Where else can you see paradise by the dashboard light?
11.5.08
7.5.08
catching-up
Há que anos que ouvia falar dos Tibetanos, mas só lá fui há umas três semanas. As miúdas levaram-me à TomTom onde há koziols dos grandes.
Há dois dias cortei o cabelo. Muito. Torto. Adoro-o. É quase uma não existência. Tão curto que não o sinto, à parte o caracol torto. Senti-me uma escultura e passou a música que ele me deu.
Ontem convidaram-me para uma festa 70's. Mas o que é isto, uma vida própria?
Há dois dias cortei o cabelo. Muito. Torto. Adoro-o. É quase uma não existência. Tão curto que não o sinto, à parte o caracol torto. Senti-me uma escultura e passou a música que ele me deu.
Ontem convidaram-me para uma festa 70's. Mas o que é isto, uma vida própria?
4.5.08
a filha da mãe
> Ò mamã, vamos à Austrália?
Não filha, vamos só ao outro lado do rio ver flamingos. A Austrália fica muito longe, blá, blá, o avião, blá, blá.
> Aqui é a Austrália?
Não querida, é o Seixal (?!).
Não sei de onde lhe chegam as antípodas e tantas outras coisas. A minha filha-pessoa vive, definitivamente, para além de mim. Gosta de cavalos e chocolate. Resiste cada vez mais à sesta. Canta e dança o tempo todo (tipo, TODO!). Gosta de pintar e desenhar e correr. É a campeã da casa no melga-spotting (ali, mamã, ali, ali). Proibi-a de falar comigo enquanto tiro o carro da garagem (vamos bater ali mamã, o carro está todo torto, mamã!). Está sempre pronta para sair de casa. Quando quer dizer muito diz mil e dois.
a mãe da filha
À medida que desabafo a ingratidão filial da pisca, contam-me as histórias mais inverosímeis. Outros, antes de mim, já passaram pelo síndroma dos douradinhos. Havia a garota que "quando for grande quero ser stripper" (filha, sabes o que é uma stripper?), o puto que o que mais apreciava no pai era ele "ver um episódio dos malucos do riso" (que o pai jurava nunca ter acontecido) ou o clássico com o pai é que é tudo tão mais giro.
Eu, claro que não me aguentei, e fui à fonte esclarecer a situação. Com o meu ar mais eu estou a perguntar isto, mas não é nada importante, nem estou nada magoada, nem aflita nem nada perguntei-lhe sobre o exercício. Claro que se lembrava muito bem (agora lembra-se sempre de tudo muito bem) e a pergunta inicial era porque é que eu gosto da mamã. E lá me repetiu tudo, com uma leveza desarmante. Eu gosto da mamã porque às vezes fica zangada, às vezes não (assim, numa dicotomia simples, evidente e confortável) e por aí adiante.
O pai, obviamente, riu-se. Ainda começou a enumerar-me as diárias provas de amor e as manifestas declarações de que não, eu não sou uma megera a causar danos indeléveis na criança, mas eu precisei de enlutar sozinha o meu próprio desapontamento. Na verdade, tudo isto é sobre mim, não é sobre ela. Eu adoro-a e digo-lho todos os dias, baixinho, a seguir à noite feliz, não caias da cama e não partas o nariz.
3.5.08
Não fosse a fortuna do encontro com as miú das e possivelmente tinha passado o dia a ruminar no papel manteiga. Ali, na parede da sala azul, em letras tortas (será para fingir que são eles que escrevem?), a minha filha traduziu-me assim A mãe é zangada, às vezes è boa. Emendou com um Eu sou uma traquinas, mas o coração já se me tinha estilhaçado na blusa. Prossegue com umas idas ao jardim, gelados e, la piéce de resistance, umas massinhas com douradinhos. Termina com umas histórias ao deitar quando eu, descompassada, já lia a correr os outros relatos. A peer pressure, a esperança que, ao menos, lhes tivesse caído mal o almoço e pronto, fosse disso. Mas não. Multiplicavam-se os relatos de beleza e amor, e eu cada vez mais enrugada, mais panada de miséria, quais douradinhos, que caraças a miúda come aquilo cada seis meses.
Confirmei que 1) não sou linda, 2) não gosta muito de mim nem eu dela (as declarações eram muitas vezes mútuas), 3) aquele era mesmo o dela, que tem uma maneira arrevezada de fazer o R do nome.
Já racionalizei tudo, mas cada vez que penso nisto apetece-me chorar outra vez.
croissant, tâmara e açafrão
Ontem, passeando uma folga sem expectativas, entrei na Nacional.
Seguiram-se seis horas (!?) de companhia, tão deliciosa quanto improvável.
A Ana cortou o cabelo (parabéns Ana!), a Ana pintou as unhas, a Ana divertiu-se à brava.
Seguiram-se seis horas (!?) de companhia, tão deliciosa quanto improvável.
A Ana cortou o cabelo (parabéns Ana!), a Ana pintou as unhas, a Ana divertiu-se à brava.
1.5.08
30.4.08
spectacles
Sou uma míope funcional, astigmática à direita.
Tenho receita e tudo.
Claro que, em boa verdade, quase não precisava do quasi-doutor para saber isso. Eu bem sei que não vejo o que não quero, que me têm mantido na visão curta e que isso me prejudica a visão longa, que são muitas horas a fitar o monitor.
Há muitos, muitos anos tive uns óculos redondos e azuis.
Agora, preparada para enfrentar uma modernidade rectangular e exótica, embeicei-me por uns pequeninos e pretinhos. Estarei, como dizer... cota?
Um astigmatismo ligeiro pode desenvolver-se ao longo dos anos, devido à alteração da curvatura da córnea, provocada pelos milhares de pestanejamentos diários.
Bem feita, para não me armar em boneca.
Tenho receita e tudo.
Claro que, em boa verdade, quase não precisava do quasi-doutor para saber isso. Eu bem sei que não vejo o que não quero, que me têm mantido na visão curta e que isso me prejudica a visão longa, que são muitas horas a fitar o monitor.
Há muitos, muitos anos tive uns óculos redondos e azuis.
Agora, preparada para enfrentar uma modernidade rectangular e exótica, embeicei-me por uns pequeninos e pretinhos. Estarei, como dizer... cota?
Um astigmatismo ligeiro pode desenvolver-se ao longo dos anos, devido à alteração da curvatura da córnea, provocada pelos milhares de pestanejamentos diários.
Bem feita, para não me armar em boneca.
play
Assustei-os. Está visto que os assustei. Homens crescidos, de barba, atrapalhados e hesitantes, refugiados em agendas preenchidas, lacónicos. Não me querendo dizer que não, não sabem o que me dizer. Decidi ser compreensiva e moderar as expectativas. É uma arte saber gerir as expectativas. Além do mais, por acaso, a única mulher do masterplan ligou-de ontem. A despropósito, por uma desculpa amanuense, ligou-me ontem e falámos um bocado ao telefone. Almoçamos para a semana.
Eu, daqui, vejo o tetris.
As peças surgem, como por acaso, de muitos lados. Ainda estamos no nível um e há tempo para as fazer rodar, para escolher a melhor arquitectura. Quando começar a aceleração vão empilhar-se ao acaso, na sua circunstância. Uma universidade e a sua circunstância.
Eu, daqui, vejo o tetris.
As peças surgem, como por acaso, de muitos lados. Ainda estamos no nível um e há tempo para as fazer rodar, para escolher a melhor arquitectura. Quando começar a aceleração vão empilhar-se ao acaso, na sua circunstância. Uma universidade e a sua circunstância.
27.4.08
25.4.08
25/04
Enquanto a menina desenformava mais um pato - ou seria um urso? - disse-lhes amavelmente que não. Topeio-os logo, assim desenquadrados, à procura de caras no areal. Eram da TVI e aposto que me iam perguntar o que era para mim a efeméride.
Recusei por pudor e discrição.
Lembro-me das camas de palha da quinta onde os homens da família refugiaram as mulheres e os miúdos pequenos, não fosse haver azar. Lembro-me dos anos seguintes. Lembro-me sempre da descrição do primeiro 1ºMaio e da pena que tenho de não ter visto "aquele dia especial; parecia que as pessoas eram todas amigas". Porque a efeméride foi isso mesmo, um dia de fé, o primeiro dia de tudo o resto.
Recusei por pudor e discrição.
Lembro-me das camas de palha da quinta onde os homens da família refugiaram as mulheres e os miúdos pequenos, não fosse haver azar. Lembro-me dos anos seguintes. Lembro-me sempre da descrição do primeiro 1ºMaio e da pena que tenho de não ter visto "aquele dia especial; parecia que as pessoas eram todas amigas". Porque a efeméride foi isso mesmo, um dia de fé, o primeiro dia de tudo o resto.
23.4.08
'tou nem aí
Tenho a fantasia de fazer um out-of-office-reply no meu email.
Isso e usar este refrão como voice mail no meu telefone do gabinete.
Isso e usar este refrão como voice mail no meu telefone do gabinete.
21.4.08
20.4.08
knitting factory
We won't stop until somebody calls the cops
And even then we'll start again and just pretend that
Nothing ever happened
And even then we'll start again and just pretend that
Nothing ever happened
15.4.08
Tenho o cheiro do salmão nas mãos. A minha miúda adora salmão. Fresco e fumado. Durante uns tempos pensou que era fiambre. Eu desfiava-o e aldrabava-a. Nunca a consegui enganar com o bacalhau.
