Há muitos anos, havia um anúncio que perguntava: até que idade pensas divertir-te?
Ocorre-me várias vezes, esta pergunta. A mim e decerto a outros como eu, assim trintões. Porque somos da geração do anúncio e porque a pergunta é legítima, justificada, recorrente.
Esta coisa da idade também só interessa a quem a tem.
É muito estranho apercebermo-nos dela, da idade. Acontece-me cada vez mais vezes, mas (ainda) não me incomoda. Chega mesmo a ser confortável, libertadora. Por agora não há nada que eu não possa fazer por não ter idade ou ter idade a mais. Tanto combino riscas com bolas como uso verniz vermelho. Tanto mando como acato. Venho todos os dias para a escola.
O que me aborrece mesmo é fazer o jantar.
27.5.07
26.5.07
bahi_ana
Sei nem como começar.
E agora parece que já tá tudo esfriando, fugindo da pele. Vai ver deu sorte que as fitinhas são de nylon e não rasgam nunca.
É um calor que cheira. Uma terra suada, de janela aberta.
Pobre, tão pobre que a gente habitua-se ao defeito de tudo. E quase tudo vem com algum defeito; as igrejas quase tão ricas como as originais, as praias quase tão bonitas como nos folhetos, as palmeiras quase tão altas como nos postais.
Rica, tão rica que a gente habitua-se ao feitio de tudo. O sol, a brisa, a água do mar, a fruta, o desnível da expectativa. A graça.
Viajar sozinha tem vantagens. Perdi muitas horas de escuro aquartelada no hotel (sozinha, aconselho não, vai de manhã...) mas ganhei todas as que vivi na chinela. Quase não entrei em nada, mas estive dentro de tudo. Da rua, do ônibus, do cais, do mercado, da areia. Recebi tantos sorrisos quantos dei. Acendi vela, amarrei fitinha, baixei preço ou nem por isso. Há anos que não me tinha assim, só para mim, para a minha vontade ou preguiça, leve de horário e escolha, capitã de areia.
18.5.07
out of office - autoreply
Tou nem aí, tou nem aí
Pode ficar com seu mundinho eu não tou nem aí
Tou nem aí, tou nem aí
Não vem falar dos seus problemas que eu não vou ouvir
Pode ficar com seu mundinho eu não tou nem aí
Tou nem aí, tou nem aí
Não vem falar dos seus problemas que eu não vou ouvir
16.5.07
Continuo à procura de um projecto. Continuo maravilhada com as arquitecturas simples e as cores neutras.
Inspiro. Oriento-me. Ahhhh.
Tudo o mais são pardais.
Inspiro. Oriento-me. Ahhhh.
Tudo o mais são pardais.
13.5.07
fatalidades
Esta semana abracei o meu folder de amanuense na magnitude da escadaria, à espera que o meu chefe inaugurasse os urros e máscaras várias que consegui espreitar na nobreza do salão. Quando se abriram as portas, libertaram-se personagens que não encontro há que anos. Uma mistura urbana de jovens ponta acima ponta abaixo, anormalizados, levemente soberbos e imagino que militantes. Já no outro dia os tinha reconhecido num telejornal, manifestados numa alameda da cidade.
Apesar do comentário bondoso da secretária do meu chefe, que me empurrou para os ir lá ver "que hoje até está tão gira e parece artista", senti-me irremediavelmente excluída. Abraçada a formulários que aprendi a preencher, a regulamentos que discuto com entusiasmo, percebi-me longe, longe daquilo que lá me levou, imersa no lado negro da força.
O transtorno foi tal que desabafei a falta da arte com o chefe que chegava, de olhos brilhantes. E ali discorri, abraçada ao folder, sobre as dores do crescimento, lamentando a (des)graça das gravatas com quem reúno os dias. Claro que o meu chefe, um ex-conservado de gravata, percebeu tudo o que lhe disse. Partilhámos a nostalgia por um bocadinho e depois enfrentámos animadamente a agenda.
Apesar do comentário bondoso da secretária do meu chefe, que me empurrou para os ir lá ver "que hoje até está tão gira e parece artista", senti-me irremediavelmente excluída. Abraçada a formulários que aprendi a preencher, a regulamentos que discuto com entusiasmo, percebi-me longe, longe daquilo que lá me levou, imersa no lado negro da força.
O transtorno foi tal que desabafei a falta da arte com o chefe que chegava, de olhos brilhantes. E ali discorri, abraçada ao folder, sobre as dores do crescimento, lamentando a (des)graça das gravatas com quem reúno os dias. Claro que o meu chefe, um ex-conservado de gravata, percebeu tudo o que lhe disse. Partilhámos a nostalgia por um bocadinho e depois enfrentámos animadamente a agenda.
O rectângulo está pronto. Continuo maravilhada com a simplicidade da coisa.
Há versões várias de capas/casacos/ombreiras. Ando tentada com esta.
A versão minimal do meu rectângulo estava aqui. Basicamente, é um rectângulo de 100x75 cm, com duas barras exteriores de ~12,5 cm de canelado 2x2 e uma barra central de 50 cm de qualquer coisa que apeteça (como por exemplo um canelado 6x2).
Agora procuro um projecto aéreo que me distraia até lá.
Isso e um cozy.
11.5.07
9.5.07
Há qualquer coisa de literalmente memorável nas letras que decoramos na adolescência. Deve ser uma mistura de cérebro limpo (pré-universidade e pré-maternidade) e tempo investido que faz com que ainda hoje cante de cor o que já não ouço há anos. Aposto que nunca mais vai acontecer.
No fim de semana, muitas mães e muitos filhos pequenos comeram bolo de morango decorado com smarties nos parabéns da amiga. Sobre aquilo de uma pessoa ficar atrofiada depois dos miúdos, eu tentava confortar(me) (n)uma recém-chegada dizendo que, eventualmente, melhorava bastante. Chamaram-me à realidade as mães múltiplas, apontando-me a singularidade da prole e as consequências da iteração do processo. Todas estas mães acumulam vários graus académicos conseguidos em vidas anteriores e unanimemente reconhecidos como quasinutéis. Sabem dizer coisas difíceis como farmacogenómica. Estas mães agora lêem revistas, que é mais rápido. Eu, à minha conta, consigo proezas nunca imaginadas, como perder o bilhete de identidade (ninguém perde, sem história, o bilhete de identidade), obliterar da memória acções praticadas e devidamente registadas, como mudar a morada no bilhete de identidade, chegando inclusivé a comprar novos impressos e sorrir debilmente para a funcionária perante um monitor acusador. E agora por acaso não me lembro se tinha outro talão para levantar o passaporte ou nem por isso...
Mas a prova final da degenerescência é que a gente não segue um CSI. A queixa inicial nem foi minha, mas podia ser. Eu pergunto coisas a meio. Eu, irritantemente, pergunto, vocalizo, confundo as coisas. Eu não era assim. Ele não se casou comigo assim. Hoje dá a 24 e o melhor era eu dormir uma sestinha.
No fim de semana, muitas mães e muitos filhos pequenos comeram bolo de morango decorado com smarties nos parabéns da amiga. Sobre aquilo de uma pessoa ficar atrofiada depois dos miúdos, eu tentava confortar(me) (n)uma recém-chegada dizendo que, eventualmente, melhorava bastante. Chamaram-me à realidade as mães múltiplas, apontando-me a singularidade da prole e as consequências da iteração do processo. Todas estas mães acumulam vários graus académicos conseguidos em vidas anteriores e unanimemente reconhecidos como quasinutéis. Sabem dizer coisas difíceis como farmacogenómica. Estas mães agora lêem revistas, que é mais rápido. Eu, à minha conta, consigo proezas nunca imaginadas, como perder o bilhete de identidade (ninguém perde, sem história, o bilhete de identidade), obliterar da memória acções praticadas e devidamente registadas, como mudar a morada no bilhete de identidade, chegando inclusivé a comprar novos impressos e sorrir debilmente para a funcionária perante um monitor acusador. E agora por acaso não me lembro se tinha outro talão para levantar o passaporte ou nem por isso...
Mas a prova final da degenerescência é que a gente não segue um CSI. A queixa inicial nem foi minha, mas podia ser. Eu pergunto coisas a meio. Eu, irritantemente, pergunto, vocalizo, confundo as coisas. Eu não era assim. Ele não se casou comigo assim. Hoje dá a 24 e o melhor era eu dormir uma sestinha.
