story:tell:her

28.12.07

27.12.07

120 azul


Dez anos depois, a terapia.

22.12.07

time in


Queridos amigos a quem eu não enviei sequer um email de Feliz Natal (que são todos porque com aquela coisa de o meu profile pifar no PC perdi os endereços do outlook e como nem consigo almoçar também não tive tempo para ir copiar emails e tal que a minha vida são só doutores novos a quem saco papelada e assinaturas),
Pois Feliz Natal.
Sobrevivam como puderem aos centros comerciais e à fita cola dos embrulhos. Fritem-se dos dois lados, polvilhem-se de açúcar e canela e estendam-se nas porcelanas entre os frutos secos e a lampreia de ovos.
Abraços de abóbora, leves e quentinhos
Ana

Também sentem tudo à roda?

14.12.07

Na rua principal cá da vila há uma loja de vestidos. Todos os dias, quando descemos a calçada, eu lá miro os tafetás.
É uma loja improvável, aqui no meio do bairro, ao lado da junta, antes dos frangos. Farto-me de pensar quem é que comprará aqueles vestidos. São muitas vezes compridos, folheados, pregueados, brilhantes. Suponho que sejam vestidos de casamento, de peralta, de finalista das privadas. Onde é que uma pessoa vai naquele preparo? Palavra que eu cá não tenho onde mostrar os ombros, o colo, a nuca. Não tenho.
Ninguém se casa. Não há bailes. Passo o fim de ano com camisolas de lã. Nem que me engane consigo justificar aquele curto do outro dia, cai-cai, numa seda verde escura; um laço à frente.
Mas preciso de uma camisola de gola alta.

8.12.07

Até que idade pensas divertir-te?


Um dia ao contrário. Voltei sem presentes, com o cabelo castanho, umas botas despropositadas e a convicção de que só o azul me salvará o armário.
Eu há anos que não uso azul.
Eu saí de casa loura.
Eu não preciso de umas botas.
O Natal é uma inevitabilidade.

fastlane


Depois de ela nascer parece que estou sempre na faixa da esquerda.

7.12.07

Ana, a Pessoa

Hoje à noite vai piscar para os avós.
Vou buscá-la no domingo à tarde para fazermos a árvore.

Entre uma e outra coisa todos os dias são meus

Como sempre, tenho demasiados planos. Quero ir aqui e ali e ficar noutro sítio. Tenho uma lista assustada de presentes para cumprir. O meu cabelo, naturalmente descontrolou-se. Tenho chás tão adiados que qualquer dia arrefecem. Tenho-o.

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso?
Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!

6.12.07

Congemino desculpas para sair daqui. Ele há dias assim.
Estou fartinha de trabalhar. Há muitas semanas que não desperdiço um ai, mas palavra que preciso de um recreio. Engulo o almoço, não bebo cafezinhos, chego a aguentar o chichi e isso, isso não pode ser. A minha amiga Pat há anos que nos prevê a incontinência.
Hoje não posso com mais doutores. Quero beber um chá. Quero andar na rua.
Mas assim sendo vou coleccionar legislação.

2.12.07

(2)4 party people


Finalmente encerraram as festividades. Depois da escola e da família, os amigos.

30.11.07

Academim

Ontem à tarde, antes do chá, o meu marido fez a sua comunicação inaugural na Academia das Ciências de Lisboa.
Sou sincera, não gosto de o ouvir. Sofro com o seu tom baixo, cuidadoso, sério. O meu marido há quase 10 anos, o pai da minha filha, o meu amor, mão-na-mão-junto-a-mim-que-não-poderá-ter-fim, enerva-me. Já o ouvi muitas vezes, foi meu professor. Eu casei com o professor. Já foi meu chefe e meu colega. Nunca nos zangámos. E agora dá-me para isto. Para temer por ele, para mordiscar os dedos enquanto a onda progride, estável, forte, segura.
Ontem, no desconforto da cadeira encaracolada, mergulhei num distúrbio tenso, como nos sonhos. Respirei por fim o silêncio, desoxigenada.

A Academia é como os botões de punho. Um anacronismo elegante, respeitável, brasonado.
No meu estilo desestruturado, espreitei as salas e as porcelanas. Propus logo uma festa nos salões, um sopro no espólio. Eu não sou nada como o meu marido e obviamente nunca hei-de ser correspondente da secção de ciências biológicas.
Eu era a mais nova da sala, ele é o mais novo dos académicos. Ontem claro que os funcionários nos interceptaram a progressão na alcatifa.
Estou tão orgulhosa dele.

28.11.07

perna de pau, (m)olho de vidro e cara de mau

Ontem à tarde, ainda não eram três, bati com a cabeça na esquina do armário. Praguejei e continuei a espremer a lata. A seguir tocou a campainha e eu gritei-lhe, esganiçada, que abrisse a porta com a chave dele.
Caramelos. Nunca mais compro promessas de chantilly sob pressão.
Ao menos o pão-de-ló era bom. Não fui capaz de não me acusar sob os cumprimentos da escola e sibilei a procedência. Eu só barriguei de doce e colei os smarties.
Bugger. Parece que havia expectativa de bolo de requeijão, mas eu não cheguei para tanto.
Claro que para a minha pisca tanto faz. Estava contente e foi uma anfitriã perfeita, a distribuir as fatias tortas (porque é que fazem os pães-de-ló tão altos?) nos pratos amarelos da escola.
Em casa prodigiei um mar de cenoura e mascarpone, um cenário de piratas e tesouros que tive que proteger até ao fogo preso final. A pirotecnia valeu-me um buraco na toalha boa e a espatulagem da fuligem no creme de lima.
Sou remissiva.
Mas empratei o meu melhor doce de sempre.
Macia por dentro, crocante por fora.

27.11.07

****


Mariana, pirata de água doce

25.11.07

papel ma(r)ché


Fui à Ladra Alternativa. Gosto da onda da coisa. Do treco-lambeco, do ponta acima ponta abaixo, da surpresa ocasional, da juventude e das expectativas, do espaço descascado e das ruas tortas. Gosto que me despertem a estética, que me justifiquem os cinzentos e os roxinhos.
Não gosto da óbvia falta de sustentabilidade material dos entusiastas, dos (des)originais e dos pontos batidos, dos tricôs acrílicos de má mescla, dos despropósitos sem alcance (sim, lembraste-te disto, e então?), do excesso de feltro.

