story:tell:her

31.8.08

what's my point?*

As amizades, assim em bom, precisam de tempo para se entrincheirar; para partilhar e construir uma memória; para fruir as comunalidades e dispersar as idiossincrasias.
Ontem, mais uma vez, arrastei uma mistura de tolices, intimidades, circunstâncias, sofrimentos e risos pelas pedras da calçada. Descascámos o verão, numa purga terapêutica de verdades, verdadinhas e, quiçá, equívocos fantásticos. Só por isto, já teria valido a pena construir na blogosfera.
Se calhar, aproveitamos para pausar por aqui. Fizemos gosto.


*a Pública de hoje tem uma peça sobre o Dude. Foi um dos primeiros filmes que vi em cima. Gostei de todos, preferi o Donny.

2008/2009

Amanhã é dia de ano novo.
A pisca será uma menina da sala verde, haverá uma lista de material na porta e vou arranjar uma ginástica fora da escola que a canse (a miúda procura consistentemente o maior segmento possível de corrida na sala, pula desmesuradamente entre o sofá e o fatboy e eu já não posso ignorar mais isto).
Eu, que não tenho cadernos novos, comprei umas botas maravilhosas e tenciono resgatar em mim um rabo de cavalo, ou, pelo menos, um pincelinho de barba.
Entre uma e outra coisa, todos os dias serão nossos.

28.8.08

a sapiência universitária, o mundo animal e a creche fechada

[em frente à entrada da nave-mãe, expliquei-lhe a simbologia do mocho]

À saída:
- ò mamã conta-me lá outra vez aquilo do morcego.

27.8.08

Amizade é ...

you're no spring chicken

Quase vinte anos depois é isto que se ouve dum gajo que vive debaixo do chão numa pedrita.

24.8.08

Então, as férias?

Amanhã (re)começa a conversa do costume. Então, as férias? É como depois do Natal. Então, o Natal?
As férias passam-se, pá.
Houve alturas em que as férias eram intermináveis, arrastadas entre a biblioteca da Junta e a sala, quando não havia televisão antes das cinco da tarde e depois se viam os documentários do fundo do mar e tal. Aquilo nem devia ser editado porque em boa verdade nunca mais acabava (é que o mar é muito grande e tem muito fundo). Como eram as férias.
Agora as férias são diferentes. Aliás, chamar-lhe férias é assim um hábito, um anacronismo, uma espécie de membro fantasma. As férias agora parecem mais conjuntos seguidos de fins-de-semana.
Depois há aquele pormaior, os miúdos. As férias dos pais nunca mais são como as férias dos filhos. Uma família alargada, sitiada num local que, mesmo quando hóspito, é falho das referências que geoposicionam cada um.
O direito a férias é parcimónio porque o legislador era um homem sábio.

birkinolage

...

[na verdade é uma kelly, mas lixa-me o título]

silly season - le grand finale


Estava convencida que era uma espécie de calquito e queria uma osga. Recebi uma recusa suave (o desenho era muito pequeno e difícil) e um sinal para as borboletas, que é como quem diz "as miúdas gostam é destas coisas". Afinal, um cliché é um cliché, que é um cliché (1).
E assim sendo, esta manhã, no areal, um rapaz pousou-me um lepidóptero a tinta da china, logo acima da mama esquerda. Vou passar a tarde a testar decotes (2).

(1). a menina obrigou-me a prometer-lhe uma igual, para quando for crescida, se é que tal epíteto se me aplica.
(2). deus me livre se a hierarquia me vê isto.

23.8.08


precioso

cGac


a_cervo


...

Envelhecemos todos.

little portugal

Podia dizer muitas outras coisas, mas apesar, ou para além, é um clássico cá do rectângulo.

12.8.08

caramulo (II) - escatologia serrana

- Ò mamã, lá no Caramulo há casa de banho?
- Sim.
- Ainda bem. É que quando lá chegarmos eu vou fazer cocó.

caramulo (I) - urbi et orbi

(na subida da serra)
- Ò mamã, daqui vejo o país inteiro!

7.8.08

le fabuleux destin

hier soir, avec amélie

31.7.08

das férias

Quando pedimos um cone de gelado com o chantilly por baixo.
É esse o momento em que escrevemos o out of office autoreply.

30.7.08

...

Tem graça que ando às voltas com isto. Aliás, os blogs criam correntes de assuntos.
Eu também não sei como é que as pessoas que lêem estas postas me imaginam porque eu, de facto, conheço pessoalmente as pessoas que eu sei que lêem as postas. As outras, que eu não conheço, e que não me conhecem a mim, e que se calhar lêem as postas, são uma massa indiferenciada a quem eu não consigo atribuir opiniões.
Claro que eu podia perguntar a algumas pessoas, que eu conheci depois de terem lido algumas postas, se eu sou como elas me imaginavam. Mas nunca perguntei. Nem sei se quero saber a resposta.
É que por acaso irrita-me esta coisa de as pessoas (como eu própria) acharem que conhecem as pessoas que lêem (como eu faço). Ou, personalizando, de haver pessoas que acham que me conhecem à conta disto. Claro que esta irritação não é, em boa verdade, contra as pessoas, que eu não conheço e de quem não posso ter opinião, é contra mim, que me dou aqui a conhecer e mais às minhas coisas.
É que eu gostava de ser complexa, mas sou só complicadinha.

29.7.08

thin-skinned, temperamental, ripens early

MAYA
Why are you so into Pinot? It’s like a thing with you.

Miles laughs at first, then smiles wistfully at the question. He searches for the answer in his glass and begins slowly.

MILES
I don't know. It’s a hard grape to grow. As you know. It’s thin-skinned, temperamental, ripens early. It’s not a survivor like Cabernet that can grow anywhere and thrive even when neglected. Pinot needs constant care and attention and in fact can only grow in specific little tucked-away corners of the world. And only the most patient and nurturing growers can do it really, can tap into Pinot’s most fragile, delicate qualities. Only when someone has taken the time to truly understand its potential can Pinot be coaxed into its fullest expression. And when that happens, its flavors are the most haunting and brilliant and subtle and thrilling and ancient on the planet.

*

> ò mamã, nós estamos no planeta Terra?
> sim
> que bom, gosto muito do planeta Terra.

28.7.08

just go to the mall

This blog is sentimental tacky crap; are you in a coma?

27.7.08

teen_Aging

Ou então somos é uma geração tardia.
Descascamos cuidadosamente os tiques da maioridade, recusamos admitir que já não somos um x-s, alimentamos um calão anacrónico. Alguns mantêm o look EP, (ainda) usam t-shirts de bandas ou recusam-se a usar carteira. Eu tenho um anel no segundo dedo do pé direito, comprei umas sandálias com franjas e tenciono passar o verão a dizer fixolas como a minha amiga. Na rentrée logo me preocupo outra vez com isso.