3.5.07
ò mãezinha mais ou menos
O Aderson é físico, nordestino de Natal. Trabalhava dois buildings à frente nunca soube em quê, que era o ano do mundial e isso é que animava a malta. Ficará para sempre ligado à minha tese porque nos fotografámos a imprimi-la, num canto da casa velha, quando ainda não havia barra na parede do quarto pequeno. O Aderson tinha uma frase fantástica: ò vidinha mais ou menos! Dizia aquilo devagar, abrindo um sorriso cor de chocolate. Lembro-me disto vezes sem conta. É um equivalente do "not bad" ou do "vai-se andando", mas mais optimista.
No geral, acho que sou uma mamã not bad e que a miúda tem uma vidinha mais ou menos. Que é como quem diz que não somos perfeitos, mas não nos angustiamos demasiado com isso. Ou seja,
> tem uma Barbie que custou 4 euros, morena, com um vestido de verão giríssimo, e nunca lhe ligou nenhuma
> já deve ter comido uns três McNuggets e ainda pensa que o M (todos os M) é de Mariana; eu gosto mais dos brinquedos que ela
> este ano mascarou-se de Noddy (falava da máscara com tal certeza que não me atrevi a não cooperar) e eu morri de vergonha as primeiras horas e depois percebi que ela já estava farta do guizo
> não tem um único par de sapatos não esfolado e esta regra aplica-se a quaisquer sapatos uma hora depois de calçados
> tem várias pontas acima e pontas abaixo; no cabelo, na roupa; nós não temos genes arranjadinhos
> tens uns 10 DVD que já viu 100 vezes; temos Panda
> ainda não sabe ler que ainda não me deu para lhe ensinar
> nomeia a personagem da SIC e eu faço de conta que não percebo; sempre que desfiz na criatura só serviu para a tornar mais importante
> não é muito simpática com estranhos e só agora é que começo a fazer um esforço para lhe incutir regras de socialização que envolvam simpatias de chacha; nunca lhe pedi que desse beijinhos a ninguém senão aos avós
> fala um bocado alto e tenho esperança que seja só da idade; eu sou um bocado surda, mas não falo alto (acho eu)
> não usa vestidos; desde o fim do verão passado que não consigo enfiar-lhe senão calças; buáaaaaaa
> tem mau acordar e dá muitos pontapés
> o chocolate continua a ser uma coisa maravilhosa; regrada, mas maravilhosa
> não come salada, nem espinafres, nem nada disso que não esteja na sopa ou ardilosamente disfarçado
> agora voltou a comer fruta depois de meses de subornos e trocas directas (com chocolate, por exemplo)
É muito mais do que menos.
No geral, acho que sou uma mamã not bad e que a miúda tem uma vidinha mais ou menos. Que é como quem diz que não somos perfeitos, mas não nos angustiamos demasiado com isso. Ou seja,
> tem uma Barbie que custou 4 euros, morena, com um vestido de verão giríssimo, e nunca lhe ligou nenhuma
> já deve ter comido uns três McNuggets e ainda pensa que o M (todos os M) é de Mariana; eu gosto mais dos brinquedos que ela
> este ano mascarou-se de Noddy (falava da máscara com tal certeza que não me atrevi a não cooperar) e eu morri de vergonha as primeiras horas e depois percebi que ela já estava farta do guizo
> não tem um único par de sapatos não esfolado e esta regra aplica-se a quaisquer sapatos uma hora depois de calçados
> tem várias pontas acima e pontas abaixo; no cabelo, na roupa; nós não temos genes arranjadinhos
> tens uns 10 DVD que já viu 100 vezes; temos Panda
> ainda não sabe ler que ainda não me deu para lhe ensinar
> nomeia a personagem da SIC e eu faço de conta que não percebo; sempre que desfiz na criatura só serviu para a tornar mais importante
> não é muito simpática com estranhos e só agora é que começo a fazer um esforço para lhe incutir regras de socialização que envolvam simpatias de chacha; nunca lhe pedi que desse beijinhos a ninguém senão aos avós
> fala um bocado alto e tenho esperança que seja só da idade; eu sou um bocado surda, mas não falo alto (acho eu)
> não usa vestidos; desde o fim do verão passado que não consigo enfiar-lhe senão calças; buáaaaaaa
> tem mau acordar e dá muitos pontapés
> o chocolate continua a ser uma coisa maravilhosa; regrada, mas maravilhosa
> não come salada, nem espinafres, nem nada disso que não esteja na sopa ou ardilosamente disfarçado
> agora voltou a comer fruta depois de meses de subornos e trocas directas (com chocolate, por exemplo)
É muito mais do que menos.
29.4.07
desabafo
A menina voltou. Quase a engolia. Claro que já me doem as costas e já bufava por vê-la deitada. Puxou-me por todos os lados menos pelo istmo. Deu-me um pontapé no umbigo (sem querer) e fez umas quantas malcriadices. Igual, portanto. Que alívio.
Eu continuo fartinha de ser um cliché. Estou em todas as capas de revista, em artigos mais ou menos suportados por "especialistas" que nos resolvem a culpa com caminhadas, meditações, compras etc. Sou uma trintona mãe e profissional e sofro de culpa. Devia fundar umas culpadas anónimas. Assim podíamos culpar-nos por mais essa tarefa associativa. Parece que acho que "o mundo gira à sua volta, que é imprescindível em casa e no trabalho". Sou mesmo parva.
Eu continuo fartinha de ser um cliché. Estou em todas as capas de revista, em artigos mais ou menos suportados por "especialistas" que nos resolvem a culpa com caminhadas, meditações, compras etc. Sou uma trintona mãe e profissional e sofro de culpa. Devia fundar umas culpadas anónimas. Assim podíamos culpar-nos por mais essa tarefa associativa. Parece que acho que "o mundo gira à sua volta, que é imprescindível em casa e no trabalho". Sou mesmo parva.
28.4.07
abafo
A minha menina não está cá. Está contente, bem dormida, alimentada e mimada com os avós. Levaram-na, pois, e eu deixei. Tenho trabalho, tenho sempre trabalho, mas não foi por isso. Tenho três pro ces sos, qualquer um deles me ocuparia a tempo inteiro. Sonho com os regulamentos misturados e acordo suada com prazos que vencem em cima uns dos outros. Não tenho tempo para ler de facto a documentação toda e não respondo logo aos emails. Eu sou do tipo que responde logo aos emails. E por isso deixei levarem-me a menina. Por isso e porque tive que ir no expresso e dormir no hotel antigo da praça. E porque eles também gostam de estar com ela e assim é tudo muito mais saudável e tal.
Estou é doridinha sem ela. Acho tudo um desperdício. Posso lá fazer salmão para o jantar, se ela gosta tanto de salmão. Nem devia era fazer o jantar. E muitas vezes não faço e parece como dantes, quanto chegava ao restaurante e me sentava e comia e pronto. Mas não parece nada como era antes. Nunca vai parecer. Imagino-a lá e onde a sentava e no que afastava da mesa e vistorio os perigos e as saídas. Escolho uma comida que possa partilhar com ela e procuro mentalmente os brinquedos que tenho na mala. Que parvoíce.
Gosto é das manhãs, isso gosto. Hoje levantei-me às nove. Há meses que não me levantava às nove.
E agora andamos aqui os dois, a sentir que devíamos estar a divertir-nos muito ou a trabalhar muito ou qualquer coisa que justifique a falta dela. Mas eu detesto trabalhar ao sábado. Já estive a coleccionar legislação e hoje na FNAC folhe-ei (é desagradável desfolhar os livros que não são nossos) manuais de contabilidade. Até tive um bocadinho de vergonha. Em vez duma coolness qualquer procurei avidamente nos índices "contabilidade analítica". Não há grande coisa. Decidi imprimir o POC-Ed e talvez parte do código do IVA.
Ontem ao telefone perguntou-me se ainda estava no autocarro. Os miúdos têm um tempo fora de fase. Imagina-me ainda no autocarro, a minha Pipinha (não sou Pipinha sou a Mariana M!). Os meus diminutivos começam todos por P. Quando tiver 15 anos e me fizer má cara ameaço chamar-lhe Patanisca à frente dos colegas.
Nós também gostamos de estar com ela. Eu mordi o lábio e deixei. Bugger.
Estou é doridinha sem ela. Acho tudo um desperdício. Posso lá fazer salmão para o jantar, se ela gosta tanto de salmão. Nem devia era fazer o jantar. E muitas vezes não faço e parece como dantes, quanto chegava ao restaurante e me sentava e comia e pronto. Mas não parece nada como era antes. Nunca vai parecer. Imagino-a lá e onde a sentava e no que afastava da mesa e vistorio os perigos e as saídas. Escolho uma comida que possa partilhar com ela e procuro mentalmente os brinquedos que tenho na mala. Que parvoíce.
Gosto é das manhãs, isso gosto. Hoje levantei-me às nove. Há meses que não me levantava às nove.