22.11.07

Um passarão

Ontem, em voo nocturno.

Coisas de que eu gostava de me ter lembrado: chamar a uma banda Os Demitidos.

18.11.07

no news, bad news


Ouvi o barulho enquanto esfregava os dentes no duche. Um reboliço maior que o normal. Gritei-a. Nada. Molhei o chão de aflição a tempo de segurar a derrocada final de gavetas por cima dela. A gravidade é uma força que não perdoa. Nem sei como fez aquilo à cómoda. Depois de estabilizar o centro de massa, gritei o silêncio do quarto, palmei-lhe o meu próprio susto.
Vou voltar a andar mal lavada.

17.11.07

No meu trabalho há um quadro preto no bar. Uma ardósia grande, frequentemente rabiscada. No meu gabinete há um quadro preto. Uso-o para recados. Tenho que pedir a alguém que vá lá rabiscar qualquer coisa charmosa. Porque um quadro preto tem um charme distinto, legítimo.
Temos cá em casa uma powerbox e ele há muitas séries. Assim como os advogados se devem rir com as barras do tribunal de cenário e os médicos com as múltiplas urgências e diagnósticos, eu sorrio-me várias vezes com batas forenses e agora também com os núm3ros.
O rapaz não está nada mal, não senhor. Poderia encontrá-lo a comer croissants ao pé do meu quadro preto. Tem aquele arzinho desvalido dos investigadores, mas não chega a ser socialmente desajustado.

A grande concessão ficcional que ali vejo é o tempo e o excesso de entusiasmo. Ninguém pensa, pipeta ou o que for no espaço de um episódio. A vida real é cheia de fracassos e repetições.

Este post estava em draft há semanas.
Reconheço-me queixosa, quezilenta e com mau feitio, como nou tras estações.
Mas isso vai acabar.
Upa.

16.11.07

nightingale

Acontece que eu até era uma pessoa simpática.
Esta semana, para além de várias vezes me questionarem a cor do cabelo (sim, é possível pintar o cabelo; aliás parece que 78% das mulheres fazem-no e o meu já não é de agora), houve quem não quisesse crer que fosse mesmo eu ao telefone. Conheciam-me da minha vida anterior, quando eu dormia e comia capazmente, quando a minha vida pessoal era mais do que fazer dois puzzles com a miúda, cozinhar uma variante de carne picada para o jantar e adormecer no sofá. Nesses tempos, eu ainda escrevia emails aos amigos, ou pelo menos respondia-lhes. Às vezes chegava mesmo a telefonar ou combinávamos uma refeição. Agora só telefono à AnaS e é com a necessidade egoísta de me queixar.
Antes da minha vida ter sido invadida havia em mim um rouxinol. Uma espontaneidade entusiasta, quiçá uma simpatia. Hoje sou uma megera institucionalizada. Tenho olheiras permanentes, uma tatuagem de cansaço acumulado. Passo os dias a resolver problemas, não há uma única boa notícia no meu despacho.
Nunca mais me esqueço como há uns anos perguntei a uma amiga, assistente social, como aguentava aquilo dos problemas diários. Ela confessou-me que havia de facto dias difíceis em que só lhe apetecia gritar com os coitadinhos todos para não se drogarem, não roubarem e não fazerem merdas que só lhes encravam a vida.
Os meus dias são todos difíceis e só não grito, ou ainda não grito, porque estou cada vez mais noise sensitive.
Agora o rouxinol, esse voou.

11.11.07


Quem passa dez horas por dia a saltitar entre pés não chega para caridades educativas. Enruguei a testa e lamentei não poder esclarecer as dúvidas adolescentes sobre células estaminais. Além de que sempre me irritou essa lança nas costas que é diga o que sabe sobre. Há seis anos que não entro num laboratório. No meu tempo, repito, no meu tempo, a bioinformática corria em Unix. Não havia genomas completos nas bases de dados. Começavam os microarrays. Fiquei ufana com a naturalidade com que ensaiei a utilidade das micropipetas, mas depois de conseguir girar eppendorfs entre os dedos, percebi que era aquele o meu momento de saída. Não há nada mais triste do que cair do salto.
Sim, as paredes não estavam mal, mas só o moto era profissional.

sorrir e acenar


Ao terceiro dia, ligou o meu chefe e perguntou-me se estava vestida de hospedeira.

Casa d' Orange


De toda a mise, o que mais gostei da scéne foi dos folhetos.
Não me cansei de olhar para os rectângulos; reciclados, oficiosos, deslogotipados.

tags


jornadas inovação fim ana músculos pernas doridos

1.11.07

Parece que ando cinzenta. Desci aos 52 kg, o que por acaso me agrada. Nem sei bem para onde me fogem as horas, os dias, as semanas. Levaram-me a miúda ao cabeleireiro e está maravilhosamente curta. Eu nunca teria tido coragem, que tenho uma frustração antiga com a minha infância sem gancho nem totó.
Pari 15 metros de parede e uma dúzia de folhetos. Se tiver uma aberta ainda hei-de escrever à Corel para os insultar por terem escondido a ferramenta de transparência.
A única externalidade positiva é o rato novo que quase parece um Mac. Ainda hei-de ter um Mac.

em repeat

A frase que me ensinou a amiga:

Science is what I do, it is not what I am

Mesmo quando parece mesmo que não é assim.

19.10.07

...

Estou liquefeita. Para além de tudo, deram-me 27 m2 de stress para daqui a nada.
Acabei de viver uma deadline, uma das primeiras que virão nos próximos dias, literalmente ao minuto.
A minha filha está em cada dos avós e falou-me ao telefone de um rato com magia. Ou qualquer coisa parecida.
Pediram-me uma fortuna por umas paredes montadas em alveolado. Se a Universidade tivesse esse dinheiro casava-se.
A parede do stand não aguenta o plasma. É preciso um tripé. O que me obriga a engenharia no alveolado.
Eu também preciso de um tripé.
Eu hoje devia ir apanhar uma bebedeira.

13.10.07

Um audiobook. Quero experimentar um audiobook.
Há que tempos que me falta uma voz.