25.7.08

ya(w/r)n

Apetece-me fazer isto, que é quase igual a isto, que já fiz.
Desde o vendedor de passados que acho graça a homens que falam de osgas.

24.7.08

thir(s)ty-something-else

Somos uma geração precoce.
Galgámos umas quantas escadas e agora trambolhamos de cima.
Ontem almocei lá em baixo. Uma salada generosa, descrita em três linhas de menu. Mudaram outra vez a decoração. Roxo. Um avental preto, demasiado solícito, esvoaçava por cima das nossas azeitonas. E pronto, logo no paté a conversa aterrou no sítio do costume.
Tal como o menú, temos um currículo com muitas linhas. E perante as opções, temos pressa. Precocemente aborrecidos, alimentamo-nos de novidade, sempre à espera de outra coisa qualquer. Não é necessariamente melhor, é outra. Parece que há quem se drogue, quem compre uma vespa, faça um piercing. Outros apaixonam-se pela vizinha [e eu disse-lhe: sim já sei, os pés da tua vizinha... vá, liga-me quando quiseres falar disso e não faças disparates].
E a vida é isto. Os melhores anos da nossa vida numa nostalgia precoce.

the noise from the crowd increases the chance of misinterpretation

Acho o teclas giro; assim tenrinho.

23.7.08

frágil

Faz-me um sinal qualquer
Se me vires falar demais
Eu às vezes embarco
Em conversas banais

A urgência de agarrar
Qualquer coisa para mostrar
Que afinal nós também temos mão na vida
Mesmo que seja à custa de a vivermos fingida
O estatuto para impressionar o mundo
Não precisa de ser mais profundo
Que o marasmo que nos atordoa

Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém, não
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo

...

apenas uma palavra por dia, o bem que me fazia

ilha

22.7.08

sex in the garden

Successful fertilisation in the angiosperms depends on pollen tubes finding their way to the ovule. In vivo, pollen tubes frequently change their direction of growth until they finally reach the micropyle. Once in the female tissues, changes in growth direction must arise from the perception of ill-characterised spatial, mechanical electrical and chemical cues from the stigmatic environment. Exactly how these signals are perceived and transduced is not yet known.

[...]

It is interesting that when addressing the reluctance of cAMP signalling pathways in plants, Bolwell (1995) already put forward this same intimacy between AC and stress signalling […] Even more significant to this work is that the same rationale could be applied to pollen tubes: localised interaction with environmental cues at the very tip, where reorientation can occur within a few minutes.

***

Sete anos depois, ocorre-me: será que isto faz de mim uma perita em relacionamentos?

20.7.08

Beco da Verduga, 17


Segues a linha do eléctrico, atiras-te ao poço, viras à direita e entras no beco; percebes ao fundo o azul e branco, sorris-te e começas a subir as escadas; esticas a manta no fresco e dispões-te; enches os copos de risos e misturas a salada; o tomate biológico come-se com casca e as purpurinas brilham-te por dentro.

intelligent design


O deles, que nós tivemos mesmo foi sorte.
Anyway, obrigada mr bd.

six feet above


Há uma graça acrescida em amigar a F1. Os filhos não são os pais (tal como nós gostamos tanto de fazer notar um degrau acima na progenia). Os filhos são pessoas pequeninas que tecem as suas próprias malhas, mesmo quando ainda lhes fiamos a teia.

18.7.08

escancarei a porta do bar

Esta coisa de fazer amigos novos traz uma nostalgia danada dos amigos velhos.

copycat

- ò mamã porque é que tu não sujas a boca a comer?
- porque a minha boca é grande e eu abro-a bem para acertar com o garfo
- ò mamã, suja lá a boca
Não me lembro quem é que disse isto, mas o problema de ouvir Tom Waits é que depois só se consegue ouvir Tom Waits.

17.7.08

lavanda blues

Enquanto me lembro de um verão longínquo, duas miúdas esganiçadas no banco de trás do Honda do Manel, ocorre-me o moto perfeito para este meu gabinete.

> a penny for your thoughts <
Primeiro o João, depois o Pedro.

Mas o que interessa mesmo é isto:

“Now we have fashion universities, and the world media is here,” she observed before shooting off a list of Portuguese designers now working senior positions in major international fashion houses..."

A ver se o meu pai deixa de dizer que eu só tenho queda para profissões de mal-vestidos.
we busted out of class
had to get away from those fools
we learned more from a three minute record
than we ever learned in school

murmurs

Eu ia avisada. Já não me lembro quando é que ouvi a história pela primeira vez (mas lembro-me das letras do Bruce Springsteen, por exemplo), mas vi-os naquele vislumbre de Roma, há muitos anos. Recentemente, estornei-me.
É admirável. Ainda mais quando se formaliza o espanto.

They found that a given bird interacts not with all birds within a certain distance, as most models had assumed, but rather with a fixed number of neighboring birds - usually six or seven ...

Novamente, como no liceu.

16.7.08

frankly

I want to live and I want to love
I want to catch something that I might be ashamed of

15.7.08

résumé

Por causa das viagens dos outros, imagino como seria o meu resumo. É um exercício recorrente, reduzir mentalmente as minhas materialidades. Alguns dirão que é mesmo só mental. Admito que colecciono um número insano de vestidos e tops. Que tenho cinco pares de birks. Mas nada disto é verdadeiramente importante ou representativo. São apenas pedrinhas de sal. Embaraços burgueses, coisas da idade. Tenho uma wish list breve de objectos de culto. Aquisições inscritas no ar do meu tempo, que há-de vir.

Se eu me guardasse num contentor, estimo que ocuparia 4 m3.

Depois levava cinco vestidos, uma camisola, um impermeável e uns óculos escuros. Mais o google e um frasco de creme nívea. Tricotava quadrados que me enviava pelo correio.

14.7.08

das expectativas

Acusam-me de ser intimidatória. De intimidar. De expectar sempre demais de tudo e de todos. Mas eu, de facto, expecto. Tu não expectas?
Não quero um crescent, quero the whole of the moon.

da memória

hot tears flow as she recounts
her favourite worded token

11.7.08

da linguagem

Acabaram-se as ramélias e as mélguias; chegou o gelado de palmira (aquele branco mamã; ah, baunilha).

9.7.08

in my head

Scotch Mist

De vez em quando, dá-me para isto.

6.7.08

recent quotes

1) O D. da sala verde convidou-me para ir a Paris ver filmes.
2) Je t'aime de tous mon coeur (escrito num postal de aniversário - 6º aniversário).
3) JA CA TAMOS. DPS APANHA A ROUPA. BJS (sms devidamente identificado).