E agora andamos aqui os dois, a sentir que devíamos estar a divertir-nos muito ou a trabalhar muito ou qualquer coisa que justifique a falta dela. Mas eu detesto trabalhar ao sábado. Já estive a coleccionar legislação e hoje na FNAC folhe-ei (é desagradável desfolhar os livros que não são nossos) manuais de contabilidade. Até tive um bocadinho de vergonha. Em vez duma coolness qualquer procurei avidamente nos índices "contabilidade analítica". Não há grande coisa. Decidi imprimir o POC-Ed e talvez parte do código do IVA.
Ontem ao telefone perguntou-me se ainda estava no autocarro. Os miúdos têm um tempo fora de fase. Imagina-me ainda no autocarro, a minha Pipinha (não sou Pipinha sou a Mariana M!). Os meus diminutivos começam todos por P. Quando tiver 15 anos e me fizer má cara ameaço chamar-lhe Patanisca à frente dos colegas.
Nós também gostamos de estar com ela. Eu mordi o lábio e deixei. Bugger.
22.4.07
Vou ao Brasil sozinha. Grande gaita. Sozinha queria eu ficar cá, que me sinto a falta, tantas vezes. Agora para viajar oito horas de avião queria ao menos levar um marido, já que não me devem permitir o tricô. Oito horas. Minha Nossa.
Esta semana vou a Viseu e demoro quatro horas, mas ao menos não me proibem as agulhas.
[free patterns que valem a pena]
Esta semana vou a Viseu e demoro quatro horas, mas ao menos não me proibem as agulhas.
[free patterns que valem a pena]
the inconstant gardener
Ontem descobrimos um jardim secreto. Uma ala paralela no jardim de sempre. Quais Alices, percorremos devagar aquele segundo sentido. Ela muito divertida, uma exploradora alegre a fingir mundos de perigos; eu, ligeiramente acabrunhada por não ter seguido antes por ali, por ser assim linear; um jardim-parábola.
Tem lagos secos e bancos de pedra com azulejos. As passagens são mais estreitas. É fantástico. Não estivesse eu tão emburrada comigo e teria inventado ali um reino de piolhices. É verdade que não tem baloiços nem chafariz mas, quando um dia eu perder esta ansiedade do contacto visual em cada segundo, será óptimo para brincadeiras.
Outro dia começámos as mimices. O que é isto?, pergunto-lhe enquanto finjo apanhar e cheirar uma flor. É uma flor. De que cor? É corderosa e tem a perna verde.
Tem lagos secos e bancos de pedra com azulejos. As passagens são mais estreitas. É fantástico. Não estivesse eu tão emburrada comigo e teria inventado ali um reino de piolhices. É verdade que não tem baloiços nem chafariz mas, quando um dia eu perder esta ansiedade do contacto visual em cada segundo, será óptimo para brincadeiras.
Outro dia começámos as mimices. O que é isto?, pergunto-lhe enquanto finjo apanhar e cheirar uma flor. É uma flor. De que cor? É corderosa e tem a perna verde.
17.4.07
piolhices abridged
Tu não tens uma camisola de polar. Eu tenho uma camisola de polar. Olha!
E pula.
Ò mamã, está partido (e aponta para um rasgão fashion nas minhas calças). Porquê?
Aqui são os meus umbiguinhos (e aponta para as maminhas).
Aqui são os meus músculos (e aponta para as veias azuis do pulso).
E pula.
Ò mamã, está partido (e aponta para um rasgão fashion nas minhas calças). Porquê?
Aqui são os meus umbiguinhos (e aponta para as maminhas).
Aqui são os meus músculos (e aponta para as veias azuis do pulso).
16.4.07
dois pares de sapatos levantando o pó
Ouvi na rádio hoje de manhã e este bocadinho não me sai da cabeça.
Ouvi na rádio hoje de manhã e este bocadinho não me sai da cabeça.
15.4.07
turning points
Ando às voltas com um rectângulo que, cosido e revirado, me abraçará. Cada volta tem mais de 100 malhas pelo que progrido pouco e, na verdade, muitas vezes lhe pego e nem sequer volto. O que isto me dana.
Levo-o para todo o lado, dentro de um saquinho que acomodo entre as três carteiras que habitam a minha mala. Sabe-me ter ali uma carreira alternativa.
Acordei do mesmo sonho, aquele com quem durmo aflita e acordo aliviada. Hoje eram umas cadeiras de análise ou coisa que as valha. O pior de tudo é não me compreender no sonho, não perceber porque não estudei e me sujeito ao enxovalho da minha própria expectativa. Parece que é um clássico, isto de sonhar falhas. Outro dia, várias gerações partilhavam as angústias dos olhos fechados e culpa aberta. Os mais velhos recordam inevitavelmente o liceu; comigo é mais à frente. Uma canseira.
Mesmo irritante é acordar disto às 7h10 e, obviamente, não voltar a adormecer. A menina dormiu fora e eu acordo às 7h10 com chumbos de econometria. Parola. Sou uma parola. Há meses que me queixo de ser sempre acordada, de não deixar o corpo decidir o ritmo, de sopetar do edredão e aterrar no armário, na ombreira, na agenda. Bugger.
Aproveitei e comecei a esfregar-me com o loofah. Tenho-o desde a Escócia, mas só o descubro na altura das intervenções estivais. Também comecei a esculpir. Sente-se um frio e não fica peganhento. Já é bom sinal. Sempre me sinto menos ridícula.
Tenho a laica ao pé da porta. Já lá vou. Ainda devem estar a dormir.
Mesmo irritante é acordar disto às 7h10 e, obviamente, não voltar a adormecer. A menina dormiu fora e eu acordo às 7h10 com chumbos de econometria. Parola. Sou uma parola. Há meses que me queixo de ser sempre acordada, de não deixar o corpo decidir o ritmo, de sopetar do edredão e aterrar no armário, na ombreira, na agenda. Bugger.
Aproveitei e comecei a esfregar-me com o loofah. Tenho-o desde a Escócia, mas só o descubro na altura das intervenções estivais. Também comecei a esculpir. Sente-se um frio e não fica peganhento. Já é bom sinal. Sempre me sinto menos ridícula.
Tenho a laica ao pé da porta. Já lá vou. Ainda devem estar a dormir.
9.4.07
Kamel
Desci a folga na avenida, espreitando as montras caras e por vezes despropositadas. Há muitos anos fiz montras, com o meu pai. Até ganhámos concursos. Desenhei a antiga estação do comboio numa manga de plástico e semeámos quintais em tabuleiros. Doutra vez vieram tabuleiros de Tomar. Mas normalmente só se lá punham os sapatos e as bandoletes. Usavam-se as bandoletes. Às vezes também trazia as caixas e sorria. Outras vezes estudava ao fundo. O meu pai também me levava aos hóteis para ver os ímpares da estação. As colecções são sempre ímpares, 36. Nunca experimentava porque sempre fui desengonçada e um bocadinho mal vestida.
Mas sei reconhecer uns bons sapatos e tenho imensa opinião sobre malas. Basta-me um relance para reconhecer a graça de um gosto. Aposto que seria uma óptima personal shoper. Mas assim sendo comecei a manhã a discutir regulamentações financeiras e depois ensolarei-me na avenida onde as finanças são claramente desregulamentadas.
E tudo para chegar aos escaparates da Tema e rejubilar com a recompensa. Fiquei tão excitada que até conversei com o empregado, a ver se o meu entusiasmo lhe regulariza as encomendas. Não há nada como comprar revistas nas bancas, ele há lá assinatura que se lhes compare.
Contentinha, desfolhei-a na Nacional enquanto equilibrava a galinha na sandes. Um pão sem côdea é um desafio ergonómico. Fui comer um sonho e mantive a rota articulada da Baixa. Gosto tanto da Baixa.
Espreitava os algodões quando a vi, um novelo desajustado, pardo, uma mistura fina como só uma loja de rua podia conter. Merino e Baby Camel. Uma promessa de calor e gosto. Irrestringibile. Que eu não sei o que quer dizer e provavelmente não é irresistível.
6.4.07
5.4.07
Bobos sem corte
Li numa revista que os bobos tricotam. E que têm sempre à mão uma T-shirt, ou melhor, um marcel, desbotadinho. E que são bio. E esquerdalhos. Urbanos, mas com gosto pela landscape. Que habitam centros históricos e gostam da Carla Bruni. Hum.
Mas, ... ...
Ten ways to tell you're a Bobo - Do you:
Believe that shelling out £10,050 on a home media centre is vulgar, but that spending it on a slate shower stall is a sign you are at one with the Zen-like rhythms of nature?
