story:tell:her

29.4.07

desabafo

A menina voltou. Quase a engolia. Claro que já me doem as costas e já bufava por vê-la deitada. Puxou-me por todos os lados menos pelo istmo. Deu-me um pontapé no umbigo (sem querer) e fez umas quantas malcriadices. Igual, portanto. Que alívio.
Eu continuo fartinha de ser um cliché. Estou em todas as capas de revista, em artigos mais ou menos suportados por "especialistas" que nos resolvem a culpa com caminhadas, meditações, compras etc. Sou uma trintona mãe e profissional e sofro de culpa. Devia fundar umas culpadas anónimas. Assim podíamos culpar-nos por mais essa tarefa associativa. Parece que acho que "o mundo gira à sua volta, que é imprescindível em casa e no trabalho". Sou mesmo parva.

28.4.07

abafo

A minha menina não está cá. Está contente, bem dormida, alimentada e mimada com os avós. Levaram-na, pois, e eu deixei. Tenho trabalho, tenho sempre trabalho, mas não foi por isso. Tenho três pro ces sos, qualquer um deles me ocuparia a tempo inteiro. Sonho com os regulamentos misturados e acordo suada com prazos que vencem em cima uns dos outros. Não tenho tempo para ler de facto a documentação toda e não respondo logo aos emails. Eu sou do tipo que responde logo aos emails. E por isso deixei levarem-me a menina. Por isso e porque tive que ir no expresso e dormir no hotel antigo da praça. E porque eles também gostam de estar com ela e assim é tudo muito mais saudável e tal.
Estou é doridinha sem ela. Acho tudo um desperdício. Posso lá fazer salmão para o jantar, se ela gosta tanto de salmão. Nem devia era fazer o jantar. E muitas vezes não faço e parece como dantes, quanto chegava ao restaurante e me sentava e comia e pronto. Mas não parece nada como era antes. Nunca vai parecer. Imagino-a lá e onde a sentava e no que afastava da mesa e vistorio os perigos e as saídas. Escolho uma comida que possa partilhar com ela e procuro mentalmente os brinquedos que tenho na mala. Que parvoíce.
Gosto é das manhãs, isso gosto. Hoje levantei-me às nove. Há meses que não me levantava às nove.
E agora andamos aqui os dois, a sentir que devíamos estar a divertir-nos muito ou a trabalhar muito ou qualquer coisa que justifique a falta dela. Mas eu detesto trabalhar ao sábado. Já estive a coleccionar legislação e hoje na FNAC folhe-ei (é desagradável desfolhar os livros que não são nossos) manuais de contabilidade. Até tive um bocadinho de vergonha. Em vez duma coolness qualquer procurei avidamente nos índices "contabilidade analítica". Não há grande coisa. Decidi imprimir o POC-Ed e talvez parte do código do IVA.
Ontem ao telefone perguntou-me se ainda estava no autocarro. Os miúdos têm um tempo fora de fase. Imagina-me ainda no autocarro, a minha Pipinha (não sou Pipinha sou a Mariana M!). Os meus diminutivos começam todos por P. Quando tiver 15 anos e me fizer má cara ameaço chamar-lhe Patanisca à frente dos colegas.
Nós também gostamos de estar com ela. Eu mordi o lábio e deixei. Bugger.

22.4.07

Vou ao Brasil sozinha. Grande gaita. Sozinha queria eu ficar cá, que me sinto a falta, tantas vezes. Agora para viajar oito horas de avião queria ao menos levar um marido, já que não me devem permitir o tricô. Oito horas. Minha Nossa.
Esta semana vou a Viseu e demoro quatro horas, mas ao menos não me proibem as agulhas.

[free patterns que valem a pena]

the inconstant gardener

Ontem descobrimos um jardim secreto. Uma ala paralela no jardim de sempre. Quais Alices, percorremos devagar aquele segundo sentido. Ela muito divertida, uma exploradora alegre a fingir mundos de perigos; eu, ligeiramente acabrunhada por não ter seguido antes por ali, por ser assim linear; um jardim-parábola.
Tem lagos secos e bancos de pedra com azulejos. As passagens são mais estreitas. É fantástico. Não estivesse eu tão emburrada comigo e teria inventado ali um reino de piolhices. É verdade que não tem baloiços nem chafariz mas, quando um dia eu perder esta ansiedade do contacto visual em cada segundo, será óptimo para brincadeiras.
Outro dia começámos as mimices. O que é isto?, pergunto-lhe enquanto finjo apanhar e cheirar uma flor. É uma flor. De que cor? É corderosa e tem a perna verde.

17.4.07

piolhices abridged

Tu não tens uma camisola de polar. Eu tenho uma camisola de polar. Olha!
E pula.

Ò mamã, está partido (e aponta para um rasgão fashion nas minhas calças). Porquê?

Aqui são os meus umbiguinhos (e aponta para as maminhas).
Aqui são os meus músculos (e aponta para as veias azuis do pulso).

16.4.07

dois pares de sapatos levantando o pó

Ouvi na rádio hoje de manhã e este bocadinho não me sai da cabeça.

