story:tell:her

30.9.05

Deve/Haver

Hoje é o meu último dia no emprego com vista para o Tejo. Foi um bom emprego, com uma boa vista. Não gosto muito de vincar as mudanças, prefiro o fluir natural, o part-time de transição. A minha secretária continua como sempre esteve e eu, nela, continuo como sempre estive. Tenho que nos arrumar.
Este projecto foi uma ideia de fim de Julho, um desafio que me distraíu de outro que saíu de mim com anestesia geral. Foi uma das vezes em que a ideia era suficientemente forte para sustentar o porque não? Tenho que agradecer ao Manel por também ter acreditado.
Nem de propósito, chegaram-me as provas de um paper. Devia ter escrito mais, lido mais, feito mais. Fiz poucas de umas coisas e desfiz muitas outras. Fiz newsletters, amizades grandes e pequeninas, conferências, projectos, aulas, erros no Excel e uma filha. Desfiz ideias feitas, contactos, erros no Excel, projectos e uma Ana de quem me lembro às vezes. Acho que estou a crescer; aprendi muitas coisas muito depressa. Ainda me falta dominar completamente o comando do DVD, mas especializei-me em ajudas modernas para refeições rápidas que parecem demoradas, distribuição de mimos e ralhetes e como conseguir fazer o maior número de coisas entre as 18h30 e as 20h30 de um dia de semana.
Vou ter saudades de trabalhar no que me apetece, dos pratos vegetarinaos da cantina lá de cima e das gargalhadas desbragadas da malta da 403. Ainda não tenho amiguinhos no sítio novo, mas já estou a preparar um ofício para resolver o problema (uma office-warming party?). Tenho que contrabandear um selo branco ou pelo menos umas bebidas espirituosas.

29.9.05

Actualização

[em estilo de agência noticiosa]

- ela hoje choramingou um bocadinho em coro com a aquéu (Raquel), agarrando-se cada uma a uma mamã e uma chucha
- o uate (Duarte) mordeu o dedo da Nana segundo recado da Lúcia no caderninho (ainda bem que eu não tenho um caderninho na minha escola ou estaria sempre cheio)
- a mummy e o pappy andam cansados e culpados por não passarem mais tempo com a Nana
- ela tem adormecido mais cedo e sem fitas
- nós, para não adormecermos em todo o lado, fazemos imensas fitas
- entre os dois, a mummy e o pappy andam a tentar desencavar 5 milhões de euros públicos, o que requer muita imaginação e uma baixa taxa de sucesso
- quem quiser contribuir pode usar uma T-shirt a dizer: Eu amo a Ciência
- ela anda a tentar cantar
- eu canto-lhe a pedido, não muito bem, mas com empenho; bocejo sempre nas pausas o que não é bom, mas sempre a distrai do facto do balão do João ser levado pelo vento e o caraças
- quer comer sempre sozinha e beber por um copo
- eu amanhã vou beber copos e jantar às 9h30, como os jovens e com os jovens*.

*se não adormecer entretanto.

27.9.05

22

Vinte e dois meses de amor e hoje foi a primeira a chegar à escola.
Os meninos?
E o meu coração encolheu e eu com ele até caber na casinha de brincar.

26.9.05

Anúncio

Procura-se curso de comportamento institucional, de preferência por correspondência, ou melhor, e-learning.
Oferece-se compensação compatível.

Dia -5

Só devia começar para a semana, mas começou já hoje. Mal.
Por outro lado a Mariana hoje ao jantar contou alto até dez. Só se esqueceu do sete.
Eu esqueci-me do senso. Deviam tê-la contratado a ela.

25.9.05

Message board

Heart-broken
Perdi o coração da Hilda, mas ela guardou-o. Snif, que era um dos meus favoritos.

UL sem FC
Não é na fcul, Pat. É só (so?!) UL e mete reitorias e arredores. Mas vais ver que ainda me reconheces.

