story:tell:her

27.2.06

Lusco

É um filme simples e bonito. Fusco.
O que mais gosto destas estranhezas é espreitar os costumes de outros serem.
Reparei que andam a trabalhar no jardim japonês de Belém. Temo tanta lomba. Caberão lá as 461 cerejeiras?

Beer pressure

Eu sei, são os terrible twos. Isso e o efeito mamã-eu-contigo-sou-uma-pestinha-porque-tu-és-a-minha-mamã-e-vais-gostar-sempre-de-mim. Sei isto tudo e ainda assim deixo-me apanhar na (má) onda.

The hallmark of this stage is oppositional behavior.

Onde fomos ouvir apitos no XêXêB. Quem esteve no Quadrante por volta das 10h30 deve lembrar-se de nós. E do bolo 1, do bolo 2 e da menina infeliz, coitadinha, que não comeu nenhum dos dois.

At this stage, she even disagrees with herself.

Resgatámos uns livros com autocolantes e, como sempre, mudámos um grande cocó naquelas prateleiras onde já quase não cabem tantos pontapés.
Depois correu que se fartou, a brincar com os amigos. Ela é, de facto, adorável, quando se ri muito, quando corre muito, muito despenteada. A Mariana nunca é poucochinho, é sempre muito. E eu gosto disso, palavra que gosto. Não gosto é de não saber lidar com tamanha grandeza.

Dissolving into tears is an appropriate expression of the inner turmoil that is so real for children who are in the midst of this process.

As lágrimas estão cada vez mais gordas, mais sentidas, mais inconvenientes. É muito teatral. A mão na testa, o beiço a tremer; uma tristeza de pacotilha escorrida com piedade.

Ideal parenting does not prevent the "Terrible Twos" - it helps children navigate them.

Fraquejo como timoneira. O leme pesa que se farta. O mar está bravíssimo, é preciso corrigir, corrigir sempre, todos os dias, a todas as horas. Passo o tempo a retomar a rota, encharcada. Dou-lhe palmadas que me doem, que queria reverter, outras que nem tanto. Mas palmo.

It's not caused by something you are doing wrong, and it won't last forever.

Ontem, na cervejaria, almocei-lhe as lágrimas do cansaço, do sono, da minha vergonha. So sorry, amigos.

24.2.06

Role-playing

Uma camisola amarela ou cor-de-laranja.
Este ano não há necessidade de mais adereços. A minha princesa vai ser uma aia na corte escolar. Eu, definitivamente, escolho-me de Bobo.
Daqui a bocado (13:10) abano a pandeireta para anunciar a Maga.

23.2.06

Vox populi

Eu nunca gostei de estudar, gosto é de trabalhar.

Está uma pessoa a tentar descansar os dentes numa fatia de salame de chocolate e ouve um rapaz alto, bonito, e obviamente obliterado, a repetir um senso que é demasiado comum. Ainda assim, recuso-me a concordar com o chosen one.

"Sometimes you see beautiful people with no brains. Sometimes you have ugly people who are intelligent, like scientists"...

22.2.06

Arrived with the wind

Parece-me que inspiro tudo e não expiro nada. Estou cheia, plena, lotada.
Tenho saudades dela, que péripla por todos menos por mim.
Acordei com má cara. Belisco as bochechas como a Scarlett.
Tomorrow is another day... E é isso que me assusta.

21.2.06

Botefos



Que é como quem diz lambareiros no norte do rectângulo.
Ontem à tarde, numa corrida, achocolatámos parabéns e eu descobri que afinal andam lá por casa os ratos do outro.
Mas aquilo que me ficou, para além das calorias, foi a promessa de voltarmos para o fondue. 'Bo(te)ra nessa?

19.2.06

Glasgowood

Parece-me um daqueles filmes que os críticos criticam e os espectadores espectam. Eu, com gosto a lágrimas. Porque não ter pai para dar deve custar muito, porque a Escócia me dá saudades, mesmo a blue e não a white, ou se calhar porque andava a precisar.
Não sei se é da luz, do grão, do baixo perfil, mas amanhã tenho 55 slides de Europa para promover e palavra que não me custa nada.

InVestida



Tenho o casaco e o cheiro prontos para a apresentação de amanhã, mas ainda não acabei o power point nem consegui saldar ao Chiado para resgatar os sapatos amarelos.
Invisto-me de eurofrases e planeio uma taxa fixa de overheads.