Finalmente, uma alpaca. Ainda não lhe decidi o fim, mas estará ligado aos meus ombros. Tenho ombros tensos, nodosos. Os músculos ressaltam-me as canseiras e corcundo assustadoramente. É uma pena, que até tenho um colo bonito e gosto muito de decotes. Às vezes ela ainda me explora o peito numa sem cerimónia filial.
Há dois anos que me apetece um xaile.

the pathologist

Esta semana tive o meu primeiro júri académico. Como a tradição ainda é o que era, a funcionária assumiu que eu era a candidata. Lá a poupei com um sorriso e uma treta qualquer tipo "pois, eu sei que pareço mais nova".
Eu não pareço nada mais nova. Tenho 35 anos e vê-se. Na expressão dos olhos, nos cantos da boca. Nas mãos. O problema é que a Universidade está velha. Não mudem o estatuto da carreira e vão ver, as algálias a pingar nos corredores.
Tive uma semana tramada (porque sou nova?). (Porque) como estou cá para muitos anos, ainda acredito na sustentabilidade dos processos. Por outro lado, ouvi a melhor quote dos últimos tempos, numa sala cheia de VIPs (e eu, tão nova, que liguei a pedir um convite; mais novos que eu só os miúdos lindos que a Gulbenkian contrata para ajudarem na logística), por entre uma maioria de ideias estafadas e alguns breves momentos de profunda admiração intelectual. A saber: the perfect diagnosis is autopsy.

lêveda

Esta noite sonhei com sonhos. Uns quatro, assim dos grandes. Eu gosto de sonhos grandes, leves, cheios de alma. Lembro-me que faltava parte de um, não sei por quem.
Deve ser o corpo a pedir-me açúcar. Eu acredito muito nos pedidos do meu corpo. Quando estava grávida nunca lambi colheres nem esgravatei nos vasos. Nunca exigi loucuras fora de horas, mas tinha vontades. Às vez doces outras salgadas. Tenho muitas vontades salgadas. Adoro cafés combinados com chamuças. A menina é mais gulosa de petiscos do que de doces. Dêem-lhe queijo e deixem lá os pudins.
De manhã fui à Baixa e não sonhei. Estou há dias com uma coisa cá dentro. Não sei se veio do infectário, mas consome-me a tripa e impede-me de sonhar.
Também me doem as costas.

9.10.07

s(t)eaming


Como quase tudo o resto nos blogs, esta costura parece melhor do que de facto está.
As mangas estão mal pregadas e todas as costuras estão tortas e/ou demasiado abertas e/ou fechadas.
Coser tricô é um tormento. Antes agulhar mais umas costas. Credo.
Agora, que já não tenho coragem para desformatar, encontrei ajuda.

7.10.07

Novo livro favorito.
Fazemos as duas, que as brincadeiras vêm aos pares.
...
Eu também posso fazer, pois posso?

inside my bag



duas carteiras, não consigo deixar de usar duas carteiras
chaves (de casa, que eu ando de transportes), telemóvel
óculos, tenho sempre óculos escuros
acabei-o
o tricô, por acaso dentro de um saquinho
catálogo, porque gosto sempre de ter uma coisa bonita; conforta-me; às vezes é um papelinho com referências de lãs que não chego a comprar; às vezes é um pauzinho de papel com perfume
folheto das borboletas; fomos ontem
falta mais uma carteira onde seguem os lenços de papel, o baton de cieiro (que nunca uso mas tenho sempre), umas toalhitas, um elástico, um minidesodorizante, uma escova e lápis de cor

5.10.07

i heart grey


Linho/algodão, ou a camisola que eu devia ter acabado antes do frio.

Se eu tivesse time para estar out possivelmente não precisava da revista. Mas assim já posso acompanhar a vida no mundo exterior.

4.10.07

veggie

ou porque é que acho graça ao reino vegetal,

r-evolution: industrial design: botanic
missed tree
zaum, tree

3.10.07

knit update

:: Parece que foram eles que desenharam as camisolas do Matrix. Há padrões para venda. O lookbook é fantástico.

:: Falta-me uma manga da ink flared sweater.

:: Vogue Knitting 25 years: free patterns

:: J'aime bien Montparnasse

amity



No fim-de-semana vinha à minha frente no comboio uma mãe com uma gabardine improvável. Sei que é uma mãe porque a filha vinha ao lado. Fartei-me de rir com elas, disfarçada ou obviamente. O telemóvel não tinha teclado e era preciso agendar o fim do dia entre as partes da família (não nuclear, novos modelos de célula, blá, blá, blá, pais separados).
A gabardine era assim azul/verde/piscina/petróleo. O resto descombinava agradavelmente. Não sei se a pré-adolescente (é assim que se diz agora, não é, nesta fúria evolutiva dos tempos modernos) se apercebeu disso.
Como tantas outras coisas, a minha estética mudou com a maternidade. Ou melhor, ganhou uma nova dimensão. Imagino como a minha filha me vê. Se me repara nos tiques, se me reconhece as manias, se me aprova. Até quando serei maravilhosa? Será que algum dia me transformarei num vexame?
Lembro-me de uns sapatos verdes da minha mãe. Verde escuro. Lembro-me do frasco do eyeliner e do pincel fininho.
E agora dou por mim a imaginar se ela um dia gostará de usar as minhas coisas. Justifico compras especiais também com isso. Tenho uma wish list própria de peças intemporais que também serão dela.
Não sei se é por isto tudo que estou tão enamorada pela comptoir. Porque tem trapinhos maravilhosos, tão trapinhos e tão maravilhosos. Uma paleta discretíssima e uma qualidade macia. Uns bons saldos. Este domingo cumpri lá os meus presentes em falta e imaginei-a pendurada na tapenade tenra que me massaja o ombro.
Confesso que adoraria participar na campanha, eu que não gosto de tirar fotografias. Mamãs, este ano há um casting no Porto, agora em Outubro. Vão lá.

