E temos o jovem, com ar de ainda mais jovem, que ainda usa roupa da Lacoste.
Eu sou a mais velha, mais graduada, a mãe. E a mais indie. Nunca fui de extremos, mas faço um esforço por me desarranjar. No fim do liceu partilhava as camisas e camisolas do meu pai, na faculdade adoptei o look neo-hyppie muito típico da fcul e fcsh na primeira metade dos 90s. Nunca tive um lenço palestiniano, mas tive muitos outros igualmente desbotados e sandálias desconfortáveis. Passei pela fase minimalista da segunda metade 90s, achei que já tinha crescido e tive uns meses de postura soft-pro. Aborreci-me disso e alternei para o wild side. A minha peça de culto é a T-shirt branca.
À noite íamos ao Bairro Alto, ao Jamaica e ao Incógnito. Nunca bebi coisas fortes nem experimentei as ganzas porque não sabia fumar. Gastava a rebeldia nos brincos desiguais e não contrariava os caracóis. Tenho saudades da falta de pressa no Chapitô e na esplanada da Graça. Começávamos sempre pelo B'Artis.
Nunca fui às discotecas da 24 de Julho.
Nunca fui ao Lux, mas ainda tenho esperança.

22.6.05

A queda da arte



Desço da penúltima aula já com pena de deixar estas manhãs roubadas à vidinha. Hoje comemos o coração.

Work in progress.

Ajardinámos


Do que a Mariana gostou mais foi das palmas. Já as "quicas" preferidas (ela sabe colocar CDs, com supervisão, também na escolha) são sempre melhores em versão live porque inclui as palmas. Claro que nos fugiu várias vezes para perto dos violin(h)os. Claro que fez fronha, gritou e estrebuchou um bocadinho. Optámos pela deslocalização no espaço mágico do jardim e fomos visitar a árvore. Está linda e crescida, como ela.

21.6.05

Bom dia Verão



Avanço no espectro para o verde.
Hoje ao fim da tarde vamos receber o solstício com música no jardim e visitar a árvore da Mariana. Nós os três, os do aba*.

*abraço, em piolhês, pedido de braços e sorriso abertos; group hug.

20.6.05



Porque, como se queixava a semana passada uma grande amiga, também me sinto a cair nos clichés todos, a fazer tick nos quadradinhos básicos da vidinha, que é boa, muito boa, mas que está lá já toda como presente e não como uma série de alternativas em futuro aberto. Porque já percebi como é que os pais têm muito menos amigos que nós. Porque a piolha faz sempre as birras comigo, respinga durante uma hora, dá dezenas de tolas na cama, obriga-me a ralhar, a palmar, a recrutar recursos pedagógicos que ninguém me ensinou, que muitas vezes não tenho. Porque eu, drained, a abandono ao pai e ela adormece cinco minutos depois. Porque eu, embora obviamente não seja soporífera, tenho muito sono. Porque as minhas vontades vêm sempre depois de todas, mesmo que pareça que mando muito. Porque os alunos não enviaram os trabalhos. Porque tenho demasiados caracóis e o secador é uma chatice ainda maior no verão. Porque na praia já não tenho momento para pensar nas estrias, nos pêlos, nas marcas do biquini. Porque todos os dias é preciso jantar e, ao fim-de-semana, almoçar. Porque acho mesmo que já fui mais inteligente, agora sou só mordaz e isso às vezes engana.

19.6.05

The remains of the day


Fomos as duas à praia de manhã, pela primeira vez desde o ano passado. Chegámos cedo e escolhemos a primeira sombra. Ela não gosta de andar na areia, ou melhor, não anda, fica ali, tipo estaca. Também tem medo da beira-mar. Fora isso (!?) gostou muito.

18.6.05

Quadrículas


Da feira, trouxe notícias, (re)visitas e um caderno aos quadrados, de presente.
Gostava de ter espiolhado mais algumas das bancas, mas a Mariana estava demasiado excitada e o pai nem por isso. Quadrangulo-me.

Colourtherapy


Pela mão da Rosa.

Two of a kind


Morenas, com mau feitio. Just my kind.

Hoje tive um bocadinho de girlfriend, mas foi tudo a correr, no carro, no carrinho, na vidinha. Não nos deixou tempo para andar a pé e falar da vida, que as coisas importantes não andam sempre sobre rodas.

17.6.05



Gosto muito mais do dela.
Lembrem-me para não voltar a (ma)deixar-me descolorar.

Laica


Amanhã à tarde vamos lá. Into outer space.