15.4.07

turning points


Ando às voltas com um rectângulo que, cosido e revirado, me abraçará. Cada volta tem mais de 100 malhas pelo que progrido pouco e, na verdade, muitas vezes lhe pego e nem sequer volto. O que isto me dana.
Levo-o para todo o lado, dentro de um saquinho que acomodo entre as três carteiras que habitam a minha mala. Sabe-me ter ali uma carreira alternativa.
Acordei do mesmo sonho, aquele com quem durmo aflita e acordo aliviada. Hoje eram umas cadeiras de análise ou coisa que as valha. O pior de tudo é não me compreender no sonho, não perceber porque não estudei e me sujeito ao enxovalho da minha própria expectativa. Parece que é um clássico, isto de sonhar falhas. Outro dia, várias gerações partilhavam as angústias dos olhos fechados e culpa aberta. Os mais velhos recordam inevitavelmente o liceu; comigo é mais à frente. Uma canseira.
Mesmo irritante é acordar disto às 7h10 e, obviamente, não voltar a adormecer. A menina dormiu fora e eu acordo às 7h10 com chumbos de econometria. Parola. Sou uma parola. Há meses que me queixo de ser sempre acordada, de não deixar o corpo decidir o ritmo, de sopetar do edredão e aterrar no armário, na ombreira, na agenda. Bugger.
Aproveitei e comecei a esfregar-me com o loofah. Tenho-o desde a Escócia, mas só o descubro na altura das intervenções estivais. Também comecei a esculpir. Sente-se um frio e não fica peganhento. Já é bom sinal. Sempre me sinto menos ridícula.
Tenho a laica ao pé da porta. Já lá vou. Ainda devem estar a dormir.

9.4.07


Encontrei-lhe o destino no último modelo do volume, desconstruído por um designer que, apesar de certinho, me agradou desde que a bem vestiu no Caso.

Kamel


Desci a folga na avenida, espreitando as montras caras e por vezes despropositadas. Há muitos anos fiz montras, com o meu pai. Até ganhámos concursos. Desenhei a antiga estação do comboio numa manga de plástico e semeámos quintais em tabuleiros. Doutra vez vieram tabuleiros de Tomar. Mas normalmente só se lá punham os sapatos e as bandoletes. Usavam-se as bandoletes. Às vezes também trazia as caixas e sorria. Outras vezes estudava ao fundo. O meu pai também me levava aos hóteis para ver os ímpares da estação. As colecções são sempre ímpares, 36. Nunca experimentava porque sempre fui desengonçada e um bocadinho mal vestida.
Mas sei reconhecer uns bons sapatos e tenho imensa opinião sobre malas. Basta-me um relance para reconhecer a graça de um gosto. Aposto que seria uma óptima personal shoper. Mas assim sendo comecei a manhã a discutir regulamentações financeiras e depois ensolarei-me na avenida onde as finanças são claramente desregulamentadas.
E tudo para chegar aos escaparates da Tema e rejubilar com a recompensa. Fiquei tão excitada que até conversei com o empregado, a ver se o meu entusiasmo lhe regulariza as encomendas. Não há nada como comprar revistas nas bancas, ele há lá assinatura que se lhes compare.
Contentinha, desfolhei-a na Nacional enquanto equilibrava a galinha na sandes. Um pão sem côdea é um desafio ergonómico. Fui comer um sonho e mantive a rota articulada da Baixa. Gosto tanto da Baixa.
Espreitava os algodões quando a vi, um novelo desajustado, pardo, uma mistura fina como só uma loja de rua podia conter. Merino e Baby Camel. Uma promessa de calor e gosto. Irrestringibile. Que eu não sei o que quer dizer e provavelmente não é irresistível.

6.4.07

good friday


& saturday & sunday & monday

Wisting

Copiei da Rosa .
Acho tão girinhas as unhas de polegar ali ao lado.

5.4.07

Bobos sem corte

Li numa revista que os bobos tricotam. E que têm sempre à mão uma T-shirt, ou melhor, um marcel, desbotadinho. E que são bio. E esquerdalhos. Urbanos, mas com gosto pela landscape. Que habitam centros históricos e gostam da Carla Bruni. Hum.
Mas, ... ...

Ten ways to tell you're a Bobo - Do you:
Believe that shelling out £10,050 on a home media centre is vulgar, but that spending it on a slate shower stall is a sign you are at one with the Zen-like rhythms of nature?

Temos wireless em casa e nunca experimentei o modo massagem do duche
Work for a company as cool, hip and enterprising as you?
Bem, ya.

GO ON adventure seeking vacations to the remotest parts of the world to X-treme ski, mountain climb or whitewater raft, or do you simply settle for a ride in the sport utility vehicle to the nearest haute-design shops and local purveyors of Third World treasures?
Não se esquia no Caramulo; queríamos trocar a carrinha Golf por uma Touran, sempre em segunda mão; não sei se a Diesel qualifica; já me passou a onda étnica há uns anos, mas ainda me foge um pé de vez em quando
Dress 'geek chic' or hippy chick - and don't forget the titanium Omnitech athletic gear?
As reuniões lixaram-me um bocado um look
Have a newly renovated kitchen which looks like an aircraft hangar with plumbing - even after the feng shui?
A cozinha é preta, branca e verde lima; temos cupões de desconto do minipreço
Give to Tibet, but not always to the local homeless?
Nunca comprei o Big Issue, mas já coleccionei a Cais, que eu nunca confundi a home
Feel cheated and betrayed if a big supermarket sign that normally says 'Organic Items Today: 130' today counts only 60?
Quê?
Earn upwards of £67,000 but were never in it for the money?
Pronto, já chumbei. Podiam ter posto esta logo no princípio.
Buy Third World to save the Third World?
‘Tou a ver…

1.4.07


De algum modo, o jardim faz parte de nós. Como os parentes da infância, que recordamos em casas que já não existem. Nós no jardim, como também já não somos. Os nossos filhos no jardim. As obras novas e as obras velhas. Ela a chamar árvore do Tarzan à Ficus e a tropeçar-lhe nas raízes. As raízes.

Esvoaçámos.
Como bater as asas.

A árvore está . Um tronco magrinho, adoptado na primeira primavera dela.

purest blend


JB - 17 anos


JB - on the rocks