De resto, nada de novo. Comecei a usar ganchinhos que é o que acontece a quem corta o cabelo e depois não sabe viver a coisa. Já tenho as Birks do ano, mas não há meio de por os pés de fora. Não tricoto nada, mas encontrei a revista num escaparate nacional. Tenho vários ppt na agenda e já sinto alguma culpa por reciclar tanta conversa. O mundinho é demasiado pequeno para a repetição, estou sempre à espera de vislumbrar uma vítima anterior na plateia.
A verdade é que sinto o ciclo a fechar. Uma restlessness, um vento que sabe o meu nome.
De resto, nada de novo. Comecei a usar ganchinhos que é o que acontece a quem corta o cabelo e depois não sabe viver a coisa. Já tenho as Birks do ano, mas não há meio de por os pés de fora. Não tricoto nada, mas encontrei a revista num escaparate nacional. Tenho vários ppt na agenda e já sinto alguma culpa por reciclar tanta conversa. O mundinho é demasiado pequeno para a repetição, estou sempre à espera de vislumbrar uma vítima anterior na plateia.
A verdade é que sinto o ciclo a fechar. Uma restlessness, um vento que sabe o meu nome.
11.4.08
rouge
Percorri-me. Ameacei um embargo logo na primeira frase. Quem é que me manda ser assim teatral? Mas era mesmo o meu anfiteatro, o meu corredor, a minha escola. Eu ao lado da Ana S a fazer exames; nós todos a meio da última fila a estafetar apontamentos; nós todos a meio da última fila a rir, a rir, a rir; a professora de Genética a explicar as ervilhas ao ar condicionado; os mistérios da produção do molho de soja; o meu futuro marido a entrar pela porta com um pullover vermelho e uma botas Fila.
Asfixiaram-me de abraços e cumprimentos, disseram-me que estava na mesma. Mentirosos. Na fotografia das praxes pareço a Mafalda. Agora sou a Susaninha.
Asfixiaram-me de abraços e cumprimentos, disseram-me que estava na mesma. Mentirosos. Na fotografia das praxes pareço a Mafalda. Agora sou a Susaninha.
9.4.08
blanc

Amanhã vou à minha antiga escola* falar sobre o meu "percurso".
Ontem resgatei fotografias e reconstituí memórias. Na luz molhada do fim do dia, empoleirei-as e recuperei sorrisos com dezenas de anos (1,x dezena de anos). Tão novos, éramos tão novos. Revi-nos e às nossas expectativas todas. Nós, uns miúdos com o cabelo comprido/ainda com cabelo/com o cabelo escuro, sem filhos, sem hipotecas. Nós sempre de T-shirt.
Quase que tive vontade de chorar. Aliás, tive vontade de chorar. Pelo que somos, pelo que não somos. Chorar de saudades minhas, nossas.
Não é que não tenha corrido tudo bem. Muito bem, mesmo. "Percorri" sítios e pessoas fantásticos. Escolhi sempre o que queria, quis sempre muita coisa. Chorar de orgulho por ter sido capaz, chorar por não saber se ainda tenho a mesma capacidade para querer. Sinto as articulações mais presas. Uma inflamação etária, social, económica, ontogénica.
Reconheço a maioridade pós-universitária: 1990-2008. No entanto aninho-me ainda no colo da escola.
*Para que não restem dúvidas sobre eu ter sido estudante na FCUL nos anos 90, ver fotografia acima (1993).
6.4.08
2.4.08
29.3.08
Se eu conseguisse organizar a logística capazmente, guardava a sexta-feira à noite para sair. Sair, jantar fora, beber uns copos, talvez mesmo dançar. É um desejo quase higiénico.
Ontem à tarde, depois de um dia pesado e mais uma semana das do costume, ouvi os ensaios. É uma coisa gira lá da minha escola, isto de ter um palco. Gosto de atravessar os corredores tropeçados de caixotes com cabos e cenários e homens de T-shirt preta. Gosto de ver a sala aberta, descer as escadas como se fosse entrar em cena. A menina, delirante e sem cerimónia, já se ensaiou. Levei-a um dia comigo e mais às tosses e aos meus processos; a sala estava aberta e agora a minha escola é a mais fantástica de todas porque "até tem um teatro!".
Ontem ouvi o piano e apeteceu-me ficar ali, a sair, mas não.
Ontem à tarde, depois de um dia pesado e mais uma semana das do costume, ouvi os ensaios. É uma coisa gira lá da minha escola, isto de ter um palco. Gosto de atravessar os corredores tropeçados de caixotes com cabos e cenários e homens de T-shirt preta. Gosto de ver a sala aberta, descer as escadas como se fosse entrar em cena. A menina, delirante e sem cerimónia, já se ensaiou. Levei-a um dia comigo e mais às tosses e aos meus processos; a sala estava aberta e agora a minha escola é a mais fantástica de todas porque "até tem um teatro!".
Ontem ouvi o piano e apeteceu-me ficar ali, a sair, mas não.
24.3.08
[hoje]
Estou um bocadinho de birra. Arrisco mesmo o contrariadinha. O campus está deserto, tenho que usar o cartão para entrar e por acaso só me apetece é sair. Tenho os pés frios e não consigo decidir-me sobre uns All Stars. Aliás, aborrecem-me todos os fabricantes de ténis.
Cheguei a sentar-me numa mesa de café e a trabalhar com o lápis no papel, sem google nem teclado, só para sair daqui um bocadinho. E a Fernandes não tinha Futuras pretas.
O mundo congemina e concorre para me contrariar.
*
[ontem]
Se tu fosses um animal, qual é que eras?
Um cavalo! (eu adivinhei)
E eu? Eu gostava de ser uma borboleta.
Não, as borboletas são muito pequeninas, tu eras uma girafa. Não, tive uma ideia, tu eras uma fada com uma borboleta e eu era o cavalinho da fada!
E o pai? Ò pai, o que é que tu eras? (pergunto eu, a tratá-lo por pai, uma coisa que confunde deveras o meu próprio pai)
Um tigre.
Ò pai, não queres ser antes um dinossauro? (pergunta ela; eu convulsiono-me de riso)
Não.
O pai podia ser uma zebra... (arrisco eu)
Não.
Está bem pronto, és um tigre amigo da fada e do cavalinho da fada.
História da mãe pirosa, o pai cota e a filha diplomata.
Estou um bocadinho de birra. Arrisco mesmo o contrariadinha. O campus está deserto, tenho que usar o cartão para entrar e por acaso só me apetece é sair. Tenho os pés frios e não consigo decidir-me sobre uns All Stars. Aliás, aborrecem-me todos os fabricantes de ténis.
Cheguei a sentar-me numa mesa de café e a trabalhar com o lápis no papel, sem google nem teclado, só para sair daqui um bocadinho. E a Fernandes não tinha Futuras pretas.
O mundo congemina e concorre para me contrariar.
*
[ontem]
Se tu fosses um animal, qual é que eras?
Um cavalo! (eu adivinhei)
E eu? Eu gostava de ser uma borboleta.
Não, as borboletas são muito pequeninas, tu eras uma girafa. Não, tive uma ideia, tu eras uma fada com uma borboleta e eu era o cavalinho da fada!
E o pai? Ò pai, o que é que tu eras? (pergunto eu, a tratá-lo por pai, uma coisa que confunde deveras o meu próprio pai)
Um tigre.
Ò pai, não queres ser antes um dinossauro? (pergunta ela; eu convulsiono-me de riso)
Não.
O pai podia ser uma zebra... (arrisco eu)
Não.
Está bem pronto, és um tigre amigo da fada e do cavalinho da fada.
História da mãe pirosa, o pai cota e a filha diplomata.
16.3.08
No filme, foi das cenas que mais impressionou. No final, quando os arquivos são abertos.
Na vidinha, remoo até hoje a história do protonamorado informador e do avô desbocado.
[...]
Eles escreviam em francês e a PIDE*traduzia o que interceptava, até os poemas de Aragon que ela citava em algumas missivas. Helena registou duas coisas: primeiro, as traduções eram boas; segundo, aquilo, só por si, era indicativo da "multidão" que prestava serviço à polícia.
O número exacto continua, contudo, a ser uma incógnita, devido também, embora não só, ao facto de parte dos registos sobre informadores e agentes ter sido queimado pela polícia no próprio dia 25 de Abril.
O arquivo da PIDE que chegou à Torre do Tombo é composto por mais de seis milhões de fichas, 500 livros e 20 mil caixas cheias de processos.
*PIDE: Polícia Internacional e de Defesa do Estado
14.3.08
black fairy
Ontem comprei um vestido com a minha amiga. Adoro-o e a minha amiga disse-me que eu parecia uma fada. O que não vale ter uma amiga destas.
Acontece que o vestido é, de facto, um bocadinho mágico. Apesar de a menina lhe ter lamentado a cor, o trapinho tem-me atapetado o dia desde cedo.
- Ò mamã, mas é de cor preta...
- E qual era a cor bonita?
- Corderosa!
Na estação, corro para um rápido e preparo-me para os solavancos da marginal em pé. Ali por volta de Caxias, o rapaz do casaco de carneira-que-não-era-carneira levanta o olhar espelhado e, enquanto se levanta precipitadamente, comanda-me numa voz de noitadas e brusquidão que me sente. Não, obrigada, não é preciso. Atrapalho-me com tanta solicitude e pondero se me imaginará grávida - o vestido é amplo, sem cintura - mas o sorriso dele é tão generoso, quase embevecido. Despeço-me no final, radiosa de descanso.
Na escola então, perdi a conta aos cumprimentos. Que coisa. Pena não ter encontrado o meu chefe.
