story:tell:her

21.9.06

Violent Femme

Tenho 34 anos.

I'm high as a kite

Assim de novo, novo, parece-me que tenho o eixo do nariz torto.
Deve ser de tanto o torcer a tanta coisa.
Torto para a direita, o que conceptualmente acho mal.
Deve ser da idade.
De manhã, no trânsito, ouvi-me como há anos, há montes de anos.

Let me go on like I blister in the sun

19.9.06

Up-grades


Segunda noite na caminha de menina.
Na primeira caíu de sono. Ontem fizémos nós uma barra de protecção, que as das lojas não funcionavam.

15.9.06

Os Des'Animados*

Parece-me que são cada vez mais. Por todo o (meu) lado, pelas mesmas ou por outras razões. Das lágrimas aos suspiros, das conversas analisadas aos comprimidinhos para rir, algo vai mal no país dos brinquedos. Reparo que não há médico na cidade do Noddy. Há mecânico e polícia, mas não há médico.

*ou como ela me pede para ver televisão.

11.9.06

11...9...5

Eu, que trabalho por baixo de um corredor aéreo, hoje não tenho descanso.
A cada ronco desconcentro-me e matuto, e se fosse comigo, e o que é que eu fazia, e o que dizia, e a minha filha, a minha filha, a minha filha, a minha filha, a minha filha...

7.9.06

Menina da página 27



Este post não é um pedido de consolo, é um serviço público para quem encomendou a mesma referência do catálogo de 2003.

A minha filha Mariana:
> faz birras
> atira coisas para o chão quando está zangada
> às vezes levanta a mão
> eu às vezes levanto a mão
> ocasionalmente há mãos que descem no sítio errado
> consegue passar longos períodos em silêncio, imóvel, por vezes no escuro ou atrás de uma porta, sem chorar, a manter uma posição de desafio, de castigo, sem nunca chegar a pedir desculpa, mesmo que eu às vezes faça parecer que sim
> consegue gritar tão alto que nos tilinta o cerebelo
> reage quase sempre com um safanão a tentativas de contacto pela parte de estranhos
> finca as unhas nos meus braços e franze o nariz, a fazer de má
> quase todos os dias faz fita para se vestir
> enquanto esbraceja e dá pontapés e se enrola
> às vezes até eu começar aos gritos
> é que eu grito
> não deixa cortar as unhas sem fitas e negociações e, às vezes, gritos
> detesta lavar a cabeça
> muitas vezes não quer dar a mão na rua
> não fica ao meu lado em sítios públicos
> chegando mesmo a correr, se possível em todas as direcções
> fala por cima de nós, quando nos distraimos a conversar sem ser sobre ela
> o que me dana à brava
> mas mesmo à brava
> ainda faz fitas na escola; para ficar e para se vir embora.

E, no entanto, não a consigo imaginar mais linda, mais perfeita, melhor.

6.9.06

Note to self

Acabou-se o biberão.
Quase que acabou a chucha fora da cama.
Vou comprar a barra de protecção para a passar para a cama grande.
No outro dia disse "não posso acreditar...".
Embirra com vestidos e pede antes uma "roupa" (T-shirt e calções).
Ensaio novos modos de ir às compras sem carrinho, mas nada resulta muito bem.
Passou a pedir a luz acesa para adormecer e fala em "medos", "maus" e "monstros".
Eu fico lá mais tempo a fazer miminhos e a abanar o cabelo transpirado com o livro do Heffalump.
Gosta de sapatos. Gosta muito de sapatos.
Já tenho calças e polares, faltam T-shirts de manga comprida e sapatos.
A girafa é o bicho do momento.
Come os flocos sozinha e quase não entorna.
Não desenha nada com forma distinta. Risca com força e faz os círculos counter-clockwise.
Ela é o bebé-tigre e eu sou a mamã-tigre. Ou gatinho, ou peixinho, ou o que for.
Já não gosta de ervilhas.
É um castigo dar-lhe fruta.
Não se cala.

31.8.06

Listen carefully, I should post this only once

Ontem quase perdemos a 24. Imperdoável. Arquejo a semana inteira pela quarta-feira e depois falha-me. Ainda resgatámos o Jack a 2/3 da aventura.
Hoje lembrei-me do Jason, que foi meu colega lá nas terras altas. O Jason um dia, por entre as pilhas de jornais que acumulava no seu canto de bancada - que a segurança do edifício já tinha ameaçado como sendo um fire hazard - contou-me que estava em testes para os inteligentes britânicos. Também me avisou que era possível que viessem falar comigo, que partilhava desoras com ele no laboratório. Parece que escrutinam a vidinha dos seus aprendizes e poderiam vir perguntar-me coisas sobre ele. Que excitação.
O Jason era um rapaz alto, inteligente e preguiçoso. Muito inteligente e muito preguiçoso. O viva dele ficou histórico no instituto, pelo número de horas que reteve os examinadores nas alcatifas puídas do antigo Daniel Rutherford Bd. Eu li a tese e sei porquê. Estava falha de resultados, mas plena de teorias. O rapaz era muito criativo.
Outra das glórias da comunidade era o nosso Jack, o JHH. Dizia-se que durante a Guerra foi chamado a Bletchey Park com o argumento de que um biólogo treinava a visão de sistema e era um bom esforçado de guerra no pensamento complexo. Eu não tenho dúvidas que tenho um pensamento complexo. A maior parte das vezes é mesmo complicadinho. Eu sou complicadinha. Uma vez até enviei um currículo. Nunca me chamaram.

30.8.06

Lacraus

Eu lacro
Tu lacras
Ele lacra
Nós lacramos
Vós lacrais
Eles lacram

28.8.06

Bifidus de morango

Estou viciada em vestidos de malha pretos, pretos e brancos, cinzentos ou afins. Parece que os encontro por todo o lado, elegantes, discretos, fantásticos. Muito lady-like. Claro que no cair dos vestidos de malha há que manter os movimentos da tigela absolutamente controlados, sob risco de insuflo de estilo.
Estou a poucos dias de uma deadline importante e, portanto, aborrecida de morte. O sistema informático colapsa a cada mudança de campo. Entre logins, para espairecer de tanto requisito, sonho com uns sapatos vermelhos.

22.8.06

B(l)ack in town

Este ano regressámos mais cedo. Não costumo habitar o Agosto na cidade. Nem eu, nem ninguém mais no meu trabalho. Vou ter que resgatar um café a 10 minutos de passo estugado.
A menina voltou para a escola contente, sem choro. Ontem nem se queria vir embora, a rebolar, imunda, por cima dos pinhões que caíam no pátio. Estão cá os pequeninos quase todos. Sabe, os mais velhos ficam com a família, estes ainda dão muito trabalho. Têm o dia todo para brincar. Ontem trouxe-lhe uma varinha mágica e uma coroa de princesa. A realeza não lhe assenta, mas a magia está a ficar apurada. Inventou a sua primeira letra de música: Saí do castigo, já não me porto mal, nã, nã, nã.
Eu tenho mais um vestido preto e uns ganchos de leopardo. Por estrear.

21.8.06






Prejudice

Puseram-no na montra e isso é que me deixou zangada. Há quatro anos enterrado no veludo, esquecido deles mas não de mim, e agora é que se lembraram de o mostrar. Vi-o por acaso, no caminho do supermercado. Trazia um polar verde tamanho 5 anos, calças de algodão para a escola, dois pijamas com riscas verdes e duas cuecas pretas.
Uma memória de cinco pedras, brilhantes, clássicas. Não uso anéis de pechisbeque.

Tive uma colega na Escócia que em vez de shit dizia sugar. Aliviava-se num shh de substituição e gritava pelo açúcar várias vezes ao dia.
Lá na serra, convenci a minha filha de que o rebuçado que me trouxeram com o café não era mais do que uma lagarta com pêlos. Abandonou a prata. Não me arrependo. A miúda ainda nem tem a dentição completa e alarmam-me os engasgos. Tem a vida toda para açucarar os dias.
A mim às vezes apetece-me um chocolate, mas os cafés de aldeia só têm kitkat. Gosto de chocolate preto, sem amêndoas, nem licores, nem camadas. Chocolate preto simples. E de Casal Garcia. Não me apoquenta a parolice deste gosto e sorrimo-nos com a aplicabilidade do slogan.
Numa tarde de calor, a minha sogra defendia convicta as potencialidades de um copo de vinho ou de um café para enfrentar alguns dos momentos mais estreitos da vidinha. Acenei, convencida, e comprometi-me a espalhar a nova.

Pride



Acho que vou acabar por arrecadar a tradição num vão de escada da capital. Vai uma pessoa ao Minho e não vê um único coração. Ele era só pendentes modernos e anéis pesados. Não gosto muito de ourivesaria moderna. Para isso há o pechisbeque. Adoro pechisbeque, daquele que não é para enganar a fingir de bom, mas do divertido, autêntico. Vou muitas vezes a lojas de bijutaria.

30.7.06

CapitANiA

É um fio de couro preto com um pendente. Um sorriso cravado de brilhantes. Não é fúnebre, é rebelde. Um sorriso de pirata.
Vou passar o verão de calções e olho de vidro.

Mrs Wrong

Pouco depois de lhes fechar a mala, desci à garagem e liguei a ignição.
É igual e diferente do meu.
O volante, as mudanças, a rouquidão. A minha versão é macia e estável. Por outro lado, uma redução no traseiro é sempre uma coisa positiva.
Misturei-me no ar condicionado do shopping e (re)vesti-me de preto chique. Desfolhei infantilidades e madurezas e só não o comprei porque de repente me ocorreu que ficava bem com os calções novos e logo a seguir me horrorizei com tamanha futilidade.
Quando experimentei o colar, percebi que estava pronta e podia seguir em paz.

Mrs Right

Eles foram já ontem. Empacotei três semanas de família, uma caixa de bolinhos e fiquei. Ainda trabalho e vou lá ter de expresso. Esvaziei-me de logística e migalhas, esventrei o frigorífico. Instruí-o de mil pormenores de que ninguém se lembrará. Fiquei de regar o manjericão e dispor dos reciclados.
Hoje dormi mais uma hora e não aspirei folhas de croissant do sofá. Saí para um café e aproveitei o bom dia da vizinha para explicar que eles já foram. Bolas, que fraqueza. Qualquer dia começo a meter conversa nas lojas.

23.7.06

Generation gap

Ia jurar que nos olhou com saudade e uma ponta de inveja. Sentada na sombra, direita, ao lado do jornal que lhe segurava o marido.
Eu bocejava no jardim a manhã que há semanas desejo passar na cama. Àquela hora já eu tinha outras quatro de entertaining e migalhas.
E, no entanto, jurava que lhe senti a saudade.
Nós somos novas e temos filhos pequenos. Andamos mais cansadas que sempre. Limpamos a incontinência, os apetites e as nódoas de todos, servimo-nos sempre no fim. Mas somos novas e temos filhos pequenos, pedacinhos de gente tenra que nos adormece no colo. Os nossos maridos ainda têm dentes e apetite. É verdade que há vezes que lhes amaldiçoamos a gula, mas somos novas e eles também. Reviram-nos os filhos no ar e reviram-nos o ar.
Temos filhos pequenos que correm e se arranham. Que choram lágrimas fáceis, de escorrer e de secar. Querem-nos os beijos e os colos e as atenções. Querem-nos. Todos nos querem agora e isso deve ser uma grande sorte.
A ver se me lembro mais vezes disto.

