story:tell:her

29.3.06

Filetes pescados



A Miana vai ajudá a mamã a faxer o jantái.

Terapia de Choque

O que custa é a primeira vez. Há coisas que não se recuperam e uma delas é os três dígitos por umas calças. Ficamos com as calças, sem os três dígitos e passamos a viver naquele mundo de razoabilidade duvidosa, em que três dígitos por umas calças é uma opção, digamos, razoável.
Confirmei que não sou a única a transpor estes muros de compensação, a atravessar uma vidinha ajuizada com naufrágios de indulgência. Recebo a primavera com os óculos mais fixes da estação e aguardo umas bainhas de luxo.

Choco Terapia

Ontem, num corredor do Minipreço, ouvi: "Quero chocolate".
Disse-o a minha filha, a quem eu andei a esconder esse pecado. Respondi-lhe que não sabia o que isso era, num momento de negação do que é evidente: ela vive no mundo real, aquele mundo maravilhoso onde se aprende mais do que nos ensinam as mamãs, um mundo extraordinário e divertido, onde tropeçamos e arranhamos os joelhos, mas onde existe o chocolate.
Está tão crescida, a minha patanisca. Tem acessos de rebeldia diários, quase horários, que me enfurecem e deleitam. Gosta de correr, ri-se muito. É verdade que tropeça, mas ri-se tanto. Ontem, depois do tralho, enquanto molhava as bochechas, pediu-me o colo. Três segundos depois já chegava só a mão e em menos de meio minuto já corria outra vez. É uma valente. A ver se hoje à tarde lhe dou um quadradinho de pecado.

26.3.06

Wish list 13


PEsTe scan



Aposto que tem um lobo de rabinice particularmente activo.

25.3.06

Mopy Dick


CinderEla



Ainda sobre sapatos.
A Mariana viveu de meias durante o primeiro ano. Depois das primeiras botas, entusiasmei-me com as cores do verão. Agora que já nos passaram as peneiras, investimos no conforto.

Jurássicas


Algum dia tinha que acontecer.
É verdade que eu sou uma mulher do meu tempo. Aliás, corre cá em casa a ideia (injusta) de que eu não sou uma pessoa do passado, embora já tenha cumprido cromeleques, antas, ruínas e rupestrices várias, algumas intercaladas de rapinas sob um sol abrasador. Agora isto dos bichos... o que uma pessoa não faz por um filho.

24.3.06

Pagaram-me parte do subsídio de férias, o que quer dizer que já estou aqui há seis meses. Acho que é isso que quer dizer. Ou se calhar perceberam que ando cansada. Dá-me ideia que estou sempre a trabalhar. Ou a dormir. Não me ocorrem muitas mais coisas. Gosto do meu trabalho e gosto do trabalaho que ela me dá. Gosto de fazer o jantar e dar banho e vestir. Gosto de ir aos baloiços e às compras. Gosto de tudo, mas ando um bocadinho cansada, ah pois ando.

Post kodak

A patanisca está rechoncha. Já sabe qual é o esquerdo e o direito e adora perguntar o quéisto? ou o quetasafaxer?. Muitas vezes nos elogia as repostas com um muito bem mamã. Adora o banho e comer massa. Continua agarrada aos livros. Tem três marcas da varicela na cara e adora sapatos. Assim que chego à escola pede-me a chuchainha em que não pensou durante o dia. Faz umas birrinhas de mimo quando a deixo e recebe-me sempre com o sorriso mais bonito do mundo. Já não pede tanto colo. Adora massagens e miminhos de pijama. Lava os dentes no banho, a ela e aos amigos. Corre muito, não lhe posso dar avanços. Nunca mais chega o calor para deixarmos as fraldas.

22.3.06

Elevações

Parece-me que já houve um tempo em que tudo era mais fácil. A vidinha vivia-se desalarmada. Se calhar é só o recuo histórico que me engana. Se calhar é tudo como as dores de parto, que se esquecem e matizam. Lembro-me de ter muito mais tempo para tudo, até para trabalhar. Acho que era mais bem disposta, mais divertida. Tenho saudades das minhas gargalhadas, dos piadas que catadupava sem freio, de ser tão mais parva. Sou muito menos parva do que já fui e isso é uma pena. Era um dos meus encantos, a parvoíce.
Sempre que lhe entrevejo o disparate fico encantada. Adoro-a divertida, com caretas e manhas. Desejo-lhe as melhores parvoíces do mundo. Gostava de escancarar-lhe a vida de alegria e desalinho.
Conheço cada vez mais pessoas cada vez mais velhas. No domingo de manhã invejei uma sexagenária no café do CCB. Quis tomar-lhe a calma do pequeno-almoço, sentir-lhe o conforto da roupa clássica. As calças de ganga novas são fantásticas, mas descobrem-me significativamente os quadris. Raramente invejo os adolescentes desbragados de dúvidas e acne, pejados de folhas de horários e cadernos personalizados. Contudo, apetecia-me ter um skate. Lembra-me o jogo do elástico. Apetecia-me tropeçar passeios e justificar capuzes largueirões.
Preciso dumas combat de tecido leve. Mesmo giro era conseguir equilibrá-las numas sandálias de salto. Preciso de subir-me.