Temos wireless em casa e nunca experimentei o modo massagem do duche
Work for a company as cool, hip and enterprising as you?
Bem, ya.
GO ON adventure seeking vacations to the remotest parts of the world to X-treme ski, mountain climb or whitewater raft, or do you simply settle for a ride in the sport utility vehicle to the nearest haute-design shops and local purveyors of Third World treasures?
Não se esquia no Caramulo; queríamos trocar a carrinha Golf por uma Touran, sempre em segunda mão; não sei se a Diesel qualifica; já me passou a onda étnica há uns anos, mas ainda me foge um pé de vez em quando
Dress 'geek chic' or hippy chick - and don't forget the titanium Omnitech athletic gear?
As reuniões lixaram-me um bocado um look
Have a newly renovated kitchen which looks like an aircraft hangar with plumbing - even after the feng shui?
A cozinha é preta, branca e verde lima; temos cupões de desconto do minipreço
Give to Tibet, but not always to the local homeless?
Nunca comprei o Big Issue, mas já coleccionei a Cais, que eu nunca confundi a home
Feel cheated and betrayed if a big supermarket sign that normally says 'Organic Items Today: 130' today counts only 60?
Quê?
Earn upwards of £67,000 but were never in it for the money?
Pronto, já chumbei. Podiam ter posto esta logo no princípio.
Buy Third World to save the Third World?
‘Tou a ver…
Mas, ... ...
Ten ways to tell you're a Bobo - Do you:
Believe that shelling out £10,050 on a home media centre is vulgar, but that spending it on a slate shower stall is a sign you are at one with the Zen-like rhythms of nature?
Temos wireless em casa e nunca experimentei o modo massagem do duche
Work for a company as cool, hip and enterprising as you?
Bem, ya.
GO ON adventure seeking vacations to the remotest parts of the world to X-treme ski, mountain climb or whitewater raft, or do you simply settle for a ride in the sport utility vehicle to the nearest haute-design shops and local purveyors of Third World treasures?
Não se esquia no Caramulo; queríamos trocar a carrinha Golf por uma Touran, sempre em segunda mão; não sei se a Diesel qualifica; já me passou a onda étnica há uns anos, mas ainda me foge um pé de vez em quando
Dress 'geek chic' or hippy chick - and don't forget the titanium Omnitech athletic gear?
As reuniões lixaram-me um bocado um look
Have a newly renovated kitchen which looks like an aircraft hangar with plumbing - even after the feng shui?
A cozinha é preta, branca e verde lima; temos cupões de desconto do minipreço
Give to Tibet, but not always to the local homeless?
Nunca comprei o Big Issue, mas já coleccionei a Cais, que eu nunca confundi a home
Feel cheated and betrayed if a big supermarket sign that normally says 'Organic Items Today: 130' today counts only 60?
Quê?
Earn upwards of £67,000 but were never in it for the money?
Pronto, já chumbei. Podiam ter posto esta logo no princípio.
Buy Third World to save the Third World?
‘Tou a ver…
1.4.07
De algum modo, o jardim faz parte de nós. Como os parentes da infância, que recordamos em casas que já não existem. Nós no jardim, como também já não somos. Os nossos filhos no jardim. As obras novas e as obras velhas. Ela a chamar árvore do Tarzan à Ficus e a tropeçar-lhe nas raízes. As raízes.
29.3.07
Ele hoje dorme fora e eu vou tirar os pelos das pernas. Com calma, vou besuntar-me de espuma e curvar a lâmina sem piedade. Desde os tempos das Escócia que abandonei a cera. Porque eram demasiadas libras, porque me puxavam os derrames e porque não mudei de namorado. Substitui a relação com os pelos pela relação com o homem. Saímos todos a ganhar. Também uso pijamas de flanela.
No outro dia fiz uma máscara. Besuntei a cara com uma pasta esverdeada e sentei-me na beira da banheira, a sentir aquilo a arrepanhar-me a expressão. Já não fazia há tanto tempo que já me tinha esquecido daquele puxão purificador, que eu cá gosto que os tratamentos se sintam. Pensei que depois ia tirar os pontos negros do nariz com aquelas fitas mágicas que também secam na cana. Tenho um prazer mórbido quando observo os pequenos anões de gordura, geometricamente espaçados, arrancados sem piedade e exibidos de pernas para o ar. Uma vez convenci-o a fazer aquilo e o mariquinhas gritou que doía muito. Os homens são uns fracos. O que dói é depilar as virilhas e arranjar as sobrancelhas.
Nesse dia já passava das nove; a criança alimentada, lavada e supostamente dormida. Mamã, mamã. Já não sei qual era a urgência, mas recordo a expressão parada, levemente enojada e temerosa quando me debruço. Vai lavar a cara. Encolhida, afastou-me num esgar de recusa.
Nesse dia já passava das nove; a criança alimentada, lavada e supostamente dormida. Mamã, mamã. Já não sei qual era a urgência, mas recordo a expressão parada, levemente enojada e temerosa quando me debruço. Vai lavar a cara. Encolhida, afastou-me num esgar de recusa.
26.3.07
Eu até já tinha reparado, mas hoje, hoje tive a certeza: a miúda tem os meus dentes. O meu pai confirmou que também já tinha percebido. Ora bolas, isto não é nada bom.
Há coisas que até acho graça. Habituei-me a que me expliquem que "ela é igual a ti!". Mas detesto ver-lhe os meus defeitos, um legado misto de snappishness, nariz e, agora, dentes. Agora já não, mas durante muitos anos tive o phantom limb do aparelho. Ora bolas.
Há coisas que até acho graça. Habituei-me a que me expliquem que "ela é igual a ti!". Mas detesto ver-lhe os meus defeitos, um legado misto de snappishness, nariz e, agora, dentes. Agora já não, mas durante muitos anos tive o phantom limb do aparelho. Ora bolas.
23.3.07
A talentosa Mrs. Ripple
Mais dia, mais dia também hei-de fazer uma manta de croché. Acho que acabo sempre por preferir os quadrados às ondas, mesmo quando são perfeitamente descombinadas.
Menos dia, menos dia, e enquanto não me liberto das teclas, sempre aproveito a luz fresca da casa nova.
Menos dia, menos dia, e enquanto não me liberto das teclas, sempre aproveito a luz fresca da casa nova.
Right hand
Já não coxeio, agora só retraio ocasionalmente a postura. Um amigo ontem disse-me que o arrasto dava um certo charme. Como a rouquidão. Ora isto é a miséria total, uma pessoa a cavalgar socialmente as mazelas.
Tenho uma mão cheia de urgências e mais uma dúzia de coisas importantes para fazer. Esta semana disse ao meu chefe que precisava de ajuda, o que me custou que eu não gosto de trabalhos de grupo. Ele riu-se e disse que era bom sinal. Eu afastei a franja e levantei as sobrancelhas com um ar entusiasta. Upa. Isto agora resulta muito melhor depois da Eliete me trabalhar o arco.
Entretanto torci o pé e pendurei a correria até acabar o relatório que devo às autoridades há quase cinco meses. Custa-me tanto que chego a fantasiar uma manobra menos dextra.
Tenho uma mão cheia de urgências e mais uma dúzia de coisas importantes para fazer. Esta semana disse ao meu chefe que precisava de ajuda, o que me custou que eu não gosto de trabalhos de grupo. Ele riu-se e disse que era bom sinal. Eu afastei a franja e levantei as sobrancelhas com um ar entusiasta. Upa. Isto agora resulta muito melhor depois da Eliete me trabalhar o arco.
Entretanto torci o pé e pendurei a correria até acabar o relatório que devo às autoridades há quase cinco meses. Custa-me tanto que chego a fantasiar uma manobra menos dextra.
22.3.07
Left foot
Estou constipada, alérgica e torci um pé. Não me está a correr bem a semana. Há dois dias, chego tarde e gasto mais de meia hora no indiano que nos outros dias é sempre rápido. Esbaforo para a casa e tinham-se esquecido do nan. Não se faz, pá.
Hoje ao fim da tarde fiquei rouca e agora carrego uma fronha de ranho que amanhã de manhã será amarelo.
Como hoje de manhã, quando me começou a doer o pé. O pé que já está quase bom, mas agora dói-me a perna do esforço de coxa. Caí ontem com a miúda ao colo e fiquei de joelhos nas pedras da calçada.
Sou tão coitadinha.
Hoje ao fim da tarde fiquei rouca e agora carrego uma fronha de ranho que amanhã de manhã será amarelo.
Como hoje de manhã, quando me começou a doer o pé. O pé que já está quase bom, mas agora dói-me a perna do esforço de coxa. Caí ontem com a miúda ao colo e fiquei de joelhos nas pedras da calçada.
