story:tell:her

31.8.05

Wild guess

Amanhã vou ali ao lado explicar porque é que os jornais vão estar (ou não) a falar de chimpanzés.

G'day

Hoje vim aqui trabalhar um bocadinho e ter encontros com pessoas.
A minha sala está maravilhosamente fresca, sossegada, calma. A minha manhã foi de gritos, literalmente. Combinações refeitas, coisas para despachar, a roupa que está quase toda num monte na cave à espera da Eugénia, o ferro que já não é usado há um mês e sujou a T-shirt que eu ia vestir. Cuspiu-lhe uma água com pedrinhas. Bof, eu que até o alimento com aquela água de cheirinho (a do Minipreço é boa e muito mais barata), o ingrato. Vesti outro top, deve ter sido uma boa escolha porque me assobiaram duas vezes a subir a D. Carlos. O telemóvel sem carga, acabou-se o feijão verde, a Ângela a tocar e a piolha a correr para as minhas pernas. A piolha a fazer todas as parvoíces de que se lembrou, ao mesmo tempo. A pedir pão com manteiga, a pedir iogurte, a pedir papinha, a não querer nada. A chorar. A chorar à brava. E eu atrasada, sem paciência, com culpa, com o top errado, com as calças amachucadas, eu com os cuanhos (morangos) nas orelhas. Mamã, os cuanhos. E chora. Eu a escolher os legumes para a sopa (acabou-se o feijão verde), a escolher o peixe e a chichinha para levar para a avó, que amanhã eu tenho que parecer normal, que dar aulas e dizer coisas interessantes e surpreendentes, que usar uma T-shirt como deve ser. O oito, o oito. Gosta do oito. Eu gosto do três. Tem um puzzle novo, com números. Avisei a Ângela sobre o ferro cuspidor de pedrinhas. Avisei? Saímos todas com promessa de baloiços, de jardim. E eu fugi a meio caminho, salva por um cão, que ladrou. Obrigada cão, eu que até embirro com aquele cão. Se calhar ladrou-me para o top.

30.8.05

Mariana Totó



Está crescida, a minha menina.
Já sabe os números. Baralha o 2 e o 5 e o 7 tem que ter tracinho ou fica 1. Ainda não consegui arranjar um livro giro para as letras. São todos demasiado ilustrados, demasiado coloridos, demasiado. Vi um bonito, com animais, mas era em inglês e para as letras não me parece apropriado porque os nomes dos bichos não são iguais.
Fala cada vez mais, repete o que dizemos. Já conhece os livros de cor. E ela tem muitos livros. Gosta de bicicletas, como o pappy. Hoje, no supermercado, andou na bicicleta do Noddy. Eu cá tenho uma paixoneta pelo Sly.

Kit Escola



Na sexta feira vai pela primeira vez. Só umas horas. Depois para a semana já vai almoçar e depois dormir a sesta. E depois, depois é a vidinha.
Tem uns sapatos novos e uma mala. A parte da mala é muito importante. Nos livros sobre a escola os meninos têm sempre uma mala. Quando se fala na escola ela lembra logo a mala. Na mala vai uma (f)audinha, a bu e o biberão da água. Na minha mala vão ficar os medos.

Lembro-me muito bem do meu primeiro dia de escola. Já tinha seis anos e uma infância sozinha em casa com a minha mãe e os legos. Estava ansiosa. Depois de lá estar uma boa meia-hora a ver miúdos a choramingar, perguntei à professora quando começava a aula. Então não íamos aprender coisas? Vá, 'bora lá começar, ´bora. Ao meu lado sentou-se o Luís Carlos, que já tinha partilhado comigo o quarto da maternidade. O Nélson, filho do senhor do talho, chorou à brava. Não sei se nesse dia o Joaquim fez xixi na carteira, como em quase todos os outros.
Gosto tanto da escola que ainda lá ando.

Replicate



O pátis para pintar as nunhas.