Caramba.

1) Espero que a menina continue a receber convites maravilhosos.
2) Este miúdo tem futuro.
3) O meu king of convenience é um verdadeiro romântico.

3.7.08

a vida em 34 mm

É verdade que há momentos em que parecemos enquadrados. Coincidências de guião, luzes privilegiadas, guarda-roupa promissor. São apenas instantes, takes fortuitos por entre o despacho normal da vidinha. Logo a seguir entornamos o café na saia, marcamos o dentista, (re)descobrimos as unhas imundas da criança, apercebemo-nos da borbulha no queixo.
A escatologia da realidade encolhe sempre tudo um bocadinho.

2.7.08

After RAP/John Austin

O que me apetece escrever num email xx.pt:

Eu insulto-vos.

30.6.08

It doesn't matter which you heard
The holy or the broken Hallelujah

indeed

Who gives a fuck about an Oxford comma?

do verão

O cheiro das figueiras; a marca dos chinelos nos pés; o cheiro a protector solar; as sardas; a areia escondida nas dobras de tudo; o casaco na gaveta; as noites; primeira estrela que eu vejo realiza o meu desejo; a salada de polvo; a miúda sempre de calções; as mélguias; os gelados; o vinho branco; os vestidos; a depilação; os dias compridos; o mazagrin; 104 vagas, 77 editais e eu sem saber se hei-de cortar o cabelo.

26.6.08

. . ._ _ _ . . .

25.6.08

mop

Discute-se o meu cabelo à minha frente. Hesito sobre um novo corte, que sei inevitável, e o seu passado, médio, ombreado. Parece que fico mais nova assim descoberta. Acredito, não consigo a distância para opinar. A verdade é que nunca nos vemos como somos. No espelho estamos ao contrário e eu, reconhecidamente, faço boquinhas. As fotografias são um choque que aprendi a desvalorizar.
De algum modo, tenho saudades do meu cabelo. Do biombo que me interpunha do mundo. Do elástico no pulso, do apanhado frouxo. O cabelo curto é uma equação de muitos graus. Dá confiança, tira confiança.
Enfim, hoje aparelhei-me de ganchos.
Ainda só passaram três dias e eu já estou tão farta de esfregar.

23.6.08

napalm

Acabei de enviar o email institucional que me vai afundar nas próximas duas semanas. Já sinto o calor ao longe.
Foi um gosto. Até sempre, Ana.

21.6.08

verão 2008

Se eu me casasse agora, levava um vestido osklen.

19.6.08

arte&factos

Monsieur Le Marchand,

Quero:
> Umas costas do John Coplans
> Um dos picotados da Martinha Maia
> Um talher do Rui Chafes (versão lilliput)
> Umas palavras sobre tela do Julião Sarmento

Se não tiver nada disto em catálogo, pode sempre imprimir-me um after-Kosuth, por exemplo:

"Delírio; do Lat. Deliriu; s. m., desvio mórbido da razão contra o qual não valem a experiência nem a argumentação lógica e em virtude do qual o indivíduo se afasta cada vez mais da realidade."

Before today

ebtg

But I do want a phone that never rings...

17.6.08

Chelsea Hotel

You told me again you preferred handsome men
But for me you would make an exception

A dreaded sunny day

Keats and Yeats are on your side
But you lose'
Cause weird lover Wilde is on mine
*
febrícula
s. f. (fr. fébricule; ing. febricule). Ligeira elevação da temperatura; pode ser transitória ou prolongada.
*
Ou, se calhar, isto é mesmo verdade.

9.6.08

a feira > 3

Compras de 2008: um ensaio sobre a interdisciplinaridade da Relógio d'Água e a Prova de Vida do PM.
A minha leitura é, em si própria, um aforismo.

a feira > 2

A diferença metaforiza-se nos músculos das pernas. Vinte anos depois, as barraquinhas são iguais, os altifalantes são iguais, as farturas são iguais. Os meus músculos é que são diferentes.
O meu pai dava-me sempre uma soma generosa para a feira. Contos para contos, romances, ensaios e edições manhosas de divulgação científica, que traduziam em brasileiro as aventuras dos físicos da cortina. Para além da Gradiva, havia pouco. Naquele tempo também se compravam enciclopédias e dicionários.

a feira > 1

No sábado fomos pegajar jacarandás para o parque. Entrámos ali por cima, pelo pavilhão dos comícios e do concerto do CB. Aterrámos logo na Leya e no LA. Como não tenho feitio para estas coisas, não lhe disse o quanto me desassossega. Há um pudor que me impede de experimentar os meus autores na vida real. Outro dia ouvi o JLP na televisão, a falar com palavras ditas. Não tenho necessidade de tanto meio. Quem escreve, escreve. Quem fala, fala. Uma e outra coisa são distintamente duas coisas.
Pelas circunstâncias, falo com muita gente. Depois, restringida, escrevo-lhes procedimentos da instituição. E mais proibiu-me o tribunal. Sou dolosamente ficcional no registo escrito.

7.6.08

rip rip hurra

A graça que acho a obituários. Do ponto de vista jornalístico são círculos perfeitos. Uma mistura letal de notícia/perfil/reportagem; quase nunca entrevista. Ainda melhores quando prestumos, como aqui.

The report of my death is an exaggeration, um clássico.

6.6.08

highschool 4 ever

A vida, afinal, é um liceu perpétuo. Desde a fractalidade dos grupos às relações de poder, da agenda social às angústias individuais, está cá tudo na vida adulta, em repeat.
Mais, it all comes down to making out*.

*sem dúvida, a melhor máxima de vida, partilhada entre amigas, numa refeição, literalmente, a crú.

4.6.08

Parece que vai fazer calor. Não sou de abafos, mas confesso que ando a precisar de sol. Este meu destravo deve ser falta de pilha. Multiplico-me em coordenadas desconhecidas, chego a arriscar-me por vielas esconsas. Ontem à tarde cheguei ao cúmulo-nimbo de equacionar, alto, um novo doutoramento. Estou possuída pelo tédio húmido da borrasca primaveril. Sinto-me um relógio digital, falho, sempre a piscar.

28.5.08

free postal sentences

woefully insufficient yet so strangely beautiful

Nature Theatre of Oklahoma

27.5.08

semântica

Quando é que o epifânico se torna epitáfico?

out of life

Morreu o Sidney Pollack. Assim sendo, é hoje que confesso publicamente o meu gosto pelo África Minha.
O que eu gosto do Robert e da Meryl, da música, da fotografia e dos diálogos. Não tenho preferência conhecida pelo continente vermelho, pelas raízes, pela etnicidade, pelo multiculturalismo, mas tenho pelas histórias de amor, principalmente as tortas. Choro sempre no funeral do Denys.