XX-rated



As miúdas gostam de cores e lacinhos e brilhantes e outras pirosices.
Pelo menos eu gosto e ela também. Ontem passámos o dia a pentear cavalinhos, a fazer trancinhas e a espreitar o espelho mágico. Ele esguelhava-nos com a incompreensão do Y alimentada uma vida inteira a espadas e tractores.

22.7.06

15.7.06

Gross weight

Aproveitei que ele esteve fora para empratar cereais, fruta e iogurte, a ver se desbalanço dois quilos. Está bem, é verdade que também comi os restos da comida dela. A Mariana gosta de grão. A sopa desta semana é de grão. Eu também gosto de grão. E de humus, gosto à brava de humus. Mas cá não se vende humus já feito nos frescos do supermercado, pelo que já não como humus há uns três anos. Uma vez convidaram-nos para jantar e só havia humus e tostas de milho. É bom, mas é pouco, principalmente para seis, dez, que perdi a conta aos convivas. Claro que isto não foi numa casa portuguesa, que a malta tem muitos defeitos, mas alimenta-se. O que não me ajuda a alijar os dois quilos.
Quanto é que pesará o meu cérebro? É que esta semana juro que o senti a esvair, oleoso, transpirado nas dobras das pernas e na raiz do cabelo. Meio quilo de ideias devem ter-se evaporado. Coitadinha da miúda, que esteve tantos dias com uma mãe evaporada. "O pai foi à buedafesta", o que é capaz de ter sido mais ou menos verdade.

Escrevi humus porque por exemplo, mas se calhar devia ser mesmo hummus.
Humus lembrou-me húmus, mas não achei grave.

Net weight

Eu dou-me mal com o calor. Fico tonta e um bocado estúpida.
Não gosto de o sentir por todos os lados, a invadir-me. Não gosto que esteja à minha espera do outro lado da porta. Agora fecho a porta à chave porque ela consegue abri-la. Também não gosto nada disso de nos fechar, mas gostava ainda menos de ir resgatá-la às pedras da calçada.
O calor pega-me as ideias e fico desarticulada, o que não faz parte do conteúdo funcional do meu emprego. Logo nesta semana fartei-me de andar na rua, a derreter as ideias que me dão tanto trabalhinho a solidificar. E a roupa? O que é que uma pessoa veste nestas (des)condições? Não posso estar despida de praia enquanto discuto rubricas de orçamento e chaves de imputação. Um dia destes desejei um cabelo curtíssimo que vi no metro. Tivesse eu ali um cabeleireiro, ou mesmo um barbeiro, e já estava. Isso é que era. Curto daquele curto que se lava e não se seca e não se penteia, que é como se não existisse. Não tivesse eu este nariz e cortava o cabelo.
Sim por não vou orçamentá-lo em outras despesas correntes.

10.7.06

Smoking, no smoking

Já cortei, pintei e, a bem dizer, não se nota nada, pelo que não sei se vale a pena postar.
A cor que não se vê chama-se tabaco e eu devia ter desconfiado. No cabelo fica bem é o chocolate ou a canela.
Quando lá cheguei, a Ana cabeleireira pega-me numa madeixa e diz: Ai que horroroso!
Fitei-a com desalento e disse que não queria nada vistoso, só uns tonzinhos para animar. Não me apetecia enfrentar as bocas de espanto e os comentários de corredor. Eu sei que isto abre, mas agora, de repente, apetecia-me outra vez um sol dourado, sem literatura. Sim, que eu já fui loura. Dava um trabalhão, uma pessoa fica paranóica das raízes, mas quando está bonito é muito mais bonito. E fica muito melhor com o bronzeado. E ele gosta mais.
Buáaaaaaaaaaaaaa.

6.7.06

CondiciAnAntes

Enquanto não cortar o cabelo não postarei.

2.7.06

Just nail it


Vermelho aberto. Como diz a Jane: Frankly, I don't give a damn.

Actually, I'm fed up.

P(Ana)lidades

Eu tenho tosse.
O pai tem ranho.
A miúda tem tosse e ranho.
Eu hoje vim trabalhar para um edifício vazio, alarmado. Aquela gritaria na entrada lateral ainda nos faz sentir mais desalmados, desapropriados, incompetentes que não fomos capazes de acabar o trabalho em tempo oficial. Hoje vim a penalties.
Apetece-me por um fim a isto e ir ver os saldos.
Isso e deixar de lhe limpar ranho verde.

25.6.06

Socorro

Eu não vejo muita televisão.
Eu não gosto muito de ver televisão.
Eu não sabia o que era a 24.
Ontem vi pela primeira vez, por acaso.
Não consegui parar de ver. Durante umas quatro horas.
Deitei-me às 2h30.
Hoje continuou a dar um especial da Season 4.
Aquilo devia ser proibido.
Estamos a gravar.
Não consigo sossegar na mesma.
Quero deixar de trabalhar para ver aquilo. Provavelmente vou deixar de dormir.
Eu não via muita televisão.
Eu preciso de ajuda.

21.6.06

Grupo PAA

Ocorreu-me que devíamos marcar uma viagem. Só as três. Assim uns dias de folga, de fuga. Uns dias de miúdas, de risos parvos misturados com lágrimas parvas. Temos tantas coisas em atraso. Eu gosto tanto delas.
Ficávamos as três num quarto, a conversar até de madrugada. Desde os trabalhos de grupo que não partilhamos madrugadas. Lembro-me em particular de um, em 1993, para o "Sr. Rui", o assistente puto que agora é meu marido. Tivemos 19/20. Era tudo tão fácil.
Na viagem, podíamos tomar pequenos-almoços compridos, preguiçosos. Claro que teríamos que arrastar a A. da cama e a P. arrancaria nódoas da manteiga. O meu prato ficaria cheio de côdeas de torrada. Na Císter havia quem só viesse para o pequeno-almoço. Aprendíamos tanto como nas aulas.
Durante anos a PT ganhou fortunas com a nossa triangulação de números. Os pais nunca perceberam como é que havia sempre tanto assunto, tantas dúvidas para tirar, as matérias desfiadas em horas de queixas e comparações. A Ana ia sempre à frente nos apontamentos. A culpa era das canetas. Ela usava sempre a Parker de tinta permanente e eu tinha que ensaiar novas combinações de papéis e cores para cada etapa. Fizemos dezenas de exames lado-a-lado porque éramos seguidas na pauta e na vidinha.
Na viagem escolhíamos uma fila de três.

19.6.06

Yellow submarine

Hoje tenho um dia infinito.
Emoldurei a visão de umas calças de ganga com bordados amarelos nos bolsos para me distrair. Espreitei-as a correr, sem querer, antes de um comboio. Tinham um corte estranho e provavelmente desergonómico, mas flutuam redentoras na minha imaginação e isso é que é preciso.
A minha linda filha e as suas tiradas de pespineta não funcionam como alívio porque me ocorre logo o recado e a falta das calças de treino não sei de que cor para a festa da escola.
O meu marido hoje saiu de gravata, vai vestir beca e dizer consequências numa sala de provas que recentemente foi preciso desinfestar por causa das picadas dos bichos.
Tudo o mais são pardais.
Submerjo.

18.6.06

How the Leopard Changed Its Spots

Ontem de manhã experimentei duas vezes uma blusa com padrão de leopardo. Sob o olhar divertido da minha filha, transformei-me numa Xena de centro comercial. Só não trouxe aqueles 14,99€ de tolice por cobardia. Apeteceu-me tanto o toque vulgar. Desejei-o com a maturidade de quem há uns anos acharia uma tal camuflagem inconcebível. Há coisas que é preciso crescer para usar: leopardo, unhas vermelhas, brilhantes, pérolas, saltos, malas de mão. São coisas de mulher que as miúdas desdenham ou imitam sem convicção. São coisas que já abominei e agora visito. Com parcimónia, mas muito desejo.
Suponho que ainda pareça uma miúda. Tratam-me muitas vezes por "menina". Passeio casualidade pelos corredores onde passeei juventude e inconsequência, mas todos sabemos que já não é a mesma coisa. Os alunos de licenciatura parecem-me tão novos, tenros, desavisados. Lembro-me de sermos assim e não percebermos. Lembro-me de nos acharmos crescidos, decisores, decisivos. De achar o leopardo uma coisa hedionda. Eu ainda acho o leopardo hediondo, mas apetece-me na mesma, embora talvez preferisse a zebra. Isso e umas unhas de sangue.

P.S. Não, não foi o pai que pediu a lingerie da loura. Foi a miúda.

14.6.06

Quem disse isto?

Quero umas cuecas da Barbie.

1. Ana Maria, 33 anos.
2. Mariana, 2 anos e meio.
3. Nenhuma das anteriores.

11.6.06

Sugar white

Quando ela falou no Chefe Silva, sorri-me toda por dentro.
Quando sai da casa dos meus pais levei alguns dos volumes encadernados da teleculinária. Durante os primeiros meses/anos desfolhei gostos e aprendi a proporcionar ingredientes. Aos maravilhosos combinados do rectângulo nos anos 80, juntei umas libras de modernice. Cheguei a recortar dezenas de cantos de revista. Agora confesso que raramente receito. Concordo com o Jamie* no rigor de escala que requerem alguns bolos, mas eu também não gosto de fazer bolos. Mexo bem os doces, mas não gosto de depender de leveduras e cozo sempre demais.
Lembro-me dos assados com castanhas, dos volumes especiais da Páscoa, dos pastéis de nata e das bolas de berlim e, claro, do bolo de noiva. Cheio de desenhos de açúcar num fondant branco, muito branco. Muitos anos depois explicaram-me que havia truques nas fotografias, coisas imundas de publicitário, como o creme de barbear/chantilly. Não acredito.
O meu bolo de noiva não tinha andares. Era um círculo térreo de massapão, rodeado por uma coroa de folhas de hera, mas o meu vestido era branco como o fondant. Descontando as primas nubentes de outras décadas, ninguém mais escolheu o branco. Arrozei uma paleta impressionável de bejes, mas nenhum branco. O tule branco é tão mais bonito. Aposto que o Chefe Silva concordaria comigo.

*Há bocado embeicei-me outra vez. Até me apeteceu fazer bolo de banana, eu que não gosto de coisas de banana. Bolo de banana é tão, tão brit. Com icing, claro.