Chás e Rosas
A minha vida de chalada dificultar-se-á com o emprego novo, pelo que aposto nesta semana, talvez numa plaza perto de si? E uma feira de quinta? Isso é que era...

Imaterial
É injusto Sónia, tu continuas a assombrar-me em versão Warhol.

100 estojo

Já estão os dois deitados e eu tenho finalmente um momento. Ele hoje fez os 100 de Mafra. Ela fez os 100 de Mummy. Acordou antes das oito, dormiu menos de uma hora antes de almoço e até agora foi sempre a bombar. Sempre gostava eu de conhecer os miúdos que dormem 12 horas e ainda fazem sestas. São um mito urbano.
De manhã fomos passear a Belém, que sempre os mesmos baloiços já não escorregam. A mãe hesitou tanto que não trouxe o estojo de que agora até gostava. Preciso de um estojo. Mas já não quero de pita, quero de crescida. Mas não de crescida amanuense, quero de crescida gira, daquele tipo de giras que para escolher um estojo parece que estão a comprar um prédio.
Gosto do CCB. Hoje não comemos queque nem entornámos meias de leite. Trouxémos um livro fantástico, em que todos os bonecos são de plasticina. Bem, mas são muitas imagens, aquilo é uma arte. Lembrou-me a Daniela.
Ainda me trespassou enfiar-nos nalguma das exposições, mas arejei a tempo. Não é uma boa ideia. Lembro-me das esquinas.
Depois comprei-a com meia queijada e arranjei mais um blaser divertido na loja das pitas. Não tinham estojos. Lembro-me do meu estojo da joaninha. Durou imensos anos. Aquele preto de hoje é que era.
À tarde a Mariana aprendeu o que era uma escultura ("tua", for short). Engraçado que não (des)identificou nenhum equipamento urbano por engano. Sorte de principiante. Aposto que escolhia um estojo num instante.

Blasé-r


Pela primeira vez, tenho um emprego com uma face institucional. Onde, para além de ser profissional terei que parecer profissional. Ando a desarrumar prateleiras há semanas e já percebi que, sem despacho reitoral, não me enfio em cinzentos integrais. O segredo está nos casacos. Uma pessoa de casaco parece logo estruturada. Até acho que consigo combiná-los com as calças rotas.

23.9.05

That's all folks

A reunião acabou, os estranjas foram apanhar aviões, cervejas e fados e eu voltei à vidinha, com agendas sobrepostas e sem sopa feita.
O microfone ficou afónico logo no início da minha apresentação, pelo que falei, literalmente, presa por fio ao sistema de som da mesa. Não fez mal. Tinha levado a minha saia de ganga gira, os ténis e o sotaque que os anos de British Council poliram até à irritação. Como toda a gente, quando estou mais tensa ou nervosa salta-me o sotaque e depois ando a explicar que sim, sou portuguesa, mas nós cá temos legendas e toda a gente fala bem estrangeiro (já devo ter a boca torta de tanto imitar os franceses).
Tenho um amiguinho novo com quem combinei umas cervejas para a semana, assim ele consiga sobreviver às férias pelas estradas portuguesas. Na última parte sentámo-nos cá atrás e partilhámos malavadezes sobre os presentes. Revirei tanto os olhos que devo estar ligeiramente estrábica. Não há nada como a maledicência para descobrir uma alma gémea.
Entretanto, será cada vez mais difícil ir passar uma temporada a Paris desde que ontem o meu garfo ganhou vida própria e encheu de nódoas a senhora da OCDE. Ainda bem que não estava cá ninguém da UNESCO.
Continua a não haver paciência para quem não consiga relaxar um bocadinho insistindo na postura de inteligente-trabalhador-compulsivo, sem tempo para jantaradas nem manifestações de polícias no caminho para o restaurante. Que no CCB, para que conste, não se (re)Commenda. A sobremesa era tão pós-moderna que não chegava a ser uma sobremesa e ficou sobre a mesa. [Só para gourmets: parece que há um sítio extarordinário em Campo de Ourique chamado Maria da Fonte, com produtos italianos e cursos e assim]
Hoje ao almoço consegui não prejudicar o meu futuro profissional porque quase não comi quando finalmente ouvi as mensagens no telemóvel, incluindo o tom desesperado do meu futuro chefe a requisitar-me para uma task force de emergência, que afinal é só para segunda-feira, que a função pública tem o devido respeito pelos fins-de-semana.

