story:tell:her

20.9.05

Eu também queria ter um 20

Eu conheci a Heather seguindo um link da Rosa.
Todas temos filhas pequenas. Eu acho-lhe graça porque 1)ela tem graça, 2)eu percebo posts como este.
Por enquanto as minhas drogas são ben-u-ron, valdispert ou casal garcia, mas já houve uma altura em que achei mesmo que precisava doutras. Em que chorava mais do que admitia, nunca mais do que a Mariana, mas isso é mérito dela e não meu, muitas vezes com a Mariana, o que não favorecia o meu lado da competição visto que as minhas lágrimas desesperavam a miúda que me tinha desesperado a mim. Houve semanas em que eu não conseguia trabalhar e tratar dela e da casa e da vida e de tudo, como sempre tinha feito. Tratava mais ou menos dela, comíamos massa todos os dias e não trabalhava porque não conseguia atinar. Espero que a FCT nunca veja isto e me obrigue a devolver o dinheiro. Eu até pensei em suspender a bolsa com atestado médico, mas obviamente que o técnico que me atendeu nunca tinha ouvido tal coisa e já devia estar suficientemente aterrado com o meu tom desesperado. Desesperada, mas não parva, que nunca lhe disse o meu nome, nem lhe dei referência nenhuma que o pudesse ligar a um NIB. Claro que se eu não andasse a dizer a toda a gente que não trabalhava ninguém percebia porque eu aprendi a disfarçar.
Uma vez li que não interessa o tamanho da bosta, cheira sempre mal, o que qualquer mãe de crianças de fraldas pode confirmar, mas acho que quer dizer que não se pode comparar dores alheias. Se calhar não devia ter traduzido como bosta, mas como cocózinho, já que depois falei de crianças.
A maternidade para mim também não veio sem dores pós-parto. Às vezes ainda me dói muito. Não sei se as outras mães não têm dores ou têm vergonha de falar nelas. Eu tenho muita vergonha. Porque a minha filha é linda e saudável e inteligente e eu ainda assim queixo-me à brava. Porque a vidinha muda mais do que eu pensei ser possível, se bem que ninguém pensa muito nisso. Porque três não é dois mais um é dois mais as múltiplas personalidades da criança, da mãe e do pai. Porque a minha vida era minha e agora é dela. Porque o amor por ela me engordou um coração que muitas vezes me comprime o estômago. E isso dói.