story:tell:her

28.4.07

abafo

A minha menina não está cá. Está contente, bem dormida, alimentada e mimada com os avós. Levaram-na, pois, e eu deixei. Tenho trabalho, tenho sempre trabalho, mas não foi por isso. Tenho três pro ces sos, qualquer um deles me ocuparia a tempo inteiro. Sonho com os regulamentos misturados e acordo suada com prazos que vencem em cima uns dos outros. Não tenho tempo para ler de facto a documentação toda e não respondo logo aos emails. Eu sou do tipo que responde logo aos emails. E por isso deixei levarem-me a menina. Por isso e porque tive que ir no expresso e dormir no hotel antigo da praça. E porque eles também gostam de estar com ela e assim é tudo muito mais saudável e tal.
Estou é doridinha sem ela. Acho tudo um desperdício. Posso lá fazer salmão para o jantar, se ela gosta tanto de salmão. Nem devia era fazer o jantar. E muitas vezes não faço e parece como dantes, quanto chegava ao restaurante e me sentava e comia e pronto. Mas não parece nada como era antes. Nunca vai parecer. Imagino-a lá e onde a sentava e no que afastava da mesa e vistorio os perigos e as saídas. Escolho uma comida que possa partilhar com ela e procuro mentalmente os brinquedos que tenho na mala. Que parvoíce.
Gosto é das manhãs, isso gosto. Hoje levantei-me às nove. Há meses que não me levantava às nove.
E agora andamos aqui os dois, a sentir que devíamos estar a divertir-nos muito ou a trabalhar muito ou qualquer coisa que justifique a falta dela. Mas eu detesto trabalhar ao sábado. Já estive a coleccionar legislação e hoje na FNAC folhe-ei (é desagradável desfolhar os livros que não são nossos) manuais de contabilidade. Até tive um bocadinho de vergonha. Em vez duma coolness qualquer procurei avidamente nos índices "contabilidade analítica". Não há grande coisa. Decidi imprimir o POC-Ed e talvez parte do código do IVA.
Ontem ao telefone perguntou-me se ainda estava no autocarro. Os miúdos têm um tempo fora de fase. Imagina-me ainda no autocarro, a minha Pipinha (não sou Pipinha sou a Mariana M!). Os meus diminutivos começam todos por P. Quando tiver 15 anos e me fizer má cara ameaço chamar-lhe Patanisca à frente dos colegas.
Nós também gostamos de estar com ela. Eu mordi o lábio e deixei. Bugger.