Day 2

Of two.
Pronto, prueba superada. Já está. Já estão.
Ontem foi muito mais giro do que estava à espera. Hoje foi muito menos significativo do que estava à espera.
Ontem era a feijões e saíu-me um futuro próximo de interesses e participações. Hoje era supostamente desmultiplicador e, noves fora, nada.
Aliás, desertei depois do almoço simpático (escolher uma mesa de almoço num congresso é uma arte). Para a digestão estavam receitados figurões, mas eu pus a minha figurinha ao calor e voltei para a ilha.

Notas
1. As pessoas que têm que andar arranjadinhas todos os dias são dignas da nossa piedade.
2. Portugal nos gráficos está sempre em baixo e à esquerda.
3. Enquanto não cumprir os horários das coisas nunca há-de sair de lá.
4. A maquilhagem faz calor.
5. Não levar chinelas para salas condicionadas porque os pés gelados desconsolam muito uma pessoa.
6. A maioria das pessoas não sabe o que é uma pergunta e levanta a mão para fazer uma metaconferência.
7. Hoje, às nove horas, estávamos lá cinco e a Pucca. Mais valia ter combinado um pequeno-almoço.
8. Não aprecio eficiências mal-humoradas nem patetas alegres.
9. Haverá medicamento genérico para o umbiguismo? Algumas pessoas mereciam um piercing doloroso.
10. Não é bonito começar a responder antes de terem acabado a pergunta, mesmo se já a topámos toda. Shame on me.
11. Até ao Inverno não volto a vestir um casaco que combine com as calças. O look total está completamente out.
12. Existem imensos tipos de couves diferentes. E eu ontem vi-as quase todas. Argh.

15.6.05

Striped


Estou de barrete enfiado até agora, contrafeita, medianamente mal-humorada, tensa. Eu sei que lhe passa, que temos a sorte de ter boas pessoas à volta, que hoje até vai a Ângela à tarde. Mas os compromissos, a coordenação das agendas, a porta batida nas lágrimas dela, incomodam-me, como aquele vento de verão da Ericeira que este ano ficará de fora das riscas novas.

Less than one minute sculpture.

14.6.05


Discurso com molho de tomate, na expectativa de evitar um Bloody Mummy.

13.6.05

B(l)oom de Pólvora



Porque estas miúdas gostam de jardins.

A violeta dá perfume azul



Hoje de manhã, daqui saltei para aqui: as greguerías de Ramón Gómez de la Serna. Estou muito divertida, vou guardar a preciosidade* na mala e sorrir-me q.b.

As greguerías são metáforas com humor.

Os haikai são telegramas poéticos

*Gosto de livrarias que têm, de facto, os livros quando deles estamos esfomeados.

Time for Knitting


Hoje há tricô. Apetece-me tanto ir como o jeito que não me dá. A ver.

Última Hora: Afinal NãO HÁ tricô. Oh.

Jovens e estrangeiros. Jovens com bom ar, bronzeados e ...jovens. Que se sentam em mesas a jantar [nós não jantávamos, só petiscávamos], que trazem o carro e se queixam do estacionamento difícil [carro?], que passam a noite com o telemóvel [no elevador, às onze, funcionou sempre].
Estrangeiros avermelhados de sol e excitação. Que decerto cumprem as regras higiénicas da comunidade o ano inteiro e fotografam o pingo da sardinha. Estrangeiros da terra que só vamos ao bairro no dia da festa.

Tens um livro que não lês
Tens uma flor que desfolhas
Tens um coração aos pés
E para ele não olhas

O manjerico comprado
Não é melhor que o que dão
Põe o manjerico ao lado
E dá-me o teu coração

Fomos de dia e voltámos sem noite. Nunca me lembro de lá ser dia. Será das alterações climáticas ou estou envelhecida para sempre?


Porque há memória de diversões e romarias bem dispostas, porque há 10 anos que tres/andamos juntos a sardinhas e chouriço assado, porque o imaginário se constrói de imagens no coração e não na cabeça, lá fomos. Aconcheguei-me na fé alheia e pedi ao Santo pela minha filha.

Lisboa nasceu
Pertinho do céu
Toda embalada na fé
Lavou-se no rio,
Ai, ai, ai, menina
Foi baptizada na Sé


A minha mãe nasceu em Alfama e durante anos a peregrinação era acompanhada de relatos vividos de casas minúsculas, condições sanitárias deficientes, vizinhaças e brincadeiras nas inclinações da vidinha de bairro.

Já se fez mulher
E hoje o que ela quer
É trovar e dar ao pé
Anda em desvario
Ai. Ai. Ai, menina
Mas que linda que ela é!


O meu avô não deixava as filhas ir nas marchas, porque parece que não era coisa de meninas sérias. Nós também não bailámos que a música oscilou entre a batida disco e a brasileirice popular. Não gostei nada das colunas exorbitantes, dos cachorros quentes (cachorros?!) e da sujidade desmoralizada. Pobrezinhos, mas asseados, não era? O sonho custou-me dois euros e meio, mas vá, que trazer as cadeiras da sala para o povo sujar de pimentos tem o seu preço.