29.8.05

Amizade é:

Partilhar um provador e não encolher a barriga
Ter saudades
Gozar com as boquinhas que os amigos fazem ao espelho
Gastar no telefone o que se poupa no que não se janta
Contar segredos
Guardar segredos
Dizer mal da família
Gostar das mesmas música e embirrar com os Pink Floyd
Dar abraços de verdade
Gostar dos filhos dos amigos porque são filhos dos amigos
Escolher uma espécie com nome de amiga no meio
Não estar sempre a rir
Não estar sempre a chorar
Ter saudades

28.8.05

Holiday report



As férias acabaram.
Ainda bem, que já estou cansada.

Apontamentos:
- a família é como um bom tinto: consome-se com moderação, num copo grande
- consolei-me do toque dela e de tocar nela
- dormi muito com ela e pouco com ele
- não comi muito, muitas vezes sem proveito; literalmente, ossos do ofício
- a partilha de cama e mesa 24/7 é cansativa, mas realmente extenuante é não poder baixar a guarda, a vigia; ainda ontem à noite se encontrou com a esquina de uma cómoda, oh dear
- estou mais magra e tostada, o que é sempre bom; sei destes factos por "hear say", que não me lembro de me ver ao espelho
- tenho saudades do tempo em que me arranjava para ir a algum lado e em que escovava o cabelo antes de dormir
- gosto de escovar-lhe o cabelo antes de dormir
- diverti-me a vê-la dançar, brincar, falar sozinha, a ler o livro da joaninha no carro; zanguei-me com as rabinices, as birras e as tontices sem hora; fui injusta por cansaço, por falta de paciência; pedi desculpa
- tenho muita pena de não ter tido mais tempo para tricotar; o padrão do cachecol na piscina do Alentejo são as únicas memórias verdadeiramente descansadas destas férias
- não gosto de peixe escalado
- ela gosta de morcela de arroz
- o Caramulo é um sítio extraordinário e ainda não tem um bazar chinês

Baby-talk



Marianinha no Caramulinho.

27.8.05

21M/aioridade



A piolha deixa hoje oficialmente de ser uma bebé. É uma menina.

23.8.05

Next Stop: Caramulo



Ao quarto ano já conta como tradição.

22.8.05

E porque não?



A Maria, pedicure brasileira de muitos carnavais, prometeu-me grandes sucessos à conta do arrojo.
Não tentem fazer isto em casa. A técnica envolvida não é negligenciável.
A Mariana mexeu-lhes e riu-se.
O pappy suspirou.

P.S. Não deixei mexerem-me nas sobrancelhas, ah pois não deixei, que horror, mau-grado as promessas de simetria e quasi-facelift (famous last words?).

(St/D)ressed



Ontem tive esta epifania: ligar à babysitter para ficar de manhã com a piolha. O milagre concretizou-se e eu fui fazer uma bolha no pé para a Baixa e descansei um bocadinho da maratona de maternidade.
Já temos o vestido para o casamento do mês que vem, que vai dar também para o baptizado do primo, os anos dela e o Natal. Cada vez que olho para a etiqueta arranjo mais uma ocasião para o rentabilizar. E fica bem com os sapatos que vamos repetir, para aí número 23.
Depois fui à H&M infantil arrebanhar uma data de coisas básicas, giras e baratas, para a rentrée. Tem collants e polares muito giros. As meninas H&M são uns borrachos, os meninos, coitadinhos, têm de se mascarar de banda desenhada ou super-herói. Uma injustiça.
Já tenho lã azul petróleo, verde e roxa. Já posso fazer folhas e flores para o cachecol. Já posso fazer uma gola para combinar com o blazer de veludo azul que comprei pelo preço das alças do vestido.
Bebi dois sumos de laranja, comi o meu bolo favorito e ainda namorei uns Camper outonais. Ela esqueceu as lágrimas da minha partida nos baloiços, comeu tudo e portou-se lindamente. Obrigada Ângela. Obrigada.

