story:tell:her

22.1.06

Sem título

De manhã fomos à Escolinha. A miúda ainda se distraíu, eu achei aquilo uma merda. Acabei de escrever merda nas piolhices porque não estou muito bem disposta. Continuo semi-muda, ou pior, semi-falante. Ao domingo não se consegue um médico sem ser no hospital e eu não fui semi-tossir para lá. Fomos antes à Escolinha. Cantavam pessimamente. Eu já acho a maior parte das letras de uma mediocridade significativa, mas o espectáculo nem sequer as canta. É uma cena assim pseudopedagógica. O guarda-roupa é feio e o cenário não merece descrição. E pensar que foi ali que vi o Carteiro. A única atracção foi a Bárbara e o Dinis, de calções tiroleses. Ainda me deixou mais desconchavada, a Bárbara. Bonita, arranjada. Ontem levei as unhas a arranjar, mas não resultei mais animada. As mãos já estão todas bicadas da vidinha e os pés vieram descorados. Tenho uma micose na unha grande. Não sei como é que ela a viu, mas parece que estão lá milhares de fungos e não se devem pintar unhas colonizadas. Eu esforço-me para licorar dez unhas que ninguém vê e receitam-me Canesten em spray. Aposto que a Bárbara não tem fungos nas unhas dos pés. A culpa deve ser minha, como sempre, que em boa verdade não tomo banhos decentes há dois anos.
Ontem fizémos um ano na casa ex-nova. A vida agora é tão intensa que parece que sempre cá vivemos. Já consigo arrumar o carro na garagem.
A miúda está, numa palavra, insuportável. Não sei o que lhe deu. Passou dois dias nos avós numa beatitude que me esmaga. Comeu e dormiu, sempre adorável. Já decidi que não volto a queixar-me à frente deles. É impossível acreditarem-me.
Hoje acordou às 7h15 e passou a hora seguinte em cima de mim, a cotovelar-me. Desde aí dormiu 45 minutos em trânsito e há bocado deixei-a esganiçada na cama, sem apelos. No jardim chamou-me má. Outra vez culpa minha que a insultei de manhã, quando pela segunda vez se tentou descadeirar no carro, sem razão que não uma vontade volátil de me contrariar. Se calhar devia ter-lhe vestido mais saias e não desprezar o ovo estrelado e as golas bordadas. Devia pintar mais vezes as unhas e pentear o cabelo. Assim, sou uma mãe e ainda por cima desgrenhada. A minha filha espoja-se no chão dos teatros e nem se desprega porque não está pregueada e já trazia nódoas de iogurte na manga. Palavra que estas coisas às vezes esmagam-me. E se ao menos eles não cantassem tão mal. Uma das raparigas parecia a Uma. Ontem vimo-la noutra desilusão. Quando o gremlin acordar vamos votar e já faltará menos para segunda-feira.