story:tell:her

2.2.07

Five ways outside my heart

Para a semana vou estar cinco dias fora. Preocupa-me o eurofrio, mas reconforto-me com a ausência de cinco levantares, cinco banhos, cinco jantares, cinco corridas iguais, seguidas, atrasadas. Vou tomar cinco banhos descansada, vestir cinco roupas na ordem normal das coisas. Eu passo a primeira manhã numa figura deplorável, com meias e roupa interior, às vezes uma t-shirt ou camisola, mas sempre sem a camada exterior enquanto não acabo de vestir e lavar o gremlin. Agora que me visto à senhora, não posso arruinar tanto esforço com acrobacias estridentes, pasta de dentes, xixi, ranhos ou corn flakes. Vou pentear-me ao mesmo tempo que olho para o espelho e, quem sabe, hesitar ou chegar a trocar de roupa.
Claro que vou perder cinco relatos mirabolantes, em que a personagem é perseguida por outras criaturas com menos de um metro, escorrega imaginariamente no recreio, fica irremediavelmente cheia de dói-dóis e chega mesma a ser mordida por um crocodilo. Cinco beijos lambuzados de iogurte, num tresando delicioso a morango, cheio de crocante. Cinco abraços de quadrados azuis e brancos, perdidos de botões. Cinco cantigas esganiçadas e quem sabe cinco palmas.
Vou passar cinco dias a ser crescida, a falar com outros crescidos sobre coisas adultas e levemente incompreensíveis. Não levo fatos porque os casacos não cabem debaixo do meu lindo sobretudo e assim como assim toda a gente anda de fato. Vou pintar os olhos e esticar o cabelo, mas aposto que ninguém me vai dizer que sou a mais linda, nem oferecer-me as flores do passeio.
Vou comer mais do que cinco chocolates e estará a chover o tempo todo.