Acontece que o vestido é, de facto, um bocadinho mágico. Apesar de a menina lhe ter lamentado a cor, o trapinho tem-me atapetado o dia desde cedo.
- Ò mamã, mas é de cor preta...
- E qual era a cor bonita?
- Corderosa!
Na estação, corro para um rápido e preparo-me para os solavancos da marginal em pé. Ali por volta de Caxias, o rapaz do casaco de carneira-que-não-era-carneira levanta o olhar espelhado e, enquanto se levanta precipitadamente, comanda-me numa voz de noitadas e brusquidão que me sente. Não, obrigada, não é preciso. Atrapalho-me com tanta solicitude e pondero se me imaginará grávida - o vestido é amplo, sem cintura - mas o sorriso dele é tão generoso, quase embevecido. Despeço-me no final, radiosa de descanso.
Na escola então, perdi a conta aos cumprimentos. Que coisa. Pena não ter encontrado o meu chefe.
9.3.08
Ontem à tarde, na mira de um croissant, atravessei o caudal docente que descia a Rua Àurea.
Cheguei à Confeitaria Nacional recuada de vinte anos, atordoada de lembranças e gula. Claro que àquela hora já não havia croissants.
Ruminei o bolo-rei e mais a minha vida, de mochila e cadernos. Na escola, sempre na escola. Curiosamente, sempre quis ser a aluna. Nem em pequenina queria ser a professora.
As minhas escolas foram sempre públicas, sou um produto do Estado Previdência, uma filha de Abril. Sou a geração PGA, a "não pagamos" das propinas universitárias.
Curiosamente, tenho um inglês excelente, made in British Council (provavelmente mais caro para a minha família do que toda a minha formação universitária junta).
Curiosamente, o meu trabalho hoje é gerir a escola, na escola. As propinas passaram a ser receitas próprias e sou uma convertida dos full costs. Porque a escola merece sustentabilidade, porque a escola é a sustentabilidade.
Mas ontem lembrei-me foi da escola onde já não vou há quase 20 anos. Que, em boa verdade, já não conheço. A minha filha ainda está resguardada no jardim. Claro que já me preocupam as escolhas. Gosto de pensar que vou (con)seguir o fio público. Mas ai os horários, ai que eu não trabalho na mesma cidade onde moro, ai que ela faz anos no fim de Novembro, ai, ai, ai.
Tive tantos professores que ja não me lembro de todos. Mas ontem parecia-me reconhecer-lhes as caras, os tons de voz, os exercícios. Eu aprendi na escola tudo o que sei. Agradeço-lhes isso para sempre.
Cheguei à Confeitaria Nacional recuada de vinte anos, atordoada de lembranças e gula. Claro que àquela hora já não havia croissants.
Ruminei o bolo-rei e mais a minha vida, de mochila e cadernos. Na escola, sempre na escola. Curiosamente, sempre quis ser a aluna. Nem em pequenina queria ser a professora.
As minhas escolas foram sempre públicas, sou um produto do Estado Previdência, uma filha de Abril. Sou a geração PGA, a "não pagamos" das propinas universitárias.
Curiosamente, tenho um inglês excelente, made in British Council (provavelmente mais caro para a minha família do que toda a minha formação universitária junta).
Curiosamente, o meu trabalho hoje é gerir a escola, na escola. As propinas passaram a ser receitas próprias e sou uma convertida dos full costs. Porque a escola merece sustentabilidade, porque a escola é a sustentabilidade.
Mas ontem lembrei-me foi da escola onde já não vou há quase 20 anos. Que, em boa verdade, já não conheço. A minha filha ainda está resguardada no jardim. Claro que já me preocupam as escolhas. Gosto de pensar que vou (con)seguir o fio público. Mas ai os horários, ai que eu não trabalho na mesma cidade onde moro, ai que ela faz anos no fim de Novembro, ai, ai, ai.
Tive tantos professores que ja não me lembro de todos. Mas ontem parecia-me reconhecer-lhes as caras, os tons de voz, os exercícios. Eu aprendi na escola tudo o que sei. Agradeço-lhes isso para sempre.
4.3.08
Do(s) tempo(s)
Quando eu era miúda, constipava-me. Agora, a minha filha tem infecções respiratórias.
Há uma certa modernidade, um status, na infecção respiratória.
Há, definitivamente, muito mais investimento:
material - os aerossóis, a multiplicidade de xaropes e antibióticos e sprays e brocoqualquer coisa,
parental - a minha mãe estava em casa, eu fico em casa,
emocional - os avós andam todos muito aflitos; os meus emprestavam-me lenços de pano e faziam canja, quando sequer sabiam do "assunto",
comunicacional - a rede social que envolve a minha filha é vários ordens de magintude superior à da minha infância.
Por tudo isto, agradeço o diagnóstico cosmopolita, pago a segunda consulta particular no espaço de uma semana e aproveito para aviar uns calmantes que me impeçam de transformar a patine de mãe sensata e controlada numa pasta esborratada de despenteio e exaustão.
Há uma certa modernidade, um status, na infecção respiratória.
Há, definitivamente, muito mais investimento:
material - os aerossóis, a multiplicidade de xaropes e antibióticos e sprays e brocoqualquer coisa,
parental - a minha mãe estava em casa, eu fico em casa,
emocional - os avós andam todos muito aflitos; os meus emprestavam-me lenços de pano e faziam canja, quando sequer sabiam do "assunto",
comunicacional - a rede social que envolve a minha filha é vários ordens de magintude superior à da minha infância.
Por tudo isto, agradeço o diagnóstico cosmopolita, pago a segunda consulta particular no espaço de uma semana e aproveito para aviar uns calmantes que me impeçam de transformar a patine de mãe sensata e controlada numa pasta esborratada de despenteio e exaustão.
1.3.08
United Kingdom of Ipanema
Afinal a criança não tem a quinta doença, é só mau feitio. Dela, não fui eu que lhe dei estaladas.
Nos avós, decidiu que não deixava ver a febre. Decidiu e manifestou-o com gritos, choro e tosse puxada. Ficou com petéquias na cara (pintinhas vermelhas, muito pequeninas), uma estampa de mau génio, mimo e ranho, que já começa a amarelar.
Nos avós, decidiu que não deixava ver a febre. Decidiu e manifestou-o com gritos, choro e tosse puxada. Ficou com petéquias na cara (pintinhas vermelhas, muito pequeninas), uma estampa de mau génio, mimo e ranho, que já começa a amarelar.
27.2.08
A vida em Marte
Les contours de votre nouvelle vie s'esquissent. En attendant que s'impose une direction définitive, la diversité régnera et le travail sera accaparant. Mars (énergie) dopera vos neurones et votres fantaisie fera merveille.
Pois. Estou a ver. Está bem. Trabalho e pronto. Pronto, trabalho e isso.
Não há qualquer outra esperança para a minha Primavera.
Pois. Estou a ver. Está bem. Trabalho e pronto. Pronto, trabalho e isso.
Não há qualquer outra esperança para a minha Primavera.
23.2.08
discrevo
Imagino que deixei a minha para ventriloquar a ciência dos outros. Faço-o de muitas maneiras diferentes e ainda não me arrependi. É verdade que às vezes pingo uma nostalgia breve - acabo de segurar o meu velho livro verde - mas já nem os motores me encontram o passado e tão somente a metainvestigação.
Reincido na tra(ns)dução com dois textos da conferência; um homem livre e uma das pouquíssimas mulheres.
Aprendo o significado de bestow: Ana bestows herself in far too many activities and she is a little tired.
Literalmente, a tradução estranha-se e depois entranha-se. Fica-se possuído pelas ideias dos outros, dá-se-lhe uma nova voz, que não tinham porque as palavras não são iguais em todas as línguas. Imagino como será fazer traduções literárias. Replicar o meme com respeito e honestidade.
Às vezes é difícil não esgravatar o texto e aparecer. Não arrebitar ou corrigir o discurso. Traduzir é um exercício de discrição, não de descrição.
Calha-me bem, que funciono melhor na média luz*.
*Se fosse um candeeiro era um daqueles verdes, de biblioteca americana.
Reincido na tra(ns)dução com dois textos da conferência; um homem livre e uma das pouquíssimas mulheres.
Aprendo o significado de bestow: Ana bestows herself in far too many activities and she is a little tired.
Literalmente, a tradução estranha-se e depois entranha-se. Fica-se possuído pelas ideias dos outros, dá-se-lhe uma nova voz, que não tinham porque as palavras não são iguais em todas as línguas. Imagino como será fazer traduções literárias. Replicar o meme com respeito e honestidade.
Às vezes é difícil não esgravatar o texto e aparecer. Não arrebitar ou corrigir o discurso. Traduzir é um exercício de discrição, não de descrição.
Calha-me bem, que funciono melhor na média luz*.
*Se fosse um candeeiro era um daqueles verdes, de biblioteca americana.
21.2.08
A minha filha está viciada em pensos rápidos.
Não lhe dói nada, não tem senão espigões e peles, mas inventa chagas sanguinolentas só para se enfeitar. Não admite uma saia, mas ainda assim é uma fashionista.
Não lhe dói nada, não tem senão espigões e peles, mas inventa chagas sanguinolentas só para se enfeitar. Não admite uma saia, mas ainda assim é uma fashionista.
*
Ontem foi o meu dia. Tudo me correu bem. Tão bem que hoje já me parece que sonhei. Os meus dez minutos de fama foram na verdade meses, mesmo anos, de trabalho. Quanto mais natural parece, mais trabalhada está a coisa. Eu não acredito no improviso, na bucha, no ver se calha. Nenhum projecto tem apenas custos directos.
