story:tell:her

23.7.06

Generation gap

Ia jurar que nos olhou com saudade e uma ponta de inveja. Sentada na sombra, direita, ao lado do jornal que lhe segurava o marido.
Eu bocejava no jardim a manhã que há semanas desejo passar na cama. Àquela hora já eu tinha outras quatro de entertaining e migalhas.
E, no entanto, jurava que lhe senti a saudade.
Nós somos novas e temos filhos pequenos. Andamos mais cansadas que sempre. Limpamos a incontinência, os apetites e as nódoas de todos, servimo-nos sempre no fim. Mas somos novas e temos filhos pequenos, pedacinhos de gente tenra que nos adormece no colo. Os nossos maridos ainda têm dentes e apetite. É verdade que há vezes que lhes amaldiçoamos a gula, mas somos novas e eles também. Reviram-nos os filhos no ar e reviram-nos o ar.
Temos filhos pequenos que correm e se arranham. Que choram lágrimas fáceis, de escorrer e de secar. Querem-nos os beijos e os colos e as atenções. Querem-nos. Todos nos querem agora e isso deve ser uma grande sorte.
A ver se me lembro mais vezes disto.