He wasn't ours, he wasn't mine.

26.5.08

l'air du temps

gris

berryied

Numa efervescência cor-de-rosa, até só sobrar a espiral branca, polvilhada de confetti.

22.5.08

I [heart] sonhos

I.
Queria um sonho, por favor.

II.
Tem sonhos?

in Pastelaria Brasileira, Rua Augusta.

borboletas na barriga

O Zé Mário vai publicar um livro de micro e nanocontos. Como diria a minha pisca, que boa ideia.
Desde a caixa baixa que ele me lembra violetas. E eu sempre preferi violetas a gladíolos.

O ZM foi meu colega de curso, mas ainda menos biólogo que eu. O que é que isto diz da FCUL? Que tem potencial na liberal education.

19.5.08

en attendant d'autres rêves de révolte*

Faz parte de mim, esta inquietação. A vida é uma função co-seno. Ninguém está sempre em high. E por aí fora.
Tempero-me de expectativas, mas alimento-me de realidades. Vivo de certeza os melhores anos da minha vida. Sou querida.
Mas também é verdade que espero sempre outra coisa. Não é mais, é outra.

*frase de Faustin Linyekula num postalfree

15.5.08

Os blogs estão cheios de jacarandás.
Aqui na cité não há, mas lembro-me doutros.

14.5.08

tutela

Depois dos dois beijinhos e do "estás cada vez mais linda" a minha semana foi sempre a descer. Tenho cá para mim que lhe lembro os dias felizes. Há pouco tempo, entre fatos e botões de punho, comentou sorrindo que me tinha visto crescer. O meu chefe, pouco dado a saudosismos e tenso com a agenda do dia, mirou-nos sem compreender. Deve ter ficado a achar que o senhor era amigo da família. Pois não é esse o caso.
Acontece que foi a minha primeira tarefa. Por esta altura, há oito anos, saí de casa com um fato azul e nem cheguei a pisar a redacção. Fomos todos ali ao Paço, para a conferência de imprensa. Nesse dia não escrevi uma linha, mas houve muitos mais dias. Eram tempos de expectativa, de novidade, de financiamento comunitário. Acreditávamos todos. Deve ser por isso que me cumprimenta assim. Deve ser por isso que eu, mesmo no meu pior mau feitio, bufando por dentro com o populismo das medidas, digo sempre olá professor e sorrio.

11.5.08

lis_boa


Where else can you see paradise by the dashboard light?

7.5.08

catching-up

Há que anos que ouvia falar dos Tibetanos, mas só lá fui há umas três semanas. As miúdas levaram-me à TomTom onde há koziols dos grandes.
Há dois dias cortei o cabelo. Muito. Torto. Adoro-o. É quase uma não existência. Tão curto que não o sinto, à parte o caracol torto. Senti-me uma escultura e passou a música que ele me deu.
Ontem convidaram-me para uma festa 70's. Mas o que é isto, uma vida própria?

4.5.08

a filha da mãe


> Ò mamã, vamos à Austrália?
Não filha, vamos só ao outro lado do rio ver flamingos. A Austrália fica muito longe, blá, blá, o avião, blá, blá.
> Aqui é a Austrália?
Não querida, é o Seixal (?!).
Não sei de onde lhe chegam as antípodas e tantas outras coisas. A minha filha-pessoa vive, definitivamente, para além de mim. Gosta de cavalos e chocolate. Resiste cada vez mais à sesta. Canta e dança o tempo todo (tipo, TODO!). Gosta de pintar e desenhar e correr. É a campeã da casa no melga-spotting (ali, mamã, ali, ali). Proibi-a de falar comigo enquanto tiro o carro da garagem (vamos bater ali mamã, o carro está todo torto, mamã!). Está sempre pronta para sair de casa. Quando quer dizer muito diz mil e dois.

a mãe da filha


À medida que desabafo a ingratidão filial da pisca, contam-me as histórias mais inverosímeis. Outros, antes de mim, já passaram pelo síndroma dos douradinhos. Havia a garota que "quando for grande quero ser stripper" (filha, sabes o que é uma stripper?), o puto que o que mais apreciava no pai era ele "ver um episódio dos malucos do riso" (que o pai jurava nunca ter acontecido) ou o clássico com o pai é que é tudo tão mais giro.
Eu, claro que não me aguentei, e fui à fonte esclarecer a situação. Com o meu ar mais eu estou a perguntar isto, mas não é nada importante, nem estou nada magoada, nem aflita nem nada perguntei-lhe sobre o exercício. Claro que se lembrava muito bem (agora lembra-se sempre de tudo muito bem) e a pergunta inicial era porque é que eu gosto da mamã. E lá me repetiu tudo, com uma leveza desarmante. Eu gosto da mamã porque às vezes fica zangada, às vezes não (assim, numa dicotomia simples, evidente e confortável) e por aí adiante.
O pai, obviamente, riu-se. Ainda começou a enumerar-me as diárias provas de amor e as manifestas declarações de que não, eu não sou uma megera a causar danos indeléveis na criança, mas eu precisei de enlutar sozinha o meu próprio desapontamento. Na verdade, tudo isto é sobre mim, não é sobre ela. Eu adoro-a e digo-lho todos os dias, baixinho, a seguir à noite feliz, não caias da cama e não partas o nariz.

3.5.08


Não fosse a fortuna do encontro com as miú das e possivelmente tinha passado o dia a ruminar no papel manteiga. Ali, na parede da sala azul, em letras tortas (será para fingir que são eles que escrevem?), a minha filha traduziu-me assim A mãe é zangada, às vezes è boa. Emendou com um Eu sou uma traquinas, mas o coração já se me tinha estilhaçado na blusa. Prossegue com umas idas ao jardim, gelados e, la piéce de resistance, umas massinhas com douradinhos. Termina com umas histórias ao deitar quando eu, descompassada, já lia a correr os outros relatos. A peer pressure, a esperança que, ao menos, lhes tivesse caído mal o almoço e pronto, fosse disso. Mas não. Multiplicavam-se os relatos de beleza e amor, e eu cada vez mais enrugada, mais panada de miséria, quais douradinhos, que caraças a miúda come aquilo cada seis meses.
Confirmei que 1) não sou linda, 2) não gosta muito de mim nem eu dela (as declarações eram muitas vezes mútuas), 3) aquele era mesmo o dela, que tem uma maneira arrevezada de fazer o R do nome.
Já racionalizei tudo, mas cada vez que penso nisto apetece-me chorar outra vez.

croissant, tâmara e açafrão

Ontem, passeando uma folga sem expectativas, entrei na Nacional.
Seguiram-se seis horas (!?) de companhia, tão deliciosa quanto improvável.
A Ana cortou o cabelo (parabéns Ana!), a Ana pintou as unhas, a Ana divertiu-se à brava.