Ainda por cima levei um vestido perfeito por cima das skinny.
Sou, de facto, fantástica.
Ainda por cima levei um vestido perfeito por cima das skinny.
Sou, de facto, fantástica.
16.2.08
con_s/v_er_v/sa
Não, não se pode dizer que eu seja conservadora. Materialmente conservadora. Tenho poucos objectos históricos, o meu armário é aliás um corropio. Suponho que não devia ter dado o casaco de veludo, mas até isso seguiu. Guardei pouquíssimas roupinhas dela, uma chucha que não sei bem onde está e um falcon com o resto do cordão (argh). Não tenciono guardar dentes.
Conservador nos objectos para não o ser nas ideias.
Mantenho o saco preto das viagens. Emala a minha vida para uma semana ou três meses. Foi comigo a todo o lado. A minha aliança, os dois anéis. O meu pente azul. E está feito.
Não sei o que tentaria levar numa aflição. As fotografias de papel.
Quer isto dizer que tenho o intelecto forma/olizado?
Conservador nos objectos para não o ser nas ideias.
Mantenho o saco preto das viagens. Emala a minha vida para uma semana ou três meses. Foi comigo a todo o lado. A minha aliança, os dois anéis. O meu pente azul. E está feito.
Não sei o que tentaria levar numa aflição. As fotografias de papel.
Quer isto dizer que tenho o intelecto forma/olizado?
11.2.08
grafos
Como toda a gente, eu já tive muitas letras. Umas sinceras, outras produzidas. Ainda hoje escrevo com uma forma diferente em função da caneta, do papel, do texto, do destinatário. Na verdade, escrevo pouco à mão. Alguns apontamentos e brain stormings, listas de compras e de tarefas. Pensando bem, quase toda a minha manuscrita se reduz a lembranças e tarefas.
Reconheço meia dúzia de letras próximas - letras que também já escreveram e escrevem a minha vida. Estranho não conhecer a letra de tanta gente conhecida. (Re)conheço-lhes talvez o estilo dos emails.
Continuo a gostar de manusear as palavras, por vezes confortável outras impaciente. Não gosto particularmente de assinar.
Escrevo a preto, com feltro médio ou esferográfica grossa. Detesto canetas fininhas e já não uso tinta há que anos. Carrego médio mais, nunca hesito, como quando a ponta parece ensaiar o salto. Não uso a primeira linha e levito o pautado. Tenho várias formas para a mesma letra. Sou incapaz de escrever tudo em maiúsculas, até nos formulários me custa.
7.2.08
Tenho saudades de estudar. Enquanto percorro o campus - estafeto documentos só para poder sair um bocadinho à rua - invejo-lhes os jeans descansados nos degraus, os ténis desacelerados, quase trôpegos, as fotocópias quentes.
Outro dia, no meio da trituradora, o meu chefe recordava os muitos meses que há muitos anos passou numa biblioteca no meio da América. Que o mais fantástico de tudo era não ter que falar com ninguém. Viver um silêncio monástico, confortável, entre os livros. Que agora não se conseguia calar os dias inteiros. Uma canseira.
Pois eu, que tenho fama de conversadora, também só me apetece estar calada. Ouço tantos disparates que preciso de resguardar-me da tentação de os confrontar com outros.
Uma vez ditas, as ideias começam logo a envelhecer e eu não consigo produzir mais ideias tão depressa quanto me exige o diálogo, o discurso, o caraças do debate.
Outro dia, no meio da trituradora, o meu chefe recordava os muitos meses que há muitos anos passou numa biblioteca no meio da América. Que o mais fantástico de tudo era não ter que falar com ninguém. Viver um silêncio monástico, confortável, entre os livros. Que agora não se conseguia calar os dias inteiros. Uma canseira.
Pois eu, que tenho fama de conversadora, também só me apetece estar calada. Ouço tantos disparates que preciso de resguardar-me da tentação de os confrontar com outros.
Uma vez ditas, as ideias começam logo a envelhecer e eu não consigo produzir mais ideias tão depressa quanto me exige o diálogo, o discurso, o caraças do debate.
5.2.08
Sim, gosto muito de ver o House, mas prefiro a Anatomia.
Outro dia, assisti a médicos crescidos, e outros crescidos não médicos, a gabar o Greg e a desfazer na Grey. Percebo que as razões deles são também as minhas, ao contrário. Sinto o explicável apelo da dimensão pessoal, romântica. Vivo uma vida da idade da deles. Tenho amigos como aqueles. Mas, muito mais relevante, é que eu também ainda estou em treino. Os crescidos divertem-se com o delírio brilhante do mestre. Eu preciso dos medos dos outros, das dúvidas e do consolo de que, pelo menos, não corro o risco de matar ninguém.
Post update:
You’re Meredith
Life has a way of handing out so many hard knocks that sometimes you just want to give up. And yet you always find a way to keep things hanging on. A little hope is a dangerous thing but you’ve earned the right to real happiness, go grab some for yourself.
Outro dia, assisti a médicos crescidos, e outros crescidos não médicos, a gabar o Greg e a desfazer na Grey. Percebo que as razões deles são também as minhas, ao contrário. Sinto o explicável apelo da dimensão pessoal, romântica. Vivo uma vida da idade da deles. Tenho amigos como aqueles. Mas, muito mais relevante, é que eu também ainda estou em treino. Os crescidos divertem-se com o delírio brilhante do mestre. Eu preciso dos medos dos outros, das dúvidas e do consolo de que, pelo menos, não corro o risco de matar ninguém.
Post update:
You’re Meredith
Life has a way of handing out so many hard knocks that sometimes you just want to give up. And yet you always find a way to keep things hanging on. A little hope is a dangerous thing but you’ve earned the right to real happiness, go grab some for yourself.
Mas eu gostava do facto de serem encadernados a pano, e também gostava da forma: vinte e três centímetros e cinquenta por dezoito centímetros e quarenta, o que os tornava um pouco mais pequenos e largos do que a maior parte dos cadernos. Não sou capaz de explicar porquê, mas a verdade é que achava essas dimensões profundamente satisfatórias e, quando peguei pela primeira vez no caderno, senti uma súbita e incompreensível erupção de bem-estar. Restavam apenas quatro desses cadernos e cada um tinha uma cor diferente: preto, vermelho, castanho, azul. Escolhi o caderno azul, que era o que estava em cima.
Não havia neles nada de luxoso, nada que desse nas vistas. Não, aqueles cadernos eram muito simplesmente um artigo prático - resistente, despretensioso, útil, de maneira nenhuma o livro em branco que poderíamos escolher como prenda para um amigo.
Wrong, Mr. Auster, you are so very wrong.
Wrong, Mr. Auster, you are so very wrong.
Havia também uma pilha de cadernos alemães e outra de cadernos portugueses. Os cadernos portugueses exerciam sobre mim um fascínio muito especial e eu sabia que não resistiria àquelas capas duras, àquelas linhas quadriculadas, àqueles cadernos costurados de papel robusto, sólido, imune a todo o tipo de borrões.
Ocorre-me que todos os meus bons amigos gostam de cadernos e caderninhos. É uma partilha como qualquer outra, mas consola-me sabê-los comigo neste pequeno prazer.
Ocorre-me que todos os meus bons amigos gostam de cadernos e caderninhos. É uma partilha como qualquer outra, mas consola-me sabê-los comigo neste pequeno prazer.
joint (ad)venture
2.2.08
campo grande follies
Eu sou daquelas pessoas que precisam de alguma pressão para produzir mais e melhor. Por coincidência ou procura, quase sempre me enquadrei entre deadlines. Na minha escola os exames eram por época, sem frequências, um tudo ou nada académico que nos recolhia durante semanas. No laboratório havia sempre mais um resultado pendente, uma expectativa, mais um bocado de gene novo na base de dados (na altura as bases de dados ainda traziam verdadeiras novidades todas as semanas), um paper publicado pela concorrência. Publish or perish.
Depois vieram as redacções e um relógio verdadeiramente implacável. Todos os dias há um jornal novo, as notícias finam-se ao minuto. Publish or publish.
Nas últimas semanas revivi isto tudo e mais um queijo. O texto, os números, as ideias, a política, as correcções, a política, a edição, os títulos, as páginas, o formato, a política, outra vez os números, a hifenização, o número de parágrafos, a gráfica, os documentos de suporte, o calendário. Falta o queijo. Falta sempre qualquer coisa. Perish or perish.
Depois vieram as redacções e um relógio verdadeiramente implacável. Todos os dias há um jornal novo, as notícias finam-se ao minuto. Publish or publish.
Nas últimas semanas revivi isto tudo e mais um queijo. O texto, os números, as ideias, a política, as correcções, a política, a edição, os títulos, as páginas, o formato, a política, outra vez os números, a hifenização, o número de parágrafos, a gráfica, os documentos de suporte, o calendário. Falta o queijo. Falta sempre qualquer coisa. Perish or perish.
25.1.08
Ainda não me habituei a que tu não estás só com um ar esgroviado, agora és mesmo assim.
Ele. O meu tudo que ainda assim me dá música.
Ele. O meu tudo que ainda assim me dá música.
24.1.08
status
Não percebo como é que ainda não me arrependi.
Deve ser porque afastei a cor(quera)tina que me guardava do mundo, mas parece-me que toda a gente olha para mim. Com surpresa, riso e, gosto de imaginar, inveja. Olha o que esta maluca fez ao cabelo.