1.10.07

domesticada

Hoje começa o terceiro ano do meu contrato de trabalho e estou de férias. O meu 22ª dia de férias em 2007.
Ontem, por volta da 1h30, depois de ter confirmado as dúvidas com a enfermeira do Trim-Trim, descansei a espertina pela blogosfera do costume. Segui o link da Jane sobre o livro.
Como estou de férias e a miúda adormeceu o ben-u-ron, discorro.
No outro dia conheci a Vargas num programa da Oprah. Um programa sobre as mulheres mães e trabalhadoras, blá, blá, blá. E eu vi. E lá estava a discussão do costume. Esta senhora é um case study lá na América, onde não há licença de maternidade.
Eu gosto do blog da Jane. Tem fotografias maravilhosas e aquela englishness que eu gosto de acompanhar. Quando vi a capa do livro fiquei ligeiramente desapontada, mas perdoei-lhe. Acho a capa desagradavelmente doce, como os bolos de aniversário das lojas, e só tolero o título se lhe atribuir uma brit-irony. Eu não sou crinoline lady-like, sou mais toalha preta por baixo da porcelana. Dito isto, a Liz não percebeu nada.
Eu também acho que somos umas totós e por acaso não culpo os media, culpo-me a mim, e certamente não culpo a Jane. É verdade que isto pode ser só mais um anel da espiral de culpa. Pelo menos sinto-me diagnosticada, o que já é um avanço. Lentamente, firmo pequenas conquistas. Interiorizei o conceito de fim-de-semana, aceito ajudas, peço ajudas, já não acho que preciso de ler todos os livros e fazer todos os puzzles, não luto com cenouras, ervilhas, saladas e afins, também dou gelados e chupas (em vez de negar sempre para contrabalançar as ofertas de terceiros), deixo passar uma ou outra lavagem de cabelo e compreendo que não se deve interromper um episódio do carteiro Paulo. Evito responder a emails profissionais às dez da noite ou nove da manhã de domingo, mesmo que os veja, porque eu sou uma pessoa com uma vida.
Gosto de tricotar e cozinhar. Não me apanham no gardening (nos nossos três metros quadrados de garden) e a máquina de costura foi um erro de casting. Tenho quase tantos anos de escola como de vida, mas quando (a academia liga muito a isto) me perguntam se sou doutora respondo que sim, mas que disfarço muito bem.
Às vezes tenho saudades da bata e já pensei que seria óptimo poder usar avental. Gosto tanto de aventais. Os meus são tradicionais, com peitilho, mas também aprecio os estilo lounge ou nazarenos. Acarinho a visão de uma mãe de avental. Eu uso avental porque sou uma mãe que faz o jantar, mas não nutro juízos de valor sobre quem nem por isso.
E o jantar é o maior sacrifício da minha vidinha. Já me perguntei várias vezes se vale a pena cozinhar-me, todos os dias e mais as efemérides. Talvez sim. Possivelmente não. E obviamente que ninguém tricota para poupar o que quer que seja, senão sanidade mental. Nem para impressionar ninguém, ou ainda não repararam na deselegância dos resultados? Uma pessoa, esta pessoa, tricota para se distrair, para se desafiar ou para (se) oferecer tempo. Um presente de agulhas é uma oferta de tempo. Muito mais caro que a caxemira.
Hoje estou de férias porque lhe diagnostiquei uma otite. Daqui a bocado vou deixar o doutor decidir sobre o antibiótico.

28.9.07

Semprei fui razoavelmente desequilibrada. O meu pai nem me queria deixar guiar sozinha. É verdade que houve um periodo particularmente difícil com a mudança das cabines telefónicas. Lido mal com superfícies transparentes de todos os tipos. Enfio-me em montras com facilidade.
Hoje de manhã, à minha frente, a miúda falhou ostensivamente a abertura da porta. Reconheci instintivamente o movimento torto, a tentativa frouxa de correcção, o encalho com a ombreira. Eu conheço de perto todas as ombreiras do meu perímetro familiar. Ai, ai. Serão os genes? O pai é tão orientadinho que esperei sempre o melhor.
Claro que há o outro problema, meu. Eu ando com os olhos pregados no chão. Para além da deselegância postural, devo perder imenso disfrute visual. Desde miúda que prego os olhos no chão e ando depressa. Lembro-me dos recados feitos a correr, de chinelos (quando eu era miúdas as pessoas vinham à rua de chinelos, pelo menos lá onde eu morava). Uma corrida à padaria, à drogaria, à lavandaria. Todas as lojarias da vidinha à distância dum arquejo.
Agora já não tenho chinelos, tenho crocs ou birks e já só ando depressa. Aliás, não tenho fôlego para corridas. O pior é que ela continuou como se nada fosse. Não recuperou o ombro nem desacelerou o passo. Seguiu, como eu sigo.
Imagino a minha figura como uma enchada. Aquelas que pousadas pela base fazem um ângulo para a frente. A minha cabeça à frente dos meus pés.
Também sei que cada vez mais desfoco o olhar. Olho rapidamente e faço por não ver. Na maioria das vezes basta-me a mancha. É sorrir e acenar, sorrir e acenar. Como se focar me gastasse, como se houvesse um limite de focos no meu cérebro e eu precisasse de poupar os hits para as coisas verdadeiramente importantes. Não é que eu não olhe, só não vejo.

26.9.07

stats

Não me imagino a viver no campo. Talvez até fosse fantástico e as distâncias já não são o que eram dantes e tal. Mas é um problema estatístico. Uma necessidade de manter as opções em aberto. E para mim as opções estão nas cidades. Eu devo ir ao cinema umas duas vezes por ano. Tenho uma tendência assumida para frequentar os mesmos restaurantes. Em boa verdade, bastava-me uma meia dúzia de lojas onde de facto compro alguma coisa. Um supermercado. As lãs já vêm pelo correio. Não tenho tempo para cursinhos. Mas encantam-me as possibilidades. Valorizo as possibilidades e desfaço nas probabilidades.
É a mesma coisa com a idade. Os vintes estão cheios de possibilidades. Os trintas são demonstrações das probabilidades já reduzidas. O número de casos prováveis sobre o número de casos possíveis. Um denominador a encolher a cada escolha. E de repente parece que já não há de facto opção, que a probabilidade é 100% daquilo e já está.
É como as viagens. A antecipação é tantas vezes mais excitante do que a vivência. Quanto mais se vai mais perto se está de voltar. Será isto cinismo? Preocupo-me.
Com isto, com as múltiplas no win situation da vidinha e o sentimento geral de que os grandes pilares da felicidade estão claramente overrated.