1.5.08

30.4.08

spectacles

Sou uma míope funcional, astigmática à direita.
Tenho receita e tudo.
Claro que, em boa verdade, quase não precisava do quasi-doutor para saber isso. Eu bem sei que não vejo o que não quero, que me têm mantido na visão curta e que isso me prejudica a visão longa, que são muitas horas a fitar o monitor.
Há muitos, muitos anos tive uns óculos redondos e azuis.
Agora, preparada para enfrentar uma modernidade rectangular e exótica, embeicei-me por uns pequeninos e pretinhos. Estarei, como dizer... cota?

Um astigmatismo ligeiro pode desenvolver-se ao longo dos anos, devido à alteração da curvatura da córnea, provocada pelos milhares de pestanejamentos diários.
Bem feita, para não me armar em boneca.

play

Assustei-os. Está visto que os assustei. Homens crescidos, de barba, atrapalhados e hesitantes, refugiados em agendas preenchidas, lacónicos. Não me querendo dizer que não, não sabem o que me dizer. Decidi ser compreensiva e moderar as expectativas. É uma arte saber gerir as expectativas. Além do mais, por acaso, a única mulher do masterplan ligou-de ontem. A despropósito, por uma desculpa amanuense, ligou-me ontem e falámos um bocado ao telefone. Almoçamos para a semana.
Eu, daqui, vejo o tetris.
As peças surgem, como por acaso, de muitos lados. Ainda estamos no nível um e há tempo para as fazer rodar, para escolher a melhor arquitectura. Quando começar a aceleração vão empilhar-se ao acaso, na sua circunstância. Uma universidade e a sua circunstância.

27.4.08

family meals


main course

side dish

25.4.08

25/04

Enquanto a menina desenformava mais um pato - ou seria um urso? - disse-lhes amavelmente que não. Topeio-os logo, assim desenquadrados, à procura de caras no areal. Eram da TVI e aposto que me iam perguntar o que era para mim a efeméride.
Recusei por pudor e discrição.

Lembro-me das camas de palha da quinta onde os homens da família refugiaram as mulheres e os miúdos pequenos, não fosse haver azar. Lembro-me dos anos seguintes. Lembro-me sempre da descrição do primeiro 1ºMaio e da pena que tenho de não ter visto "aquele dia especial; parecia que as pessoas eram todas amigas". Porque a efeméride foi isso mesmo, um dia de fé, o primeiro dia de tudo o resto.

23.4.08

'tou nem aí

Tenho a fantasia de fazer um out-of-office-reply no meu email.
Isso e usar este refrão como voice mail no meu telefone do gabinete.

20.4.08

knitting factory

We won't stop until somebody calls the cops
And even then we'll start again and just pretend that
Nothing ever happened


15.4.08

Tenho o cheiro do salmão nas mãos. A minha miúda adora salmão. Fresco e fumado. Durante uns tempos pensou que era fiambre. Eu desfiava-o e aldrabava-a. Nunca a consegui enganar com o bacalhau.
De resto, nada de novo. Comecei a usar ganchinhos que é o que acontece a quem corta o cabelo e depois não sabe viver a coisa. Já tenho as Birks do ano, mas não há meio de por os pés de fora. Não tricoto nada, mas encontrei a revista num escaparate nacional. Tenho vários ppt na agenda e já sinto alguma culpa por reciclar tanta conversa. O mundinho é demasiado pequeno para a repetição, estou sempre à espera de vislumbrar uma vítima anterior na plateia.
A verdade é que sinto o ciclo a fechar. Uma restlessness, um vento que sabe o meu nome.

11.4.08

rouge

Percorri-me. Ameacei um embargo logo na primeira frase. Quem é que me manda ser assim teatral? Mas era mesmo o meu anfiteatro, o meu corredor, a minha escola. Eu ao lado da Ana S a fazer exames; nós todos a meio da última fila a estafetar apontamentos; nós todos a meio da última fila a rir, a rir, a rir; a professora de Genética a explicar as ervilhas ao ar condicionado; os mistérios da produção do molho de soja; o meu futuro marido a entrar pela porta com um pullover vermelho e uma botas Fila.
Asfixiaram-me de abraços e cumprimentos, disseram-me que estava na mesma. Mentirosos. Na fotografia das praxes pareço a Mafalda. Agora sou a Susaninha.

9.4.08

blanc


Amanhã vou à minha antiga escola* falar sobre o meu "percurso".
Ontem resgatei fotografias e reconstituí memórias. Na luz molhada do fim do dia, empoleirei-as e recuperei sorrisos com dezenas de anos (1,x dezena de anos). Tão novos, éramos tão novos. Revi-nos e às nossas expectativas todas. Nós, uns miúdos com o cabelo comprido/ainda com cabelo/com o cabelo escuro, sem filhos, sem hipotecas. Nós sempre de T-shirt.
Quase que tive vontade de chorar. Aliás, tive vontade de chorar. Pelo que somos, pelo que não somos. Chorar de saudades minhas, nossas.
Não é que não tenha corrido tudo bem. Muito bem, mesmo. "Percorri" sítios e pessoas fantásticos. Escolhi sempre o que queria, quis sempre muita coisa. Chorar de orgulho por ter sido capaz, chorar por não saber se ainda tenho a mesma capacidade para querer. Sinto as articulações mais presas. Uma inflamação etária, social, económica, ontogénica.
Reconheço a maioridade pós-universitária: 1990-2008. No entanto aninho-me ainda no colo da escola.

*Para que não restem dúvidas sobre eu ter sido estudante na FCUL nos anos 90, ver fotografia acima (1993).

6.4.08

2.4.08

I also lost my fangs

A graça que acho a isto.

29.3.08

Se eu conseguisse organizar a logística capazmente, guardava a sexta-feira à noite para sair. Sair, jantar fora, beber uns copos, talvez mesmo dançar. É um desejo quase higiénico.

Ontem à tarde, depois de um dia pesado e mais uma semana das do costume, ouvi os ensaios. É uma coisa gira lá da minha escola, isto de ter um palco. Gosto de atravessar os corredores tropeçados de caixotes com cabos e cenários e homens de T-shirt preta. Gosto de ver a sala aberta, descer as escadas como se fosse entrar em cena. A menina, delirante e sem cerimónia, já se ensaiou. Levei-a um dia comigo e mais às tosses e aos meus processos; a sala estava aberta e agora a minha escola é a mais fantástica de todas porque "até tem um teatro!".

Ontem ouvi o piano e apeteceu-me ficar ali, a sair, mas não.

