story:tell:her

18.6.06

How the Leopard Changed Its Spots

Ontem de manhã experimentei duas vezes uma blusa com padrão de leopardo. Sob o olhar divertido da minha filha, transformei-me numa Xena de centro comercial. Só não trouxe aqueles 14,99€ de tolice por cobardia. Apeteceu-me tanto o toque vulgar. Desejei-o com a maturidade de quem há uns anos acharia uma tal camuflagem inconcebível. Há coisas que é preciso crescer para usar: leopardo, unhas vermelhas, brilhantes, pérolas, saltos, malas de mão. São coisas de mulher que as miúdas desdenham ou imitam sem convicção. São coisas que já abominei e agora visito. Com parcimónia, mas muito desejo.
Suponho que ainda pareça uma miúda. Tratam-me muitas vezes por "menina". Passeio casualidade pelos corredores onde passeei juventude e inconsequência, mas todos sabemos que já não é a mesma coisa. Os alunos de licenciatura parecem-me tão novos, tenros, desavisados. Lembro-me de sermos assim e não percebermos. Lembro-me de nos acharmos crescidos, decisores, decisivos. De achar o leopardo uma coisa hedionda. Eu ainda acho o leopardo hediondo, mas apetece-me na mesma, embora talvez preferisse a zebra. Isso e umas unhas de sangue.

P.S. Não, não foi o pai que pediu a lingerie da loura. Foi a miúda.