Sou tão coitadinha.
18.3.07
after colin
A Britlândia tem um fotógrafo famoso, daqueles que regista postais e livros de mesa de café. O grande mérito do Colin é estar lá sempre nos dias solarengos, registando uma terra de quase-nunca, com uma luz brilhante e uma paleta forte que o enevoado de quase-sempre não deixa vislumbrar aos desprevenidos. O Colin mostrou-me o que nunca vi e o meu obrigada regista-se nestes pequenos momentos de vidinha encenada.
17.3.07
wish knits
Se, em vez da semana empilhada que me espera, eu tivesse uma poltrona e uma bay window, seria assim:
top dress undress whatever
16.3.07
Li no jornal que o Starbucks perdeu a alma e parece que já nem cheira a café.
Hum.
Para mim o Starbucks lembra-me Brighton e consolo. Era de um quentinho macio, com sofás de veludo castanhos e lilás, onde eu afundava os arrepios que trazia do Inverno e da quase-solidão. A mug de capuccino nunca me desiludiu e aprendi a gostar de muffins de morango e chocolate branco. Nas visitas a Londres era também a garantia de um chichi seguro.
Tão bem me sabia aquilo que nem conseguia embirrar com o look corporate. Nunca fui em combinações esquizofrénicas de chocolates, mokas e afins, mas havia sempre canela para temperar a espuma.
Claro que o melhor de todos os cafés era o Metropole, no cimo da Minto Road, nos tempos das terras altas. Era não fumador, tinha jornais, jogos, fatias de bolo e hot drinks servidas em chávenas coloridas e desirmanadas. Ficava à beira de casa e era a nossa versão do sair à noite. Era tão caro para as nossas bolsas de escudos que muitas vezes trocávamos tudo pelo nescafé e os jam donuts do supermercado.
Apercebo-me que isto já foi há dez anos e, estupefacta, abandono aqui a memória dos factos.
Hum.
Para mim o Starbucks lembra-me Brighton e consolo. Era de um quentinho macio, com sofás de veludo castanhos e lilás, onde eu afundava os arrepios que trazia do Inverno e da quase-solidão. A mug de capuccino nunca me desiludiu e aprendi a gostar de muffins de morango e chocolate branco. Nas visitas a Londres era também a garantia de um chichi seguro.
Tão bem me sabia aquilo que nem conseguia embirrar com o look corporate. Nunca fui em combinações esquizofrénicas de chocolates, mokas e afins, mas havia sempre canela para temperar a espuma.
Claro que o melhor de todos os cafés era o Metropole, no cimo da Minto Road, nos tempos das terras altas. Era não fumador, tinha jornais, jogos, fatias de bolo e hot drinks servidas em chávenas coloridas e desirmanadas. Ficava à beira de casa e era a nossa versão do sair à noite. Era tão caro para as nossas bolsas de escudos que muitas vezes trocávamos tudo pelo nescafé e os jam donuts do supermercado.
Apercebo-me que isto já foi há dez anos e, estupefacta, abandono aqui a memória dos factos.
14.3.07
baby fly
A miúda está espigada. Assim crescida e alongada. Sinto-a a medrar, todos os dias. Como perdeu a pançota pode ser que se salvem as calças do ano passado. Tem uns pés lindos, esguios. Já não tem rechonchices de bebé. Já não é um bebé, mas às vezes finge-se de bebé, gatinha e diz que não sabe falar. Mas a minha menina diz coisas fantásticas e desafia-me todos os dias. Retém o que lhe digo, mesmo quando não parece. E muitas vezes não parece. É teimosa e forte. Quando não espero, repete-me o ralhete que lhe dei a ela. Fiscaliza-me as opções e as regras. Ando aqui direitinha e coerente. Peço desculpa.
Mas mesmo giro foi virmos hoje a descer as escadas e ela reparar: "Mamã, tens uns sapatos* novos; são tão giros; quando eu for grande também vou ter uns sapatos desses". Eu rejubilei e ele suspirou.
*mas amarelos.
Mas mesmo giro foi virmos hoje a descer as escadas e ela reparar: "Mamã, tens uns sapatos* novos; são tão giros; quando eu for grande também vou ter uns sapatos desses". Eu rejubilei e ele suspirou.
*mas amarelos.
10.3.07
8.3.07
Querida Internet,
Assim de novidades só que a minha filha está a perder a barriguinha de bebé. Escorregam-lhe as calças e foi assim que me apercebi.
Tambem lhe cortei o cabelo e agora tenho uma filha escadeada.
De resto, o meu homem fez 40 anos.
Afadigo-me, não tricoto e preciso de uns sapatos.
Sempre tua,
Ana
(e agora acompanhava uma fotografia enevoada, de ladecos, com a assinatura do fotógrafo em diagonal e em que, pela primeira vez na vida, eu apareceria penteada; mas não vai acontecer, como muitas outras coisas)
Assim de novidades só que a minha filha está a perder a barriguinha de bebé. Escorregam-lhe as calças e foi assim que me apercebi.
Tambem lhe cortei o cabelo e agora tenho uma filha escadeada.
De resto, o meu homem fez 40 anos.
Afadigo-me, não tricoto e preciso de uns sapatos.
Sempre tua,
Ana
(e agora acompanhava uma fotografia enevoada, de ladecos, com a assinatura do fotógrafo em diagonal e em que, pela primeira vez na vida, eu apareceria penteada; mas não vai acontecer, como muitas outras coisas)
25.2.07
hooked
O tamanho da minha ausência de quase tudo o que é extracurricular chegou pelo correio.
Encomendei-os há muitas semanas e enganei-me a digitar o cartão, o que os atrasou outras semanas. Agora vivem em cima da mesa da sala e palavra que ainda não os abri.
Quando não estou a trabalhar, exercito a articulação mental a pensar no que hei-de vestir no dia seguinte. E mais nada. Cá em casa come-se o que calha, para gáudio da criança. A própria criança foi vendida este fim-de-semana.
Um grande amigo, parceiro de tensões e relatórios, que de tão atrasados até parece que já não existem, disse-me no outro dia: tenho tanto que fazer que penso "olha, vou ao cinema". Isto não é o mundo ao contrário, é a vidinha da malta que tem dores de cabeça.
Como é óbvio que nos próximos meses não vou ter tempo para mais nada, decidi hoje, depois de mais um highlighting ("olha, vou ao cabeleireiro"), que vou passar a usar saltos, utilizando os momentos em que tentarei não cair como pausas no trabalho.
14.2.07
must
O cenário. A personagem ciranda pelos stands com um caderninho cheio de post its.
Encena um sorriso afável e dirige-se para o polaco alto e magrinho que já a tinha aturado no dia anterior com remakes de perguntas perguntadas oficialmente, e supostamente respondidas.
A personagem teme que o rapaz não a possa nem ver e começa logo a desculpar-se pela insistência but you see, for us this is really important and since there are no financial guidelines yet (a crítica, no meio sorriso) I am back to bug you about it. And I actually looked for your colleagues, but since there is noone else around I must haunt you again. Sorriso.
O rapaz polaco, alto e magrinho, com aquela corzinha de leste e um sorrisito que quase não chega a ser, responde:
Ok, that's fine. But before you ask the questions I must tell you that today you look great.
[I must tell you that today you look great]
A personagem, estupefacta e mesmo um bocadinho estúpida, semi-sorri, agradece e insiste nos average personnel costs. Só por sorte não lhe afagou o cocoruto, como se faz aos putos.
E porque é que estando eu nesta correria e aflição, cheiinha de trabalho e ainda sem financial guidelines, me ocupo a descrever esta história?
1. porque significa que há esperança de todas nós, mamãs estafadas, recebermos um elogio de um estranho;
2. porque hoje é dia de corações e eu tenho por sorte um há tantos anos, tão bom e há tantos anos, que TODOS OS DIAS me diz coisas destas e eu nunca escrevi um post sobre o assunto, o que é desmerecido e ingrato;
Assim sendo, minha riqueza, obrigada por todos os elogios e isso e gosto mais de ti do que de pão com manteiga.
Já agora, se alguém me souber informar se a cedência de pessoal intra administração pública e entre esta e as IPsFL é tributável de IVA ou não, agradecemos, e poupar-se-á a um coração polaco, alto e magrinho, mais uma canseira.
Encena um sorriso afável e dirige-se para o polaco alto e magrinho que já a tinha aturado no dia anterior com remakes de perguntas perguntadas oficialmente, e supostamente respondidas.
A personagem teme que o rapaz não a possa nem ver e começa logo a desculpar-se pela insistência but you see, for us this is really important and since there are no financial guidelines yet (a crítica, no meio sorriso) I am back to bug you about it. And I actually looked for your colleagues, but since there is noone else around I must haunt you again. Sorriso.
