story:tell:her

30.5.07

Há muitos anos, havia um anúncio que perguntava: até que idade pensas divertir-te?
Ocorre-me várias vezes, esta pergunta. A mim e decerto a outros como eu, assim trintões. Porque somos da geração do anúncio e porque a pergunta é legítima, justificada, recorrente.
Esta coisa da idade também só interessa a quem a tem.
É muito estranho apercebermo-nos dela, da idade. Acontece-me cada vez mais vezes, mas (ainda) não me incomoda. Chega mesmo a ser confortável, libertadora. Por agora não há nada que eu não possa fazer por não ter idade ou ter idade a mais. Tanto combino riscas com bolas como uso verniz vermelho. Tanto mando como acato. Venho todos os dias para a escola.
O que me aborrece mesmo é fazer o jantar.

26.5.07

azulvejo





bahi_ana



Sei nem como começar.
E agora parece que já tá tudo esfriando, fugindo da pele. Vai ver deu sorte que as fitinhas são de nylon e não rasgam nunca.
É um calor que cheira. Uma terra suada, de janela aberta.
Pobre, tão pobre que a gente habitua-se ao defeito de tudo. E quase tudo vem com algum defeito; as igrejas quase tão ricas como as originais, as praias quase tão bonitas como nos folhetos, as palmeiras quase tão altas como nos postais.
Rica, tão rica que a gente habitua-se ao feitio de tudo. O sol, a brisa, a água do mar, a fruta, o desnível da expectativa. A graça.
Viajar sozinha tem vantagens. Perdi muitas horas de escuro aquartelada no hotel (sozinha, aconselho não, vai de manhã...) mas ganhei todas as que vivi na chinela. Quase não entrei em nada, mas estive dentro de tudo. Da rua, do ônibus, do cais, do mercado, da areia. Recebi tantos sorrisos quantos dei. Acendi vela, amarrei fitinha, baixei preço ou nem por isso. Há anos que não me tinha assim, só para mim, para a minha vontade ou preguiça, leve de horário e escolha, capitã de areia.

18.5.07

out of office - autoreply

Tou nem aí, tou nem aí
Pode ficar com seu mundinho eu não tou nem aí
Tou nem aí, tou nem aí
Não vem falar dos seus problemas que eu não vou ouvir

16.5.07

Continuo à procura de um projecto. Continuo maravilhada com as arquitecturas simples e as cores neutras.
Inspiro. Oriento-me. Ahhhh.
Tudo o mais são pardais.

13.5.07

fatalidades

Esta semana abracei o meu folder de amanuense na magnitude da escadaria, à espera que o meu chefe inaugurasse os urros e máscaras várias que consegui espreitar na nobreza do salão. Quando se abriram as portas, libertaram-se personagens que não encontro há que anos. Uma mistura urbana de jovens ponta acima ponta abaixo, anormalizados, levemente soberbos e imagino que militantes. Já no outro dia os tinha reconhecido num telejornal, manifestados numa alameda da cidade.
Apesar do comentário bondoso da secretária do meu chefe, que me empurrou para os ir lá ver "que hoje até está tão gira e parece artista", senti-me irremediavelmente excluída. Abraçada a formulários que aprendi a preencher, a regulamentos que discuto com entusiasmo, percebi-me longe, longe daquilo que lá me levou, imersa no lado negro da força.
O transtorno foi tal que desabafei a falta da arte com o chefe que chegava, de olhos brilhantes. E ali discorri, abraçada ao folder, sobre as dores do crescimento, lamentando a (des)graça das gravatas com quem reúno os dias. Claro que o meu chefe, um ex-conservado de gravata, percebeu tudo o que lhe disse. Partilhámos a nostalgia por um bocadinho e depois enfrentámos animadamente a agenda.

O rectângulo está pronto. Continuo maravilhada com a simplicidade da coisa.
versões várias de capas/casacos/ombreiras. Ando tentada com esta.
A versão minimal do meu rectângulo estava aqui. Basicamente, é um rectângulo de 100x75 cm, com duas barras exteriores de ~12,5 cm de canelado 2x2 e uma barra central de 50 cm de qualquer coisa que apeteça (como por exemplo um canelado 6x2).
Agora procuro um projecto aéreo que me distraia até .
Isso e um cozy.

11.5.07

Ando inchada de importância porque todas as frases acabam com ... mãe ou .... sabes, mãe. É tão doce, tão meu, aquele título acrescentado à descoberta das coisas.