Re(multi)ões

Admito que nunca gostei de trabalhos de grupo. Preferia os desportos de equipa, mas lá os pensamentos gosto de partilhar os meus comigo. Os dos outros prefiro ler em papel do que através de discursos desfocados. Vou sair agora nem sei bem para quê. Pintei-me. A ver se não me esqueço e esborrato tudo a tentar ver padrões quando já estiver demasiado reunida.

20.3.06

Kahlada



Enquanto ela dormia no carrinho, eu consegui kahlar a curiosidade de a ver. É uma exposição muito pequena, com mais fotografias que obras. Gostei da Dona Rosita e das bandeiras de papel recortado. Gosto tanto de papel recortado, como os guardanapos dos bolos. Há anos que não faço recortes nem junto meninos pelas mãos em tiras de papel. Há meses que não faço tricô.
Quando era miúda gostava tanto do papel de lustro que tinha pena de o cortar. Gostava de desfolhar os cadernos de cores e guardava pratas de bombons. Será que a Mariana vai guardar pratas esticadinhas? E calendários? E cromos? Ainda há cromos?
Vi o filme quando estava em Brighton. Gostei do filme, gosto dos quadros. O coluna partida é muito mais pequeno do que o imaginava. É sempre mais pequeno do que imaginamos e isso é bom porque quer dizer que imaginamos muito.
Imagino que a Mariana a verá noutra oportunidade. Quem sabe até As Duas Fridas.

18.3.06

The day after

Regressei com uma bolha no calcanhar, dos sapatos amarelos. Tão giros, mas fizeram-me uma bolha. Deixei o fato no gabinete, mais os sapatos amarelos. Deixei o gabinete desarrumado e não guardei os livros. Não guardei os folhetos nem as folhas de avaliação.
Estuguei-me para casa. Queria agarrá-los e sossegar. Queria a minha vida de volta, mas isto também é a minha vida. Continuo atrasada por todos os lados menos por um que é o istmo.
Hoje de manhã fomos finalmente cortar o cabelo. Estava embaraçado de gritos dela e tentativas minhas.
Ontem fez nove anos que o Manel expirou. Estava calor, mais calor do que Março costuma agasalhar. Por estes dias faz nove anos que fui para a Escócia pela primeira vez. Tinha um casaco comprido, azul escuro, com botões militares. A moda é circular. Este ano gosto de amarelo.

14.3.06

I&Deias soltas

Espero três dias intensos e intensivos. Vou ser formadora, entertainer, secretária, organizadora, chairwoman e mais o que for preciso. Tenho umas calças de ganga novas e um vestido para enfiar por cima delas. Claro que assim ninguém vê bem as calças e as calças de ganga são uma coisa muito séria na vida de uma rapariga.
Preparei mais de 100 slides, mas ainda não escolhi a roupa. Shame on me.

12.3.06

Simplesmente Mãe

- Mariana, como se chama o papá?
- Rui.
- E a mamã, como se chama a mamã?
- Mãe.

Back to the future

Revivo-me como antes da Mariana.
Fui jantar fora na sexta-feira, comecei a comer depois das 22h. Dormi sem despertadores, nem biberões, decidi o meu dia sozinha(os). Trabalhei num sábado, comprámos livros não infantis e jantámos num pub, no meio da madeira marcada pela base das pints. Pedi half Guiness e roubei uns golos da drought dele. Estranhei a calma com que comemos as sandochas cortadas em triângulo e partilhámos a tarte de maçã.
Acabei de entrar numa Universidade deserta. Durante anos entrei em Universidades desertas a desoras, a desdias. Há anos que não entrava numa Universidade deserta. No espelho pareço quase igual, o que não é necessariamente favorável. O mesmo hood cinzento, uns ténis descorados e uma lista demasiada de tarefas.
A boneca diverte-se com os avós, eu diverto-me a estudar.

9.3.06

aVariações

Não consigo dominar
Este estado de ansiedade
A pressa de chegar
P'ra não chegar tarde

Não sei de que é que eu fujo
Será desta solidão
Mas porque é que eu recuso
Quem quer dar-me a mão

Vou continuar a procurar
A quem eu me quero dar
Porque até aqui eu só:
Quero quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi

Esta insatisfação
Não consigo compreender
Sempre esta sensação
Que estou a perder

Tenho pressa de sair
Quero sentir ao chegar
Vontade de partir
P'ra outro lugar

Vou continuar a procurar
O meu mundo
O meu lugar
Porque até aqui eu só:
Estou bem aonde não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só quero estar
Aonde não estou
Porque eu só estou bem
Aonde não estou


Ou outra maneira de descrever o comportamento da minha filha.

