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6.5.06

Quitação

Ontem apercebi-me que perdi de vez o ar desvalido.
Durante anos reuni comentários, mais ou menos repetitivos, e olhares enrugados de ternura e desaprovação da ascendência. Lá me safava nas efemérides, mas o quotidiano desvalia-se numa patine descolorada da maioridade que atestavam os certificados. Como tão bem disse um dia o meu pai, só tenho jeito para profissões de mal vestidos. Confirmo-o com o orgulho que ontem perdi na estação de comboios de Aveiro. Já não sou uma desvalida, uma descamisada. E quem não o percebe, não percebe nada.
A aula correu bem, bem demais. Assustou-me a fluência quase política, as graças reditas como se fossem inéditas, o controlo quase aéreo do tempo, dos tempos. Só não fico mesmo preocupada porque transpirei. Quando um dia fizer isto sem destilar um picolitro de ansiedade é porque a aula morreu.
Trataram-me por professora muitas vezes e voltei a achar que no norte há demasiados professores. A malta cá mais para baixo caga nisso. O campus é fantástico e estava sol. Volto em Junho e espero que nessa altura alguém já tenha explicado à CP que não há paciência para ver a Marisa Cruz a fazer massagens durante a viagem.
A preocupaçao com os documentos de quitação fez com que fosse em primeira. Não comprei no MB e o comboio esgotou. Ontem houve uma multidão de tugas que viram a Marisa Cruz a ser massajada para cima e para baixo, enquanto eu percebia que estava definitivamente uma senhora.