9.5.07

Há qualquer coisa de literalmente memorável nas letras que decoramos na adolescência. Deve ser uma mistura de cérebro limpo (pré-universidade e pré-maternidade) e tempo investido que faz com que ainda hoje cante de cor o que já não ouço há anos. Aposto que nunca mais vai acontecer.
No fim de semana, muitas mães e muitos filhos pequenos comeram bolo de morango decorado com smarties nos parabéns da amiga. Sobre aquilo de uma pessoa ficar atrofiada depois dos miúdos, eu tentava confortar(me) (n)uma recém-chegada dizendo que, eventualmente, melhorava bastante. Chamaram-me à realidade as mães múltiplas, apontando-me a singularidade da prole e as consequências da iteração do processo. Todas estas mães acumulam vários graus académicos conseguidos em vidas anteriores e unanimemente reconhecidos como quasinutéis. Sabem dizer coisas difíceis como farmacogenómica. Estas mães agora lêem revistas, que é mais rápido. Eu, à minha conta, consigo proezas nunca imaginadas, como perder o bilhete de identidade (ninguém perde, sem história, o bilhete de identidade), obliterar da memória acções praticadas e devidamente registadas, como mudar a morada no bilhete de identidade, chegando inclusivé a comprar novos impressos e sorrir debilmente para a funcionária perante um monitor acusador. E agora por acaso não me lembro se tinha outro talão para levantar o passaporte ou nem por isso...
Mas a prova final da degenerescência é que a gente não segue um CSI. A queixa inicial nem foi minha, mas podia ser. Eu pergunto coisas a meio. Eu, irritantemente, pergunto, vocalizo, confundo as coisas. Eu não era assim. Ele não se casou comigo assim. Hoje dá a 24 e o melhor era eu dormir uma sestinha.

3.5.07

ò mãezinha mais ou menos

O Aderson é físico, nordestino de Natal. Trabalhava dois buildings à frente nunca soube em quê, que era o ano do mundial e isso é que animava a malta. Ficará para sempre ligado à minha tese porque nos fotografámos a imprimi-la, num canto da casa velha, quando ainda não havia barra na parede do quarto pequeno. O Aderson tinha uma frase fantástica: ò vidinha mais ou menos! Dizia aquilo devagar, abrindo um sorriso cor de chocolate. Lembro-me disto vezes sem conta. É um equivalente do "not bad" ou do "vai-se andando", mas mais optimista.
No geral, acho que sou uma mamã not bad e que a miúda tem uma vidinha mais ou menos. Que é como quem diz que não somos perfeitos, mas não nos angustiamos demasiado com isso. Ou seja,
> tem uma Barbie que custou 4 euros, morena, com um vestido de verão giríssimo, e nunca lhe ligou nenhuma
> já deve ter comido uns três McNuggets e ainda pensa que o M (todos os M) é de Mariana; eu gosto mais dos brinquedos que ela
> este ano mascarou-se de Noddy (falava da máscara com tal certeza que não me atrevi a não cooperar) e eu morri de vergonha as primeiras horas e depois percebi que ela já estava farta do guizo
> não tem um único par de sapatos não esfolado e esta regra aplica-se a quaisquer sapatos uma hora depois de calçados
> tem várias pontas acima e pontas abaixo; no cabelo, na roupa; nós não temos genes arranjadinhos
> tens uns 10 DVD que já viu 100 vezes; temos Panda
> ainda não sabe ler que ainda não me deu para lhe ensinar
> nomeia a personagem da SIC e eu faço de conta que não percebo; sempre que desfiz na criatura só serviu para a tornar mais importante
> não é muito simpática com estranhos e só agora é que começo a fazer um esforço para lhe incutir regras de socialização que envolvam simpatias de chacha; nunca lhe pedi que desse beijinhos a ninguém senão aos avós
> fala um bocado alto e tenho esperança que seja só da idade; eu sou um bocado surda, mas não falo alto (acho eu)
> não usa vestidos; desde o fim do verão passado que não consigo enfiar-lhe senão calças; buáaaaaaa
> tem mau acordar e dá muitos pontapés
> o chocolate continua a ser uma coisa maravilhosa; regrada, mas maravilhosa
> não come salada, nem espinafres, nem nada disso que não esteja na sopa ou ardilosamente disfarçado
> agora voltou a comer fruta depois de meses de subornos e trocas directas (com chocolate, por exemplo)
É muito mais do que menos.