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21.8.06

Prejudice

Puseram-no na montra e isso é que me deixou zangada. Há quatro anos enterrado no veludo, esquecido deles mas não de mim, e agora é que se lembraram de o mostrar. Vi-o por acaso, no caminho do supermercado. Trazia um polar verde tamanho 5 anos, calças de algodão para a escola, dois pijamas com riscas verdes e duas cuecas pretas.
Uma memória de cinco pedras, brilhantes, clássicas. Não uso anéis de pechisbeque.

Tive uma colega na Escócia que em vez de shit dizia sugar. Aliviava-se num shh de substituição e gritava pelo açúcar várias vezes ao dia.
Lá na serra, convenci a minha filha de que o rebuçado que me trouxeram com o café não era mais do que uma lagarta com pêlos. Abandonou a prata. Não me arrependo. A miúda ainda nem tem a dentição completa e alarmam-me os engasgos. Tem a vida toda para açucarar os dias.
A mim às vezes apetece-me um chocolate, mas os cafés de aldeia só têm kitkat. Gosto de chocolate preto, sem amêndoas, nem licores, nem camadas. Chocolate preto simples. E de Casal Garcia. Não me apoquenta a parolice deste gosto e sorrimo-nos com a aplicabilidade do slogan.
Numa tarde de calor, a minha sogra defendia convicta as potencialidades de um copo de vinho ou de um café para enfrentar alguns dos momentos mais estreitos da vidinha. Acenei, convencida, e comprometi-me a espalhar a nova.