9.6.06

Mi potty es tu potty

Ontem tive um bocadinho de amiguinha, o que já não acontece muitas vezes.
Tenho amigos fantásticos, mas quase nunca estou com eles. Porque vivem noutros países, noutras cidades, noutros bairros e, essencialmente, noutras vidas. A gente cresce e deixa de ter uma vida comum com os amigos e arranja uma vidinha própria.
A minha amiga de ontem é daquelas que não vejo durante meses, cujo dia-a-dia não acompanho, mas que percebe sempre o que quero dizer. E isto, isto é uma preciosidade.
A maior parte das pessoas não percebe o que que eu quero dizer, porque:
- eu não lhes digo nada, ou
- não ouvem o que eu digo, ou
- ouvem e acham que eu sou um bocado parva, ou
- são um bocado parvas, ou
e isto é terrível, não percebem quando falo a sério ou a brincar.

A L. percebe tudo, eu só não lhe digo mais porque não dá tempo e somos as duas um bocado parvas.
Trocámos novidades e antiguidades, teorias da vida e retratos da britlândia. Descansei porque a Gap anda sem graça, mas fico para aqui a remoer a Muji. Para provar que somos mesmo todos amigos, a Mariana partilhou, uma vez mais, os seus by products numa potty session social enquanto regávamos a lasanha com sangria branca. Cheers mate.

7.6.06

Ainda da colecção "O corpo humano"

Hoje de manhã, enquanto esprávamos que descesse o xixi, disse-me que "a Miana não tem pilinha".
Quando os meninos começarem a fazer xixi de pé, cheira-me que ma vai pedir. É assim a única coisa para que me ocorre vantagem.

6.6.06

Escatologia

A minha filha cheira muito mal dos pés.
Desde bebé.
Era mínima e já transpirava as meias. O que é cómico. Aquelas meinhas muito pequeninas, muito simbólicas, muito girinhas e muito mal cheirosinhas.
Desde bebé que temos a brincadeira do Pffff. Eu tiro as meias, beijo os pés e franzo um Pffff. Ela ri-se muito.
Há dias em que a minha filha vem da escola imunda. Com as unhas sujas e a cara riscada de pó.
Às vezes também tem mau-hálito. O pai chama-lhe bafo de morcego. Eu até já me queixei ao médico se seria dos adenóides. O médico disse-me que achava que ela sobreviveria.
Os cocós no bacio então são nauseabundos. É que ainda estamos na fase de apreciar o momento e encorajar a publicitação dos despojos. Eu acho graça quando tem sementinhas de kiwi.

Mari(ana) go round

A nossa terra está em festa e ontem descemos ao recinto. Alimentei a minha filha a pão com chouriço e farturas e andou sozinha no carrossel dos pequeninos. Por um lado eu estava desejosa que aquilo parasse, como acho que vai haver alturas em que vou desejar que lhe pare o crescimento.
A dada altura, feliz, abanou as ancas desfraldadas com o ritmo da feira e eu quis parar o tempo, como na história da bela adormecida, para lhe apreciar o gingar, o (des)penteado, a farinha do sorriso.
Agora, agorinha mesmo, está a sair para o primeiro passeio da escola. Agarro-lhe a mão recortada, pintada de azul, que tenho em cima da secretária. Viro-a e leio: mil beijinhos para ti mãe .
A Mariana anda numa fase de exploração e descoberta. Ontem queixou-se que tinha uma borbulha e apontou, desgostosa, para a maminha.
Hoje anunciou que tinha piolhos* nos braços, como o pai.

*pêlos

Decreto-Lei n.º 156/2005, de 15 de Setembro

Este estabelecimento está em declarado incumprimento porque não tem livro de reclamações.
Registaram-se oficiosamente várias queixas pela quebra de assiduidade.
Pedimos desculpa pelo incómodo.

29.5.06

Stamina

(Post em draft há mais de uma semana)

Aquilo que eu mais gostava na televisão brit era os house-makeover e os programas de culinária. Não deixa de ser curioso que uma das nações mais pirosas e mal alimentadas do primeiro mundo devote tanta antena aos seus pontos fracos.
Ontem, antes de almoço, enquanto não chegavam os motores do Mónaco, vimos o Jamie a fazer uma paella.
Paella é uma óptima comida de festa. Eu já fiz na wok e pode-se usar o que houver à mão. O Jamie é ultradespachado e credível. Comentei o charme que tem um homem que cozinha, mas quem hoje de manhã rejubilou com o facto de já ter o jantar de logo adiantado fui eu.
O Jamie usou açafrão em rama, que é como quem diz os órgãos reprodutivos femininos da flor de Crocus sativus. Parece que é a especiaria mais cara do mundo.
O Jamie explicava isto quando perguntou a um amigo (zoólogo?!) quantos "estames" tinha cada flor, já que ele era um especialista (?!). Ou melhor, a tradução pt foi estames, mas ele falava era de estigmas. Na verdade, a flor do açafrão tem três estigmas. Tenho que comprar um livro do Jamie, trazer a wok para cima e deixar-me de trivialidades botânicas.

Esplendoroso

Eu não sou uma miúda BD, mas tenho pena.

Ordinary life is pretty complex stuff

28.5.06

Thirtysomething

Dou-me mal com o calor. Gosto do quentinho, mas não das brasas. Nunca seria uma gata borralheira.
A minha Mariana fez ontem dois anos e meio, 30 meses de menina. Fomos à praia de manhã. Gostamos todos da praia. Hoje fomos ao parque. De resto arrastamos o calor numa agenda preguiçosa de puzzles, legos e bocados de histórias de dinossauros em brasileiro. No meu tempo os filmes eram todos dobrados em brasileiro, mas agora a coisa soa tão estranha.
Lembro-me bem da Brânca di Néve e os Séti Anões. O meu primeiro cinema, a primeira história dela em modo repeat. Foi uma coincidência. Incidimos as duas numa maçã vermelha e um espelho mágico. Não há menina mais linda do que a minha.
Conseguimos finalmente apanhar o filme. Enranhosei-me das vergonhas do mundo, do meu mundo. Eu já estive em Londres, mas nunca fui a África. Acho que nunca irei a África e voltarei sempre a Londres. Culpo o calor. Culpo-me do calor.

24.5.06

Do you care?

I couldn't care more.
Parabéns amiga.

23.5.06

Ask me if I care

Ontem dormiu sem fralda pela primeira vez. Acordou de noite e chamou-me, um bocadinho aflita. Molhou os sonhos com as primeiras gotas e aguentou o resto como os crescidos. Hoje nem acordou. Seca.
Isto não interessa nada a ninguém senão a mim, but
this i my party and
I cry if i want to, cry if i want to,
You would cry too if it happened to you
.

Também já me apeteceu mais escrever do que agora.
Também já me apeteceu guardar a vidinha noutro sítio; na cabeça, por exemplo.
Porque ao fim de um tempo tudo se torna demasiado, demasiado sério, fundeado, performático.
Técnica. Há uma técnica e é isso que eu ensino. Eu antes sabia outras coisas. Mais selectas, sérias, consideradas. Coisas que agora ensino a contar com leveza, ritmo, estrutura. Agora não tenho nada para contar, vivo de contos alheios. Já não trabalho em transdução de sinal. Adoro a palavra transdução. Não é uma gralha, é uma palavra bonita. Não é nada como tradução. Cairam-me letras do trabalho...tralho.
Técnica, é tudo uma questão de técnica.

21.5.06

Os despojos do dia

Combinámos no anfiteatro de pedra.
Vimos os patinhos, procurámos as tartarugas, ensaiámos xixis na relva (um terço de nós).
Corremos à vez atrás dela.
Depois das combinações alternativas no buffet do CAM (o que eu gosto de mousse de abacate!) recuperámos o interior do sistema excretor da minha filha, perdido pelo chão da casa de banho com a aflição de quem ainda não controla os esfíncteres. Há coisas que só se partilham com os amigos.
Obrigada Pat.

Happy ever after

Era uma vez uma rainha...
E chega o pínxepe!
Um dia o espelho mágico diz-lhe...
E chega o pínxepe!
A menina trinca a maçã....
E chega o pínxepe!

Quase dois anos e meio, 12,650 kg, 89,5 cm e já está à espera do príncipe.
Maldito cromossoma.

15.5.06

Atrix/zes

A história da bruxa, quer sempre a história da bruxa. Que é a história da Branca de Neve, assim mais ou menos. A história da bruxa tem argumento variável, conforme a disponibilidade. Hoje de manhã, antes de eu me transformar mesmo numa bruxa atrasada e esganiçada, ensaiámos o riso da bruxa e o desmaio da Branca de Neve quando come a maçã. É a vantagem de contar a história em cima da cama. A Branca de Neve pode desmaiar em conforto.

No sábado vesti uma saia de ganga. Por sinal nova e por sinal demasiado parecida com outra saia de ganga. Na entrada do jardim, bate-me na perna e diz a sorrir, compincha, "Ai, saia nova, hem?" Quase que esperei ouvir a seguir, "espero que tenha bolsos, para esconder essas mãos".

Perguntei-lhe se queria ser a princesa ou a bruxa. Escolheu...

13.5.06

XL

Ontem fui ao Porto, assim de repente. Ou melhor, assim em pouco mais de três horas. Uma canseira institucional que valeu a pena, valha-me isso. Na volta (achei que não voltava, entupida que fiquei no pó do trânsito) encontrei uma antiga colega, mãe de gémeos mais um. Desentalei-me dos três francófonos que partilhavam a minha ilha e falámos dos miúdos e da redacção. Não me pude queixar muito que ela ganhava-me qualquer inconveniência. A multiplicidade esmaga-me.
Comi umas sandes emborrachadas. Dói-me o ombro do (im)portátil. Ainda bem que fui que foram outros que também importam. Só é pena o Porto ser lá tão longe e tão apertadinho e com tantas obras. Tenho saudades de ir ao Porto e passear. Eu gosto do Porto, mas há que tempos que lá não vivo nada que não canseiras. Apeteceu-me comer éclairs e andar na rua. Andar de táxi no Porto é uma chatice e não se ouve os locais a falar. Pedi um mil-folhas que lá tem outro nome. Trouxeram-me uma coisa que lá se chama mil-folhas, mas que não tem nem 250 folhas. Viam logo que vinha de Lisbôa. Estivesse lá eu uma semana e iam a ber se me apanhabam.

10.5.06

XS

A top model hoje levou um colar de cores.
Antes de sair, garantiu-se com o espelho, Espelho, espelho meu, há alguém mais bonita do que eu?
Eu saio de casa cega de mim e do estado do meu cabelo, mas a minha filha não.

As minhas amigas têm blogs mesmo giros.

