story:tell:her

4.5.08

a mãe da filha


À medida que desabafo a ingratidão filial da pisca, contam-me as histórias mais inverosímeis. Outros, antes de mim, já passaram pelo síndroma dos douradinhos. Havia a garota que "quando for grande quero ser stripper" (filha, sabes o que é uma stripper?), o puto que o que mais apreciava no pai era ele "ver um episódio dos malucos do riso" (que o pai jurava nunca ter acontecido) ou o clássico com o pai é que é tudo tão mais giro.
Eu, claro que não me aguentei, e fui à fonte esclarecer a situação. Com o meu ar mais eu estou a perguntar isto, mas não é nada importante, nem estou nada magoada, nem aflita nem nada perguntei-lhe sobre o exercício. Claro que se lembrava muito bem (agora lembra-se sempre de tudo muito bem) e a pergunta inicial era porque é que eu gosto da mamã. E lá me repetiu tudo, com uma leveza desarmante. Eu gosto da mamã porque às vezes fica zangada, às vezes não (assim, numa dicotomia simples, evidente e confortável) e por aí adiante.
O pai, obviamente, riu-se. Ainda começou a enumerar-me as diárias provas de amor e as manifestas declarações de que não, eu não sou uma megera a causar danos indeléveis na criança, mas eu precisei de enlutar sozinha o meu próprio desapontamento. Na verdade, tudo isto é sobre mim, não é sobre ela. Eu adoro-a e digo-lho todos os dias, baixinho, a seguir à noite feliz, não caias da cama e não partas o nariz.