O rapaz polaco, alto e magrinho, com aquela corzinha de leste e um sorrisito que quase não chega a ser, responde:
Ok, that's fine. But before you ask the questions I must tell you that today you look great.
[I must tell you that today you look great]
A personagem, estupefacta e mesmo um bocadinho estúpida, semi-sorri, agradece e insiste nos average personnel costs. Só por sorte não lhe afagou o cocoruto, como se faz aos putos.
E porque é que estando eu nesta correria e aflição, cheiinha de trabalho e ainda sem financial guidelines, me ocupo a descrever esta história?
1. porque significa que há esperança de todas nós, mamãs estafadas, recebermos um elogio de um estranho;
2. porque hoje é dia de corações e eu tenho por sorte um há tantos anos, tão bom e há tantos anos, que TODOS OS DIAS me diz coisas destas e eu nunca escrevi um post sobre o assunto, o que é desmerecido e ingrato;
Assim sendo, minha riqueza, obrigada por todos os elogios e isso e gosto mais de ti do que de pão com manteiga.
Já agora, se alguém me souber informar se a cedência de pessoal intra administração pública e entre esta e as IPsFL é tributável de IVA ou não, agradecemos, e poupar-se-á a um coração polaco, alto e magrinho, mais uma canseira.
13.2.07
...
5.2.07
like a virgin
A última vez que peguei na tesoura foi na véspera do exame de Fotossíntese, há uma dúzia de anos. Cortei curta e não contei com o que ainda encolhe. Emoldurei-me assim, com canudos compridos e uma franja rasteira, e discorri sobre pigmentos.
Ontem, atulhada de pendentes, ansiosa e um bocadinho disparatada, fui arranjar as unhas. Não contente, pedi as sobrancelhas. As sobrancelhas, aqueles pêlos inofensivos que temos por cima dos olhos. Estou maravilhada até agora, não me canso de ensaiar expressões novas e, tivesse eu tempo para me ver ao espelho, não saía da casa de banho. Não contente com a audácia, despejei um tubo de reflexos acobreados no cocuruto, de luvas, na casa de banho onde me mirava, enquanto eles foram ao jardim das pinhas. Há que anos que não domesticava tais avarias. O cabelo está absolutamente na mesma, mas palavra que o meu espanto tem outro arqueio. Já só me falta emalar a vidinha e voar.
Ontem, atulhada de pendentes, ansiosa e um bocadinho disparatada, fui arranjar as unhas. Não contente, pedi as sobrancelhas. As sobrancelhas, aqueles pêlos inofensivos que temos por cima dos olhos. Estou maravilhada até agora, não me canso de ensaiar expressões novas e, tivesse eu tempo para me ver ao espelho, não saía da casa de banho. Não contente com a audácia, despejei um tubo de reflexos acobreados no cocuruto, de luvas, na casa de banho onde me mirava, enquanto eles foram ao jardim das pinhas. Há que anos que não domesticava tais avarias. O cabelo está absolutamente na mesma, mas palavra que o meu espanto tem outro arqueio. Já só me falta emalar a vidinha e voar.
2.2.07
Five ways outside my heart
Para a semana vou estar cinco dias fora. Preocupa-me o eurofrio, mas reconforto-me com a ausência de cinco levantares, cinco banhos, cinco jantares, cinco corridas iguais, seguidas, atrasadas. Vou tomar cinco banhos descansada, vestir cinco roupas na ordem normal das coisas. Eu passo a primeira manhã numa figura deplorável, com meias e roupa interior, às vezes uma t-shirt ou camisola, mas sempre sem a camada exterior enquanto não acabo de vestir e lavar o gremlin. Agora que me visto à senhora, não posso arruinar tanto esforço com acrobacias estridentes, pasta de dentes, xixi, ranhos ou corn flakes. Vou pentear-me ao mesmo tempo que olho para o espelho e, quem sabe, hesitar ou chegar a trocar de roupa.
Claro que vou perder cinco relatos mirabolantes, em que a personagem é perseguida por outras criaturas com menos de um metro, escorrega imaginariamente no recreio, fica irremediavelmente cheia de dói-dóis e chega mesma a ser mordida por um crocodilo. Cinco beijos lambuzados de iogurte, num tresando delicioso a morango, cheio de crocante. Cinco abraços de quadrados azuis e brancos, perdidos de botões. Cinco cantigas esganiçadas e quem sabe cinco palmas.
Vou passar cinco dias a ser crescida, a falar com outros crescidos sobre coisas adultas e levemente incompreensíveis. Não levo fatos porque os casacos não cabem debaixo do meu lindo sobretudo e assim como assim toda a gente anda de fato. Vou pintar os olhos e esticar o cabelo, mas aposto que ninguém me vai dizer que sou a mais linda, nem oferecer-me as flores do passeio.
Vou comer mais do que cinco chocolates e estará a chover o tempo todo.
Claro que vou perder cinco relatos mirabolantes, em que a personagem é perseguida por outras criaturas com menos de um metro, escorrega imaginariamente no recreio, fica irremediavelmente cheia de dói-dóis e chega mesma a ser mordida por um crocodilo. Cinco beijos lambuzados de iogurte, num tresando delicioso a morango, cheio de crocante. Cinco abraços de quadrados azuis e brancos, perdidos de botões. Cinco cantigas esganiçadas e quem sabe cinco palmas.
Vou passar cinco dias a ser crescida, a falar com outros crescidos sobre coisas adultas e levemente incompreensíveis. Não levo fatos porque os casacos não cabem debaixo do meu lindo sobretudo e assim como assim toda a gente anda de fato. Vou pintar os olhos e esticar o cabelo, mas aposto que ninguém me vai dizer que sou a mais linda, nem oferecer-me as flores do passeio.
Vou comer mais do que cinco chocolates e estará a chover o tempo todo.
1.2.07
six different ways inside my heart
Ninguém me encomendou, mas apetece-me replicar o meme:
1. falo de mim na terceira pessoa, o que tende a baralhar interlocutores desavisados; mas a Ana já fez mais isso que agora
2. não gosto de doces verdadeiramente doces, tal como a maioria das combinações de ovos e açúcar da doçaria conventual; prefiro um bolo de arroz; conheço quem ache isto esquisito
3. mexo imenso os dedos dos pés a dormir; chego a acordar com cãibras
4. não gosto de cortar o pão com faca, gosto de tirar bocados tortos à mão
5. não gosto de dormir com portas de armários ou gavetas entreabertas
6. gosto de abacate, beringela, pickles e alheiras; detesto borrego, pescadinhas de rabo na boca e cabidelas; perco as maneiras por doces de requeijão.
1. falo de mim na terceira pessoa, o que tende a baralhar interlocutores desavisados; mas a Ana já fez mais isso que agora
2. não gosto de doces verdadeiramente doces, tal como a maioria das combinações de ovos e açúcar da doçaria conventual; prefiro um bolo de arroz; conheço quem ache isto esquisito
3. mexo imenso os dedos dos pés a dormir; chego a acordar com cãibras
4. não gosto de cortar o pão com faca, gosto de tirar bocados tortos à mão
5. não gosto de dormir com portas de armários ou gavetas entreabertas
6. gosto de abacate, beringela, pickles e alheiras; detesto borrego, pescadinhas de rabo na boca e cabidelas; perco as maneiras por doces de requeijão.
27.1.07
für Ana
Há uns dias recebi um repto marital: Olha que tu vê lá; se me chegas a casa a querer pendurar pratos na parede! Esgacei-me, ofendida. Que disparate, afinal só disse que gostava daqueles copos de vidro trabalhados, como a Casa dos Bicos. Por favor.
Mas inquieta-me isto da idade e da degenerescência dos gostos.
Desde ontem que me apetecem pêlos. Golas de pêlos, casacos de pêlos. No outro dia atrasei o passo para, por segundos, considerar uma pequena manta de leopardo. Pareceu-me tão macia, adulta e reconfortante.
Hoje de manhã, num momento quase efemérico, fomos os três às compras. Trouxemos o filme dos carros, um blazer quase-amachucado para o pai, a blusa que eu namorava há semanas: levemente apertada, levemente despropositada nas suas ramagens tijolo sobre fundo azul escuro, e maravilhosa.
Numa atitude infortunadamente descabida, consultei-o sobre uns pêlos regurgitados das caves onde guardam os saldos que nunca vimos na estação. Fez a cara do costume, avaliando-me a veracidade da opção e ela resolve: ò mamã pareces um memé.
Acordo
Andava há meses à procura do fio certo para o meu primeiro grande protocolo.