Delfina

A conversa começou no banho. Muitas conversas começam no banho. Como aquela em que eu era uma bruxa feia. Tu és uma bruxa feia. Está bem. Sorri-me com o atrevimento, com o ladear do olhar, cauteloso depois do insulto. Acho muito fixe ser uma bruxa feia. As fadas lindas são umas chatas e aposto que vestem Gant ou Sacoor. Nós, as bruxas, não precisamos de ter caracóis, e se há coisa que eu gostava era de não ter caracóis.
És uma baleia, digo-lhe eu enquanto a esponjo de ternura. Não, a Miana não é baleia, é golfinho. Ah! Ela disse mesmo isto?
És golfinho? E a mamã?
A mamã é baleia!
E começámos a catalogar as pessoas da vidinha. Todos baleias menos o amigo Tiago e a educadora Lúcia, que são golfinhos. Estou a ver, o poder da escola. Hoje não como folhados.

6.5.06

butter fly


Sim, somos nós as duas.

Jacintos

Hoje cruzei-me com a tutela nos livros usados do Chiado. Reconheci foi a voz, que eu estava semicerrada de calor. Tinha umas coisas para lhe dizer, mas não me apeteceu gerir o acaso com tanto sol. Aposto que quando for velhinho vai fazer listas em folhinhas de bloco, com minúcia e fato completo, como o senhor que ocupava o canto em frente da minha tarte de chocolate. Papelinhos escritos com cuidado e analisados mil vezes com a dignidade de quem ainda usa colete. Apeteceu-me apresentá-lo (o velhinho, não a tutela) ao volume cor-de-rosa que levou as sandálias-bota de cabedal preto. Um rendilhado extraordinário que passava o joelho e a postura, já de si comprometida com o batôn rebuçado. Eu chequei uns trainers desmarcados por 24,95 e aquele poço de confiança britânica ensacou umas férias de luxúria inolvidável. Shame on me.
O que eu gosto do Chiado.
No outro dia cruzei-me com o Jacinto, um exemplar perfeito do rapaz que sempre me despertou, assim rasteiro e de camisola cinzenta, uma mistura de FCUL e FCSH de meados de 90. Tive poucos namorados, todos muito diferentes, mas nenhum seria homem para usar uma camisa cor-de-rosa, por exemplo. Há uns anos consegui convencer o meu marido que mostrar os dedos dos pés não é gay. Que as sandálias são uma necessidade de país quente. E acredito que, ainda hoje, o G. prefira arder a destapar a base.
Nunca dei a mão a umas alças, cavas ou justezas de tronco, os óculos são para proteger os olhos e não para estilizar o rosto, as malas seguram-se com a mão ou mochilam-se. Ainda bem que eu tenho uma filha.
Aposto que o Jacinto fala baixo. O meu marido fala tão baixo que já sujei a roupa a debruçar-me sobre a mesa. Estou treinadíssima no tirar umas por outras. Sabe Deus os equívocos que coleccionei estes anos todos.
Pat, quase que me esquecia de te contar que ontem esbarrei naquele lá da FCUL, acho que lhe chamava Francisco, como sempre. Lembras-te? Aquele da Física, do C1, com quem nunca falei. Está um bocado gordo e um bocado careca. De resto igual. Apeteceu-me pará-lo e dizer-lhe olá, com 15 anos de atraso. Que disparate.

Quitação

Ontem apercebi-me que perdi de vez o ar desvalido.
Durante anos reuni comentários, mais ou menos repetitivos, e olhares enrugados de ternura e desaprovação da ascendência. Lá me safava nas efemérides, mas o quotidiano desvalia-se numa patine descolorada da maioridade que atestavam os certificados. Como tão bem disse um dia o meu pai, só tenho jeito para profissões de mal vestidos. Confirmo-o com o orgulho que ontem perdi na estação de comboios de Aveiro. Já não sou uma desvalida, uma descamisada. E quem não o percebe, não percebe nada.
A aula correu bem, bem demais. Assustou-me a fluência quase política, as graças reditas como se fossem inéditas, o controlo quase aéreo do tempo, dos tempos. Só não fico mesmo preocupada porque transpirei. Quando um dia fizer isto sem destilar um picolitro de ansiedade é porque a aula morreu.
Trataram-me por professora muitas vezes e voltei a achar que no norte há demasiados professores. A malta cá mais para baixo caga nisso. O campus é fantástico e estava sol. Volto em Junho e espero que nessa altura alguém já tenha explicado à CP que não há paciência para ver a Marisa Cruz a fazer massagens durante a viagem.
A preocupaçao com os documentos de quitação fez com que fosse em primeira. Não comprei no MB e o comboio esgotou. Ontem houve uma multidão de tugas que viram a Marisa Cruz a ser massajada para cima e para baixo, enquanto eu percebia que estava definitivamente uma senhora.

3.5.06

Malaise de vivre

Ironicamente, redescobri a expressão este fim-de-semana, por causa do Freud e tal. Que estava em todos os jornais e afins. Este fim-de-semana li mais jornais do que no resto do ano e tive-a a martelar na cabeça, à malaise. Assim do lado de fora da cabeça, que eu não sou ingrata e este fim-de-semana foi óptimo.
Malaise é uma palavra linda. Só é pena ser uma coisa má, mas isto acontece-me frequentemente com o francês. As palavras são lindas, mas têm mau fundo, como malheureusement, a mais falsa de todas.
Se calhar aquilo que eu, e a esmagadora maioria das minhas amigas, temos é uma forma de malaise de vivre, uma nostalgia trintona de nós próprias e das nossas expectativas.
Contaram-me duma mãe que teve que fazer uma cura de sono, porque o filho não dormiu até aos 3 anos. Todos me prometem agruras incomparáveis a ranhos, tosses, galos ou varicelas. Ainda ontem a Juíza Amy se estrapalhantou com a filha adolescente na Sic Mulher. Parece que com os adolescentes é que é a doer. Eu, que já me zango porque ela não me deixa vesti-la sem pinotes, tenho que repensar a minha escala de gravidade e gritaria. Ela foge-me, encaracola-se, mede-me, repete uns nãos trocistas, amolece os membros e ensaia um choramingo. Eu enfio, puxo, afino manobras de placagem e, invariavelmente, grito. Uma doida, uma mamã muito doida, se isto lá tem alguma importância.
Mas oiço as miúdas todas atrapalhadas e a culpa é da malaise.

Bonheur de vivre


27.4.06

Hoje calcei finalmente as sandálias. O mundo parece-me ligeiramente torto e eu devo parecer torta ao mundo. Praguejei várias vezes antes de sair de casa. Ai, que mau feitio. Mas, das várias coisas que me aborrecem, uma delas é demorar para sair de casa. Claro que a miúda quis fazer xixi no último minuto. Claro que chegou mesmo a ameaçar um cocó. Claro que subo vezes sem conta para resgatar mais qualquer coisa, para espirrar o perfume ou pincelar as bochechas, para procurar a chucha, para desligar a internet, para o caraças. Saio sempre desabada, semi perfumada e semi corada. Às vezes esqueço-me de me pentear. Os colares e as pulseiras vão na mala e às vezes não saem de lá. Ela hoje pediu-me a pulseira emprestada. Achei tão giro. Pediu para a mãe empestá a pulseira. É tão gira, a pulseira. E a miúda. Adoro-a, parece que tem bombons enfiados. A pulseira.
Hoje fazemos 100 meses de maridinhos e ela 29 meses de miúda. Endireito-me.

25.4.06

Mima


Balansó



A minha pesca.

A pesca dela.

24.4.06

anti-pop

No domingo arrastei o meu (des)agregado familiar para um restaurante vegetariano cá na terra, com telhado de palha e o melhor pão dos últimos tempos. Mas não correu bem. Eu gostei do meu tofu com cogumelos, mas ele sorveu a custo a massa com algas e a miúda repeliu determinada tudo menos o crepe de legumes, acabando ostensivamente a comer bolachas Maria.
O restaurante é muito bonito e estava um dia lindo e isso, mas não estou a ver modo de lá voltar agregada. E depois eu acho graça ao estilo, assim fibras naturais e isso, sumos naturais e isso, slow food e isso. A empregada tinha uns brincos da colecção daqueles que me atormentam, mas em azul. Também eram giros.
E não é que hoje ele me toca no carro a música da celebração e era toda tofu e isso? Ele diz que não, mas era. Para a próxima vamos ao tibetano.

ANAkin

Pois é verdade que não tenho andado muito bem disposta, pois é. A minha amiga Ana até já me ameaçou de deixar de vir aqui se eu não me animar. Upa Ana, Upa, vamos lá a animar.
Há bocado trouxe a Pais e Filhos do Minipreço porque na capa prometia mostrar-me o lado negro da maternidade. Ah! Surpreendam-me... Também dizia que ser mãe aumenta a inteligência e por essa, por essa eu não esperava.
Quem já me espiolhou aqui sabe que para mim as mothernices têm espinhos. Este blog não é cor-de-rosa. Cor-de-rosa são os brincos que experimentei com a outra Ana e que agora me atentam o juízo. Mas hoje gastei 85 euros na médica número um e na quarta preparo 60 para a médica número dois. A médica número um simpatizou com as minhas dores espirituais porque tem dois filhos pequenos e não me encontrou razão de monta para as dores materiais. Ela, por exemplo, confirma aquilo da inteligência. Ganha 85 euros em 20 minutos e tem dois filhos pequenos. Não é que eu ache que os médicos ganham demais, que não acho. Eu nunca mexi em nada mais importante do que uma célula vegetal ou uma folha excel e pagam-me para isso.
Daí que os brincos cor-de-rosa necessitem de um enquadramento mais depressivo. Ou não, que eu desde que conheço o lado negro da força passei a mimar-me com grande facilidade. É que ninguém toma conta das mães (só os pais das mães, mas esses não contam bem, porque afinal os pais e as mães nunca contam muito).
A miúda tem um ranho verde, mas não tem febre, o que é bom. Eu agora estou concentrada no lado bom. O lado bom está cheio das coisas giras que ela diz. No outro dia chafurdava no copo da água com a colher enquanto eu fingia que não via e ela perguntou a pergunta: O quéque a Miana tá a faxer? Eu respondi a resposta: Não sei... e ela disse Tá a faxer dispaátes.
Eu como ando descompensada (seja lá isto o que for, mas parece-me apropriado) também trouxe do Minipreço dois chocolates e um frasco de chocolate para barrar. Mas estou tão parva que me apeteceu trazer chocolate de leite, quando eu só gosto do preto e a porcaria do creme não se parece nada com o tulicreme de avelãs com que sonhei no outro dia. Na minha casa quase nunca havia tulicreme, mas eu lembro-me tão bem do sabor. Ainda há tulicreme? Uma amiga mandou-me comer chocolate para a choraminguice. Também trouxe do Minipreço uma revista de culinária da Vaqueiro. Não sei se era desta que falava a Ana dos brincos mefistofélicos, mas se ela compra revistas de culinária eu também compro. Este comportamento é típico das mães, isto de fazerem o que os outros fazem.
Agora estou um bocado mais animada porque marcámos umas mini-férias e eu vou ter três dias de pequeno-almoço buffet e ela não. Claro que o espectro da culpa me atormenta, mas estou mais que pronta para baixar a viseira e afastar as urtigas com o meu sabre de luz.

