story:tell:her

1.10.07

domesticada

Hoje começa o terceiro ano do meu contrato de trabalho e estou de férias. O meu 22ª dia de férias em 2007.
Ontem, por volta da 1h30, depois de ter confirmado as dúvidas com a enfermeira do Trim-Trim, descansei a espertina pela blogosfera do costume. Segui o link da Jane sobre o livro.
Como estou de férias e a miúda adormeceu o ben-u-ron, discorro.
No outro dia conheci a Vargas num programa da Oprah. Um programa sobre as mulheres mães e trabalhadoras, blá, blá, blá. E eu vi. E lá estava a discussão do costume. Esta senhora é um case study lá na América, onde não há licença de maternidade.
Eu gosto do blog da Jane. Tem fotografias maravilhosas e aquela englishness que eu gosto de acompanhar. Quando vi a capa do livro fiquei ligeiramente desapontada, mas perdoei-lhe. Acho a capa desagradavelmente doce, como os bolos de aniversário das lojas, e só tolero o título se lhe atribuir uma brit-irony. Eu não sou crinoline lady-like, sou mais toalha preta por baixo da porcelana. Dito isto, a Liz não percebeu nada.
Eu também acho que somos umas totós e por acaso não culpo os media, culpo-me a mim, e certamente não culpo a Jane. É verdade que isto pode ser só mais um anel da espiral de culpa. Pelo menos sinto-me diagnosticada, o que já é um avanço. Lentamente, firmo pequenas conquistas. Interiorizei o conceito de fim-de-semana, aceito ajudas, peço ajudas, já não acho que preciso de ler todos os livros e fazer todos os puzzles, não luto com cenouras, ervilhas, saladas e afins, também dou gelados e chupas (em vez de negar sempre para contrabalançar as ofertas de terceiros), deixo passar uma ou outra lavagem de cabelo e compreendo que não se deve interromper um episódio do carteiro Paulo. Evito responder a emails profissionais às dez da noite ou nove da manhã de domingo, mesmo que os veja, porque eu sou uma pessoa com uma vida.
Gosto de tricotar e cozinhar. Não me apanham no gardening (nos nossos três metros quadrados de garden) e a máquina de costura foi um erro de casting. Tenho quase tantos anos de escola como de vida, mas quando (a academia liga muito a isto) me perguntam se sou doutora respondo que sim, mas que disfarço muito bem.
Às vezes tenho saudades da bata e já pensei que seria óptimo poder usar avental. Gosto tanto de aventais. Os meus são tradicionais, com peitilho, mas também aprecio os estilo lounge ou nazarenos. Acarinho a visão de uma mãe de avental. Eu uso avental porque sou uma mãe que faz o jantar, mas não nutro juízos de valor sobre quem nem por isso.
E o jantar é o maior sacrifício da minha vidinha. Já me perguntei várias vezes se vale a pena cozinhar-me, todos os dias e mais as efemérides. Talvez sim. Possivelmente não. E obviamente que ninguém tricota para poupar o que quer que seja, senão sanidade mental. Nem para impressionar ninguém, ou ainda não repararam na deselegância dos resultados? Uma pessoa, esta pessoa, tricota para se distrair, para se desafiar ou para (se) oferecer tempo. Um presente de agulhas é uma oferta de tempo. Muito mais caro que a caxemira.
Hoje estou de férias porque lhe diagnostiquei uma otite. Daqui a bocado vou deixar o doutor decidir sobre o antibiótico.