story:tell:her

18.9.05

Wedress



Sim, casaram-se e sim, eu usei uns sapatos não redondos. A Mariana estava tão xira e tão arisca a estranhos como de costume. Adorou os seus sapatos (redondos, assim também eu) e o vestido que baloiçava e amortecia as sentadelas no chão. Petiscou, como eu, que refeições fartas não se comem com sapatos novos. Claro que havia imensa comida, como há sempre nos casamentos. Aliás, é sempre disso que se fala e se recorda cá no rectângulo. Isso e o vestido da noiva. Eu gostei muito de ser noiva e de ter um vestido. Lembro-me de balançar a saia. Lembro-me de ter usado os pratos de sobremesa da Mrs Feeney como molde para os recortes do véu, que fiz no quarto ao lado do do maluco, que tinha o tecto inclinado (o quarto e talvez também o maluco) e onde me arrisquei várias vezes a perder a cabeça que levaria o véu. O tule foi comprado numa John Lewis, essa grande instituição britânica, e a fita para os lacinhos num saldo de indianos. Era um véu curto e eu gostava dele. Contrariei o protocolo e comi com a cabeleira branca com lacinhos que me fazia sentir princesa. As miúdas gostam de ser princesas.