Cheguei a considerar o Noro silk garden. Apelava-me a coriência de padrão e lã e augurava-o suave. Não consegui escolher uma cor e temi um investimento estripado de perigo. É que eu não gosto de riscas.
Este fio é normal, uma mistura de fibras com bom toque e da espessura certa (que até fiz uma amostra para ver a gauge).
A ver quanto tempo ficará em estufa.
26.1.07
mãos frias
Até já tinha começado o mikado das 5 agulhas, mas atrapalhei-me com o polegar. Não tivesse a espécie evoluido tanto e seria mais fácil fazer umas mittens.
Enquanto não volto à chinesice, criei o meu primeiro padrão original:
MittAnas
> montar 28* malhas e tricotar um cós de 2x2;
(é melhor usar para o cós agulhas mais finas; escolher a altura que se quiser de cós)
> tricotar o padrão que apetecer até ter um rectângulo com a altura pretendida, para deixar alguns dedinhos de fora; eu aqui fiz 10cm de torcidos e 5cm de arroz, mas não interessa nada que a mescla não deixa perceber; > coser a lateral até à base do polegar, deixar uma abertura para o dedo e coser até cima;
> com uma agulha de crochet, fazer uma (ou duas) carreira de pauzinhos em volta do buraco, para aquecer o polegar.
*eu queria 28 por causa dos torcidos, mas pode ser outro número, de acordo com a lã utilizada; tem é que dar a volta à mão.
25.1.07
sim
Tenho 34 anos e uma filha. Já estive grávida três vezes.
Da primeira vez tive muitas dores e a natureza escorreu-me a esperança. O meu embrião perdeu o coração e eu comprei, com receita e indicação médica, dorida e cheia de vergonha, medicamentos ostracizados - é possível que não lhe queiram vender isto, vá tentando e não diga para o que é - comprimidos que tratam úlceras mas, ilegalmente, também ajudam a limpar o túmulo. A alternativa legal é a espera ou a curetagem e eu tentei evitar a cicatriz. Tenho uma amiga enfermeira que me contou histórias de quase morte por causa dos comprimidos, vendidos por aí à tablete, com instruções que a aflição não cumpre. Chegam cá esvaídas, às vezes só recuperam com transfusões.
Da segunda vez, com a tristeza confirmada na carteira, na ecografia vazia, esperei pelo jorro que não vinha e tive medo dos comprimidos. Disso e do aviso da médica para que guardasse a prova, o retrato do meu filho ausente, para poder provar no hospital que não tinha feito um aborto, para não correr o risco de ser destratada por já não ter aquilo que mais queria.
Preferi a anestesia e acordei no mesmo sítio onde a minha filha me foi dada, um ano e meio depois. Apertaram-me a mão, fizeram-me festas no rosto. Terei para sempre lágrimas guardadas desse dia.
Aceito que haja pessoas que, chamadas na sua individualidade, votam não. Mas quero uma sociedade que, plural e solidária, descriminalize.
Da primeira vez tive muitas dores e a natureza escorreu-me a esperança. O meu embrião perdeu o coração e eu comprei, com receita e indicação médica, dorida e cheia de vergonha, medicamentos ostracizados - é possível que não lhe queiram vender isto, vá tentando e não diga para o que é - comprimidos que tratam úlceras mas, ilegalmente, também ajudam a limpar o túmulo. A alternativa legal é a espera ou a curetagem e eu tentei evitar a cicatriz. Tenho uma amiga enfermeira que me contou histórias de quase morte por causa dos comprimidos, vendidos por aí à tablete, com instruções que a aflição não cumpre. Chegam cá esvaídas, às vezes só recuperam com transfusões.
Da segunda vez, com a tristeza confirmada na carteira, na ecografia vazia, esperei pelo jorro que não vinha e tive medo dos comprimidos. Disso e do aviso da médica para que guardasse a prova, o retrato do meu filho ausente, para poder provar no hospital que não tinha feito um aborto, para não correr o risco de ser destratada por já não ter aquilo que mais queria.
Preferi a anestesia e acordei no mesmo sítio onde a minha filha me foi dada, um ano e meio depois. Apertaram-me a mão, fizeram-me festas no rosto. Terei para sempre lágrimas guardadas desse dia.
Aceito que haja pessoas que, chamadas na sua individualidade, votam não. Mas quero uma sociedade que, plural e solidária, descriminalize.
21.1.07
résistance
Ser crescida é desmanchar sem lágrimas um padrão resistente .
Fiquei eu acordade até à uma da manhã (uma da manhã!) para isto. Vá lá, pelo menos levou-me a dor de cabeça da véspera.
20.1.07
máximo divisor comum
Estes dias são exauridos por causa do vento. Cato em todas as direcções para aproveitar as redes e as marés. Carrego uma lista de objectivos sorridente e bem disposta. Marco alvos sem pudor e giro prioridades com alguns remorsos. É verdade que já não me divirto tanto nos cantos, porque não me encosto. Os conhecimentos são gulosos e volantes, como os buffets. Será que um dia, definitivamente ímpar, deixarei mesmo de comer sentada?
mínimo múltiplo comum
O que eu mais gramava de ser cientista era o discurso orgulhoso do sector primário: Sim, porque eu não sou um middle man, eu cá produzo um bem, o conhecimento. Sabia-me bem esta conversa diopritazada e levemente militante. Agora bolas, fico-me só com o serviço público, já que do conhecimento passei definitivamente para os conhecimentos.
Ontem sentei o dia numa sala apinhada. Na minha cadeirinha estofada, que uma pessoa no público aprende a sobreviver em eventos organizados, ouvi atentamente a mesa e as cadeiras. Na mesa estavam outros como eu, mais velhos e bem sucedidos é certo, mas terciários como eu, quasi-ímpares. Nas cadeiras estavam os pares, primários, produtores. Hoje ainda me dói um bocado a cabeça, mesmo depois da caipirinha no restaurante do adro.
Ontem sentei o dia numa sala apinhada. Na minha cadeirinha estofada, que uma pessoa no público aprende a sobreviver em eventos organizados, ouvi atentamente a mesa e as cadeiras. Na mesa estavam outros como eu, mais velhos e bem sucedidos é certo, mas terciários como eu, quasi-ímpares. Nas cadeiras estavam os pares, primários, produtores. Hoje ainda me dói um bocado a cabeça, mesmo depois da caipirinha no restaurante do adro.
18.1.07
colibrinco
No domingo fiz uns brincos. Na loja, amparada por uma amiga e pela novidade, juntei pedrinhas de cores e metais num tabuleirinho branco. O design foi vertical, um spin-off estético da mosca.
No final fiquei ligeiramente eufórica.
Como em todas estas coisas de mãos, a minha parte preferida é a preparação. Pensar e repensar, escolher as cores, as coisas. Agora, para além de lãs, também colecciono peças de bijutaria.
15.1.07
Expiação
As aves canoras têm cantos extraordinários que resultam de uma mistura de padrões inatos, característico da espécie, e da aprendizagem com as aves mais velhas.
Não faltará pois quem me refira os genes, expressos com vivacidade na progenia, mas a verdade é que eu falo cada vez menos.
O meu marido é socialmente quasi-mudo. Avesso à small talk, fica-lhe pouco para partilhar nos pequenos desencontros da vidinha. Nos últimos tempos queixa-se que, mesmo quando tenta, ninguém o ouve. Mas ele vai fazer 40 daqui a dois meses.
Eu, que agora tricoto no carro, já não faço maratonas de 300 quilómetros. Fico-me cá comigo e poupo-lhe as psicanálises que costumava desfiar na autoestrada.
Não faltará pois quem me refira os genes, expressos com vivacidade na progenia, mas a verdade é que eu falo cada vez menos.
O meu marido é socialmente quasi-mudo. Avesso à small talk, fica-lhe pouco para partilhar nos pequenos desencontros da vidinha. Nos últimos tempos queixa-se que, mesmo quando tenta, ninguém o ouve. Mas ele vai fazer 40 daqui a dois meses.
Eu, que agora tricoto no carro, já não faço maratonas de 300 quilómetros. Fico-me cá comigo e poupo-lhe as psicanálises que costumava desfiar na autoestrada.
Explicação
Ò mamã, eu tenho que estar sempre a falar porque depois, se eu não falo, eu fico doente!
Mariana, 14 Janeiro 2007
Mariana, 14 Janeiro 2007
13.1.07
yarn eye
É um clássico da microscopia, rivalizando apenas com o testículo que havia na Politécnica, preparado há anos para o varrimento.