Basicamente, apeteceu-me copiar a miúda. A miúda que é igual a mim e fica tão gira assim, curta. Também é verdade que o meu cabelo me andava a fazer infeliz. Uma infelicidade armada de secador e escova e presa em nós e cremes e aquele frisado de inverno que me destrói. Depois há a transposição psicológica, a renovação, a audácia, a coragem, o despropósito. Quanto mais responsabilidade tenho mais procuro o despropósito. É infantil e crescido ao mesmo tempo. Sou um Peter Pan de calças rotas e eyeliner. Estatuto-me de pequenas revoltas. Sentada à direita, apresento um colarinho branco com riscas abotoadas no tweed. Contabilizo seis botões de punho à mesa, demasiadas gravatas (porque é que não há mais mulheres?) e umas calças rotas.
Deve ser porque afastei a cor(quera)tina que me guardava do mundo, mas parece-me que toda a gente olha para mim. Com surpresa, riso e, gosto de imaginar, inveja. Olha o que esta maluca fez ao cabelo.
Basicamente, apeteceu-me copiar a miúda. A miúda que é igual a mim e fica tão gira assim, curta. Também é verdade que o meu cabelo me andava a fazer infeliz. Uma infelicidade armada de secador e escova e presa em nós e cremes e aquele frisado de inverno que me destrói. Depois há a transposição psicológica, a renovação, a audácia, a coragem, o despropósito. Quanto mais responsabilidade tenho mais procuro o despropósito. É infantil e crescido ao mesmo tempo. Sou um Peter Pan de calças rotas e eyeliner. Estatuto-me de pequenas revoltas. Sentada à direita, apresento um colarinho branco com riscas abotoadas no tweed. Contabilizo seis botões de punho à mesa, demasiadas gravatas (porque é que não há mais mulheres?) e umas calças rotas.
20.1.08
18.1.08
cum mula peperit
Faço tanto relatório que já quase só falo por indicadores.
Consigo itemizar o que for preciso e extrair soundbites.
Aliás, devia oferecer os meus serviços à publicidade. Eu, que gosto tanto de títulos, também sei inventar nomes. Tenho três epifanias fantásticas em carteira. Não sei se a Universidade está preparada.
Ontem ligaram-me da revista. No Brasil querem usar um texto meu para um manual escolar. Aquelas duas páginas, esgalhadas sob o sol de Agosto numas férias ao Douro, continuam a ser populares. E eu que escrevi tantas coisas difíceis.
Pois bem, aceito o meu destino. Nunca serei uma novelista, mas não é desta que deixo o blog.
Consigo itemizar o que for preciso e extrair soundbites.
Aliás, devia oferecer os meus serviços à publicidade. Eu, que gosto tanto de títulos, também sei inventar nomes. Tenho três epifanias fantásticas em carteira. Não sei se a Universidade está preparada.
Ontem ligaram-me da revista. No Brasil querem usar um texto meu para um manual escolar. Aquelas duas páginas, esgalhadas sob o sol de Agosto numas férias ao Douro, continuam a ser populares. E eu que escrevi tantas coisas difíceis.
Pois bem, aceito o meu destino. Nunca serei uma novelista, mas não é desta que deixo o blog.
3.1.08
Há que tempos que não me queixo capazmente. Postas de autocomiseração empalhada em trocadilhos de polichinelo. Aproveito que ele vê a vida dos dos outros para encerar aqui a minha. Já vi a vida daqueles no King. Onde vou uma vez por ano e nem sei se ainda abana com o metro.
Hoje fui trabalhar depois das festas e claro que cheguei triturada. É impressionante, é mesmo do outro mundo, isto é incrível. Eu, toda camuflada de thalasso, firme na ganga e no azul, discursiva sobre as resoluções do ano, quasi-bronzeada e trambolhei-me toda na mesma. O meu gabinete devia chamar-se Uni-ER. Libertei-me num risinho histérico quando me chegou o terceiro email do dia a pedinchar ajuda de gentinha que nem sequer me é afiliada, que não é sequer de uma Universidade portuguesa. Caramba, chegaram-me pedidinhos do Brasil sobre citologias vaginais em cadelas!
O que nos vai valendo é a contemporaneidade dos logotipos. Estará a União a pagar royalties só para animar a malta?
Hoje fui trabalhar depois das festas e claro que cheguei triturada. É impressionante, é mesmo do outro mundo, isto é incrível. Eu, toda camuflada de thalasso, firme na ganga e no azul, discursiva sobre as resoluções do ano, quasi-bronzeada e trambolhei-me toda na mesma. O meu gabinete devia chamar-se Uni-ER. Libertei-me num risinho histérico quando me chegou o terceiro email do dia a pedinchar ajuda de gentinha que nem sequer me é afiliada, que não é sequer de uma Universidade portuguesa. Caramba, chegaram-me pedidinhos do Brasil sobre citologias vaginais em cadelas!
O que nos vai valendo é a contemporaneidade dos logotipos. Estará a União a pagar royalties só para animar a malta?
2.1.08
Querido 2008,
Para além desta fixação pelo azul, começo-te esperançosa de muitas outras cores. Larguei-me de pretos e cinzentos e hoje cheguei mesmo a remexer um vermelho. Esforço-me desde já para manter esta amplitude da paleta. Bem vejo os resultados que tem na pisca marisca. A minha filha é tão mais porreira do que eu.
But I see your true colors
shining through
I see your true colors
Quero um espelho destes de hotel. Um olho giratório, ora distraído, ora predador.
so don't be afraid to let them show
your true colors
Não me quero perder de vista.
royal wink
Levei-o no meu sonho azul / Azul, azul / Da cor do mar / Levei-o comigo
Trouxeram-me os amigos um saco fantástico. Claro que não vou esbanjá-lo com batatas. Integra já o meu arsenal Inverno 2007/08.
Hoje equipei-me ainda com um pisco real.
1.1.08
28.12.07
22.12.07
time in
Queridos amigos a quem eu não enviei sequer um email de Feliz Natal (que são todos porque com aquela coisa de o meu profile pifar no PC perdi os endereços do outlook e como nem consigo almoçar também não tive tempo para ir copiar emails e tal que a minha vida são só doutores novos a quem saco papelada e assinaturas),
Pois Feliz Natal.
Sobrevivam como puderem aos centros comerciais e à fita cola dos embrulhos. Fritem-se dos dois lados, polvilhem-se de açúcar e canela e estendam-se nas porcelanas entre os frutos secos e a lampreia de ovos.
Abraços de abóbora, leves e quentinhos
Ana
14.12.07
Na rua principal cá da vila há uma loja de vestidos. Todos os dias, quando descemos a calçada, eu lá miro os tafetás.
É uma loja improvável, aqui no meio do bairro, ao lado da junta, antes dos frangos. Farto-me de pensar quem é que comprará aqueles vestidos. São muitas vezes compridos, folheados, pregueados, brilhantes. Suponho que sejam vestidos de casamento, de peralta, de finalista das privadas. Onde é que uma pessoa vai naquele preparo? Palavra que eu cá não tenho onde mostrar os ombros, o colo, a nuca. Não tenho.
Ninguém se casa. Não há bailes. Passo o fim de ano com camisolas de lã. Nem que me engane consigo justificar aquele curto do outro dia, cai-cai, numa seda verde escura; um laço à frente.
Mas preciso de uma camisola de gola alta.
É uma loja improvável, aqui no meio do bairro, ao lado da junta, antes dos frangos. Farto-me de pensar quem é que comprará aqueles vestidos. São muitas vezes compridos, folheados, pregueados, brilhantes. Suponho que sejam vestidos de casamento, de peralta, de finalista das privadas. Onde é que uma pessoa vai naquele preparo? Palavra que eu cá não tenho onde mostrar os ombros, o colo, a nuca. Não tenho.
Ninguém se casa. Não há bailes. Passo o fim de ano com camisolas de lã. Nem que me engane consigo justificar aquele curto do outro dia, cai-cai, numa seda verde escura; um laço à frente.
Mas preciso de uma camisola de gola alta.
8.12.07
Até que idade pensas divertir-te?
Um dia ao contrário. Voltei sem presentes, com o cabelo castanho, umas botas despropositadas e a convicção de que só o azul me salvará o armário.
Eu há anos que não uso azul.
Eu saí de casa loura.
Eu não preciso de umas botas.
O Natal é uma inevitabilidade.
7.12.07
Ana, a Pessoa
Hoje à noite vai piscar para os avós.
Vou buscá-la no domingo à tarde para fazermos a árvore.
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus
Como sempre, tenho demasiados planos. Quero ir aqui e ali e ficar noutro sítio. Tenho uma lista assustada de presentes para cumprir. O meu cabelo, naturalmente descontrolou-se. Tenho chás tão adiados que qualquer dia arrefecem. Tenho-o.
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso?
Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Vou buscá-la no domingo à tarde para fazermos a árvore.
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus
Como sempre, tenho demasiados planos. Quero ir aqui e ali e ficar noutro sítio. Tenho uma lista assustada de presentes para cumprir. O meu cabelo, naturalmente descontrolou-se. Tenho chás tão adiados que qualquer dia arrefecem. Tenho-o.
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso?
Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
6.12.07
Congemino desculpas para sair daqui. Ele há dias assim.
Estou fartinha de trabalhar. Há muitas semanas que não desperdiço um ai, mas palavra que preciso de um recreio. Engulo o almoço, não bebo cafezinhos, chego a aguentar o chichi e isso, isso não pode ser. A minha amiga Pat há anos que nos prevê a incontinência.
Hoje não posso com mais doutores. Quero beber um chá. Quero andar na rua.
Mas assim sendo vou coleccionar legislação.