Bicho de conta(s)

Ocorreu-me que as reuniões são como os movimentos artísticos. Realistas, surreais, abstractas, cúbicas, impressionistas, expressionistas, minimalistas, conceptuais...
Acontece-me agora mais reunir-me com pessoas, principalmente pessoas que não conheço. É um processo interessante aquele de decidir os cumprimentos, os títulos, os lugares. Falo e muitas vezes oiço-me em eco. Desconheço-me num discurso que não sei de onde me vem e inclui estranhezas materiais e burocráticas. Cumpro a fluidez que se me espera, mas prefiro mil vezes a quietude do meu gabinete, onde estudo como sempre fiz. Encaracolo-me.

7.3.06

Tripé


Boca em Frida*

Passei grande parte da minha infância/adolescência no dentista. Usei vários aparelhos e cumpri demasiadas intervenções estomatológicas. Conheço-lhes os gostos, os tempos, os desconfortos. Ainda me lembro dos dias em que corrigiam o aparelho que me afastava os ossos. Ainda me acontece, vinte anos depois, sentir a falta do aparelho.
Tenho um sorriso de chumbo, mastigo com ajuda biónica. Está cá um siso a mais vai para dez anos. Não me tem servido o tento e já lá não ia há demasiado tempo. O meu médico de sempre já tem uma filha, mais nova que eu, que me corrige os comportamentos, "higieniza" a cavidade e compõe o desgraçado que se partiu lá atrás. Vou ter que voltar muitas mais vezes e enfrentar o pai dela. Temo que não me deixe sair antes do verão. Quem é que vai tomar conta da minha filha?

*

6.3.06

Party people


O pappy ontem fez muitos anos. Tantos anos que decidimos por as velas todas do pacote na pilha de profiteroles que fingiu de bolo.
A Mariana ofereceu um boné e a mamã um relógio (que não funciona...), um chapéu (que vamos trocar) e uns calções de surf. E mais uma mousse de chocolate, um bavaroise de ananás, um cheesecake americano, um tiramisu, um gratinado de batatas e um perú recheado. Mais os folhadinhos de salsicha e a pirâmide de frutas. Cozinhei tanto que se me partiu um dente e amanhã vou de urgência reparar-me.

4.3.06

Fight club



Elas(Mariana, * *, e mais por aí) tocam nos pontos e nós tocamos em fuga. Das tontices, das choradeiras, da fúria. Eu sou uma mulher crescida, esclarecida, capaz de cozinhar almoços para 15 pessoas mais putos, e enfureço-me com uma piolha de dois anos e uns bocadinhos, uma criatura que carrega os meus genes, que cresceu dentro de mim, que viveu de mim e por quem eu me daria, que vive comigo e com o meu marido, de quem também descarrega os genes. Esta pessoazinha é capaz de me tirar o melhor e o pior, de me transfigurar numa Hyde medonha, chata, cansativa, uma criatura hedionda que obriga a lavar os dentes, a apanhar brinquedos, a calçar sapatos, a comer sopa e a adquirir códigos de convivência social.
Estamos em guerrilha, travada quotidianamente, esquina a esquina. Ela é uma sniper da lágrima, uma mina de incoerências. As nossas manhãs são bipolares de abraços, mimos e puxões, contrariedades e convulsos patéticos. Esforço-me por não gritar. Sibilo. Chispo. Engulo. Como bombons e, ò doce vitória, não os partilho. A minha filha faz birras, mas ainda não aprendeu a dizer chocolate.


Temos um novo olhar. Olympico. Parece que tirei mais de 3000 fotografias com a outra. Não admira que feche os olhos.

2.3.06

O faqueiro

Ontem (melhor, hoje) fechámos o segundo jornal e acabou o curso. Estou dorida de cansaço, mas finalmente consigo fazer um tick na vidinha. Da próxima vez que beber uma jola e comer uma alheira com ele não combinaremos mais do que fazer colheres. De café.
Boa? Um serviço de colheres? Design? Materiais? Ergonomias? Até já tenho umas ideias...

1.3.06

Fui buscar

- Anda cá patanisca!
- Patanisca é a mamã.
- Patanisca é a Mariana.
- É a mamã.
- A Mariana.
- A MAMÃ!

Ensopei o óleo e engoli-me. A miúda promete.

Noves fora, pouco

Poderá um filme sério mostrar sexo explícito?
Experimental, tudo muito experimental. A câmara digital, a luz, o footage dos concertos, a ausência de guião. Um realizador promissor, com filmes bem conseguidos. Gosto da contemporaneidade, da audácia, do estilo documental e indie. Abominei a rapariga, os planos abertos e o desconforto que me trouxeram. Não sou explícita e não aprecio espéc(tá)ulos com pouca história.
Ele é cientista porque por exemplo. No meio de uma tal economia de argumentos, não percebo a fartura de gelo. Try harder (metaforicamente).