23.9.07

a escolha


Não fomos ao Prado. Sem culpa, palmilhámos a modernidade. O passado ficará para o futuro.
Mais estímulos e sucumbia numa esquina.

self portrait, 2007


Gosto de comboios, de ovos e bacon, de café com pouco leite.
Gosto de viajar sozinha e encontrar-me com ele em estações. Encontramo-nos no outro lado da cama todos os dias menos nestes em que nos procuramos em estações. Acho tão romântico. Isso e não corro o risco de me chatear com ele por causa dos biorelógios de embarque.
Gosto de procurar os caminhos nas serpentinas do metro e de ficar com o mapa. Gosto de mapas e de guias. Para a próxima levo um destes. Também gosto de farejar. Gosto do hotel e do restaurante.
Gosto de abacate, beterraba e beringela; chocolate escuro e tarte de limão; cerveja, vinho branco e chá.
Não gosto de trânsito e música alta. Para mim a música está quase sempre alta.
Tenho a mania parva de entrar em lojas caras no estrangeiro com a secreta esperança de que sejam muito mais baratas. Desde os euros isto é ainda mais parvo. A Custo, Hoss, Comptoir e Diesel continuam caras, por vezes obscenas, em espanhol.
Gosto de cinzento, verde, roxo e preto e isto vale para quase tudo, menos cinzento na comida. De resto, gosto muito de cinzento. Gosto das roupinhas que vendem as lojas de lingerie e pijamas. Gosto assim para andar na rua com elas.
Gosto muito da rua.

20.9.07

movida

Alguém me quer falar e não pode. Ou isso ou tremelico já a chegada da maturidade.
Ontem consegui a proeza de esvoaçar um copo de sumo de laranja num sofá profissional e anfitrião, rasando alguém que eu não conhecia de lado nenhum e que rapidamente me teatralizou uma estalada de vingança pelo que poderia ter acontecido. É engraçado como a empatia se cria com coisas de nada; ao almoço revelámo-nos o mais temível dos segredos, o de que já houve alturas em que estávamos a ficar umas chatas.
Há coisa de nada, ameacei o teclado com outro copo de sumo. Eu, que só bebo água, despeço-me da juventude com tropeços vitaminados.
Amanhã terei 35 anos e vou ali ao lado ver se me esqueço disso.

17.9.07

Os melhores anos da minha vida. Sei lá eu quantos, quais, quando, se os há. Assim inteiros, anos inteiros, de Setembro a Setembro que é como se contam os anos; os melhores. Sei lá, nunca acreditei nisto dos tops.
Voltámos à conversa do depois é que vai sendo. Agora que os miúdos já não têm fraldas, têm skates.
Cá está, já nunca vou ter um skate. Será isso um problema, um desconto na vidinha ou apenas uma sorte para os meus joelhos? Eu gostava de ter um skate. Assim pela onda. Gostava de justificar umas calças largas e uns (des)atacadores, de aterrar no jardim das Francesinhas, ali ao lado da Assembleia.
Também falhei a prancha e umas tardes espelhadas na Ericeira a ver um namorado de borracha a cair e a levantar-se. Tomara que o marido não caia lá no BTT.
Não me apetece nada ter 20 anos. Tinha o cabelo comprido, brincos desiguais e já gostava de roxo, mas era menos assumido, como quase tudo.
Esta semana chego aos 35 e já vou poder candidatar-me a presidente da república. Mas isso também não me apetece.

10.9.07

mães e filhas

Nova loja favorita.
Para além da roupinha, assim understated, gosto tanto da campanha.

9.9.07

planta


Por mais espanto que agora me cause, existe na Universidade um diploma que me confere um grau superior em Biologia Vegetal. Aplicada. Biologia Vegetal Aplicada (BVA). Para além do formato datado do título, que me remete inexoravelmente para um século de licenciaturas "para o desenvolvimento", quando os iogurtes ainda não tinham propriedades orgásmicas e embalagens design, eu não distingo um único carvalho da flora nacional. Também nunca fiz nada aplicado, aliás, temo que nada de profissionalmente útil, mensurável ou medianamente justificável numa reunião familiar.
Tudo isto faz de mim um exemplar de almanaque, um espécimen vivo do herbário académico pré-bifidus. Mais, não suporto plantas em casa embora o meu lado fashionista ande a rabiar uma daquelas orquídeas fucshia, magrinhas como super modelos.
O Kosuth descobriu aqui um maná. Ele há uma enciclopédia de obras a produzir.
No meu eu clorofilino, ressalta imediatamente a injustiça: um agregado com dois BVAs e noone makes its own food by photosynthesis.

blondie


Que eu goste de revistas caras, cheias de miúdas mal almoçadas e pejadas de anúncios de cremes é algo que ele já não discute. A eleita do meu coração fashion é a Vogue UK e só me dana quando gastam as páginas finais com real estate em vez de real state ou street fashion. Na América não fazem isto.
A única altura em que deixei de ligar ao que vestia foi no pós-parto e vê-se bem a mancha que deixou nos álbuns. Mas obviamente que todo este esforço é cuidadosa e quotidianamente ocultado (há mesmo quem me acho só mal vestida). Na edição US de Setembro descubro que não sou só eu (ou algumas das minhas amigas) que fazem isto. Afinal, há mesmo um "sloppy syndrome".


She moves like she don't care
Smooth as silk, cool as air



Os meus sintomas mais frequentes envolvem acessórios e sapatos. Mas o recurso final, o desarranjo mais estimado, é o cabelo e o seu despenteio. Agora está outra vez louro, para gáudio marital e descalabro financeiro. A claridade é uma renda pesada e impõe uma agenda bimensal de alumínio. What the heck.


She walks like she don't care
Walkin' on imported air

toes


Não gosto de andar descalça, mas prolongo as chinelas para além de qualquer calendário ou conveniência.
Agora equipo-me para o inverno com um postigo.
Espero que não seja ano de monção.