Bandeira amarela




Quarenteno-me*.
O Cálcio suicidou-se esta noite. O Rui acha que foi da chuva, do barulho da chuva e da tentativa naufragada de chegar a tanta água. Está visto que não consigo tomar conta de mais criaturas vivas. Já tenho uma piolha, um marido e demasiados fungos.
Obriguei-o a descer ainda despido para resolver o luto. Como sempre, a culpa é minha; enchi demasiado a esfera, permitindo o salto. Num lampejo de humor bioquímico, alcunhou-me de EGTA.
Posso tomar banho, mas não posso nadar.

*De mau feitio, que nem a varicela me quis.

17.2.06

When The Man Comes Around

Se eu fosse ao cinema, ia ouvi-lo.

Hear the trumpets, hear the pipers. One hundred million angels singin'

16.2.06

Busy Bee

Estou tão atrapalhada de trabalho que já tenho zumbidos na cabeça.
Preparo-me para delegar a geração posterior na anterior. Para laborar e, quem sabe, acordar depois das 7h.
A colmeia fervilha.
O mel agasta-me o estômago.

15.2.06

Os bons alunos

Eles espiolharam o mundo com olhos de jornalistas e não como cientistas.

Note to self

Na segunda-feira de manhã, com o fato na lavandaria, parlamentei numa sala alcatifada o futuro de um projecto. Mais do que uma vez, a minha interlocutora utilizou a expressão tricotar. Recordo o casting, de malhas ou votos, e concluo sobre o poder das agulhas.

Sitting Duck

Desde que ela começou a germinar em mim que deixei de usar perfume. Há três anos que, na melhor das hipóteses, cheiro a sabonete. Às vezes apetece-me aquela nuvem de civilidade, um sinal de mim à minha volta, um abraço de glamour e cuidado.
Mas tudo me enjoa.
Hoje, à boleia de um presente, fui cheirar um frasco amarelo. À noite talvez me engarrafe.

The little commuter

Surpreende-nos todos os dias com mais palavras, frases, raciocínios. É muito divertida. Estamos na fase das expressões: contente, zangado, espantado, triste, susto, e dos parentescos: há os grandes e os pequeninos, os papás e os bebés. As frases têm sujeito, predicado e complementos. O modo continua bastante imperativo. Fala dela na terceira pessoa, uma modalidade que eu própria ainda utilizo, mas com menos sucesso.
A chuch'ainha (chucha+fraldinha) é um bem de consumo corrente sempre que não está distraída ou quando é contrariada. As lágrimas são grossas, mas muito voláteis. Elogia ou recusa a comida com segurança de gourmet. Quer fazer xixi no potinho, nunca mais chega o verão.
Depois da euforia natalícia com os brinquedos novos, permanecem os puzzles e os livros. Os livros ganharam mais uma categoria: os que podem ser levados no caminho para a escola. Afinal, sempre são 10 minutos de carrinho.

14.2.06

Hide and away



Recai-me tudo o que quero e que já quis. Projectos novos e projectos velhos, deadlines que me trespassam. Boas notícias, más notícias, notícias péssimas. Sou contemporânea de mim, não consigo escapar-me. Sinto-me um alvo de dardos lançados das minhas mãos.
Volto para a centrifugadora.

12.2.06

DiCurada


DiFerida



As mãos, as mãos...


Esta cidade promete.

reCherche



Encontrei euroconhecimento, tangível e intangível. Troquei cartões e sorrisos, de representação e afabilidade.
Apeteceu-me.

Leçon numéro un




Mexilhões, frites, corredores, táxis, alcatifas, documentos, simpatias, competências, disponibilidades, escadas, muitas escadas e muito inclinadas, frio nas mãos, rendez-vous, multilínguas e um dos melhores jantares dos últimos anos.
FMI (for my interest):
- nonente, non quatre-vingt dix
- ler com atenção os emails de reserva de hotel
- levar um mapa e não impressões de quadrados de um puzzle desconhecido, uma barra energética e uma garrafa de água
- recordar que os voos budget não alimentam os voadores
- nem toda a gente anda de fato
- os sapatos é que nos matam
- isto dos euros é muito fixe
- a confiança de dentro vê-se por fora
- ela portou-se lindamente
- os britânicos são sempre os meus favoritos, eu ainda tenho que voltar àquela terra
- a miúda dinamarquesa sentiu-se na obrigação de fazer uma piada sobre a sua origem e isso é que me lixa
- nem todas as cidades içam táxis no cimo dos braços
- foi tudo tão preenchido que parece que passou muito tempo
- não vi nada, mas não me pareceu tão feio como dizem, ou vão ali às avenidas novas num dia de chuva
- o cinzento é que desmaia tudo
- mas há muito chocolate para animar
- o bairro de congoleses entre as avenidas dos gabinetes lembrou-me o Martim Moniz e eu sinto-me sempre à vontade nestes sítios, mesmo mascarada de senheura
- gosto de encontros pouco combinados, just in time, em plataformas sujas, daqueles que são tão densos de verdades que não precisam de agendas e expectativas
- aproveitámo-nos e aos livros, às conversas e menus; obrigada Pat.