21.4.06

Spill(it)over

Ontem, fui, hormonalmente descompensada e suficientemente auto-comiserada, leiloar dificuldades e acordar pendentes institucionalmente mastodônticos. Semi-sucedi e segui para um seminário na minha ex-escola, que prometia spillovers de conhecimento no sistema de inovação português. Nem mais. Não percebi a econometria, mas acho sempre um charme discutir deflatores e taxas de depreciação.
Mas verdadeiramente revelador foi a conversa de corredor. Um colega, pai de dois, queixou-se de tal modo que parecia eu. Parecia mesmo eu, no meu pior. Que a malta vai ao engano, que ninguém avisa que isto é assim. Desesperado, chegou a matriciar uma análise custo-benefício. Mal. Outro colega, pai de três, mais velho, explicou-nos que os miúdos são centros de custos puros e que o retorno é a longo prazo.
Eu volto para casa, tarde, plena de jargão e consolada de queixas alheias, depois do banho, da escova e do pijama, e encontro a beatitude de uma paz familiar alegre e carinhosa. Parecia uma fábula. A minha miúda esteve deslumbrante, carinhosa, em todos os aspectos adorável. Será que achou que eu (me) tinha pirado? Não sei, mas apeteceu-me lambê-la ou mesmo engoli-a, para depois acariciar a barriga e ronronar.

20.4.06

Piromania

Confirma-se. Atravessei o espelho. Saí e deixei-me ficar lá sozinha. Vista de fora pareço eu, mas eu sei que estou vazia porque me pirei. Estou pirada. Ela já aprendeu o meu nome. A mamã chama-se Ana M... Gosto de a ouvir dizer-me. Eu, que ainda estranho o nome completo dela.
Há três anos que estou cansada. Estou sempre cansada. Agora até já durmo noites inteiras, agora até já não me levanto de noite. É verdade que acordo à bombeiro, sempre em emergência, em sirene. Sempre em falta. Estou sempre em falta. Vivo de crédito. Compro vidinha a juros, abato prestações, mas continuo hipotecada. Estou hipotecada para a vida com a filha dos meus sonhos, com a vida dos meus sonhos. Conheço outras como eu, encontro outras como eu.
Olho para mim e percebo que o cabelo não está com bom corte, que devia por creme nas mãos e nos olhos. Estou franzida nas fotografias. Percebo que não tenho boa cara quando me perguntam se estou doente. Doente? Não... Quer dizer, tenho uma tosse, mas nada de especial e sim, doem-me umas partes, mas já não me lembro de não ter algum incómodo, de ser cómoda. Vivo incomodada e já não penso nisso. Incomodam-me os prazos, as escolhas constantes, as pedagogias de almanaque, os ralhetes, as burocracias, os calendários. Listas e calendários, a vida agenda-se e os compromissos parecem pulgas, a saltar. Atiro a bola para a frente. Atiro-me para a frente.

19.4.06

Preciso de um hobby ou fico doida. Alguma coisa que me distraia e não seja tão perniciosa como ir às compras, que é a única coisa que eu faço e que não preciso tanto de fazer. O resto é tudo preciso. O trabalho precisa, a miúda precisa, o frigorífico precisa. O meu guarda-roupa não precisa tanto, mas é a única coisa que me distrai e que se consegue fazer assim, aos bocadinhos roubados. Ora isto é muito triste. Preciso de pensar rapidamente numa coisa que me alegre, distraia e já agora não magoe. Ontem, no meio de uma reunião séria e sénior, descobri o mundo do rugby. O chefe era um homem do rugby e aquilo é coisa para a vida, para os filhos e cadilhos. Listaram-me operações e feridas várias, mais o espírito e o carácter e isso. Mas eu rugby não me calha. Gosto das camisolas, andei anos a namorar a da selecção escocesa. Pode ser que a traga quando um dia lá for de turista.
Cursos também não dá que eu agora tenho um trabalho sério e não posso fugir manhãs sem que se perceba. E à noite vou fazer mais meio-dia lá em casa. Ontem fiz caril de tofu. Acho que só eu é que gostei. Ele não cozinha mas é uma boca santa, pelo que lá comeu a inovação. Ela já estava tão cansada que petiscou. Ontem tivemo-las lá em casa. Aquelas que não sabemos se existem. Logo à chegada a miúda tralhou-se nas escada e engalarou a testa. Depois escorregou na banheira. Depois já não me lembrou porque entrei em negação e fui fazer o tofu. Preciso mesmo de um hobby. Se calhar já estou doida.

18.4.06

Novas

Da escola, o trabalho da Páscoa vinha embrulhado em papel crepe azul turquesa, com um laço amarelo*. Imaginei coelhos, ovos, sei lá. Mas era um cavalinho de madeira. Vermelho com bolas de cores. Muito giro, o cavalinho. Tem velcro nas patas para se guardar na casinha, também pintada. Já me esqueci foi do nome. É uma figura da Suécia (?!) que as crianças pintaram no âmbito dos trabalhos sobre a Europa (?!). A minha filha ainda não tem dois anos e meio, mas já é uma cidadã euroincluída.

Xixi, xixi por todo o lado. Três gotas no potinho e o resto por onde calha. Depois de quatro pares de calças em menos de uma hora, achei que estava frio e que já lá íamos outra vez. Ontem percebi que afinal os miúdos não vão desfraldar todos ao mesmo tempo. A minha e outra foram "escolhidas", por serem as mais autónomas, para começarem primeiro. Pela amostra, temo pela autonomia sanitária da salinha azul.

Sobre a Páscoa: fiz um folar, com ovo e tudo. Acho um piadão ao fermento de padeiro.


*a Suécia, pois claro, azul e amarelo...?!

13.4.06

Esta noite sonhei com a Escócia. Chegávamos de noite, de autocarro, eu e a Ana S. Entrámos pelo west end da Princes Street. Eu vi o Scott Monument e avisei-a de que tinhamos que sair. Estava a chover miudinho. Eu esqueci-me da bagagem no autocarro. Atravessámos a South Bridge e eu contei-lhe que o vale do castelo era um pântano seco. Acordei cheia de saudades. A Mariana choramingava por mim e ainda não eram seis e meia. Lembrei-me da manta de rosetas coloridas que comprei numa boot sale. Quem me dera tê-la trazido. O que eu gostava da manta. Custou duas libras ou assim e tinha vários buracos. Lembrei-me das folhas de papel de embrulho coloridas que eu usava na secretária do office. Lembrei-me de mim e da Ana na Holanda, há 10 anos.

12.4.06

Deixei de cumprir prazos. Agora ocupo-me a gerir atrasos.

Já me apercebi disto há uns tempos, mas ainda não tinha oportunidade de o registar. Estava atrasada.

11.4.06

Acabou de me ocorrer uma ideia maravilhosa: vou comprar pastéis de massa tenra para o jantar. De repente esta epifânia revitalizou-me. Aparto-me da porcaria da licença expirada do SPSS (depois de um trabalhão perseverante que me entupiu de variáveis que agora preciso de standardizar, mas não é que isto interesse), dos orçamentos engatados e das chaves de imputação de overheads. Fecho o excel e abro uma janela para partilhar com o mundo a boa nova: pastéis de massa tenra com salada e arroz de tomate que sobrou de ontem. Pimba. Encestei. Score: Ana-1, vidinha-0.
Aleluia.

Puzzled



Os puzzles são a brincadeira do momento. Gosta daqueles que vêm nos livros e já os faz com uma rapidez que me lembre os artistas do cubo mágico. Precisamos de um upgrade. Eu também gosto de fazer puzzles. Sempre gostei. Gosto dos feitios das peças, invento-lhes uma história enquanto procuro a peça seguinte. Gosto de fazer puzzles sozinha, claro. Gosto muito de estar sozinha, não me levem a mal. Sou filha única, toda a vida vivi só comigo, aprendi a desmultiplicar-me para não me aborrecer. Às vezes agora tenho saudades de estar sozinha e apetece-me um bocadinho de mim. Há uma série de coisas que não gosto de fazer em grupo e reservo: estudar, fazer compras, ir à casa de banho, passear nas livrarias, ir ao médico. Não sou, definitivamente, gregária. Não preciso que me levem a casa, não tenho medo de ficar sozinha, ou ir sozinha, ou comer sozinha ou sei lá. Por isso é que vou com ela para onde for preciso, faço o que for preciso. Até já ponho gasolina e guio na cidade grande. Escolho com facilidade, não preciso de segundas opiniões, raramente pergunto se estou bem, acredito-me. Gosto de elogios, mas não estou habituada a eles. Envergonho-me com cumprimentos. Encaixo-me.

9.4.06

No banco



Por desacato ao árbitro.


A mamã e o balde de água com detergente.

8.4.06

Upa



Abriu a época. Ontem o meu marido regou os tapetes de relva artifical no quintal e hoje eu empoleirei-me numas sandálias. A criança está a portar-se bem e vai deixar as fraldas. Fomos almoçar ao indiano ali de trás e o choro não foi nosso. A minha Mariana era "a menina que se está a portar bem, vês?", dentro do estilo, claro, com gargalhadas desbragadas e cantorias e empurrarres de carrinho por entre as mesas. Ah! A minha filha foi a que se portou bem! Isto é inaudito e merece ser guardado. Nós até gostamos do indiano ali de trás porque nunca tem ninguém. Como também diz um amigo, desde há dois anos que saio sempre dos restaurantes a pedir desculpa. A minha coroa de glória foi um jantar no Bairro Alto com um casal gay canadiano, acabado de conhecer, que me convidou para jantar sem saber que eu era uma mãe de família. Enganei-os bem. Mas hoje não. Hoje saimos em glória. Pena não ter levado as sandálias.

Eu precisava era de uns ténis, mas comprei umas sandálias. Altas. Lindas. Não me resisti no espelho. Obriga-me a andar direita e talvez deixe de olhar tanto para baixo. Claro que já pensei que vou levar umas sapatilhas para empurrar o carrinho até à escola. Depois deixo-as no saco de rede do carrinho e subo-me para a cidade. Já está tudo pensado. Para uma completa ascensão estival só me faltam uns vestidinhos.

Não sei nada de xixis e cocós. Tenho que ler a teoria. Isso e comprar-lhe cuecas. Não tem cuecas, a minha patanisca. Parece que a escola quer cinco mudas de roupa. Na segunda-feira depois da Páscoa já não pode levar fralda. Imagino os ovos de chocolate.

6.4.06

Lêndeas

É verdade que não tenho muito tempo, que as minhas horas fora de casa se consomem em escrituras e leituras mais ou menos oficiais e que as minhas horas dentro de casa se afogam em banhos, refogados e baba na almofada. Mas não é só isso. Sou eu que estou d/escrita, des/palavrada. Vi o Crash e não disse nada. Decidi cortar o cabelo e ainda nem cortei nem falei disso. Atraso-me. Nem me queixo nem nada. Vivo e não conto. Semeio lêndeas de quotidiano.