7.9.07

O que eu queria era ser tituleira.
Parece que os havia noutros tempos, quando as letras pesavam chumbo e não se editavam livros de estilo. Chegavam pela tardinha e alegravam a mancha do dia.
Também gosto de índices, mas nada se compara ao título. O compromisso breve, a bala única.
Também gosto de,
aesthetics crockery parcimónia dislate myriad
Há palavras tão bonitas que me apetece vesti-las, eu que também ando maravilhada com o papel de parede.
Vou empapelar uma lateral da sala com uma chusma de flores verdes. Chusma não é uma palavra bonita, mas tem personalidade.
Linda, linda é whimsical.
Espera-me um dia desconsolado. Uma péssima escolha de vestuário e uma batata podre concorreram para me desmoralizar.
A certa altura achei mesmo que a baba fermentada da batata tinha aterrado no vestidinho, mas era só àgua. Apetecia-me ter calçado as havaianas cor-de-rosa, mas chickened out e trouxe outras sandálias igualmente desapropriadas.
Era só uma batata, proscrita, tão mole que tive que a resgatar com uma colher. Tenho o cheiro nos dedos até agora.
Hoje não saio do gabinete. A universidade devia ter room service.

3.9.07

Ando há que tempos a congeminar um poiso para a lateral esquerda do sofá. Hesito entre a poltrona estruturada, a chaise longue (caminha, é uma caminha) e um wish antigo.

Mas até lá,
Querida Internet: onde é que arranjo um shopper koziol preto?
E sabes que eu queixo-me muito, mas adoro a minha filha e há um prazer infinito em mordiscar-lhe os pés.

Ana, 3 Setembro, em email privado.

31.8.07

in visible


Cá está.
A definição perfeita da coisa.

in stone*


Dei mais de 17 euros por um livro chiclete e li-o todo.
Um rosário pop no figurino "Bridget Jones tem um filho". Quase quatro anos depois e eu ainda sinto este apelo en(ver)gonhado por tudo quanto promete desmascarar as "verdades escondidas da maternidade". Que fraqueza.
- Mas o que é que te custa?, perguntaram-me esta semana ao almoço e ainda me atormenta a rapidez com que aterrei a minha verdade na salada de fruta. Custa-me tudo.
Essa é que é esta. Para mim a maternidade tem um custo intrínseco, próprio, presente, nem sempre mensurável mas nunca negligenciável. Aliás, como é que uma coisa tão extraordinária (porque ordinário era ser euzinha, senhora de mim e tal) podia não ter custo? Tudo o que tem valor tem custo.
Escolho-lhe a roupa de manhã para que saia para o mundo que eu lhe mostro, enfrentando-o com o arsenal de respostas que lhe dou (ou não). Sou responsável por uma ementa completa, de fruta e maneiras, proteínas e imagens, histórias de mamãs e bebés sob todas as formas do reino animal e vegetal. Defino-lhe um ambiente termostatizado de direitos e deveres, escrito numa carta de princípios experimental, sem ensaio e muita revisão.
São tantas as vezes em que não sei o que é melhor, o que devo fazer, sempre ligeiramente aterrada com a percepção de que sou o grande engenheiro da vida de alguém.
E os miúdos são sanguessugas. Chupam o bom, o mau e o mais ou menos com a mesma urgência e critério. Os miúdos imitam-nos.
Custa-me.
Custa-me escolhas, sono e principalmente desassossego. Nunca mais haverá almofada que me releve a vigília. Há um parapeito crónico que preciso de vigiar, uma respiração alienígena que sinto à volta do pescoço. Um turno que não se rende com mais ninguém. É a minha vida a correr fora de mim.
Ora ninguém nos prepara (ou avisa, ou reconhece, ou mesmo simpatiza) para isto.
* é permitido calcar o Andre.

Fomos lá as duas esta manhã. À confiança.
Claro que vou ter que voltar para conseguir ver alguma coisa durante mais de três segundos.
Tirou os sapatos, rastejou por várias superfícies, todas permitidas, embora algumas parecesse mesmo que não, que com a arte contemporânea uma pessoa nunca sabe bem. Falava naquele sibilar alto de bilhoteca. Já chegou a queixar-se de que tanta compostura lhe magoa a garganta. Ainda assim destacava-se notoriamente da urbe discreta que passeava os tons neutros do casual wear pelas salas enormes e brancas.
Porque é que não se vê a cabeça, mamã, porquê?
As crianças não filtram e o senhor do lado escancarou o riso que acumulava à medida que a figura rastejava um video potencialmente incompreensivel.
O video não é para mim. Estou à espera que passe.
Mas curto a garrafeira.

very much on my plate

28.8.07

Não sei bem quando começou, já passaram alguns meses, mas agora, agorinha, é que estamos no auge da coisa.

- Porque é que xxxxxxx mamã, porquê?
- Deixa ver!

É muito estranho ver a nossa criança - aquela mistura fina dos nossos genes, tão nossa, tão única, tão familiar - transformada num cliché. Mas é assim mesmo e isso dá-nos algum consolo.
Há dois dias fui verificar quantos cm a miúda cresceu nos primeiros meses para sossegar uma recém avó aflita com a sua espiguinha.
9,5 cm nos primeiros dois meses. É verdade, parece muito, mas é verdade.
Agora já tem um metro. Impressiona-me sempre vê-la deitada. As pernas esguias, compridas, o ventre liso, os braços fininhos, o cabelo espalhado e umas pestanas maravilhosas. Linda, a minha filha é tão linda. Imagino se ficará triste quando perceber que a varicela lhe costumizou a sobrancelha direita. Voltei a crescer as minhas sobrancelhas e estimo à brava os meus pêlos desorientados. Claro que perco a elegância do arco perfeito, mas a verdade é que tanto arranjo chegava a assustar-me.
Quase não lhe corrijo a infância falada porque me apercebi que foge depressa. Diz todas as coisas porque as que não sabe inventa. Na verdade tem quase sempre razão e a irregularidade da língua é que complica tudo aos crescidos.
A minha filha mostra-se ao espelho. Deixa mostrar ao espelho mamã, vês?
Ontem saldei-lhe calças para o inverno.
Peço-lhe várias vezes para estar um bocadinho caladinha, por favor. Lembro-me perfeitamente de a minha mãe me fazer o mesmo e em boa verdade não acho certo. Mas não aguento tanta conversa, palavra que me põe doida. Ela não se cala. Por comparação o pai já nem se queixa de mim.
É uma conversa única, de manhã à noite, recheada de interpelações e porquês e exigências de respostas. Eu sei que ela depois vai ficar muda e que não vai haver quem lhe arranque um grunho, mas agora é uma canseira tão grande, uma prova oral sobre a vida e eu há dias que já não posso, já não tenho mais respostas sobre o mundinho. Claro que as explicações dela são hilariantes e é uma delícia ouvi-la em relatos semi-fantásticos, temporalmente desorientados, mas profundamente verdadeiros, que mesmo as mentiras aos três anos e meio são genuínas. Ela nem sabe mentir, sabe inventar que é outra coisa completamente diferente.
A ver se aprendo.