21.8.05

A Família Galaró

História de um primeiro grande tralho:
Era uma vez uma menina que ia a correr, tropeçou e caíu.

História da minha primeira grande aflição:
A minha filha ia a correr, tropeçou e caíu. Parecia uma queda normal, mas ela aterrou com a cara no chão. Esfolou-se, ao pé do olho, tinha terra e pedrinhas na boca; meio minuto depois cresce-lhe uma bola de golfe na testa. Tivémos sorte, estávamos no centro de Castelo Branco, a dois quarteirões do hospital; entrou logo, viram-na logo, "não é nada, é só um hematoma, ela está bem".
Ela está bem. Ficámos mais um par de horas por ali, à sombra, na bicha da farmácia de serviço, por ali, com medo dos vómitos ("o vómito do traumatismo é de jacto, sem aviso"), com medo. Depois voltámos para casa que o passeio estava enguiçado e as aldeias hitóricas são longe e mau caminho. Ao todo passámos umas oito horas no carro.


Adendas à história:
- se alguém me vir na rua, eu sou a mãe da menina amachucada que parece que levou uma tareia
- no hospital, entre as lágrimas e os gritos de "não, não" ao gelo que eu tentava por na testa, dizia "um galo, um galo", o que me dava uma vontade de rir histérico-nervosa
- ela não levou uma tareia, caíu
- é sempre bom ter água; para beber, para lavar feridas, para o caraças
- não vale a pena repetir "não corras" até à exaustão
- eu sei que todas as crianças caem
- eu, à minha conta, parti a cabeça (porque queria ter o cabelo comprido, não tinha, e pus um saiote a fingir de cabeleira; meneei a cabeça contra uma mesa de ferro e fui ao colo para os bombeiros), rasguei o sobrolho a jogar à cabra cega, queimei os dois braços com salpicos de açúcar queimado e esfolei os joelhos até conseguir fazer marcas para a vida
- nunca tive o cabelo verdadeiramente comprido e na minha casa deixou de se fazer molotof; sempre achei a cabra cega uma parvoíce
- ontem senti aquela vontade, aquela de que fosse eu, que fosse a minha cabeça, a minha cara, o meu olho; desejei tanto que fosse eu; não resulta
- quando se vê ao espelho aponta para o "dódói", de resto não se lembra
- esta miúda não é nada caguichas
- Mariana, como é que faz o galo? "Cócó!"

19.8.05

A menina do mar


A praia mais desmancha-prazeres de Portugal



Nunca combina a folga das vagas e da ventania.

A família mais portuguesa de Portugal



Amanhã partimos para Sortelha e depois Monsanto.
Crescemos de dois para três porque o Oeste não comporta em paz dois juniores da mesma linhagem.
Mas é verdade que evoluímos muito desde o ano passado. A piolha come bem e faz sestas. Melhor só quando o fizer sozinha. Isso, dormir noites inteiras, deixar de tentar arrear no primo (é rufia, mas não é caguinchas o que não lhe vale uma simpatia unânime; eu não conto...) e aprender a resgatar os seus pertences sem intervenção superior e debulhe de lágrimas várias. Talvez na próxima década eu volte a comer o peixe ainda quente.

18.8.05

Mood Swing



Dois primos com 15 meses de diferença e menos de cinco anos em conjunto desequilibram uma família. Correm, birram e choram com uma velocidade e endurance que desafiam as leis da física. Da nossa (resistência) física.

Language quiz



A páia é onde está o máie, onde se tomam manhos e se vêem os cacos.

A Oeste nada de novo


15.8.05

Férias de Ponto


Registo

Tem duas sardas no nariz.