Bastidores

Uma das graças de ter uma Universidade inteira com que trabalhar é a diversidade de "clientes" que o meu gabinete apoia. Ontem, depois de me perder por mundos e fundos descobri um trabalho delicioso. Hoje empreenderei.

4.4.06



Metade dos genes da minha filha provêm desta pessoa, que aqui vemos em queda livre, rasteirinha, mas em queda.
Porque é que então me preocupo com as marcas da varicela? Numa criança que corre muito mais do que todos avaliam, que gosta de gritar enquanto corre, que sobe à macaco pela vedação do quintal e pede à pobre mãe para fazer corridas com o carrinho, esperam-se marcas de vida superiores à da varicela.
Mas estou tão triste com aquilo. Foi um grande azar e não me pesa a culpa, que ninguém tem culpa e ela nem coçou. A do nariz talvez disfarce, mas no meio da testa e na sobrancelha estão duas craterazinhas que não me canso de avaliar. Snif. Quem me dera que fossem minhas.

3.4.06

WeakEnd

Este fim-de-semana enchi-me de mim. No sábado fui às compras e ontem arrumei os armários. Ensaquei 90 litros de sobras, o que me parece uma enormidade. É impressionante o que uma fêmea acumula na sua toca. O que mais me dana são os frascos meios de creme. Os frascos deviam ser mais pequenos. Sou particularmente atraída por porcarias que prometem cabelos mais lisos. E que, obviamente, são uma mentira, o que eu descubro logo na primeira utilização. Ensaquei finalmente as jardineiras que arrastei durante a faculdade. Resgatei à última a camisola do Natal, que já não usei neste Natal. Reencontrei coisas de que já não me lembrava e despachei para panos parte das T-shirts ex-brancas. A piolha entornou-me várias vezes as pilhas de passado e elegeu um cinto cor-de-laranja (cor-de-laranja?) como o fetiche da tarde. Hesitei por vezes com o argumento do bau retro que a filha adolescente gostará de encontrar, mas a verdade é que a maior parte da roupa de agora é mesmo de usar e deitar fora, sem fôlego para vintage. Agora a mala, aquela que eu trouxe no sábado da Av. da Liberdade, daquele sítio onde obrigada, mas não vale a pena fazer um cartão de cliente, aquela mala que foram "preparar" e que escoltaram até à porta*, essa pode ser que ela queira resgatar-me um dia e usar com as Levis guardadas, aquelas que também fui eu que ganhei para comprar.


*e onde por acaso se esqueceram de um alarme que me buzinou a extravagância noutras lojas daquelas onde eu nunca tinha entrado e cada cliente parece valer 10 vezes o preço da minha linda mala.

29.3.06

Filetes pescados



A Miana vai ajudá a mamã a faxer o jantái.

Terapia de Choque

O que custa é a primeira vez. Há coisas que não se recuperam e uma delas é os três dígitos por umas calças. Ficamos com as calças, sem os três dígitos e passamos a viver naquele mundo de razoabilidade duvidosa, em que três dígitos por umas calças é uma opção, digamos, razoável.
Confirmei que não sou a única a transpor estes muros de compensação, a atravessar uma vidinha ajuizada com naufrágios de indulgência. Recebo a primavera com os óculos mais fixes da estação e aguardo umas bainhas de luxo.

Choco Terapia

Ontem, num corredor do Minipreço, ouvi: "Quero chocolate".
Disse-o a minha filha, a quem eu andei a esconder esse pecado. Respondi-lhe que não sabia o que isso era, num momento de negação do que é evidente: ela vive no mundo real, aquele mundo maravilhoso onde se aprende mais do que nos ensinam as mamãs, um mundo extraordinário e divertido, onde tropeçamos e arranhamos os joelhos, mas onde existe o chocolate.
Está tão crescida, a minha patanisca. Tem acessos de rebeldia diários, quase horários, que me enfurecem e deleitam. Gosta de correr, ri-se muito. É verdade que tropeça, mas ri-se tanto. Ontem, depois do tralho, enquanto molhava as bochechas, pediu-me o colo. Três segundos depois já chegava só a mão e em menos de meio minuto já corria outra vez. É uma valente. A ver se hoje à tarde lhe dou um quadradinho de pecado.

26.3.06

Wish list 13


PEsTe scan



Aposto que tem um lobo de rabinice particularmente activo.

25.3.06

Mopy Dick


CinderEla



Ainda sobre sapatos.
A Mariana viveu de meias durante o primeiro ano. Depois das primeiras botas, entusiasmei-me com as cores do verão. Agora que já nos passaram as peneiras, investimos no conforto.

Jurássicas


Algum dia tinha que acontecer.
É verdade que eu sou uma mulher do meu tempo. Aliás, corre cá em casa a ideia (injusta) de que eu não sou uma pessoa do passado, embora já tenha cumprido cromeleques, antas, ruínas e rupestrices várias, algumas intercaladas de rapinas sob um sol abrasador. Agora isto dos bichos... o que uma pessoa não faz por um filho.

24.3.06

Pagaram-me parte do subsídio de férias, o que quer dizer que já estou aqui há seis meses. Acho que é isso que quer dizer. Ou se calhar perceberam que ando cansada. Dá-me ideia que estou sempre a trabalhar. Ou a dormir. Não me ocorrem muitas mais coisas. Gosto do meu trabalho e gosto do trabalaho que ela me dá. Gosto de fazer o jantar e dar banho e vestir. Gosto de ir aos baloiços e às compras. Gosto de tudo, mas ando um bocadinho cansada, ah pois ando.

Post kodak

A patanisca está rechoncha. Já sabe qual é o esquerdo e o direito e adora perguntar o quéisto? ou o quetasafaxer?. Muitas vezes nos elogia as repostas com um muito bem mamã. Adora o banho e comer massa. Continua agarrada aos livros. Tem três marcas da varicela na cara e adora sapatos. Assim que chego à escola pede-me a chuchainha em que não pensou durante o dia. Faz umas birrinhas de mimo quando a deixo e recebe-me sempre com o sorriso mais bonito do mundo. Já não pede tanto colo. Adora massagens e miminhos de pijama. Lava os dentes no banho, a ela e aos amigos. Corre muito, não lhe posso dar avanços. Nunca mais chega o calor para deixarmos as fraldas.

22.3.06

Elevações

Parece-me que já houve um tempo em que tudo era mais fácil. A vidinha vivia-se desalarmada. Se calhar é só o recuo histórico que me engana. Se calhar é tudo como as dores de parto, que se esquecem e matizam. Lembro-me de ter muito mais tempo para tudo, até para trabalhar. Acho que era mais bem disposta, mais divertida. Tenho saudades das minhas gargalhadas, dos piadas que catadupava sem freio, de ser tão mais parva. Sou muito menos parva do que já fui e isso é uma pena. Era um dos meus encantos, a parvoíce.
Sempre que lhe entrevejo o disparate fico encantada. Adoro-a divertida, com caretas e manhas. Desejo-lhe as melhores parvoíces do mundo. Gostava de escancarar-lhe a vida de alegria e desalinho.
Conheço cada vez mais pessoas cada vez mais velhas. No domingo de manhã invejei uma sexagenária no café do CCB. Quis tomar-lhe a calma do pequeno-almoço, sentir-lhe o conforto da roupa clássica. As calças de ganga novas são fantásticas, mas descobrem-me significativamente os quadris. Raramente invejo os adolescentes desbragados de dúvidas e acne, pejados de folhas de horários e cadernos personalizados. Contudo, apetecia-me ter um skate. Lembra-me o jogo do elástico. Apetecia-me tropeçar passeios e justificar capuzes largueirões.
Preciso dumas combat de tecido leve. Mesmo giro era conseguir equilibrá-las numas sandálias de salto. Preciso de subir-me.

Re(multi)ões

Admito que nunca gostei de trabalhos de grupo. Preferia os desportos de equipa, mas lá os pensamentos gosto de partilhar os meus comigo. Os dos outros prefiro ler em papel do que através de discursos desfocados. Vou sair agora nem sei bem para quê. Pintei-me. A ver se não me esqueço e esborrato tudo a tentar ver padrões quando já estiver demasiado reunida.

20.3.06

Kahlada



Enquanto ela dormia no carrinho, eu consegui kahlar a curiosidade de a ver. É uma exposição muito pequena, com mais fotografias que obras. Gostei da Dona Rosita e das bandeiras de papel recortado. Gosto tanto de papel recortado, como os guardanapos dos bolos. Há anos que não faço recortes nem junto meninos pelas mãos em tiras de papel. Há meses que não faço tricô.
Quando era miúda gostava tanto do papel de lustro que tinha pena de o cortar. Gostava de desfolhar os cadernos de cores e guardava pratas de bombons. Será que a Mariana vai guardar pratas esticadinhas? E calendários? E cromos? Ainda há cromos?
Vi o filme quando estava em Brighton. Gostei do filme, gosto dos quadros. O coluna partida é muito mais pequeno do que o imaginava. É sempre mais pequeno do que imaginamos e isso é bom porque quer dizer que imaginamos muito.
Imagino que a Mariana a verá noutra oportunidade. Quem sabe até As Duas Fridas.

18.3.06

The day after

Regressei com uma bolha no calcanhar, dos sapatos amarelos. Tão giros, mas fizeram-me uma bolha. Deixei o fato no gabinete, mais os sapatos amarelos. Deixei o gabinete desarrumado e não guardei os livros. Não guardei os folhetos nem as folhas de avaliação.
Estuguei-me para casa. Queria agarrá-los e sossegar. Queria a minha vida de volta, mas isto também é a minha vida. Continuo atrasada por todos os lados menos por um que é o istmo.
Hoje de manhã fomos finalmente cortar o cabelo. Estava embaraçado de gritos dela e tentativas minhas.
Ontem fez nove anos que o Manel expirou. Estava calor, mais calor do que Março costuma agasalhar. Por estes dias faz nove anos que fui para a Escócia pela primeira vez. Tinha um casaco comprido, azul escuro, com botões militares. A moda é circular. Este ano gosto de amarelo.

14.3.06

I&Deias soltas

Espero três dias intensos e intensivos. Vou ser formadora, entertainer, secretária, organizadora, chairwoman e mais o que for preciso. Tenho umas calças de ganga novas e um vestido para enfiar por cima delas. Claro que assim ninguém vê bem as calças e as calças de ganga são uma coisa muito séria na vida de uma rapariga.
Preparei mais de 100 slides, mas ainda não escolhi a roupa. Shame on me.

12.3.06

Simplesmente Mãe

- Mariana, como se chama o papá?
- Rui.
- E a mamã, como se chama a mamã?
- Mãe.