26.8.07

sunday heavy

Estou cansada de arrumos e desgostosa de mim e do meu lastro.

sunday light

Arrumei e limpei, arrumei e limpei e enchi quatro sacos de tralha para o lixo e mais dois sacos, grandes, de roupa para dar. Minha. Roupa minha.

A (des)propósito de tanta sobra, notes to self:
- eu não uso vermelho, turquesa e azul em geral; há 15 anos a minha roupa era toda azul
- eu não uso saias direitas; eu quase não uso saias; uso vestidos
- eu gosto mesmo é de branco, preto, roxo, verde, cinzento e tudo quanto seja ratinho
- ainda tenho umas Levis 501, coçadas entre pernas e as primeiras Gap
- não volto a comprar camisolas com ponta de acrílico









24.8.07

caramelos

'Tava feito.
Até lhe expliquei, a caminho de Braga, a vontade e a oportunidade da coisa. A logística.
Que eu gostava de fazer qualquer coisa assim, que já está na hora, que acredito na técnica e na aprendizagem, como sempre.
Diagnostiquei-me. Falta-me o fôlego e a mentira. Sou curta, cada vez mais curta. O meu problema sempre foi crescer a obra, completar a mancha. Ora assim nem descolava as capas. E depois são os factos. Toda a vida trabalhei dados, verdades, verdadinhas. Sei lá eu inventar coisas. E já há tantas coisas, por todos os lados menos por um que é o istmo.
Daí o curso, a formação.
Claro que imagino já um sem fim de irritações. Cada vez que penso nisso fico com as sobrancelhas doridas.
Ontem fui à FNAC para não comprar um manual.
Abri nas páginas do fim e li um exercício: .... reescreva o texto do António Lobo Antunes ....
Não se faz.
A menina canta, canta e não espanta. O que sabe, o que não sabe, o que inventa - relatos ocasionais da vidinha musicados com temas da moda, que é como que diz o coelho Alberto. Canta bem, a minha menina. Até vou enviar um email ao coro, a saber quão tenros os aceitam.
A menina oferece-me todas as flores que vê. São p'a ti. São sempre todas para mim, que tens vestidos e gostas de flores.

23.8.07

desairo

E assim foi.
Ao primeiro tambor do regresso, um barulho angustiante, para aí 50 euros de serviço e uma mama descaída.
Note to self: lavar os soutiens rígidos dentro do saco do pão.

28.7.07

27.7.07

Apercebo-me do padrão. Sou incapaz de seguir uma receita. Há sempre um ponto acrescentado ao conto. Na cozinha, no relatório, no tricô, na vidinha. Simplesmente não consigo seguir, seguir, seguir. To do as I am told. Isto deve qualificar-me para algum prémio de inovação ou empreendedorismo.
Tenho tudo pronto (a lã certa, o padrão, as agulhas) para o wrap, mas pimba! já comecei uma manga com a beira verde. De propósito.
Very sad.

24.7.07

terra do nunca

Acabei de sair de uma mesa de almoço dominada pela infantilidade e nem de propósito.
Ando tensa, a desejar as férias e a temer as férias. 24 horas de coabitação com o gremlin, readaptação das regras às casas, às pessoas, aos tempos das férias. A tosse que não passa, o dobre das refeições, logo das insistências e malabarismos, os perigos da praia, do campo e mais um queijo.
Passo a vida a ouvir-me e palavra que isso me cansa. Nego dezenas de coisas por dia. Castigo-me por mais uma meia dúzia que admito contrariada.
É como nos jogos de computador, o nível de dificuldade vai subindo. A miuda é esperta e destemida. Mesmo teimosa. Responde-me e eu acho isso justo, mas palavra que às vezes me enfurece. A palavra aqui é fúria. Nesses momentos oscilo entre a pena de mim própria (coitadinha de mim, que me esforço tanto e até parece que não vale a pena), o sentido do ridículo e da desproporção, o riso, o orgulho (tão inteligente que até me respondeu assim) e às vezes mesmo a ausência de outro sentimento que não seja a fúria e vontade de gritar.
É muito mais difícil comigo do que com qualquer outra pessoa, incluindo o pai. Esta é uma injustiça com que não me conformo.
Há meses que não leio conselhos, os livros lá de casa já expiraram aos três anos. O pediatra acha-a óptima. Valem-me as outras mães e os outros filhos.
Ela é o Peter Pan (é sempre o Peter Pan) e eu sou a Wendy. Mas às vezes queria ser a Sininho.

18.7.07

Dallas, UK

Ando preenchida de desejos de novelos e desobrigações.
Este livro é tão lindo que o folheio sem conta, imaginando-me coberta de pontos certinhos, simples, tão simples.
Quase que cheiro os lilases, as ondas pardas, o tea. Até já me chegou a apetecer umas férias de pier. Claro que I should know better que as frialdades da ilha ficam melhor em livro que nos ossos.
Também é verdade que os modelos do livro estão tão enrolados nas maravilhosas fotografias que não se vêem bem, mas palavra que estou a um click de mandar vir meio quilo de gypsy para usar por cima do vestidinho branco amarrotadinho que resgatei de um saldo no fim-de-semana.
Quero uma licença com vencimento e um cream tea.
Alguém (ele, a empregada, a divina providência?) arrumou umas cuecas minhas na gaveta da criança. Decido que estou pronta para o biquini.