24.3.08

[hoje]

Estou um bocadinho de birra. Arrisco mesmo o contrariadinha. O campus está deserto, tenho que usar o cartão para entrar e por acaso só me apetece é sair. Tenho os pés frios e não consigo decidir-me sobre uns All Stars. Aliás, aborrecem-me todos os fabricantes de ténis.
Cheguei a sentar-me numa mesa de café e a trabalhar com o lápis no papel, sem google nem teclado, só para sair daqui um bocadinho. E a Fernandes não tinha Futuras pretas.
O mundo congemina e concorre para me contrariar.

*
[ontem]

Se tu fosses um animal, qual é que eras?
Um cavalo! (eu adivinhei)
E eu? Eu gostava de ser uma borboleta.
Não, as borboletas são muito pequeninas, tu eras uma girafa. Não, tive uma ideia, tu eras uma fada com uma borboleta e eu era o cavalinho da fada!
E o pai? Ò pai, o que é que tu eras? (pergunto eu, a tratá-lo por pai, uma coisa que confunde deveras o meu próprio pai)
Um tigre.
Ò pai, não queres ser antes um dinossauro? (pergunta ela; eu convulsiono-me de riso)
Não.
O pai podia ser uma zebra... (arrisco eu)
Não.
Está bem pronto, és um tigre amigo da fada e do cavalinho da fada.

História da mãe pirosa, o pai cota e a filha diplomata.

16.3.08





No filme, foi das cenas que mais impressionou. No final, quando os arquivos são abertos.
Na vidinha, remoo até hoje a história do protonamorado informador e do avô desbocado.
[...]
Eles escreviam em francês e a PIDE*traduzia o que interceptava, até os poemas de Aragon que ela citava em algumas missivas. Helena registou duas coisas: primeiro, as traduções eram boas; segundo, aquilo, só por si, era indicativo da "multidão" que prestava serviço à polícia.
O número exacto continua, contudo, a ser uma incógnita, devido também, embora não só, ao facto de parte dos registos sobre informadores e agentes ter sido queimado pela polícia no próprio dia 25 de Abril.
O arquivo da PIDE que chegou à Torre do Tombo é composto por mais de seis milhões de fichas, 500 livros e 20 mil caixas cheias de processos.
*PIDE: Polícia Internacional e de Defesa do Estado

14.3.08

Se eu, de facto, pegasse numas agulhas, *** *** ***.

black fairy

Ontem comprei um vestido com a minha amiga. Adoro-o e a minha amiga disse-me que eu parecia uma fada. O que não vale ter uma amiga destas.
Acontece que o vestido é, de facto, um bocadinho mágico. Apesar de a menina lhe ter lamentado a cor, o trapinho tem-me atapetado o dia desde cedo.

- Ò mamã, mas é de cor preta...
- E qual era a cor bonita?
- Corderosa!

Na estação, corro para um rápido e preparo-me para os solavancos da marginal em pé. Ali por volta de Caxias, o rapaz do casaco de carneira-que-não-era-carneira levanta o olhar espelhado e, enquanto se levanta precipitadamente, comanda-me numa voz de noitadas e brusquidão que me sente. Não, obrigada, não é preciso. Atrapalho-me com tanta solicitude e pondero se me imaginará grávida - o vestido é amplo, sem cintura - mas o sorriso dele é tão generoso, quase embevecido. Despeço-me no final, radiosa de descanso.
Na escola então, perdi a conta aos cumprimentos. Que coisa. Pena não ter encontrado o meu chefe.

9.3.08

Mariana! [grito]

Acabei de apanhar a minha filha a lamber o stick da cola.
Ontem à tarde, na mira de um croissant, atravessei o caudal docente que descia a Rua Àurea.
Cheguei à Confeitaria Nacional recuada de vinte anos, atordoada de lembranças e gula. Claro que àquela hora já não havia croissants.
Ruminei o bolo-rei e mais a minha vida, de mochila e cadernos. Na escola, sempre na escola. Curiosamente, sempre quis ser a aluna. Nem em pequenina queria ser a professora.
As minhas escolas foram sempre públicas, sou um produto do Estado Previdência, uma filha de Abril. Sou a geração PGA, a "não pagamos" das propinas universitárias.
Curiosamente, tenho um inglês excelente, made in British Council (provavelmente mais caro para a minha família do que toda a minha formação universitária junta).
Curiosamente, o meu trabalho hoje é gerir a escola, na escola. As propinas passaram a ser receitas próprias e sou uma convertida dos full costs. Porque a escola merece sustentabilidade, porque a escola é a sustentabilidade.
Mas ontem lembrei-me foi da escola onde já não vou há quase 20 anos. Que, em boa verdade, já não conheço. A minha filha ainda está resguardada no jardim. Claro que já me preocupam as escolhas. Gosto de pensar que vou (con)seguir o fio público. Mas ai os horários, ai que eu não trabalho na mesma cidade onde moro, ai que ela faz anos no fim de Novembro, ai, ai, ai.
Tive tantos professores que ja não me lembro de todos. Mas ontem parecia-me reconhecer-lhes as caras, os tons de voz, os exercícios. Eu aprendi na escola tudo o que sei. Agradeço-lhes isso para sempre.



os meus públicos


:-)


twin peeks


4.3.08

Do(s) tempo(s)

Quando eu era miúda, constipava-me. Agora, a minha filha tem infecções respiratórias.
Há uma certa modernidade, um status, na infecção respiratória.
Há, definitivamente, muito mais investimento:
material - os aerossóis, a multiplicidade de xaropes e antibióticos e sprays e brocoqualquer coisa,
parental - a minha mãe estava em casa, eu fico em casa,
emocional - os avós andam todos muito aflitos; os meus emprestavam-me lenços de pano e faziam canja, quando sequer sabiam do "assunto",
comunicacional - a rede social que envolve a minha filha é vários ordens de magintude superior à da minha infância.
Por tudo isto, agradeço o diagnóstico cosmopolita, pago a segunda consulta particular no espaço de uma semana e aproveito para aviar uns calmantes que me impeçam de transformar a patine de mãe sensata e controlada numa pasta esborratada de despenteio e exaustão.

1.3.08

United Kingdom of Ipanema

Muitas vezes entro só pelo cheiro. Cheirinho legal. Até vende em frasquinho. A colecção é pequena, pouco variada e o preço é obsceno. Mas tem nível. Lá que tem, tem.
Rio 40º ou porque é que me apetecia imenso lá ir.
Afinal a criança não tem a quinta doença, é só mau feitio. Dela, não fui eu que lhe dei estaladas.
Nos avós, decidiu que não deixava ver a febre. Decidiu e manifestou-o com gritos, choro e tosse puxada. Ficou com petéquias na cara (pintinhas vermelhas, muito pequeninas), uma estampa de mau génio, mimo e ranho, que já começa a amarelar.