22.9.05

Needs, Status and New Developments

Podia ser uma reunião de trabalho sobre a vidinha, mas não.

21.9.05

Obrigada

A restaurar a efeméride, convenci-me mais uma vez que a primeira ideia é muitas vezes a melhor: com miúdos, repastar em casa.

Por jogarem as letrinhas anti-spam. Muito obrigada.

Por me telefonarem depois de meses de interregno, de vidinha, e por passarmos quase todo o telefonema a tentar combinar um encontro que não vai dar jeito nenhum, mas que me apetece mesmo tentar.

Estilistas das lojas baratas de miúdas onde desencavei umas cenas giras à brava, sem remorsos.

Querido pappy e seus desvios por corredores comerciais ingratos.

Mãe e Pai.

Anaversário

Ontem tinha 32, hoje tenho 33.

Negativo:
- 33 é pior que 32
- é a idade da crucificação
- vou ter que deixar de dizer que tenho 30 anos
- ontem o pappy ainda não tinha presente
- já não posso gabar-me à Pat de ser mais nova
- tenho mais 8 anos do quando me casei; e 5 quilos.

Positivo:
- 33 é melhor que 34
- é a idade da ressureição
- já posso fazer um ar maduro e dizer que tenho mais de 30 anos
- ontem o pappy ainda não tinha presente (tradition...)
- já posso gabar-me à Pat de também ter 33
- casei-me há 8 anos e ainda gosto dele; eu era magra demais
- a Mariana hoje deu-me a mão e entrou contente na sala. Não chorou. A Mariana hoje não chorou.

20.9.05

Eu também queria ter um 20

Eu conheci a Heather seguindo um link da Rosa.
Todas temos filhas pequenas. Eu acho-lhe graça porque 1)ela tem graça, 2)eu percebo posts como este.
Por enquanto as minhas drogas são ben-u-ron, valdispert ou casal garcia, mas já houve uma altura em que achei mesmo que precisava doutras. Em que chorava mais do que admitia, nunca mais do que a Mariana, mas isso é mérito dela e não meu, muitas vezes com a Mariana, o que não favorecia o meu lado da competição visto que as minhas lágrimas desesperavam a miúda que me tinha desesperado a mim. Houve semanas em que eu não conseguia trabalhar e tratar dela e da casa e da vida e de tudo, como sempre tinha feito. Tratava mais ou menos dela, comíamos massa todos os dias e não trabalhava porque não conseguia atinar. Espero que a FCT nunca veja isto e me obrigue a devolver o dinheiro. Eu até pensei em suspender a bolsa com atestado médico, mas obviamente que o técnico que me atendeu nunca tinha ouvido tal coisa e já devia estar suficientemente aterrado com o meu tom desesperado. Desesperada, mas não parva, que nunca lhe disse o meu nome, nem lhe dei referência nenhuma que o pudesse ligar a um NIB. Claro que se eu não andasse a dizer a toda a gente que não trabalhava ninguém percebia porque eu aprendi a disfarçar.
Uma vez li que não interessa o tamanho da bosta, cheira sempre mal, o que qualquer mãe de crianças de fraldas pode confirmar, mas acho que quer dizer que não se pode comparar dores alheias. Se calhar não devia ter traduzido como bosta, mas como cocózinho, já que depois falei de crianças.
A maternidade para mim também não veio sem dores pós-parto. Às vezes ainda me dói muito. Não sei se as outras mães não têm dores ou têm vergonha de falar nelas. Eu tenho muita vergonha. Porque a minha filha é linda e saudável e inteligente e eu ainda assim queixo-me à brava. Porque a vidinha muda mais do que eu pensei ser possível, se bem que ninguém pensa muito nisso. Porque três não é dois mais um é dois mais as múltiplas personalidades da criança, da mãe e do pai. Porque a minha vida era minha e agora é dela. Porque o amor por ela me engordou um coração que muitas vezes me comprime o estômago. E isso dói.