7.2.06

O mistério



Quando o Shakespeare se apaixonou, o director do teatro, personagem extraordinária, disse algo que me recorre demasiadas vezes:

Philip Henslowe: Mr. Fennyman, allow me to explain about the theatre business. The natural condition is one of insurmountable obstacles on the road to imminent disaster.
Hugh Fennyman: So what do we do?
Philip Henslowe: Nothing. Strangely enough, it all turns out well.
Hugh Fennyman: How?
Philip Henslowe: I don't know. It's a mystery.


Aconchego-me neste mistério e no colete, assumindo a casualidade do meu eurobaptismo.
Je reviendrai.

6.2.06

Purple dRain



Agora que ela já está melhor, posso europreocupar-me outra vez.
Parece que está frio e eu já desisti de suit-myself o tempo todo.
No sábado espaireci uma hora e voltei com um colete de penas e uns olhos xl, para disfarçar as olheiras.
Ela está, numa palavra, crocante.

5.2.06



A prova definitiva de que tenho uma enfant terrible é, de todos, preferir o tigre.

4.2.06

varicEla, varicEu

Ela está cheia de borbulhas. Em todo o lado e isto quer dizer mesmo todo o lado. Como vem nos livros, as borbulhas vêm em todos os feitios e estados ontogénicos. Para além do desconforto, preocupam-me as infecções e as marcas.
Eu ainda só tenho pontos negros no nariz. O médico deu-me uma janela de 17 dias, pelo que devemos voar, os vírus e eu.
O humor cá de casa é que não há meio de descolar.

2.2.06

Crescendo

A Mariana é uma miúda com pinta.
A Mariana é uma miúda com muitas pintas.
A Mariana tem varicela.

Notas:
- começou tudo com uma borbulhitita na sobrancelha
- os meus pais não conseguem decidir se eu tive ou não varicela
- se os obrigar a responder dizem que não
- tenho um bilhete de avião não refundable para quarta-feira e muitas combinações
- não posso ir trabalhar porque ela não pode sair de casa
- já sinto comichões no cabelo

Hábitos estranhos por encomenda:
- não escrever em cima das linhas, mas entre linhas
- gastar completamente a tinta das bic (pretas, cristal) e depois despedir-me delas
- detestar ovos estrelados rebentados e comer sempre a amarela no fim
- secar sempre o cabelo com secador
- não ter tido varicela em criança

O chão está torto

Dói-me o discurso. Vale que hoje estou aqui, sentadinha, a estudar. Estudo bruxelês e preocupo-me com o frio. O que é que eu vou vestir e calçar? E dizer?
A miúda está tão gira. Quando saímos da garagem explica-nos que o chão está torto. Tem umas lógicas inatacáveis, invejo-lhe o pragmatismo. Aposto que se alcatifaria de à-vontade nos corredores da eurocity.
Dava-me jeito recuperar o verbo, the verb, e alijar este lastro de ranho verde que me preenche e convulsa. Disgusting.
Preciso de ideias e de umas calças pretas.
Fico-me pelo paracetamol.

1.2.06

Acho que tenho vírus dento de mim. Isso e as letras do meu Reitor. Hoje vou ficar outra vez afónica. Ontem adormeci com a Mariana no chão. Já de madrugada sonhei um sonho perturbador, estapafúrdio. Era o dia do meu casamento e estava a por a mesa para o almoço. E ele era outro e eu não queria nada daquilo, mas continuava a por a mesa, a desdobrar toalhas brancas, adamascadas. Muito contrariada. Até porque sem ele não havia Mariana e no sonho eu pensava nisso. A minha menina é uma recombinação perfeita. Suspiro.
Tenho a energia dorida e até me pareço mais gorda, mais pesada de mim e de todas as coisas que são minhas. Não me apetece ir apanhar frio e burocracias para a Grand Place. Apetece-me tricotar um gorro às riscas brancas e pretas. Em canelado 4 por 2. Ontem montei 108 malhas com preto antes do jantar.