27.2.08

A vida em Marte

Les contours de votre nouvelle vie s'esquissent. En attendant que s'impose une direction définitive, la diversité régnera et le travail sera accaparant. Mars (énergie) dopera vos neurones et votres fantaisie fera merveille.

Pois. Estou a ver. Está bem. Trabalho e pronto. Pronto, trabalho e isso.
Não há qualquer outra esperança para a minha Primavera.

23.2.08

discrevo

Imagino que deixei a minha para ventriloquar a ciência dos outros. Faço-o de muitas maneiras diferentes e ainda não me arrependi. É verdade que às vezes pingo uma nostalgia breve - acabo de segurar o meu velho livro verde - mas já nem os motores me encontram o passado e tão somente a metainvestigação.
Reincido na tra(ns)dução com dois textos da conferência; um homem livre e uma das pouquíssimas mulheres.
Aprendo o significado de bestow: Ana bestows herself in far too many activities and she is a little tired.
Literalmente, a tradução estranha-se e depois entranha-se. Fica-se possuído pelas ideias dos outros, dá-se-lhe uma nova voz, que não tinham porque as palavras não são iguais em todas as línguas. Imagino como será fazer traduções literárias. Replicar o meme com respeito e honestidade.
Às vezes é difícil não esgravatar o texto e aparecer. Não arrebitar ou corrigir o discurso. Traduzir é um exercício de discrição, não de descrição.
Calha-me bem, que funciono melhor na média luz*.

*Se fosse um candeeiro era um daqueles verdes, de biblioteca americana.

21.2.08

A minha filha está viciada em pensos rápidos.
Não lhe dói nada, não tem senão espigões e peles, mas inventa chagas sanguinolentas só para se enfeitar. Não admite uma saia, mas ainda assim é uma fashionista.

*

Ontem foi o meu dia. Tudo me correu bem. Tão bem que hoje já me parece que sonhei. Os meus dez minutos de fama foram na verdade meses, mesmo anos, de trabalho. Quanto mais natural parece, mais trabalhada está a coisa. Eu não acredito no improviso, na bucha, no ver se calha. Nenhum projecto tem apenas custos directos.
Ainda por cima levei um vestido perfeito por cima das skinny.
Sou, de facto, fantástica.

16.2.08

con_s/v_er_v/sa

Não, não se pode dizer que eu seja conservadora. Materialmente conservadora. Tenho poucos objectos históricos, o meu armário é aliás um corropio. Suponho que não devia ter dado o casaco de veludo, mas até isso seguiu. Guardei pouquíssimas roupinhas dela, uma chucha que não sei bem onde está e um falcon com o resto do cordão (argh). Não tenciono guardar dentes.

Conservador nos objectos para não o ser nas ideias.

Mantenho o saco preto das viagens. Emala a minha vida para uma semana ou três meses. Foi comigo a todo o lado. A minha aliança, os dois anéis. O meu pente azul. E está feito.
Não sei o que tentaria levar numa aflição. As fotografias de papel.
Quer isto dizer que tenho o intelecto forma/olizado?

12.2.08

Da categoria das palavras memoráveis: olvido, ordálio.

11.2.08

grafos



Como toda a gente, eu já tive muitas letras. Umas sinceras, outras produzidas. Ainda hoje escrevo com uma forma diferente em função da caneta, do papel, do texto, do destinatário. Na verdade, escrevo pouco à mão. Alguns apontamentos e brain stormings, listas de compras e de tarefas. Pensando bem, quase toda a minha manuscrita se reduz a lembranças e tarefas.
Reconheço meia dúzia de letras próximas - letras que também já escreveram e escrevem a minha vida. Estranho não conhecer a letra de tanta gente conhecida. (Re)conheço-lhes talvez o estilo dos emails.
Continuo a gostar de manusear as palavras, por vezes confortável outras impaciente. Não gosto particularmente de assinar.
Escrevo a preto, com feltro médio ou esferográfica grossa. Detesto canetas fininhas e já não uso tinta há que anos. Carrego médio mais, nunca hesito, como quando a ponta parece ensaiar o salto. Não uso a primeira linha e levito o pautado. Tenho várias formas para a mesma letra. Sou incapaz de escrever tudo em maiúsculas, até nos formulários me custa.

10.2.08

Eu gosto de sair à noite, ele gosta de sair de manhã. A menina gosta de sair.

7.2.08

Tenho saudades de estudar. Enquanto percorro o campus - estafeto documentos só para poder sair um bocadinho à rua - invejo-lhes os jeans descansados nos degraus, os ténis desacelerados, quase trôpegos, as fotocópias quentes.
Outro dia, no meio da trituradora, o meu chefe recordava os muitos meses que há muitos anos passou numa biblioteca no meio da América. Que o mais fantástico de tudo era não ter que falar com ninguém. Viver um silêncio monástico, confortável, entre os livros. Que agora não se conseguia calar os dias inteiros. Uma canseira.
Pois eu, que tenho fama de conversadora, também só me apetece estar calada. Ouço tantos disparates que preciso de resguardar-me da tentação de os confrontar com outros.
Uma vez ditas, as ideias começam logo a envelhecer e eu não consigo produzir mais ideias tão depressa quanto me exige o diálogo, o discurso, o caraças do debate.

5.2.08

intarsia


Intarsia é uma palavra fantástica.

mi_roir

Sim, gosto muito de ver o House, mas prefiro a Anatomia.
Outro dia, assisti a médicos crescidos, e outros crescidos não médicos, a gabar o Greg e a desfazer na Grey. Percebo que as razões deles são também as minhas, ao contrário. Sinto o explicável apelo da dimensão pessoal, romântica. Vivo uma vida da idade da deles. Tenho amigos como aqueles. Mas, muito mais relevante, é que eu também ainda estou em treino. Os crescidos divertem-se com o delírio brilhante do mestre. Eu preciso dos medos dos outros, das dúvidas e do consolo de que, pelo menos, não corro o risco de matar ninguém.

Post update:
You’re Meredith
Life has a way of handing out so many hard knocks that sometimes you just want to give up. And yet you always find a way to keep things hanging on. A little hope is a dangerous thing but you’ve earned the right to real happiness, go grab some for yourself.
Mas eu gostava do facto de serem encadernados a pano, e também gostava da forma: vinte e três centímetros e cinquenta por dezoito centímetros e quarenta, o que os tornava um pouco mais pequenos e largos do que a maior parte dos cadernos. Não sou capaz de explicar porquê, mas a verdade é que achava essas dimensões profundamente satisfatórias e, quando peguei pela primeira vez no caderno, senti uma súbita e incompreensível erupção de bem-estar. Restavam apenas quatro desses cadernos e cada um tinha uma cor diferente: preto, vermelho, castanho, azul. Escolhi o caderno azul, que era o que estava em cima.