Um craveiro numa água furtada,
Cheira bem, cheira a Lisboa!
Uma rosa a florir na tapada,
Cheira bem, cheira a Lisboa!
A fragata que se ergue na proa,
A varina que teima em passar,
Cheiram bem porque são de Lisboa,
Lisboa tem cheiro de flores e de mar!

12.6.05

O pecado mora ao lado


Estou prisioneira do power point. Penso em forma de seta e até já uso animações. Eu, que não gosto de apresentações animadas. Uma vez vi um colega indiano a apresentar as conclusões letra a letra, em voo planado sobre o descrédito da sala. Há imenso tempo que não vemos um bollywood. Lembro-me do Lagaan e do cricket em tempo real.
Amargo-me.

Bodyguard


O top funciona, os calções é que ainda escorregam um bocadinho. Quando é que os bebés deixam de ter barriga de bebés? A Mariana adora mostrar a barriga e o umbiguinho e enfiar o dedo no meu umbigo. Ontem estava ela assim, tão linda e arranjadinha e eu tão orgulhosa quando lhe cai um sapato e, trás, senta-se no chão da garagem para calçar o "pato". O pai chama-me com aquela voz de caso e sobe com uma criança cheia de sujo no pé, nas mãos e nos calções. Um pai e um bebé sujos. Eu, que só me queria era despachar e chegar aos avós mais ou menos arranjada, com uma criança pelo menos limpa, zanguei-me com eles e resmunguei, resmunguei como fazem as chatas. Eu não quero ser chata, mas as circunstâncias desafiam-me tanto! A minha mãe acha que eu sou muito permissiva e eu já acho que sou tão chata. A Mariana ontem, depois de vestir a terceira toilette do dia, sentou-se no chão e começou a fazer desenhos na gravilha com as pernas. E arrastou os pés (sandálias!) para fazer carreirinhas. E deu um mortal lateral num canteiro cheio de terra mole (ainda bem). E, depois de termos apanhado pétalas de rosa (do botão desfeito segundos atrás) para oferecer à avó, ela tentou comer algumas, e escolheu os caminhos com mais raízes e descascados do chão, escorregou todos os degraus, abanou todas as árvores (gracinha paterna) e ainda investigou o funcionamento dos aspersores de rega. E eu sempre ali, na marcação corpo a corpo... E quando ela já não me quiser na equipa? Quando quiser tropeçar sozinha?

If I
Should stay
I would only be in your way
So I'll go
But I know
I'll think of you every step of
the way

And I...
Will always
Love you,
Will always
Love you
You
My darling you

11.6.05

Mães e Filhas


Off License


Blue Thunder


Estou aqui que não posso, das costas, da cabeça; gastei os nãos e os cuidados na exploraçao de um perímetro não seguro e cheio de aventuras.

Cocós nos avós.

10.6.05

Kiro-te bien


É a minha drink de Verão: um fundinho de licor de Cassis e vinho branco gelado, num copo arrefecido no congelador.

Knit Babe


Acabei o top da piolha. É para apertar ao pescoço - muito fashion - a ver se resulta. A fita para a cabeça é duma mescla da Âncora que adoro. Apetece-me fazer um enfeite para mim.

Feriar


Ainda não foi hoje que fui à praia, mas a Mariana já tem umas braçadeiras e pusémos finalmente as ripinhas no quintal. Claro que ainda não trabalhei nada naquilo para que me pagam, ocupada que estou a gastá-lo. Tenho um top novo cor de burro/a. Será prudente usá-lo na conferência?

9.6.05

Passatempo


Descubra o que não faz parte da imagem.

Cold feet



Os meus, quando ela vai.

Cold feet
Fearfulness or timidity preventing the completion of a course of action

Sidewalk



To dream that you are walking on a sidewalk, your steady progress and direction in life [...] Your dream may suggest that you need to alter your course and make some changes in your life.

Sim por não, hoje fica nos avós.

L' Arte e Io

Não vou , mas gostava.
Também não vou aqui, mas gostava muito.

Calendar girl

Gosto de ter um calendário à mão. Agora imprimo-os daqui, antes riscava folhas A4, personalizando compromissos em tiras e quadrados. Quando tinha uma bancada, desenhava no vidro; ainda gostava de arranjar para a cozinha lá de casa um grande placard de vidro fosco com pinças de metal para prender papelinhos e qualquer dia desenhos (por enquanto especializou-se nos pés e mãos contornados no quadro mágico).
Não gosto quando os quadradinhos se empilham de repente. Para a semana tenho duas conferências sobrepostas e não consigo falar em stereo em locais diferentes da cidade; desandou uma ainda não sei para quando. Tenho que ouvir outras e fazer um ar interessado. Tenho que me interessar mesmo com algumas destas. Está cá a querida Pat, temos que conversar uma com a outra, desconversar as duas com a Mariana e ir à feira Laica. Na segunda feira é dia de tricot e na terça devia entregar um trabalho (devia, eu disse devia, já me estou a condicionar). E ainda não sei o que hei-de vestir.