19.9.05

Undercover



Já chegaram aqui.

Honey-mum

Outro spin-off do casamento é ter sido considerada uma "mãe com mel". Ela não me larga e chama-me, de vício, a toda a hora. Sempre fomos um bocadinho peganhentas, mas esta adesividade toda exponenciou-se com a escola. Passou a acordar de noite (outra vez) e a chamar por mim num tom lamentoso. Um sinal engraçado da sua habilidade linguística é a variedade de títulos: mamã, mãe, mummy, tudo muito lamuriado e quase sempre ainda de olhos fechados. Quer sentir-me, quer sempre saber onde estou. Só espero que tanto pólen não lhe faça alergia.

18.9.05

A tri-loja



Sabe tão bem ver coisas bonitas. Assim, destas.
E destas.
E destas.

Casting projects

Apetece-me fazer este casaco, mas é uma empreitada grande para o meu tempo de agulhas. No outro dia até tentei imprimir o padrão, mas a impressora tinha encravado no relatório de contas de alguém e eu achei que era um sinal.
Este ano tenho que me controlar em frente às lãs novas e lembrar-me dos pesos e cores de projectos acumulados.
A Mariana precisa de um gorro.
Eu não preciso de um gorro (quanto muito a minha cabeça estará é a encolher), mas apetece-me um gorro.

Notas, na contracapa do menú

Dá-me ideia que antes se ligava mais a estas coisas, às ocasiões. Antes havia menos festas, menos roupas, menos banquetes, mais vidinha. O casamento da mãe desta noiva foi o maior acontecimento familiar da década de 80.
Os requisitos da festa estão cada vez mais exigentes. Na véspera do meu casamento eu não tinha nada para fazer. Fui comprar umas calças de ganga e o meu pai uma gravata, para entreter. Esta noiva ficou ate às 3 da manhã a embrulhar inutilidades para oferecer à malta.
Eu gosto mais de buffets que de cartas, intercaladas por esperas e às vezes gelados de limão.
Viémos embora antes do baile e poupei-nos momentos de dor aguda nos pés e insistências pedinchonas ao marido para me aleijar na pista.
Se não estivesse já cheia de sono e de birra, acho que a Mariana tinha gostado do baile.
Terá havido baile?
Havia uma mesa de putos com vigilância, mas a Mariana ainda não me larga o suficiente para a poder utilizar sem eu ter que comer o peixe lá também.
As pessoas vestem roupas aos putos pelas quais deviam ser processadas por comissões de é(sté)tica.
As pessoas crescidas vestem roupas hilariantes e não se riem com isso.
Se calhar doi-lhes os pés.
Pelo menos às mulheres que desafiam as leis da anatomia humana.
Quero que os noivos sejam muito felizes.