Entreposto

Viémos a casa trocar de linha. E usar a internet por cabo. Já estávamos os dois com sintomas de privação. Sick.
Achava que ia trocar a roupa, mas não me apeteceu. Orgulho-me das nossas malas leves e fuss free (sem secador de cabelo!). Levo um fato de treino para ela, não vá arrefecer (I wish).
Acho mal hoje ser feriado porque tinha planos ambiciosos para o único dia de semana na metrópole. Ia comprar uma lã azul petróleo e o número novo da revista. E talvez mais um conjunto de agulhas.
Ela tem estado com um péssimo feitio.
Nós também.
Ontem vi um bocado de um filme muito impressionante com o Ed Norton. Gosto muito do Ed Norton. O filme era assustador. Não vi tudo porque já era muito tarde. Claro que mais valia ter visto tudo sobre esta história da América porque ela acordou a chorar, a chamar, a teatrar uma noite horripilante e acabou por consegui-la. O pappy está trombudo. Eu estou anestesiada. Ela está ali a ver o Bob.
Vou arrancar umas ervas do microjardim, regar e empacotar a disposição para seguir viagem. Este feriado não se faz.

13.8.05

Demi


ma non Moore.

Ceci n’est pas un couple


Ceci n’est pas un genou


Magritta



Há dois anos tinha a barriga cheia. Hoje tenho o coração.

Esmeralda



... and the hunchback of Barrieiro.

10.8.05

7.8.05

Fish


é

Tractor


Molham-me

- águas azuis, muito azuis, enquadradas por ladrilhinhos pequeninos, azuis, que quase me envergonham quando me afogueio na visão de águas mais escuras
- os xixis ao léu, que escorrem em surpresa, dela
- misturas frescas de gasosa
- lágrimas de orgulho e gratidão, que escorrem por dentro, quando a vejo tão crescida, tão linda, tão menina

Afogueiam-me

- as imagens que passam todos os dias na “tuão”
- as borbulhinhas várias que acordam em vários sítios dela
- as noites transpiradas
- as noites transpiradas e passeadas de cama em cama, estranhadas e rabujas
- as tardes transpiradas
- as tardes transpiradas, sestadas, em que não se consegue sair de casa antes das cinco da tarde
- as galinhas arfantes
- as lágrimas que desconheço num rectângulo semi-ardido
- as lágrimas que conheço, chantageadas, espertalhuças, finamente dirigidas aos corações incautos dos menos preparados
- as lágrimas que palmo quando umas micro-costas, quentes pela presença de terceiras gerações, atingem a má criação iterativa

6.8.05

5.8.05

Hot(li)days


My cup of tea



Neste momento era um sítio onde me apetecesse beber um chá.

Castelã



Quinze quilómetros a nordeste de Palmela, vive uma linda princesa. É capaz de correr descalça na relva, tentar apanhar grilos e morcegos (coxo, estava coxo) e meter as mãos ao alcance das bicadas das cocós. Não gosta de ficar sem pé, não mantém as braçadeiras e escorrega pelo meio da bóia. Banha-se quase nua no primeiro degrau enquanto dirige uma operação especial de eliminação de vespas (Tau bicho, tau!). Não gosta de dormir cedo e usa Caladryl, um vintage rosado, uma memória reciclada de outros verões.

1.8.05

The F-word

Amanhã, vamos todos menos o peixe, que fica de férias na casa da X.

Totós'R Us



A ideia foi minha, toldada pela visão de um mês inteiro para entreter uma criança irrequieta. Ela ficou excitadíssima com tantas coisas. Eu fiquei atarantada com tantas coisas. Coisas que custam 399 euros, têm motores e andam. Imagino a chinfrineira.
Avaliámos os triciclos, mas desistimos por razões de equilíbrio. Nosso. Eu não tenho lombares para empurrar, ela tem que crescer mais um bocadinho para conseguir pedalar.
O pappy torceu o nariz a todas as coisas de miúda (eu queria uma daquelas bancadas de cozinha para mim e depois convidava as amiguinhas e fazíamos jantarinhos e não havia loiça para lavar nem restos para dispor e tudo era cor de rosa...).
Saímos com uma bóia cor de laranja e um conjuntinho de loicinhas de plástico colorido. Acho que ainda temos um mês inteiro menos 15 minutos para preencher.