Não havia neles nada de luxoso, nada que desse nas vistas. Não, aqueles cadernos eram muito simplesmente um artigo prático - resistente, despretensioso, útil, de maneira nenhuma o livro em branco que poderíamos escolher como prenda para um amigo.

Wrong, Mr. Auster, you are so very wrong.
Havia também uma pilha de cadernos alemães e outra de cadernos portugueses. Os cadernos portugueses exerciam sobre mim um fascínio muito especial e eu sabia que não resistiria àquelas capas duras, àquelas linhas quadriculadas, àqueles cadernos costurados de papel robusto, sólido, imune a todo o tipo de borrões.

Ocorre-me que todos os meus bons amigos gostam de cadernos e caderninhos. É uma partilha como qualquer outra, mas consola-me sabê-los comigo neste pequeno prazer.

joint (ad)venture

Perdi o filme e o resto. Tenho pena, como as galinhas. Consolo-me com as músicas e a certeza de que I just don't think I'll ever get over you (in a good, lively way).

2.2.08

ceci n'est pas une plaie


É um dedo fashion.

campo grande follies

Eu sou daquelas pessoas que precisam de alguma pressão para produzir mais e melhor. Por coincidência ou procura, quase sempre me enquadrei entre deadlines. Na minha escola os exames eram por época, sem frequências, um tudo ou nada académico que nos recolhia durante semanas. No laboratório havia sempre mais um resultado pendente, uma expectativa, mais um bocado de gene novo na base de dados (na altura as bases de dados ainda traziam verdadeiras novidades todas as semanas), um paper publicado pela concorrência. Publish or perish.
Depois vieram as redacções e um relógio verdadeiramente implacável. Todos os dias há um jornal novo, as notícias finam-se ao minuto. Publish or publish.
Nas últimas semanas revivi isto tudo e mais um queijo. O texto, os números, as ideias, a política, as correcções, a política, a edição, os títulos, as páginas, o formato, a política, outra vez os números, a hifenização, o número de parágrafos, a gráfica, os documentos de suporte, o calendário. Falta o queijo. Falta sempre qualquer coisa. Perish or perish.

25.1.08

Ainda não me habituei a que tu não estás só com um ar esgroviado, agora és mesmo assim.

Ele. O meu tudo que ainda assim me música.

24.1.08

status

Não percebo como é que ainda não me arrependi.
Deve ser porque afastei a cor(quera)tina que me guardava do mundo, mas parece-me que toda a gente olha para mim. Com surpresa, riso e, gosto de imaginar, inveja. Olha o que esta maluca fez ao cabelo.
Basicamente, apeteceu-me copiar a miúda. A miúda que é igual a mim e fica tão gira assim, curta. Também é verdade que o meu cabelo me andava a fazer infeliz. Uma infelicidade armada de secador e escova e presa em nós e cremes e aquele frisado de inverno que me destrói. Depois há a transposição psicológica, a renovação, a audácia, a coragem, o despropósito. Quanto mais responsabilidade tenho mais procuro o despropósito. É infantil e crescido ao mesmo tempo. Sou um Peter Pan de calças rotas e eyeliner. Estatuto-me de pequenas revoltas. Sentada à direita, apresento um colarinho branco com riscas abotoadas no tweed. Contabilizo seis botões de punho à mesa, demasiadas gravatas (porque é que não há mais mulheres?) e umas calças rotas.

20.1.08

abstruso


Numa palavra, o meu cabelo.

18.1.08

cum mula peperit

Faço tanto relatório que já quase só falo por indicadores.
Consigo itemizar o que for preciso e extrair soundbites.
Aliás, devia oferecer os meus serviços à publicidade. Eu, que gosto tanto de títulos, também sei inventar nomes. Tenho três epifanias fantásticas em carteira. Não sei se a Universidade está preparada.

Ontem ligaram-me da revista. No Brasil querem usar um texto meu para um manual escolar. Aquelas duas páginas, esgalhadas sob o sol de Agosto numas férias ao Douro, continuam a ser populares. E eu que escrevi tantas coisas difíceis.

Pois bem, aceito o meu destino. Nunca serei uma novelista, mas não é desta que deixo o blog.
A Universidade tem pares e tem ímpares.
Eu sou um número primo.
Apanheia-a dobrada pela cintura, com o alto da cabeça encostado à televisão,

Ò Mariana!

Mamã, estou a levantar os cabelos.
Parece que toda a gente queria ser o Dr. House.
Aposto que se lhe inveja mais o mau feitio do que a genialidade. O problema é que toda a gente consegue ter mau feitio, mas quase ninguém o resto.

3.1.08

Há que tempos que não me queixo capazmente. Postas de autocomiseração empalhada em trocadilhos de polichinelo. Aproveito que ele vê a vida dos dos outros para encerar aqui a minha. Já vi a vida daqueles no King. Onde vou uma vez por ano e nem sei se ainda abana com o metro.

Hoje fui trabalhar depois das festas e claro que cheguei triturada. É impressionante, é mesmo do outro mundo, isto é incrível. Eu, toda camuflada de thalasso, firme na ganga e no azul, discursiva sobre as resoluções do ano, quasi-bronzeada e trambolhei-me toda na mesma. O meu gabinete devia chamar-se Uni-ER. Libertei-me num risinho histérico quando me chegou o terceiro email do dia a pedinchar ajuda de gentinha que nem sequer me é afiliada, que não é sequer de uma Universidade portuguesa. Caramba, chegaram-me pedidinhos do Brasil sobre citologias vaginais em cadelas!
O que nos vai valendo é a contemporaneidade dos logotipos. Estará a União a pagar royalties só para animar a malta?

2.1.08

Querido 2008,


Para além desta fixação pelo azul, começo-te esperançosa de muitas outras cores. Larguei-me de pretos e cinzentos e hoje cheguei mesmo a remexer um vermelho. Esforço-me desde já para manter esta amplitude da paleta. Bem vejo os resultados que tem na pisca marisca. A minha filha é tão mais porreira do que eu.

But I see your true colors
shining through
I see your true colors

Quero um espelho destes de hotel. Um olho giratório, ora distraído, ora predador.

so don't be afraid to let them show
your true colors

Não me quero perder de vista.

royal wink


Levei-o no meu sonho azul / Azul, azul / Da cor do mar / Levei-o comigo


Trouxeram-me os amigos um saco fantástico. Claro que não vou esbanjá-lo com batatas. Integra já o meu arsenal Inverno 2007/08.
Hoje equipei-me ainda com um pisco real.

1.1.08

28.12.07