23.6.07

mousse de manga, frente e costas


Na mesma semana em que me apaixonei pelo knit all rows , cheguei à EZ, e reconheci-me institivamente como zimmermaniac. Ando há que tempos a apontar num caderninho modelos básicos que evitem as costuras. Ela inventou-os antes de eu nascer.
Inspiration e as primeiras turbo-agulhas, para experimentar.

20.6.07


Apetece-me ir. Ir. Estou falha de vontade para ficar.
Eu vou com muita facilidade. Faço malas simples, depois da última hora. A minha mala para uma semana é igual à minha mala para três meses. Sempre transportei eu própria as minhas malas.
Wish me well,
say goodbye
I'll never tell I saw you cry
Understand you're not to blame
It's just that the wind,
the wind knows my name
And it's calling me,
calling me,
calling me again
Claro que isto agora é mais retórico. A vidinha hipotecada de escolhas. Prestações de compromissos que me deixam em lista de espera.
Por enquanto é um fiozinho de voz, um sussurro em sonhos. Uma inconstância.
Se calhar é só porque me apetecia ir de férias.
I think that you knew right from the start
there was this restlessness in my heart
It's a feeling that I have tried to tame
but it's hard when the wind,
when the wind knows your name
And it's calling me,
calling me,
calling me again

16.6.07


eu, o brasil, o preto, o branco e o verde
bambu preto, bambu branco e eu, que não gosto de riscas, apaixonada por uma alternância

friendly colours
Considero se deveria inventar uma historieta criativa para se um dia me perguntarem porque é que estudei biologia. A verdade é que já nem me lembro bem. Quer dizer, lembro-me da escolha, não me lembro é da biologia.
Deve ser por isso que acho graça a coisas destas.

Highlands

Vou encomendar este livro por muitas razões.
Porque ando numa onda assim torcida, assim cabled, e apetecem-me tranças. Porque o tempo está tão farrusco que a lã não me faz calor. Porque gosto de vários padrões do livro e gosto da autora.
E obviamente por causa do título e dos saudosismos.
Nos últimos dias tenho-me lembrado à brava das terras altas. O tempo cá do rectângulo tem estado parecido com os mais belos dias de verão lá de cima. No outro dia até quase me cheirava a brewery. Por causa do tempo, muita gente me tem comentado o tempo e falar do tempo é um passatempo britânico. Para nós é também o Tony no cimo do Swan. Building. Do Swan Bd.
O Tony discorria sobre os ventos do norte com uma verborreia tão rica como a que lhe saltava na conferência da uniqueness. O meu chefe tinha uma conferência perfeita sobre a uniqueness. The importance of the individuality. Ouvi-a várias vezes, à uniqueness.
E pois que assim sendo só me resta encomendar o livro.
E passear por aqui, a ler as histórias dos outros.

14.6.07

Meishi


Estávamos os três nos sofás coçados da cozinha do Daniel Rutherford. Building. Do Daniel Rutherford building. Eu talvez folheasse uma New Woman (assim uma Maria made in UK, que havia sempre alguma lá na cozinha do Daniel Rutherford. Building] ou uma Good Housekeeping. Beberricava uma mug. A Farzhana se calhar comia cuscus na mug dela. A miúda alimentava-se de cuscus e northern blots.
Não sei como começou, talvez com a velha conversa dos bilhetes de identidade. Dão sempre pano para mangas, os bilhetes de identidade. O Masaaki falou então dos cartões e dos carimbos.
Os cartões são uma instituição. A mim o que não me cabe é a tradução dos alfabetos. Não me cabe. Como é que o nome muda dos desenhinhos para os kiki e kodas e isso.
E ainda há os carimbos. Para além dos cartões, há os carimbos. Imagino aquilo tudo belíssimo, muito cuidado e elegante. Claro que me apeteceu logo um carimbo e um macinho de cartões.
Ainda há dias vi numa papelaria uma caixinha de cartões tão bonita. Os meus cartões têm o modelo da instituição e foram impressos à pressa com uma requisição de favor antes de uma viagem.
Quero uns cartões finos, que digam pouco, que eu, pode não parecer, mas não sou de muitas falas.

Às tantas, a mulher levantou o chapéu vermelho, abriu o fecho da mala e tirou de lá de dentro uma caixinha de pele negra reluzente, mais pequena do que uma cassete de música.

13.6.07

organic feet


Duzentas gramas de algodão que ainda não sei como hei-de combinar. Tenho esta mania parva de comprar poucos novelos sem destino, como se vivesse de amostras.
Aprendi duas palavras novas no knitworld que me definem,
stash
frogging

10.6.07


Passo muito mais tempo a manejar novelos do que agulhas. Encanta-me o processo de escolha, as cores, os fios, as expectativas.
Estas amostras são algodão/linho e fita de algodão. Ando a namorar uma alpaca.
Gosto de formas simples, desgostam-me as costuras. Às vezes paro num feitio, num padrão exigente, quase sempre folhas.

Cool XY knits. É desta que encomendo umas Noro.

small print / large print


3.6.07

trap



O meu aeroprojecto acumulou milhas e foi só.
Descobri-o na véspera do check in, num cesto de saldo. Tem um maravilhoso tom ratinho entre o cinza e o lilás e o empoeirado. Quero-o em forma de casaco, feito de dois rectângulos, com um mínimo de feitios e costuras. Pensei, pensei, e encontrei a solução,

wish knits

xxs wakie wakie
s wakame

it bag



A mala perfeita chama-se... Annie.

Wishing from Br Osklen, Melissa, Zoomp, Huis Clos.

30.5.07

Há muitos anos, havia um anúncio que perguntava: até que idade pensas divertir-te?
Ocorre-me várias vezes, esta pergunta. A mim e decerto a outros como eu, assim trintões. Porque somos da geração do anúncio e porque a pergunta é legítima, justificada, recorrente.
Esta coisa da idade também só interessa a quem a tem.
É muito estranho apercebermo-nos dela, da idade. Acontece-me cada vez mais vezes, mas (ainda) não me incomoda. Chega mesmo a ser confortável, libertadora. Por agora não há nada que eu não possa fazer por não ter idade ou ter idade a mais. Tanto combino riscas com bolas como uso verniz vermelho. Tanto mando como acato. Venho todos os dias para a escola.
O que me aborrece mesmo é fazer o jantar.

26.5.07