story:tell:her

23.6.05

Mission statement

A minha sala de trabalho só tem gente nova, mais nova do que eu, todos rapazes e economistas, menos eu. É divertida e tem excelentes picos de produtividade, para cima e para baixo. Ontem, abaixo do eixo, discutimos as modas, os nossos gostos e passados. Temos um beto genuíno, da Lapa, daqueles porreiros que toda a vida vão usar a mesma roupa porque sim, que abusam um bocadinho das riscas nas camisas e do azul escuro. Temos o surf do cabelo cuidadosamente despenteado, o mais fashion, com ténis e óculos giraços. Temos um muito parecido ao meu lá de casa, o casual com toques pontuais de rebeldia, que conhece as melhores músicas, calado mas com o melhor sentido de humor e que percebe sempre o que eu quero dizer. E temos o jovem, com ar de ainda mais jovem, que ainda usa roupa da Lacoste.
Eu sou a mais velha, mais graduada, a mãe. E a mais indie. Nunca fui de extremos, mas faço um esforço por me desarranjar. No fim do liceu partilhava as camisas e camisolas do meu pai, na faculdade adoptei o look neo-hyppie muito típico da fcul e fcsh na primeira metade dos 90s. Nunca tive um lenço palestiniano, mas tive muitos outros igualmente desbotados e sandálias desconfortáveis. Passei pela fase minimalista da segunda metade 90s, achei que já tinha crescido e tive uns meses de postura soft-pro. Aborreci-me disso e alternei para o wild side. A minha peça de culto é a T-shirt branca.
À noite íamos ao Bairro Alto, ao Jamaica e ao Incógnito. Nunca bebi coisas fortes nem experimentei as ganzas porque não sabia fumar. Gastava a rebeldia nos brincos desiguais e não contrariava os caracóis. Tenho saudades da falta de pressa no Chapitô e na esplanada da Graça. Começávamos sempre pelo B'Artis.
Nunca fui às discotecas da 24 de Julho.
Nunca fui ao Lux, mas ainda tenho esperança.