Estou fartinha de trabalhar. Há muitas semanas que não desperdiço um ai, mas palavra que preciso de um recreio. Engulo o almoço, não bebo cafezinhos, chego a aguentar o chichi e isso, isso não pode ser. A minha amiga Pat há anos que nos prevê a incontinência.
Hoje não posso com mais doutores. Quero beber um chá. Quero andar na rua.
Mas assim sendo vou coleccionar legislação.
2.12.07
30.11.07
Academim
Ontem à tarde, antes do chá, o meu marido fez a sua comunicação inaugural na Academia das Ciências de Lisboa.
Sou sincera, não gosto de o ouvir. Sofro com o seu tom baixo, cuidadoso, sério. O meu marido há quase 10 anos, o pai da minha filha, o meu amor, mão-na-mão-junto-a-mim-que-não-poderá-ter-fim, enerva-me. Já o ouvi muitas vezes, foi meu professor. Eu casei com o professor. Já foi meu chefe e meu colega. Nunca nos zangámos. E agora dá-me para isto. Para temer por ele, para mordiscar os dedos enquanto a onda progride, estável, forte, segura.
Ontem, no desconforto da cadeira encaracolada, mergulhei num distúrbio tenso, como nos sonhos. Respirei por fim o silêncio, desoxigenada.
A Academia é como os botões de punho. Um anacronismo elegante, respeitável, brasonado.
No meu estilo desestruturado, espreitei as salas e as porcelanas. Propus logo uma festa nos salões, um sopro no espólio. Eu não sou nada como o meu marido e obviamente nunca hei-de ser correspondente da secção de ciências biológicas.
Eu era a mais nova da sala, ele é o mais novo dos académicos. Ontem claro que os funcionários nos interceptaram a progressão na alcatifa.
Estou tão orgulhosa dele.
Sou sincera, não gosto de o ouvir. Sofro com o seu tom baixo, cuidadoso, sério. O meu marido há quase 10 anos, o pai da minha filha, o meu amor, mão-na-mão-junto-a-mim-que-não-poderá-ter-fim, enerva-me. Já o ouvi muitas vezes, foi meu professor. Eu casei com o professor. Já foi meu chefe e meu colega. Nunca nos zangámos. E agora dá-me para isto. Para temer por ele, para mordiscar os dedos enquanto a onda progride, estável, forte, segura.
Ontem, no desconforto da cadeira encaracolada, mergulhei num distúrbio tenso, como nos sonhos. Respirei por fim o silêncio, desoxigenada.
A Academia é como os botões de punho. Um anacronismo elegante, respeitável, brasonado.
No meu estilo desestruturado, espreitei as salas e as porcelanas. Propus logo uma festa nos salões, um sopro no espólio. Eu não sou nada como o meu marido e obviamente nunca hei-de ser correspondente da secção de ciências biológicas.
Eu era a mais nova da sala, ele é o mais novo dos académicos. Ontem claro que os funcionários nos interceptaram a progressão na alcatifa.
Estou tão orgulhosa dele.
28.11.07
perna de pau, (m)olho de vidro e cara de mau
Ontem à tarde, ainda não eram três, bati com a cabeça na esquina do armário. Praguejei e continuei a espremer a lata. A seguir tocou a campainha e eu gritei-lhe, esganiçada, que abrisse a porta com a chave dele.
Caramelos. Nunca mais compro promessas de chantilly sob pressão.
Ao menos o pão-de-ló era bom. Não fui capaz de não me acusar sob os cumprimentos da escola e sibilei a procedência. Eu só barriguei de doce e colei os smarties.
Bugger. Parece que havia expectativa de bolo de requeijão, mas eu não cheguei para tanto.
Claro que para a minha pisca tanto faz. Estava contente e foi uma anfitriã perfeita, a distribuir as fatias tortas (porque é que fazem os pães-de-ló tão altos?) nos pratos amarelos da escola.
Em casa prodigiei um mar de cenoura e mascarpone, um cenário de piratas e tesouros que tive que proteger até ao fogo preso final. A pirotecnia valeu-me um buraco na toalha boa e a espatulagem da fuligem no creme de lima.
Sou remissiva.
Mas empratei o meu melhor doce de sempre.
Macia por dentro, crocante por fora.
Caramelos. Nunca mais compro promessas de chantilly sob pressão.
Ao menos o pão-de-ló era bom. Não fui capaz de não me acusar sob os cumprimentos da escola e sibilei a procedência. Eu só barriguei de doce e colei os smarties.
Bugger. Parece que havia expectativa de bolo de requeijão, mas eu não cheguei para tanto.
Claro que para a minha pisca tanto faz. Estava contente e foi uma anfitriã perfeita, a distribuir as fatias tortas (porque é que fazem os pães-de-ló tão altos?) nos pratos amarelos da escola.
Em casa prodigiei um mar de cenoura e mascarpone, um cenário de piratas e tesouros que tive que proteger até ao fogo preso final. A pirotecnia valeu-me um buraco na toalha boa e a espatulagem da fuligem no creme de lima.
Sou remissiva.
Mas empratei o meu melhor doce de sempre.
Macia por dentro, crocante por fora.
27.11.07
25.11.07
papel ma(r)ché
Fui à Ladra Alternativa. Gosto da onda da coisa. Do treco-lambeco, do ponta acima ponta abaixo, da surpresa ocasional, da juventude e das expectativas, do espaço descascado e das ruas tortas. Gosto que me despertem a estética, que me justifiquem os cinzentos e os roxinhos.
Não gosto da óbvia falta de sustentabilidade material dos entusiastas, dos (des)originais e dos pontos batidos, dos tricôs acrílicos de má mescla, dos despropósitos sem alcance (sim, lembraste-te disto, e então?), do excesso de feltro.
22.11.07
Um passarão
Ontem, em voo nocturno.
Coisas de que eu gostava de me ter lembrado: chamar a uma banda Os Demitidos.
Coisas de que eu gostava de me ter lembrado: chamar a uma banda Os Demitidos.
18.11.07
no news, bad news
Ouvi o barulho enquanto esfregava os dentes no duche. Um reboliço maior que o normal. Gritei-a. Nada. Molhei o chão de aflição a tempo de segurar a derrocada final de gavetas por cima dela. A gravidade é uma força que não perdoa. Nem sei como fez aquilo à cómoda. Depois de estabilizar o centro de massa, gritei o silêncio do quarto, palmei-lhe o meu próprio susto.
Vou voltar a andar mal lavada.
17.11.07
No meu trabalho há um quadro preto no bar. Uma ardósia grande, frequentemente rabiscada. No meu gabinete há um quadro preto. Uso-o para recados. Tenho que pedir a alguém que vá lá rabiscar qualquer coisa charmosa. Porque um quadro preto tem um charme distinto, legítimo.
Temos cá em casa uma powerbox e ele há muitas séries. Assim como os advogados se devem rir com as barras do tribunal de cenário e os médicos com as múltiplas urgências e diagnósticos, eu sorrio-me várias vezes com batas forenses e agora também com os núm3ros.
O rapaz não está nada mal, não senhor. Poderia encontrá-lo a comer croissants ao pé do meu quadro preto. Tem aquele arzinho desvalido dos investigadores, mas não chega a ser socialmente desajustado.
A grande concessão ficcional que ali vejo é o tempo e o excesso de entusiasmo. Ninguém pensa, pipeta ou o que for no espaço de um episódio. A vida real é cheia de fracassos e repetições.
Este post estava em draft há semanas.
Reconheço-me queixosa, quezilenta e com mau feitio, como nou tras estações.
Mas isso vai acabar.
Upa.
Temos cá em casa uma powerbox e ele há muitas séries. Assim como os advogados se devem rir com as barras do tribunal de cenário e os médicos com as múltiplas urgências e diagnósticos, eu sorrio-me várias vezes com batas forenses e agora também com os núm3ros.
O rapaz não está nada mal, não senhor. Poderia encontrá-lo a comer croissants ao pé do meu quadro preto. Tem aquele arzinho desvalido dos investigadores, mas não chega a ser socialmente desajustado.
A grande concessão ficcional que ali vejo é o tempo e o excesso de entusiasmo. Ninguém pensa, pipeta ou o que for no espaço de um episódio. A vida real é cheia de fracassos e repetições.
Este post estava em draft há semanas.
Reconheço-me queixosa, quezilenta e com mau feitio, como nou tras estações.
Mas isso vai acabar.
Upa.
16.11.07
nightingale
Acontece que eu até era uma pessoa simpática.
Esta semana, para além de várias vezes me questionarem a cor do cabelo (sim, é possível pintar o cabelo; aliás parece que 78% das mulheres fazem-no e o meu já não é de agora), houve quem não quisesse crer que fosse mesmo eu ao telefone. Conheciam-me da minha vida anterior, quando eu dormia e comia capazmente, quando a minha vida pessoal era mais do que fazer dois puzzles com a miúda, cozinhar uma variante de carne picada para o jantar e adormecer no sofá. Nesses tempos, eu ainda escrevia emails aos amigos, ou pelo menos respondia-lhes. Às vezes chegava mesmo a telefonar ou combinávamos uma refeição. Agora só telefono à AnaS e é com a necessidade egoísta de me queixar.
Antes da minha vida ter sido invadida havia em mim um rouxinol. Uma espontaneidade entusiasta, quiçá uma simpatia. Hoje sou uma megera institucionalizada. Tenho olheiras permanentes, uma tatuagem de cansaço acumulado. Passo os dias a resolver problemas, não há uma única boa notícia no meu despacho.