Wedress



Sim, casaram-se e sim, eu usei uns sapatos não redondos. A Mariana estava tão xira e tão arisca a estranhos como de costume. Adorou os seus sapatos (redondos, assim também eu) e o vestido que baloiçava e amortecia as sentadelas no chão. Petiscou, como eu, que refeições fartas não se comem com sapatos novos. Claro que havia imensa comida, como há sempre nos casamentos. Aliás, é sempre disso que se fala e se recorda cá no rectângulo. Isso e o vestido da noiva. Eu gostei muito de ser noiva e de ter um vestido. Lembro-me de balançar a saia. Lembro-me de ter usado os pratos de sobremesa da Mrs Feeney como molde para os recortes do véu, que fiz no quarto ao lado do do maluco, que tinha o tecto inclinado (o quarto e talvez também o maluco) e onde me arrisquei várias vezes a perder a cabeça que levaria o véu. O tule foi comprado numa John Lewis, essa grande instituição britânica, e a fita para os lacinhos num saldo de indianos. Era um véu curto e eu gostava dele. Contrariei o protocolo e comi com a cabeleira branca com lacinhos que me fazia sentir princesa. As miúdas gostam de ser princesas.

16.9.05

Post sem queixumes

Ontem aconteceu uma coisa extraordinária. O pappy foi beber um café ao adro e encontrou o amigo Pedro na rua.
Ora:
o Pedro é um amigo de Edimburgo, com quem o pappy dividiu casa, bollywood e kebabs
que agora vive em Belfast e
que já não víamos há 4 ou 5 anos e
de quem eu gosto tanto e
tenho tanta pena de não ver mais vezes e
que tem um filho, o Lucas, com a Franziska
que toca saxofone e
estava ontem a dois minutos da nossa casa e
o pappy encontrou-o!

Voltámos todos três ao adro, para abraços e uma cerveja, que estas amizades temperadas de malte são sempre escorridas garganta abaixo. O Pedro está na mesma, com menos cabelo, tem uma cottage no campo e faz DYI nela, o que não consigo imaginar. Veio cá ao rectângulo tocar, mas nós vamos a um casamento onde a chinfrineira vai ser outra. Confirmo que continuo a gostar muito do Pedro, com quem ía comer bolos ao Florentin e partilhava dúvidas significativas sobre a sanidade mental doutros compatriotas do burgo.

Não tenho mesmo nada do que me queixar.

15.9.05

Ostra

Quando o nosso pai lê o nosso blog e acha que nós somos uma chata lamentativa é porque está na hora de repensar a nossa imagem no mundo. Ostracizo-me, temperada com limão para arder mais nas feridas da auto-estima.

14.9.05

Gut feeling

A Mariana ainda chora quando fica na escola de manhã. Se for eu a levá-la. E não vale a pena ficar mais tempo, arrastar a coisa. Se for o pai nem tanto. Se for o pai a ralhar nunca mais se ouve, nunca mais exige, aos berros. Se for comigo suga tudo, incluindo a calma e às vezes também a autoconfiança. É uma injustiça, mas é como é.
Eu sou a mãe e com quem nos limpa o rabito não há delicadezas. A sem-cerimónia é orgânica. Ela sou (também) eu e eu sou dela. Às vezes sinto-a outra vez dentro de mim, a revolver-me. Às vezes invade-me.
Acho que gosta da escola. Os choros já não são tão desesperados. Hoje de manhã chegámos mais cedo e andou a mostrar-me a sala e os brinquedos. O pato que o pai desenhou ontem está muito lindo. Eu não teria feito melhor.

13.9.05

Tardo



Em despachar tarefas. Em transferir ideias acumuladas para papel. Preciso de materializar-me em pdfs com executive summary e alguma coisa mais a seguir.

Em decidir que meias levo no sábado a um casamento onde vou com uns sapatos que não são redondos. Que, na verdade, não são meus.

Hemiciclos



Na reunião, o pappy desenhou um pato na parede, ouviu os recados, cansou-se das mãezices militantes. Depois trouxe para casa a capa dos trabalhos para nós decorarmos, o primeiro desenho "oficial" e a primeira esfoladela no recreio. A mummy discutiu o Parlamento. Estou claramente em desvantagem. Pelo menos não discuti com o Parlamento.