Neckfly
Goldfly
12.1.07
Best
10.1.07
Branca de Neve Atchim e o Anão Feliz
Quando cheguei à escola na segunda-feira mal abria os olhos de ranho, mas cumprimentou-me alegremente com um "Olá mamã, estou doente!".
Ando a comprar-lhe colheradas de xarope com maltesers. Compro-lhe quase tudo com maltesers, um dia destes tenho que actualizar a divisa. Anda contentinha e nunca se queixa. Já vimos os micróbitos no livro do corpo humano. Come bem e abre os olhos para ver mais desenhos animados do que em qualquer outra altura sob a minha jurisdição. Ainda agora, oiço ali a voz ridícula do Mickey. Não tenho forças para desenhos, plasticinas, playmobil et al. Dói-me tudo, menos o istmo. Os micróbitos colinizaram-me, pois claro. Agora que já a negociei para o resto da semana com os avós vou ter que voltar a trabalhar pesada de mim própria. Não há condições. Não vejo a necessidade do Mickey ter uma voz tão ridícula.
Ando a comprar-lhe colheradas de xarope com maltesers. Compro-lhe quase tudo com maltesers, um dia destes tenho que actualizar a divisa. Anda contentinha e nunca se queixa. Já vimos os micróbitos no livro do corpo humano. Come bem e abre os olhos para ver mais desenhos animados do que em qualquer outra altura sob a minha jurisdição. Ainda agora, oiço ali a voz ridícula do Mickey. Não tenho forças para desenhos, plasticinas, playmobil et al. Dói-me tudo, menos o istmo. Os micróbitos colinizaram-me, pois claro. Agora que já a negociei para o resto da semana com os avós vou ter que voltar a trabalhar pesada de mim própria. Não há condições. Não vejo a necessidade do Mickey ter uma voz tão ridícula.
9.1.07
Branca de Neve e o Anão Atchim
Em Braga há um restaurante fantástico, atrás de um balcão.
É para quem sabe, encavado numa loja de centro comercial. O Senhor Silva, atrás do balcão em U, como o dos snack-bar dos anos setenta, serve-nos colheradas num ritmo esperto. Foi lá que comi uma fatia de tarte de limão que ainda hoje mo lembra.
8.1.07
.
Admito que hoje não estou nada bem disposta. Até já compus as pestanas e, de caminho, desalojei os ganchos. O edifício tem um segurança novo. A minha secretária tem compromissos velhos.
Graças ao calendário acabaram-se as festas.
Começa o ano, mas eu não começo nada. Tenho é tudo para acabar.
Graças ao calendário acabaram-se as festas.
Começa o ano, mas eu não começo nada. Tenho é tudo para acabar.
...
Tirei-lhe as meias e começou a chorar. Tirei-lhe as meias na brincadeira, debaixo dos meus lençóis de flanela. É verdade que era o meu tiro de partida na prova matinal, mas tentei ser lúdica. Senti-lhe tanto as lágrimas desacordadas que me detive a passar-lhe levemente a mão nas bochechas. Afagava-lhe o acordar quando, de repente, TRÁS. Uma estalada que me borrou o rimel. Emudeci até agora.
7.1.07
Gray's Anatomy
Lilás
Ana Maria Açucena. Ana Maria Clara. Ana Maria Laura.
Agora que ando neste jardinanço tudo me apetece lilás e verde. Beringela e musgo. Beterraba e esmeralda. Das promoções trouxe um casaquinho com cor de amiga e uma malha não promocionada, antes promovida. Deviam proibir estes enganos a pessoas gulosas.
Violeta
É sabido que gosto de rosas amarelas, mas a verdade é que prefiro violetas. Gosto das roxas, escuras, macias e das brancas. Conceptualmente, adoro camélias. As camélias nem são bem flores, são jóias da natureza. Como as magnólias. As camélias são flores para pintar e bordar.
Renovo 2007 com lilás e verde. Lilás é uma cor perfeita e uma palavra favorita. Lilás, lilac, lilly. Seria lindo ter uma filha Lilly. Ou Violet. Violet é muitas vezes um nome do meio. Acho graça aos nomes do meio. Gostava de ter um nome do meio. Ana Maria Violeta.
5.1.07
A escol(h)a
Inquieto-me outra vez com o assunto. Com os filhos nunca mais se descansa, se espera. A espera acabou com o parto, agora é sempre em frente, sempre a bombar. A escola, a escola. Gosto tanto da escola. Lá em casa ainda vivemos na escola e é um assunto importante. As minhas escolas foram públicas, circunstanciais, uma jurisdição geográfica. Quando tive que escolher, escolhi a escola e não o curso. Isso, aconteceu por exemplo.
Ainda hoje tenho apego pelas minhas escolas velhas, pobres, problemáticas, suburbanas. Não posso fingir-me fora delas. À minha escola de crescida retorno um bocadinho todos os dias; profissionalmente é uma das minhas; afectivamente é como a família, dá-me as maiores alegrias e as maiores irritações.
A Mariana gosta da escola. É uma casa grande, cor-de-rosa. Uma escola antiga, nomal, perto de casa. Não é religiosa nem pratica pedagogias sofisticadas. Fazem pinturas e cantam muitas cantigas. Tem um jardim. As minhas escolas nunca tiveram um jardim e eu passei a infância a multiplicar-me em personagens, para habitar o meu quarto. Aprendi a ler com seis anos. Lembro-me perfeitamente de aprender o P.
Mas, como diz o tio do Homem-Aranha, with great power comes great responsability.
Ainda hoje tenho apego pelas minhas escolas velhas, pobres, problemáticas, suburbanas. Não posso fingir-me fora delas. À minha escola de crescida retorno um bocadinho todos os dias; profissionalmente é uma das minhas; afectivamente é como a família, dá-me as maiores alegrias e as maiores irritações.
A Mariana gosta da escola. É uma casa grande, cor-de-rosa. Uma escola antiga, nomal, perto de casa. Não é religiosa nem pratica pedagogias sofisticadas. Fazem pinturas e cantam muitas cantigas. Tem um jardim. As minhas escolas nunca tiveram um jardim e eu passei a infância a multiplicar-me em personagens, para habitar o meu quarto. Aprendi a ler com seis anos. Lembro-me perfeitamente de aprender o P.
Mas, como diz o tio do Homem-Aranha, with great power comes great responsability.
4.1.07
yarn-by-sea
Shoreham é uma vila pequenina, com uma high street de meia dúzia de lojas, uma igreja antiga, um restaurante italiano e uma ponte para o mar. Fica ao lado de Brighton e fui lá umas três vezes, conversar com o Ken.
O Ken tem um escritório quentinho, ao lado do dentista. A alcatifa é verde água e o Mac é branco e futurista. O Ken sabe muitas coisas sobre a EU. Almoçámos no italiano e conversámos sobre as coisas do costume e sobre as outras. Ele viveu décadas em ritmo acelerado e agora tinha decidido fazer a coisa por menos. Trabalha sozinho e só aceita as comissões que lhe agradam; ele agrada muito à Comissão. Retive-lhe a calma, a empatia e histórias giras de bastidores. Aprendi que há slogans maiores que resultam de acasos menores, que são as pessoas que têm as i&deias e não o contrário.
Soubesse eu então o que encontrei hoje e tinha-me abastecido em terra.
O Ken tem um escritório quentinho, ao lado do dentista. A alcatifa é verde água e o Mac é branco e futurista. O Ken sabe muitas coisas sobre a EU. Almoçámos no italiano e conversámos sobre as coisas do costume e sobre as outras. Ele viveu décadas em ritmo acelerado e agora tinha decidido fazer a coisa por menos. Trabalha sozinho e só aceita as comissões que lhe agradam; ele agrada muito à Comissão. Retive-lhe a calma, a empatia e histórias giras de bastidores. Aprendi que há slogans maiores que resultam de acasos menores, que são as pessoas que têm as i&deias e não o contrário.
Soubesse eu então o que encontrei hoje e tinha-me abastecido em terra.
2.1.07
my guide to making me a better self

Para além de uns óculos escuros pretos, jackie-like, preciso de mais tempo e mais paciência. Tenho uma vida muito boa, mas está um bocado encavalitada em horários e obrigações e isso. Se é para pedir ao ano novo alguma coisa, eu cá gostava da 15% rule.
sete
Seis e meio

Flori as pernas e jersey a miúda com cores primárias e fortes. Estreámos o ano assim coloridas, indiscretas. A passagem da véspera foi ressonada com ben-u-ron, que os miúdos são mesmo assim e a noite tinha aquecido mais que a conta. À meia-noite faltaram-me nos braços os quilos que me pesaram no coração. Engoli as bolhinhas e comi mais uma fatia de cheesecake.
30.12.06
27.12.06
25.12.06
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