Nunca mais me esqueço como há uns anos perguntei a uma amiga, assistente social, como aguentava aquilo dos problemas diários. Ela confessou-me que havia de facto dias difíceis em que só lhe apetecia gritar com os coitadinhos todos para não se drogarem, não roubarem e não fazerem merdas que só lhes encravam a vida.
Os meus dias são todos difíceis e só não grito, ou ainda não grito, porque estou cada vez mais noise sensitive.
Agora o rouxinol, esse voou.
Esta semana, para além de várias vezes me questionarem a cor do cabelo (sim, é possível pintar o cabelo; aliás parece que 78% das mulheres fazem-no e o meu já não é de agora), houve quem não quisesse crer que fosse mesmo eu ao telefone. Conheciam-me da minha vida anterior, quando eu dormia e comia capazmente, quando a minha vida pessoal era mais do que fazer dois puzzles com a miúda, cozinhar uma variante de carne picada para o jantar e adormecer no sofá. Nesses tempos, eu ainda escrevia emails aos amigos, ou pelo menos respondia-lhes. Às vezes chegava mesmo a telefonar ou combinávamos uma refeição. Agora só telefono à AnaS e é com a necessidade egoísta de me queixar.
Antes da minha vida ter sido invadida havia em mim um rouxinol. Uma espontaneidade entusiasta, quiçá uma simpatia. Hoje sou uma megera institucionalizada. Tenho olheiras permanentes, uma tatuagem de cansaço acumulado. Passo os dias a resolver problemas, não há uma única boa notícia no meu despacho.
Nunca mais me esqueço como há uns anos perguntei a uma amiga, assistente social, como aguentava aquilo dos problemas diários. Ela confessou-me que havia de facto dias difíceis em que só lhe apetecia gritar com os coitadinhos todos para não se drogarem, não roubarem e não fazerem merdas que só lhes encravam a vida.
Os meus dias são todos difíceis e só não grito, ou ainda não grito, porque estou cada vez mais noise sensitive.
Agora o rouxinol, esse voou.
11.11.07
Quem passa dez horas por dia a saltitar entre pés não chega para caridades educativas. Enruguei a testa e lamentei não poder esclarecer as dúvidas adolescentes sobre células estaminais. Além de que sempre me irritou essa lança nas costas que é diga o que sabe sobre. Há seis anos que não entro num laboratório. No meu tempo, repito, no meu tempo, a bioinformática corria em Unix. Não havia genomas completos nas bases de dados. Começavam os microarrays. Fiquei ufana com a naturalidade com que ensaiei a utilidade das micropipetas, mas depois de conseguir girar eppendorfs entre os dedos, percebi que era aquele o meu momento de saída. Não há nada mais triste do que cair do salto.
Sim, as paredes não estavam mal, mas só o moto era profissional.
Casa d' Orange
1.11.07
Parece que ando cinzenta. Desci aos 52 kg, o que por acaso me agrada. Nem sei bem para onde me fogem as horas, os dias, as semanas. Levaram-me a miúda ao cabeleireiro e está maravilhosamente curta. Eu nunca teria tido coragem, que tenho uma frustração antiga com a minha infância sem gancho nem totó.
Pari 15 metros de parede e uma dúzia de folhetos. Se tiver uma aberta ainda hei-de escrever à Corel para os insultar por terem escondido a ferramenta de transparência.
A única externalidade positiva é o rato novo que quase parece um Mac. Ainda hei-de ter um Mac.
Pari 15 metros de parede e uma dúzia de folhetos. Se tiver uma aberta ainda hei-de escrever à Corel para os insultar por terem escondido a ferramenta de transparência.
A única externalidade positiva é o rato novo que quase parece um Mac. Ainda hei-de ter um Mac.
em repeat
A frase que me ensinou a amiga:
Science is what I do, it is not what I am
Mesmo quando parece mesmo que não é assim.
Science is what I do, it is not what I am
Mesmo quando parece mesmo que não é assim.
19.10.07
...
Estou liquefeita. Para além de tudo, deram-me 27 m2 de stress para daqui a nada.
Acabei de viver uma deadline, uma das primeiras que virão nos próximos dias, literalmente ao minuto.
A minha filha está em cada dos avós e falou-me ao telefone de um rato com magia. Ou qualquer coisa parecida.
Pediram-me uma fortuna por umas paredes montadas em alveolado. Se a Universidade tivesse esse dinheiro casava-se.
A parede do stand não aguenta o plasma. É preciso um tripé. O que me obriga a engenharia no alveolado.
Eu também preciso de um tripé.
Eu hoje devia ir apanhar uma bebedeira.
Acabei de viver uma deadline, uma das primeiras que virão nos próximos dias, literalmente ao minuto.
A minha filha está em cada dos avós e falou-me ao telefone de um rato com magia. Ou qualquer coisa parecida.
Pediram-me uma fortuna por umas paredes montadas em alveolado. Se a Universidade tivesse esse dinheiro casava-se.
A parede do stand não aguenta o plasma. É preciso um tripé. O que me obriga a engenharia no alveolado.
Eu também preciso de um tripé.
Eu hoje devia ir apanhar uma bebedeira.
13.10.07
Finalmente, uma alpaca. Ainda não lhe decidi o fim, mas estará ligado aos meus ombros. Tenho ombros tensos, nodosos. Os músculos ressaltam-me as canseiras e corcundo assustadoramente. É uma pena, que até tenho um colo bonito e gosto muito de decotes. Às vezes ela ainda me explora o peito numa sem cerimónia filial.
Há dois anos que me apetece um xaile.
the pathologist
Esta semana tive o meu primeiro júri académico. Como a tradição ainda é o que era, a funcionária assumiu que eu era a candidata. Lá a poupei com um sorriso e uma treta qualquer tipo "pois, eu sei que pareço mais nova".
Eu não pareço nada mais nova. Tenho 35 anos e vê-se. Na expressão dos olhos, nos cantos da boca. Nas mãos. O problema é que a Universidade está velha. Não mudem o estatuto da carreira e vão ver, as algálias a pingar nos corredores.
Tive uma semana tramada (porque sou nova?). (Porque) como estou cá para muitos anos, ainda acredito na sustentabilidade dos processos. Por outro lado, ouvi a melhor quote dos últimos tempos, numa sala cheia de VIPs (e eu, tão nova, que liguei a pedir um convite; mais novos que eu só os miúdos lindos que a Gulbenkian contrata para ajudarem na logística), por entre uma maioria de ideias estafadas e alguns breves momentos de profunda admiração intelectual. A saber: the perfect diagnosis is autopsy.
Eu não pareço nada mais nova. Tenho 35 anos e vê-se. Na expressão dos olhos, nos cantos da boca. Nas mãos. O problema é que a Universidade está velha. Não mudem o estatuto da carreira e vão ver, as algálias a pingar nos corredores.
Tive uma semana tramada (porque sou nova?). (Porque) como estou cá para muitos anos, ainda acredito na sustentabilidade dos processos. Por outro lado, ouvi a melhor quote dos últimos tempos, numa sala cheia de VIPs (e eu, tão nova, que liguei a pedir um convite; mais novos que eu só os miúdos lindos que a Gulbenkian contrata para ajudarem na logística), por entre uma maioria de ideias estafadas e alguns breves momentos de profunda admiração intelectual. A saber: the perfect diagnosis is autopsy.
lêveda
Esta noite sonhei com sonhos. Uns quatro, assim dos grandes. Eu gosto de sonhos grandes, leves, cheios de alma. Lembro-me que faltava parte de um, não sei por quem.
Deve ser o corpo a pedir-me açúcar. Eu acredito muito nos pedidos do meu corpo. Quando estava grávida nunca lambi colheres nem esgravatei nos vasos. Nunca exigi loucuras fora de horas, mas tinha vontades. Às vez doces outras salgadas. Tenho muitas vontades salgadas. Adoro cafés combinados com chamuças. A menina é mais gulosa de petiscos do que de doces. Dêem-lhe queijo e deixem lá os pudins.
De manhã fui à Baixa e não sonhei. Estou há dias com uma coisa cá dentro. Não sei se veio do infectário, mas consome-me a tripa e impede-me de sonhar.
Também me doem as costas.
Deve ser o corpo a pedir-me açúcar. Eu acredito muito nos pedidos do meu corpo. Quando estava grávida nunca lambi colheres nem esgravatei nos vasos. Nunca exigi loucuras fora de horas, mas tinha vontades. Às vez doces outras salgadas. Tenho muitas vontades salgadas. Adoro cafés combinados com chamuças. A menina é mais gulosa de petiscos do que de doces. Dêem-lhe queijo e deixem lá os pudins.
De manhã fui à Baixa e não sonhei. Estou há dias com uma coisa cá dentro. Não sei se veio do infectário, mas consome-me a tripa e impede-me de sonhar.
Também me doem as costas.
9.10.07
s(t)eaming
Como quase tudo o resto nos blogs, esta costura parece melhor do que de facto está.
As mangas estão mal pregadas e todas as costuras estão tortas e/ou demasiado abertas e/ou fechadas.
Coser tricô é um tormento. Antes agulhar mais umas costas. Credo.
Agora, que já não tenho coragem para desformatar, encontrei ajuda.
7.10.07
Novo livro favorito.
Fazemos as duas, que as brincadeiras vêm aos pares.
...
Eu também posso fazer, pois posso?
Fazemos as duas, que as brincadeiras vêm aos pares.
...