Back to the future

Revivo-me como antes da Mariana.
Fui jantar fora na sexta-feira, comecei a comer depois das 22h. Dormi sem despertadores, nem biberões, decidi o meu dia sozinha(os). Trabalhei num sábado, comprámos livros não infantis e jantámos num pub, no meio da madeira marcada pela base das pints. Pedi half Guiness e roubei uns golos da drought dele. Estranhei a calma com que comemos as sandochas cortadas em triângulo e partilhámos a tarte de maçã.
Acabei de entrar numa Universidade deserta. Durante anos entrei em Universidades desertas a desoras, a desdias. Há anos que não entrava numa Universidade deserta. No espelho pareço quase igual, o que não é necessariamente favorável. O mesmo hood cinzento, uns ténis descorados e uma lista demasiada de tarefas.
A boneca diverte-se com os avós, eu diverto-me a estudar.

9.3.06

aVariações

Não consigo dominar
Este estado de ansiedade
A pressa de chegar
P'ra não chegar tarde

Não sei de que é que eu fujo
Será desta solidão
Mas porque é que eu recuso
Quem quer dar-me a mão

Vou continuar a procurar
A quem eu me quero dar
Porque até aqui eu só:
Quero quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi

Esta insatisfação
Não consigo compreender
Sempre esta sensação
Que estou a perder

Tenho pressa de sair
Quero sentir ao chegar
Vontade de partir
P'ra outro lugar

Vou continuar a procurar
O meu mundo
O meu lugar
Porque até aqui eu só:
Estou bem aonde não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só quero estar
Aonde não estou
Porque eu só estou bem
Aonde não estou


Ou outra maneira de descrever o comportamento da minha filha.

Bicho de conta(s)

Ocorreu-me que as reuniões são como os movimentos artísticos. Realistas, surreais, abstractas, cúbicas, impressionistas, expressionistas, minimalistas, conceptuais...
Acontece-me agora mais reunir-me com pessoas, principalmente pessoas que não conheço. É um processo interessante aquele de decidir os cumprimentos, os títulos, os lugares. Falo e muitas vezes oiço-me em eco. Desconheço-me num discurso que não sei de onde me vem e inclui estranhezas materiais e burocráticas. Cumpro a fluidez que se me espera, mas prefiro mil vezes a quietude do meu gabinete, onde estudo como sempre fiz. Encaracolo-me.

7.3.06

Tripé


Boca em Frida*

Passei grande parte da minha infância/adolescência no dentista. Usei vários aparelhos e cumpri demasiadas intervenções estomatológicas. Conheço-lhes os gostos, os tempos, os desconfortos. Ainda me lembro dos dias em que corrigiam o aparelho que me afastava os ossos. Ainda me acontece, vinte anos depois, sentir a falta do aparelho.
Tenho um sorriso de chumbo, mastigo com ajuda biónica. Está cá um siso a mais vai para dez anos. Não me tem servido o tento e já lá não ia há demasiado tempo. O meu médico de sempre já tem uma filha, mais nova que eu, que me corrige os comportamentos, "higieniza" a cavidade e compõe o desgraçado que se partiu lá atrás. Vou ter que voltar muitas mais vezes e enfrentar o pai dela. Temo que não me deixe sair antes do verão. Quem é que vai tomar conta da minha filha?

*

6.3.06

Party people


O pappy ontem fez muitos anos. Tantos anos que decidimos por as velas todas do pacote na pilha de profiteroles que fingiu de bolo.
A Mariana ofereceu um boné e a mamã um relógio (que não funciona...), um chapéu (que vamos trocar) e uns calções de surf. E mais uma mousse de chocolate, um bavaroise de ananás, um cheesecake americano, um tiramisu, um gratinado de batatas e um perú recheado. Mais os folhadinhos de salsicha e a pirâmide de frutas. Cozinhei tanto que se me partiu um dente e amanhã vou de urgência reparar-me.

4.3.06

Fight club



Elas(Mariana, * *, e mais por aí) tocam nos pontos e nós tocamos em fuga. Das tontices, das choradeiras, da fúria. Eu sou uma mulher crescida, esclarecida, capaz de cozinhar almoços para 15 pessoas mais putos, e enfureço-me com uma piolha de dois anos e uns bocadinhos, uma criatura que carrega os meus genes, que cresceu dentro de mim, que viveu de mim e por quem eu me daria, que vive comigo e com o meu marido, de quem também descarrega os genes. Esta pessoazinha é capaz de me tirar o melhor e o pior, de me transfigurar numa Hyde medonha, chata, cansativa, uma criatura hedionda que obriga a lavar os dentes, a apanhar brinquedos, a calçar sapatos, a comer sopa e a adquirir códigos de convivência social.
Estamos em guerrilha, travada quotidianamente, esquina a esquina. Ela é uma sniper da lágrima, uma mina de incoerências. As nossas manhãs são bipolares de abraços, mimos e puxões, contrariedades e convulsos patéticos. Esforço-me por não gritar. Sibilo. Chispo. Engulo. Como bombons e, ò doce vitória, não os partilho. A minha filha faz birras, mas ainda não aprendeu a dizer chocolate.


Temos um novo olhar. Olympico. Parece que tirei mais de 3000 fotografias com a outra. Não admira que feche os olhos.

2.3.06

O faqueiro

Ontem (melhor, hoje) fechámos o segundo jornal e acabou o curso. Estou dorida de cansaço, mas finalmente consigo fazer um tick na vidinha. Da próxima vez que beber uma jola e comer uma alheira com ele não combinaremos mais do que fazer colheres. De café.
Boa? Um serviço de colheres? Design? Materiais? Ergonomias? Até já tenho umas ideias...

1.3.06

Fui buscar

- Anda cá patanisca!
- Patanisca é a mamã.
- Patanisca é a Mariana.
- É a mamã.
- A Mariana.
- A MAMÃ!

Ensopei o óleo e engoli-me. A miúda promete.

Noves fora, pouco

Poderá um filme sério mostrar sexo explícito?
Experimental, tudo muito experimental. A câmara digital, a luz, o footage dos concertos, a ausência de guião. Um realizador promissor, com filmes bem conseguidos. Gosto da contemporaneidade, da audácia, do estilo documental e indie. Abominei a rapariga, os planos abertos e o desconforto que me trouxeram. Não sou explícita e não aprecio espéc(tá)ulos com pouca história.
Ele é cientista porque por exemplo. No meio de uma tal economia de argumentos, não percebo a fartura de gelo. Try harder (metaforicamente).

27.2.06

Lusco

É um filme simples e bonito. Fusco.
O que mais gosto destas estranhezas é espreitar os costumes de outros serem.
Reparei que andam a trabalhar no jardim japonês de Belém. Temo tanta lomba. Caberão lá as 461 cerejeiras?

Beer pressure

Eu sei, são os terrible twos. Isso e o efeito mamã-eu-contigo-sou-uma-pestinha-porque-tu-és-a-minha-mamã-e-vais-gostar-sempre-de-mim. Sei isto tudo e ainda assim deixo-me apanhar na (má) onda.

The hallmark of this stage is oppositional behavior.

Onde fomos ouvir apitos no XêXêB. Quem esteve no Quadrante por volta das 10h30 deve lembrar-se de nós. E do bolo 1, do bolo 2 e da menina infeliz, coitadinha, que não comeu nenhum dos dois.

At this stage, she even disagrees with herself.

Resgatámos uns livros com autocolantes e, como sempre, mudámos um grande cocó naquelas prateleiras onde já quase não cabem tantos pontapés.
Depois correu que se fartou, a brincar com os amigos. Ela é, de facto, adorável, quando se ri muito, quando corre muito, muito despenteada. A Mariana nunca é poucochinho, é sempre muito. E eu gosto disso, palavra que gosto. Não gosto é de não saber lidar com tamanha grandeza.

Dissolving into tears is an appropriate expression of the inner turmoil that is so real for children who are in the midst of this process.

As lágrimas estão cada vez mais gordas, mais sentidas, mais inconvenientes. É muito teatral. A mão na testa, o beiço a tremer; uma tristeza de pacotilha escorrida com piedade.

Ideal parenting does not prevent the "Terrible Twos" - it helps children navigate them.

Fraquejo como timoneira. O leme pesa que se farta. O mar está bravíssimo, é preciso corrigir, corrigir sempre, todos os dias, a todas as horas. Passo o tempo a retomar a rota, encharcada. Dou-lhe palmadas que me doem, que queria reverter, outras que nem tanto. Mas palmo.

It's not caused by something you are doing wrong, and it won't last forever.

Ontem, na cervejaria, almocei-lhe as lágrimas do cansaço, do sono, da minha vergonha. So sorry, amigos.

24.2.06

Role-playing

Uma camisola amarela ou cor-de-laranja.
Este ano não há necessidade de mais adereços. A minha princesa vai ser uma aia na corte escolar. Eu, definitivamente, escolho-me de Bobo.
Daqui a bocado (13:10) abano a pandeireta para anunciar a Maga.

23.2.06

Vox populi

Eu nunca gostei de estudar, gosto é de trabalhar.

Está uma pessoa a tentar descansar os dentes numa fatia de salame de chocolate e ouve um rapaz alto, bonito, e obviamente obliterado, a repetir um senso que é demasiado comum. Ainda assim, recuso-me a concordar com o chosen one.

"Sometimes you see beautiful people with no brains. Sometimes you have ugly people who are intelligent, like scientists"...

22.2.06

Arrived with the wind

Parece-me que inspiro tudo e não expiro nada. Estou cheia, plena, lotada.
Tenho saudades dela, que péripla por todos menos por mim.
Acordei com má cara. Belisco as bochechas como a Scarlett.
Tomorrow is another day... E é isso que me assusta.

21.2.06

Botefos



Que é como quem diz lambareiros no norte do rectângulo.
Ontem à tarde, numa corrida, achocolatámos parabéns e eu descobri que afinal andam lá por casa os ratos do outro.
Mas aquilo que me ficou, para além das calorias, foi a promessa de voltarmos para o fondue. 'Bo(te)ra nessa?

19.2.06

Glasgowood

Parece-me um daqueles filmes que os críticos criticam e os espectadores espectam. Eu, com gosto a lágrimas. Porque não ter pai para dar deve custar muito, porque a Escócia me dá saudades, mesmo a blue e não a white, ou se calhar porque andava a precisar.
Não sei se é da luz, do grão, do baixo perfil, mas amanhã tenho 55 slides de Europa para promover e palavra que não me custa nada.

InVestida



Tenho o casaco e o cheiro prontos para a apresentação de amanhã, mas ainda não acabei o power point nem consegui saldar ao Chiado para resgatar os sapatos amarelos.
Invisto-me de eurofrases e planeio uma taxa fixa de overheads.

Bandeira amarela




Quarenteno-me*.
O Cálcio suicidou-se esta noite. O Rui acha que foi da chuva, do barulho da chuva e da tentativa naufragada de chegar a tanta água. Está visto que não consigo tomar conta de mais criaturas vivas. Já tenho uma piolha, um marido e demasiados fungos.
Obriguei-o a descer ainda despido para resolver o luto. Como sempre, a culpa é minha; enchi demasiado a esfera, permitindo o salto. Num lampejo de humor bioquímico, alcunhou-me de EGTA.
Posso tomar banho, mas não posso nadar.

