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13.5.07

fatalidades

Esta semana abracei o meu folder de amanuense na magnitude da escadaria, à espera que o meu chefe inaugurasse os urros e máscaras várias que consegui espreitar na nobreza do salão. Quando se abriram as portas, libertaram-se personagens que não encontro há que anos. Uma mistura urbana de jovens ponta acima ponta abaixo, anormalizados, levemente soberbos e imagino que militantes. Já no outro dia os tinha reconhecido num telejornal, manifestados numa alameda da cidade.
Apesar do comentário bondoso da secretária do meu chefe, que me empurrou para os ir lá ver "que hoje até está tão gira e parece artista", senti-me irremediavelmente excluída. Abraçada a formulários que aprendi a preencher, a regulamentos que discuto com entusiasmo, percebi-me longe, longe daquilo que lá me levou, imersa no lado negro da força.
O transtorno foi tal que desabafei a falta da arte com o chefe que chegava, de olhos brilhantes. E ali discorri, abraçada ao folder, sobre as dores do crescimento, lamentando a (des)graça das gravatas com quem reúno os dias. Claro que o meu chefe, um ex-conservado de gravata, percebeu tudo o que lhe disse. Partilhámos a nostalgia por um bocadinho e depois enfrentámos animadamente a agenda.