Eu também posso fazer, pois posso?
inside my bag
duas carteiras, não consigo deixar de usar duas carteiras
chaves (de casa, que eu ando de transportes), telemóvel
óculos, tenho sempre óculos escuros
acabei-o
o tricô, por acaso dentro de um saquinho
catálogo, porque gosto sempre de ter uma coisa bonita; conforta-me; às vezes é um papelinho com referências de lãs que não chego a comprar; às vezes é um pauzinho de papel com perfume
folheto das borboletas; fomos ontem
falta mais uma carteira onde seguem os lenços de papel, o baton de cieiro (que nunca uso mas tenho sempre), umas toalhitas, um elástico, um minidesodorizante, uma escova e lápis de cor
5.10.07
Se eu tivesse time para estar out possivelmente não precisava da revista. Mas assim já posso acompanhar a vida no mundo exterior.
4.10.07
veggie
ou porque é que acho graça ao reino vegetal,
r-evolution: industrial design: botanic
missed tree
zaum, tree
r-evolution: industrial design: botanic
missed tree
zaum, tree
3.10.07
knit update
:: Parece que foram eles que desenharam as camisolas do Matrix. Há padrões para venda. O lookbook é fantástico.
:: Falta-me uma manga da ink flared sweater.
:: Vogue Knitting 25 years: free patterns
:: J'aime bien Montparnasse
:: Falta-me uma manga da ink flared sweater.
:: Vogue Knitting 25 years: free patterns
:: J'aime bien Montparnasse
amity
No fim-de-semana vinha à minha frente no comboio uma mãe com uma gabardine improvável. Sei que é uma mãe porque a filha vinha ao lado. Fartei-me de rir com elas, disfarçada ou obviamente. O telemóvel não tinha teclado e era preciso agendar o fim do dia entre as partes da família (não nuclear, novos modelos de célula, blá, blá, blá, pais separados).
A gabardine era assim azul/verde/piscina/petróleo. O resto descombinava agradavelmente. Não sei se a pré-adolescente (é assim que se diz agora, não é, nesta fúria evolutiva dos tempos modernos) se apercebeu disso.
Como tantas outras coisas, a minha estética mudou com a maternidade. Ou melhor, ganhou uma nova dimensão. Imagino como a minha filha me vê. Se me repara nos tiques, se me reconhece as manias, se me aprova. Até quando serei maravilhosa? Será que algum dia me transformarei num vexame?
Lembro-me de uns sapatos verdes da minha mãe. Verde escuro. Lembro-me do frasco do eyeliner e do pincel fininho.
E agora dou por mim a imaginar se ela um dia gostará de usar as minhas coisas. Justifico compras especiais também com isso. Tenho uma wish list própria de peças intemporais que também serão dela.
Não sei se é por isto tudo que estou tão enamorada pela comptoir. Porque tem trapinhos maravilhosos, tão trapinhos e tão maravilhosos. Uma paleta discretíssima e uma qualidade macia. Uns bons saldos. Este domingo cumpri lá os meus presentes em falta e imaginei-a pendurada na tapenade tenra que me massaja o ombro.
Confesso que adoraria participar na campanha, eu que não gosto de tirar fotografias. Mamãs, este ano há um casting no Porto, agora em Outubro. Vão lá.
1.10.07
domesticada
Hoje começa o terceiro ano do meu contrato de trabalho e estou de férias. O meu 22ª dia de férias em 2007.
Ontem, por volta da 1h30, depois de ter confirmado as dúvidas com a enfermeira do Trim-Trim, descansei a espertina pela blogosfera do costume. Segui o link da Jane sobre o livro.
Como estou de férias e a miúda adormeceu o ben-u-ron, discorro.
No outro dia conheci a Vargas num programa da Oprah. Um programa sobre as mulheres mães e trabalhadoras, blá, blá, blá. E eu vi. E lá estava a discussão do costume. Esta senhora é um case study lá na América, onde não há licença de maternidade.
Eu gosto do blog da Jane. Tem fotografias maravilhosas e aquela englishness que eu gosto de acompanhar. Quando vi a capa do livro fiquei ligeiramente desapontada, mas perdoei-lhe. Acho a capa desagradavelmente doce, como os bolos de aniversário das lojas, e só tolero o título se lhe atribuir uma brit-irony. Eu não sou crinoline lady-like, sou mais toalha preta por baixo da porcelana. Dito isto, a Liz não percebeu nada.
Eu também acho que somos umas totós e por acaso não culpo os media, culpo-me a mim, e certamente não culpo a Jane. É verdade que isto pode ser só mais um anel da espiral de culpa. Pelo menos sinto-me diagnosticada, o que já é um avanço. Lentamente, firmo pequenas conquistas. Interiorizei o conceito de fim-de-semana, aceito ajudas, peço ajudas, já não acho que preciso de ler todos os livros e fazer todos os puzzles, não luto com cenouras, ervilhas, saladas e afins, também dou gelados e chupas (em vez de negar sempre para contrabalançar as ofertas de terceiros), deixo passar uma ou outra lavagem de cabelo e compreendo que não se deve interromper um episódio do carteiro Paulo. Evito responder a emails profissionais às dez da noite ou nove da manhã de domingo, mesmo que os veja, porque eu sou uma pessoa com uma vida.
Gosto de tricotar e cozinhar. Não me apanham no gardening (nos nossos três metros quadrados de garden) e a máquina de costura foi um erro de casting. Tenho quase tantos anos de escola como de vida, mas quando (a academia liga muito a isto) me perguntam se sou doutora respondo que sim, mas que disfarço muito bem.
Às vezes tenho saudades da bata e já pensei que seria óptimo poder usar avental. Gosto tanto de aventais. Os meus são tradicionais, com peitilho, mas também aprecio os estilo lounge ou nazarenos. Acarinho a visão de uma mãe de avental. Eu uso avental porque sou uma mãe que faz o jantar, mas não nutro juízos de valor sobre quem nem por isso.
E o jantar é o maior sacrifício da minha vidinha. Já me perguntei várias vezes se vale a pena cozinhar-me, todos os dias e mais as efemérides. Talvez sim. Possivelmente não. E obviamente que ninguém tricota para poupar o que quer que seja, senão sanidade mental. Nem para impressionar ninguém, ou ainda não repararam na deselegância dos resultados? Uma pessoa, esta pessoa, tricota para se distrair, para se desafiar ou para (se) oferecer tempo. Um presente de agulhas é uma oferta de tempo. Muito mais caro que a caxemira.
Hoje estou de férias porque lhe diagnostiquei uma otite. Daqui a bocado vou deixar o doutor decidir sobre o antibiótico.
Ontem, por volta da 1h30, depois de ter confirmado as dúvidas com a enfermeira do Trim-Trim, descansei a espertina pela blogosfera do costume. Segui o link da Jane sobre o livro.
Como estou de férias e a miúda adormeceu o ben-u-ron, discorro.
No outro dia conheci a Vargas num programa da Oprah. Um programa sobre as mulheres mães e trabalhadoras, blá, blá, blá. E eu vi. E lá estava a discussão do costume. Esta senhora é um case study lá na América, onde não há licença de maternidade.
Eu gosto do blog da Jane. Tem fotografias maravilhosas e aquela englishness que eu gosto de acompanhar. Quando vi a capa do livro fiquei ligeiramente desapontada, mas perdoei-lhe. Acho a capa desagradavelmente doce, como os bolos de aniversário das lojas, e só tolero o título se lhe atribuir uma brit-irony. Eu não sou crinoline lady-like, sou mais toalha preta por baixo da porcelana. Dito isto, a Liz não percebeu nada.
Eu também acho que somos umas totós e por acaso não culpo os media, culpo-me a mim, e certamente não culpo a Jane. É verdade que isto pode ser só mais um anel da espiral de culpa. Pelo menos sinto-me diagnosticada, o que já é um avanço. Lentamente, firmo pequenas conquistas. Interiorizei o conceito de fim-de-semana, aceito ajudas, peço ajudas, já não acho que preciso de ler todos os livros e fazer todos os puzzles, não luto com cenouras, ervilhas, saladas e afins, também dou gelados e chupas (em vez de negar sempre para contrabalançar as ofertas de terceiros), deixo passar uma ou outra lavagem de cabelo e compreendo que não se deve interromper um episódio do carteiro Paulo. Evito responder a emails profissionais às dez da noite ou nove da manhã de domingo, mesmo que os veja, porque eu sou uma pessoa com uma vida.
Gosto de tricotar e cozinhar. Não me apanham no gardening (nos nossos três metros quadrados de garden) e a máquina de costura foi um erro de casting. Tenho quase tantos anos de escola como de vida, mas quando (a academia liga muito a isto) me perguntam se sou doutora respondo que sim, mas que disfarço muito bem.
Às vezes tenho saudades da bata e já pensei que seria óptimo poder usar avental. Gosto tanto de aventais. Os meus são tradicionais, com peitilho, mas também aprecio os estilo lounge ou nazarenos. Acarinho a visão de uma mãe de avental. Eu uso avental porque sou uma mãe que faz o jantar, mas não nutro juízos de valor sobre quem nem por isso.
E o jantar é o maior sacrifício da minha vidinha. Já me perguntei várias vezes se vale a pena cozinhar-me, todos os dias e mais as efemérides. Talvez sim. Possivelmente não. E obviamente que ninguém tricota para poupar o que quer que seja, senão sanidade mental. Nem para impressionar ninguém, ou ainda não repararam na deselegância dos resultados? Uma pessoa, esta pessoa, tricota para se distrair, para se desafiar ou para (se) oferecer tempo. Um presente de agulhas é uma oferta de tempo. Muito mais caro que a caxemira.
Hoje estou de férias porque lhe diagnostiquei uma otite. Daqui a bocado vou deixar o doutor decidir sobre o antibiótico.
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