*De mau feitio, que nem a varicela me quis.

17.2.06

When The Man Comes Around

Se eu fosse ao cinema, ia ouvi-lo.

Hear the trumpets, hear the pipers. One hundred million angels singin'

16.2.06

Busy Bee

Estou tão atrapalhada de trabalho que já tenho zumbidos na cabeça.
Preparo-me para delegar a geração posterior na anterior. Para laborar e, quem sabe, acordar depois das 7h.
A colmeia fervilha.
O mel agasta-me o estômago.

15.2.06

Os bons alunos

Eles espiolharam o mundo com olhos de jornalistas e não como cientistas.

Note to self

Na segunda-feira de manhã, com o fato na lavandaria, parlamentei numa sala alcatifada o futuro de um projecto. Mais do que uma vez, a minha interlocutora utilizou a expressão tricotar. Recordo o casting, de malhas ou votos, e concluo sobre o poder das agulhas.

Sitting Duck

Desde que ela começou a germinar em mim que deixei de usar perfume. Há três anos que, na melhor das hipóteses, cheiro a sabonete. Às vezes apetece-me aquela nuvem de civilidade, um sinal de mim à minha volta, um abraço de glamour e cuidado.
Mas tudo me enjoa.
Hoje, à boleia de um presente, fui cheirar um frasco amarelo. À noite talvez me engarrafe.

The little commuter

Surpreende-nos todos os dias com mais palavras, frases, raciocínios. É muito divertida. Estamos na fase das expressões: contente, zangado, espantado, triste, susto, e dos parentescos: há os grandes e os pequeninos, os papás e os bebés. As frases têm sujeito, predicado e complementos. O modo continua bastante imperativo. Fala dela na terceira pessoa, uma modalidade que eu própria ainda utilizo, mas com menos sucesso.
A chuch'ainha (chucha+fraldinha) é um bem de consumo corrente sempre que não está distraída ou quando é contrariada. As lágrimas são grossas, mas muito voláteis. Elogia ou recusa a comida com segurança de gourmet. Quer fazer xixi no potinho, nunca mais chega o verão.
Depois da euforia natalícia com os brinquedos novos, permanecem os puzzles e os livros. Os livros ganharam mais uma categoria: os que podem ser levados no caminho para a escola. Afinal, sempre são 10 minutos de carrinho.

14.2.06

Hide and away



Recai-me tudo o que quero e que já quis. Projectos novos e projectos velhos, deadlines que me trespassam. Boas notícias, más notícias, notícias péssimas. Sou contemporânea de mim, não consigo escapar-me. Sinto-me um alvo de dardos lançados das minhas mãos.
Volto para a centrifugadora.

12.2.06

DiCurada


DiFerida



As mãos, as mãos...


Esta cidade promete.

reCherche



Encontrei euroconhecimento, tangível e intangível. Troquei cartões e sorrisos, de representação e afabilidade.
Apeteceu-me.

Leçon numéro un




Mexilhões, frites, corredores, táxis, alcatifas, documentos, simpatias, competências, disponibilidades, escadas, muitas escadas e muito inclinadas, frio nas mãos, rendez-vous, multilínguas e um dos melhores jantares dos últimos anos.
FMI (for my interest):
- nonente, non quatre-vingt dix
- ler com atenção os emails de reserva de hotel
- levar um mapa e não impressões de quadrados de um puzzle desconhecido, uma barra energética e uma garrafa de água
- recordar que os voos budget não alimentam os voadores
- nem toda a gente anda de fato
- os sapatos é que nos matam
- isto dos euros é muito fixe
- a confiança de dentro vê-se por fora
- ela portou-se lindamente
- os britânicos são sempre os meus favoritos, eu ainda tenho que voltar àquela terra
- a miúda dinamarquesa sentiu-se na obrigação de fazer uma piada sobre a sua origem e isso é que me lixa
- nem todas as cidades içam táxis no cimo dos braços
- foi tudo tão preenchido que parece que passou muito tempo
- não vi nada, mas não me pareceu tão feio como dizem, ou vão ali às avenidas novas num dia de chuva
- o cinzento é que desmaia tudo
- mas há muito chocolate para animar
- o bairro de congoleses entre as avenidas dos gabinetes lembrou-me o Martim Moniz e eu sinto-me sempre à vontade nestes sítios, mesmo mascarada de senheura
- gosto de encontros pouco combinados, just in time, em plataformas sujas, daqueles que são tão densos de verdades que não precisam de agendas e expectativas
- aproveitámo-nos e aos livros, às conversas e menus; obrigada Pat.

7.2.06

O mistério



Quando o Shakespeare se apaixonou, o director do teatro, personagem extraordinária, disse algo que me recorre demasiadas vezes:

Philip Henslowe: Mr. Fennyman, allow me to explain about the theatre business. The natural condition is one of insurmountable obstacles on the road to imminent disaster.
Hugh Fennyman: So what do we do?
Philip Henslowe: Nothing. Strangely enough, it all turns out well.
Hugh Fennyman: How?
Philip Henslowe: I don't know. It's a mystery.


Aconchego-me neste mistério e no colete, assumindo a casualidade do meu eurobaptismo.
Je reviendrai.

6.2.06

Purple dRain



Agora que ela já está melhor, posso europreocupar-me outra vez.
Parece que está frio e eu já desisti de suit-myself o tempo todo.
No sábado espaireci uma hora e voltei com um colete de penas e uns olhos xl, para disfarçar as olheiras.
Ela está, numa palavra, crocante.

5.2.06



A prova definitiva de que tenho uma enfant terrible é, de todos, preferir o tigre.

4.2.06

varicEla, varicEu

Ela está cheia de borbulhas. Em todo o lado e isto quer dizer mesmo todo o lado. Como vem nos livros, as borbulhas vêm em todos os feitios e estados ontogénicos. Para além do desconforto, preocupam-me as infecções e as marcas.
Eu ainda só tenho pontos negros no nariz. O médico deu-me uma janela de 17 dias, pelo que devemos voar, os vírus e eu.
O humor cá de casa é que não há meio de descolar.

2.2.06

Crescendo

A Mariana é uma miúda com pinta.
A Mariana é uma miúda com muitas pintas.
A Mariana tem varicela.

Notas:
- começou tudo com uma borbulhitita na sobrancelha
- os meus pais não conseguem decidir se eu tive ou não varicela
- se os obrigar a responder dizem que não
- tenho um bilhete de avião não refundable para quarta-feira e muitas combinações
- não posso ir trabalhar porque ela não pode sair de casa
- já sinto comichões no cabelo

Hábitos estranhos por encomenda:
- não escrever em cima das linhas, mas entre linhas
- gastar completamente a tinta das bic (pretas, cristal) e depois despedir-me delas
- detestar ovos estrelados rebentados e comer sempre a amarela no fim
- secar sempre o cabelo com secador
- não ter tido varicela em criança

O chão está torto

Dói-me o discurso. Vale que hoje estou aqui, sentadinha, a estudar. Estudo bruxelês e preocupo-me com o frio. O que é que eu vou vestir e calçar? E dizer?
A miúda está tão gira. Quando saímos da garagem explica-nos que o chão está torto. Tem umas lógicas inatacáveis, invejo-lhe o pragmatismo. Aposto que se alcatifaria de à-vontade nos corredores da eurocity.
Dava-me jeito recuperar o verbo, the verb, e alijar este lastro de ranho verde que me preenche e convulsa. Disgusting.
Preciso de ideias e de umas calças pretas.
Fico-me pelo paracetamol.

1.2.06

Acho que tenho vírus dento de mim. Isso e as letras do meu Reitor. Hoje vou ficar outra vez afónica. Ontem adormeci com a Mariana no chão. Já de madrugada sonhei um sonho perturbador, estapafúrdio. Era o dia do meu casamento e estava a por a mesa para o almoço. E ele era outro e eu não queria nada daquilo, mas continuava a por a mesa, a desdobrar toalhas brancas, adamascadas. Muito contrariada. Até porque sem ele não havia Mariana e no sonho eu pensava nisso. A minha menina é uma recombinação perfeita. Suspiro.
Tenho a energia dorida e até me pareço mais gorda, mais pesada de mim e de todas as coisas que são minhas. Não me apetece ir apanhar frio e burocracias para a Grand Place. Apetece-me tricotar um gorro às riscas brancas e pretas. Em canelado 4 por 2. Ontem montei 108 malhas com preto antes do jantar.

31.1.06

Things fall down. People look up. And when it rains, it pours.

Parece que o Tom Cruise vai ganhar um mau prémio por ser mau actor. Ouvi hoje na rádio e sorri. Eu não embirro com o Tom, até o acho giro e sim, vi o Cocktail. Embirro é com a fleuma ensimesmada com que muita gente renega os seus próprios deslizes culturais. A necessidade pacóvia de mentir sobre a espreitadela no horóscopo ou o filme lamecha. Acho tão ridículo que só me apetece provocar. Uma criatura que desconheço, mas que falava na Radar, esse portento de erudição, cuspia malvadezes sobre o Tom e assumia só o ter gostado no Magnólia. Daí a uns minutos, a colega, parola, interrompia o alinhamento para recuperar também o Eyes Wide Shut. Ah, pronto. Entreolhámo-nos, risonhos, revirámos os olhos e as memórias. O Magnólia. Ainda me hão-de explicar os sapos. Já nem me lembro se gostei do Magnólia. Lembro-me dos sapos. Nem me lembro bem do Tom, eu é mais sapos. Os sapos e o John C. Reilly.
É como a televisão. Eu até estou à vontade, vontadinha, para falar da televisão. Eu não gosto muito da televisão e sou imune ao zapping. Eu vejo pouca televisão e até já não a tive. Nós temos uma televisão antiga, que não é flat e cabia dentro do Smart. Temos só uma e nunca haverá uma no quarto, embora o construtor da minha casa tenha pensado nisso. Mas eu vejo televisão quando me apetece e o que me apetece. Porque eu sou mais eu. Eu via a telenovela da Malu quando estava de licença de parto porque ficava acordada até à uma à espera da mamada e comia bolachas de aveia (que li que fazia bem ao leite, a aveia) e via a coitadinha da Malu a ser maltratada pela outra. Eu é mais sapos.

30.1.06

Os piolhos sabem nadar, iô



Sentámos a amizade na alcatifa e esperámos juntos pelos bichos. São boas estas amizades de rabo no chão, de massa com pesto e bolo de chocolate. De verdades e verdadinhas, birras e nódoas de fruta. A Mariana pediu beijos ao filho e histórias ao pai, amiga. Eu pedi desculpa pela massa, que afinal era um elogio. Esqueci-me de mostrar o resto da casa, onde não estão os brinquedos e por isso não interessa. Se pudesse pedia mais tempo para conversas de amigas. Daquelas que não se vêem, mas se sentem.
Da próxima somos nós a descer o rectângulo, lá mais para o verão. Brrrrrr.