story:tell:her

8.9.05

Escol(h)as

Hoje fugi mais cedo e cheguei lá em plena sesta. Vi-a pela nesga da porta, acordada, calma, a brincar com as pernas e a fraldinha. Vi-a pela primeira vez sem lágrimas e senti subirem-me as minhas. Velei os corredores mais meia-hora. A Lúcia arranjava os livros estragados. Espiolhei as sanitinhas. É tudo muito usado, repintado, mas tem um tecto alto e janelas grandes. Foi a escolha que me pareceu melhor. Também não acredito que as mobílias novas lhe ensopassem melhor as lágrimas. A minha escola primária era muito pobre, fria, gasta e eu gostava muito dela. Não sei. Será que preferia um cenário IKEA? Tenho que tratar da fotografia para o cabide. Será que há escolas com oleados intactos e paredes desarranhadas, com desenhos que não enacaracolem nas pontas e louça gira? Cá em casa a louça é gira e ela não quer comer a sopa. Não troco uma sopa na barriga por uma sopa no prato. Giro.
Convenço-me que é melhor assim, lágrimas lineares, expectáveis, sem filtro. É como os galos e é melhor que saiam para fora do que traumatizem lá dentro. É como nas cartas, aceitam-se as copas e pronto. Amanhã já faz uma semana, a primeira das próximas centenas. Já lhe escolhi a roupa, vai de laranja e verde.