Cedo



Gosto das manhãs, do fresco, do dia inteiro pela frente. Antes trabalhava-as mais, agora não quero cortar-lhe os sonos, agora a logística mostra-me céus e sorrisos já abertos. Hoje saí de casa antes das sete e a minha meia de leite partilhou o balcão com taças de branco.

(Quase) cedo, humidamente, à pena de não ter podido ir à primeira reunião de pais da Mariana.

12.9.05

Crafty Plaza

Na quinta-feira, às 19h.
Como diria a Nana*, Viva! com os braços no ar e palmas a seguir.

*A piolha já se auto-refere frequentemente.

FYI - arte contemp

A ver.

espaço-tempo

Uma curvatura impossível?

Catching-up
Em Outubro vou ao Lux com a Pat.
Queres que te marque um cabeleireiro fashion? Ando há que tempos para seguir uma dica da Rosa...

Blue on White

Mariana Totó, já a caminho.

11.9.05

Já 'tá!

Já 'tá quando:

- a mãe liga o secador de cabelo na tentativa vã de escorrer a aparência emaranhada
- a mãe descarrega o autoclismo (eu, que sempre guardei o sistema excretor só para mim, agora partilho intimidades com alguém que, entretanto, me pede colo ou se mira interessada na tampa metálica do rolo do papel)
- a mãe veste uma roupa (qualquer), mas se demora um bocadinho mais no vislumbre de uma combinação que pareça propositada
- já comeu duas colheres de sopa
- chega a casa na sexta feira com um pingo no nariz, que hoje já lhe pesa nos olhos
- ...quase - mente a mãe quando lhe desembaraça o cabelo, tenta esguichar soro ou colherar boca abaixo pelo menos metade do xarope para o pingo
- uma manobra desengonçada de uma piolha numa cadeira de crescido entorna 2/3 da meia de leite, transportada com perícia de circo do balcão até à esplanada, através de portas pesadas e degraus vários
- nem me lembro quando, eu que tenho tudo pendente: trabalho, danças em pista, descontrações, busto, melhorar o francês, aprender o espanhol, depilação, máscara, dentista, fisioterapia, sapatos de salto, escritas várias.
- nunca estará, pois não?

9.9.05

Hip Hop



Parece que hoje já foi quase bem. Claro que a cena da manhã continua em todo o seu esplendor de som e drama. A Lúcia arrancou-a, literalmente, de mim. Como aos dentes. Sem fada.
Noutro lado, noutro momento, a Marta também saíu finalmente da sua mamã. Sem epidural. Custa um bocadinho. É pequenina, como a Mariana. Parece que a Felicidade também esteve por perto. Desejo-lhe tanta.

Eu, que tenho andado com umas dores numa anca*, voltei a comprar umas calças rasgadas. Shame on me. Esta negação das etapas, das in(con)stâncias agarra-se a mim como lapa, eu que [não] sou rocha no temporal. Preparo-me para a rotina imaginada sem furos, acumulo víveres, mimo-me de fugas. Componho-me tipo pivot, com blasers próprios e metades sereia, escamadas.

A tória foi encontrada por acaso e está no top do mês. Com o Boo.

*É a listése L5/S1; mas obrigada, querida Rosa

8.9.05

Escol(h)as

Hoje fugi mais cedo e cheguei lá em plena sesta. Vi-a pela nesga da porta, acordada, calma, a brincar com as pernas e a fraldinha. Vi-a pela primeira vez sem lágrimas e senti subirem-me as minhas. Velei os corredores mais meia-hora. A Lúcia arranjava os livros estragados. Espiolhei as sanitinhas. É tudo muito usado, repintado, mas tem um tecto alto e janelas grandes. Foi a escolha que me pareceu melhor. Também não acredito que as mobílias novas lhe ensopassem melhor as lágrimas. A minha escola primária era muito pobre, fria, gasta e eu gostava muito dela. Não sei. Será que preferia um cenário IKEA? Tenho que tratar da fotografia para o cabide. Será que há escolas com oleados intactos e paredes desarranhadas, com desenhos que não enacaracolem nas pontas e louça gira? Cá em casa a louça é gira e ela não quer comer a sopa. Não troco uma sopa na barriga por uma sopa no prato. Giro.
Convenço-me que é melhor assim, lágrimas lineares, expectáveis, sem filtro. É como os galos e é melhor que saiam para fora do que traumatizem lá dentro. É como nas cartas, aceitam-se as copas e pronto. Amanhã já faz uma semana, a primeira das próximas centenas. Já lhe escolhi a roupa, vai de laranja e verde.

