story:tell:her

22.3.06

Elevações

Parece-me que já houve um tempo em que tudo era mais fácil. A vidinha vivia-se desalarmada. Se calhar é só o recuo histórico que me engana. Se calhar é tudo como as dores de parto, que se esquecem e matizam. Lembro-me de ter muito mais tempo para tudo, até para trabalhar. Acho que era mais bem disposta, mais divertida. Tenho saudades das minhas gargalhadas, dos piadas que catadupava sem freio, de ser tão mais parva. Sou muito menos parva do que já fui e isso é uma pena. Era um dos meus encantos, a parvoíce.
Sempre que lhe entrevejo o disparate fico encantada. Adoro-a divertida, com caretas e manhas. Desejo-lhe as melhores parvoíces do mundo. Gostava de escancarar-lhe a vida de alegria e desalinho.
Conheço cada vez mais pessoas cada vez mais velhas. No domingo de manhã invejei uma sexagenária no café do CCB. Quis tomar-lhe a calma do pequeno-almoço, sentir-lhe o conforto da roupa clássica. As calças de ganga novas são fantásticas, mas descobrem-me significativamente os quadris. Raramente invejo os adolescentes desbragados de dúvidas e acne, pejados de folhas de horários e cadernos personalizados. Contudo, apetecia-me ter um skate. Lembra-me o jogo do elástico. Apetecia-me tropeçar passeios e justificar capuzes largueirões.
Preciso dumas combat de tecido leve. Mesmo giro era conseguir equilibrá-las numas sandálias de salto. Preciso de subir-me.