story:tell:her

3.10.07

amity



No fim-de-semana vinha à minha frente no comboio uma mãe com uma gabardine improvável. Sei que é uma mãe porque a filha vinha ao lado. Fartei-me de rir com elas, disfarçada ou obviamente. O telemóvel não tinha teclado e era preciso agendar o fim do dia entre as partes da família (não nuclear, novos modelos de célula, blá, blá, blá, pais separados).
A gabardine era assim azul/verde/piscina/petróleo. O resto descombinava agradavelmente. Não sei se a pré-adolescente (é assim que se diz agora, não é, nesta fúria evolutiva dos tempos modernos) se apercebeu disso.
Como tantas outras coisas, a minha estética mudou com a maternidade. Ou melhor, ganhou uma nova dimensão. Imagino como a minha filha me vê. Se me repara nos tiques, se me reconhece as manias, se me aprova. Até quando serei maravilhosa? Será que algum dia me transformarei num vexame?
Lembro-me de uns sapatos verdes da minha mãe. Verde escuro. Lembro-me do frasco do eyeliner e do pincel fininho.
E agora dou por mim a imaginar se ela um dia gostará de usar as minhas coisas. Justifico compras especiais também com isso. Tenho uma wish list própria de peças intemporais que também serão dela.
Não sei se é por isto tudo que estou tão enamorada pela comptoir. Porque tem trapinhos maravilhosos, tão trapinhos e tão maravilhosos. Uma paleta discretíssima e uma qualidade macia. Uns bons saldos. Este domingo cumpri lá os meus presentes em falta e imaginei-a pendurada na tapenade tenra que me massaja o ombro.
Confesso que adoraria participar na campanha, eu que não gosto de tirar fotografias. Mamãs, este ano há um casting no Porto, agora em Outubro. Vão lá.