Excessos

Adormecemos de manhã o que acordámos de noite. Ela teve a noite mais agitada dos últimos tempos. De manhã empurrei o carrinho num tempo recorde, troquei-a de braços e baixei-os, moída. Ontem fomos jantar fora e bebi dois copos de vinho a mais. Na verdade só bebi dois copos de vinho. Mas foram a mais. Como este post.

7.9.05

Not so bed

Escola - dia 4

Ontem dormiu uma sestinha. Voltou a comer bem, menos a gelatina. Acho que ela nunca tinha comido gelatina. Eu adoro gelatina, será que embrulham?
Hoje fiquei mais um bocadinho, a bem da ambientação, mas a mal das lágrimas. A minha filha é um estardalhaço de miúda. Muito choro, muito amarinhar por mim acima.
Eu mantive-me. Eu sou a bigger person. Eu sou a mamã que sai. É sempre mais fácil para quem sai; quando eu ía para a Escócia a minha mãe ficava a chorar o dia inteiro; eu já era casada, tinha mais de um quarto de século.
Couraço-me. Lembro-me de todas as fitas puxadas por nada, em casa. De todas as lágrimas passageiras que já lhe vi. Um estardalhaço. Mas tão linda...
Eu saí e fui agarrar humidade até ao comboio. A embalagem descrevia o efeito como Bed Hair e eu, diligente e esperançosa, espalhei aquilo nas mãos e na cabeleira. Bed, bad, who's counting?

Plug and Play



Em frente da minha secretária nova há um painel de comandos com ar retro. No primeiro dia fiz a piada e aconselharam-me a não lhe mexer. Espero nunca vir a estar muito aborrecida...
Só começo oficialmente em Outubro, mas vou indo lá. A logística já está toda tratada e o meu nome na porta. Já tenho uma pigeon hole e um cartão de estacionamento, um email. O telefone falou comigo, mas não sei se nos entendemos. É digital e inteligente, eu sou analógica e um bocado atrofiada.
O bar tem um óptimo pão com manteiga.
Let's rock.

5.9.05

Material girl

Se há coisa que eu gosto é de cadernos e canetas e livros novos. Setembro era o mês das papelarias, das listas dos livros, das forras, das páginas em branco. Setembro era a festa, o quase-escola.
Sempre que consigo um pretexto vou à procura de cadernos. Gosto de espirais que funcionam, de linhas leves e juntas. Não gosto de quadrados nem linhas muito espaçadas. As minhas letras não tocam nas linhas, na verdade eu escrevo entrelinhas.
Cartolina, papel de seda e celofane, cola, lápis de cera. Para ela, que no emprego novo não se devem fazer bonecadas.

Escola - dia 2 (do outro lado)

Cheguei lá depois de almoço. Vinha ao colo, a chorar. Mas era porque estavam todos rabugentos e cheios de sono. Comeu tudo e pediu para repetir. Boa, uma criança infeliz não come. Chorou, mas não foi sempre; de vez em quando lembrava-se. Boa, de vez em quando é diferente de sempre. Boa. Think positive.
Amanhã fica para a sesta.
Amanhã e depois de amanhã, e na semana que vem e... apercebo-me que a escola é quase para sempre, a escola é todos os dias... e eu que gosto tanto da escola... deve ser uma chatice não gostar da escola...
Amanhã também vou para a escola. Desconfio que não vai haver sesta.