8.6.05

Maxima culpa

Ontem, no caminho para casa, depois de um dia acéfalo, mas torturado de culpa pela falta do órgão, comprei uma revista de gaja. Não tinha trazido o tricot, só tinha um livro, mas sem bonecos e sucumbi. Ainda pensei na Pais&Filhos, onde poderia ver a fotografia não censurada da Maria, mas não, não era esse o espírito. Eu queria mesmo era ver roupas e cremes e tudo nos tons da moda. Sentei-me ronronante no banco da estação do comboio e mergulhei nos boiões.

Quando eu estava na Escócia gostava de me enroscar com uma mug, uma viennese fancy ou um cinnamom whirl e a Cosmopolitan, que lá é muito mais gorda e menos braguilhada que cá, mas igualmente totó. Já em Brighton viciei-me em episódios repescados de Friends e Sex in the city. Sue me.

Sentam-se ao meu lado e falam-me. Pronto, fecho o boião e começo a preparar mentalmente a desculpa cool estilo "tu não percebes, mas as giras e inteligentes, lêem estas cenas".

1. Era um colega meu, com quem dou uma cadeira de mestrado.
2. Que tem sempre livros interessantes e estrangeiros na mão ou em envelopes de papel. Daqueles que eu já aprendi a fazer de conta que leio, mas que nunca leio todo.
3. Preciso de um top turquesa.
4. Não consegui não me justificar embora ele tivesse feito de conta que não fazia mal e tivéssemos mesmo comentado algumas das giras que lá vinham.
5. Ele não acha a Angelina Jolie muito gira.
6. Assim turquesa esverdeado, não é turquesa céu.
7. Bolas, ainda mostrei disfarçadamente o livro sem bonecos.
8. Ele está a escrever um livro sobre relógios de sol para os CTT.
9. Eu disse-lhe que não conhecia bem o funcionamento dos relógios de sol e que aquilo é difícil.
10. Ele concordou.
11. Mas podíamos discutir protectores solares e mesmo autobronzeadores. Tínhamos a bibliografia.
12. Azul turquesa e com pedrinhas.

7.6.05


Cacho-me atrás do monitor, envolta pelo ar condicionado, confirmo que em casa está fresco e ela bem disposta, que hoje é feriado lá na vila e a Eugénia levou a filha para a Mariana tomar conta. Apetece-me voltar para lá, para o feriado, descalçar a família e viver de porta aberta. Ontem o meu cérebro funcionou, mas hoje nem por isso. Dói-me a inteligência, como acontece aos mutilados. Lembro-me do Sacks e confundo-me com um chapéu.

Wish list 12


Hoje, as minhas sandálias parecem-me demasiado castanhas. Tenho que ir ali.

Calor.

Mr Smith


Há pessoas que nos inspiram, outras que nos expiram e ainda as que nos transpiram. Ontem passei a tarde com os pés gelados na expectativa de o ouvir. Foi o último, cut a long story short e não me desiludiu. Já se afiliou a tantos sítios que nem o consigo confinar na Internet; tem um ar ligeiramente alheado, envelhecido, parece que tem Parkinson. Quando fala a mim é que me treme o intelecto. Porque simples é bom.

6.6.05

Nunca Jarretta*

Vi-o ontem na televisão. Tocava como ele, mas não me parecia ele. Fomos confirmar à capa do concerto no look 70s. A Pat vai vê-lo, mesmo. Depois co(a)ntas-me?

*

Novidade

Este fim-de-semana começou a lavar os dentes. De manhã e à noite, esfregamos os 4 dentes legítimos, dois meios dentes e dois quartos de dente, ou seja, cinco dentes e meio, com um bocadinho de pasta e tudo. O que é que as pastas dos putos têm de diferente? Por enquanto usamos uma que está para lá e sabe a pasta de dentes normal. Porque é normal. Só ainda não bochecha. Lavo eu com água enquanto lambe o fresquinho, para compensar as gotas de flúor que eu embirro dar-lhe. É tão xiro vê-la a pedir entes, entes.

Fuga


Dos meus pés para as chinelas. Do meu cabelo para um estilo Farrah Fawcett não intencional. Apeteceu-me birrar tanto como ela quando me vim embora, mas eu sou crescida e por isso troco o carrinho de mãos aproveitando as movidas da rua, fujo-lhe com passos de chinela e passo o dia a esconder os pés com tarefas e prospectivas mais ou menos arroxeadas.