Escola - dia 2 (do meu lado)

Fomos. Estava contente por ir, os meninos, na 'cola.
Eu não estava contente por ir. Hoje foi diferente porque já a deixei na salinha azul e não no espaço comum. Já só lá estavam os amiguinhos novos. A chorar, uma metade a chorar e a outra a ver. Estava curiosa com a sala, os brinquedos, distraíu-se. Eu já tinha feito a rábula da mamã, que vem sempre buscar. Vim-me embora. Assim que me viu sair começou a chorar. Eu vim e não fiquei à escuta atrás da porta. Agora estou aqui a alimentar a fantasia de que já está bem.
Vou ali tratar das coisas, do "material de desgaste rápido". Vou ali e já lá volto.

P.S. As mamãs também deviam ter um estatuto de profissional de desgaste, mas não, é para toda a vida...

4.9.05

Mari[a]na



Ontem era dia de festa cá na vila.
Está bonito o porto de recreio e as esplanadas prometem, para quem consiga esplanar.

Ao fim da tarde fui minglar com os que ouviram a história dos chimpanzés. Havia um jantar e a ilusão de que é aqui ao lado, é buffet, é num sítio com jardim, estão lá pessoas que gostavam de a ver, etc... E ela foi. E ela foi-se embora com o pappy, que ainda não tem idade para sorrir para as pessoas certas. Depois de ter mostrado a toda e gente porque é que eu perdi a capacidade de pensar clara e repetidamente, acabei por me divertir à brava com novos e velhos conhecidos, amparada pelo serviço piedoso do senhor que passou a noite a encher-me o copo de vinho branco. Deve ter reparado na minha reputação a esvair-se entre uma criança esfomeada e umas unhas indiscretas.

2.9.05

Escola - dia 1



Já fomos, já chorámos e já voltámos.
Ela está ali a nanar as emoções, a mim doem-me os órgãos internos.
São nove crianças, só duas meninas, na salinha azul. Mas hoje estavam todos juntos, no jardim, a brincar, a chorar. Hoje estava tudo de pernas para o ar. Muito choro, muita fralda, muita chucha, muito colo. Gostei de ver os colos e os consolos. Acho que a Mariana nunca tinha chorado tanto na vida dela. Estava curiosa e calma enquanto eu lá estive; despedi-me e começou o pranto. Fui tratar de burocracias, fui espiolhar a sala, fui espiolhá-la a ela. Não precisei de ver para reconhecer o choro dela. Pedia a mamã, a mamã. A mamã pediu ajuda ao pappy. A mamã acabou por ir lá sossegá-la um bocadinho, brincar no chão verde e fazer umas festinhas noutras lágrimas. A mamã sabe que tem que voltar a sair e ela voltar a chorar.
A loja de crianças nova do centro da vila abriu hoje. É fantástica. Era o antigo cineteatro da terra, é um espaço lindo. Trouxe-lhe um pato e um cocó, daqueles bichos pequeninos que ela adora. Fui chorar mais um bocadinho na casa grande do adro. Eu não sou destas coisas, mas às vezes consola. Assim, chorar.
Acelerei o relógio para voltar lá e trouxe-a, apertadinha.
A mamã vem sempre buscar, a mamã vai vir sempre.

1.9.05

Embargada



Estou exausta.
Os bichos estão mesmo por todo o lado.
E amanhã vai andar tudo louco com a revelação...

Eu vou antes andar louca com a escola nova.
É amanhã, é amanhã. Repito, é amanhã. E foi porque hoje não foi possível. Não, não vou adiar para segunda feira. Pois não vou. Vai ser só um bocadinho. Até ao almoço. A que horas será o almoço? Aproveito para tratar das burocracias, para comprar a bata e o chapéu. Para chorar um bocadinho. É amanhã.