story:tell:her

14.12.06

Cranalogia

Tenho a certeza que me destronará, é uma líder. Não o temo e não é por isso que a quero comer. É mesmo por gula. Uma gula voraz, forte, sentida. Uma vontade física de a engolir. Às vezes contento-me com umas mordiscadelas, uns beliscões ternos, uma massagem. Outras vezes só me satisfazia se a devorasse. Se tivesse uma língua grande, de leoa, também a lambia.
Já tenho recuo que me permite apreciar a evolução do petisco. Começou leve como claras, um soufflé de filha com cheiro lácteo. Encorpou-se numa carne tenra, macia, suculenta da gordurinha de bebé. De dia para dia afirma-se, esguia, ágil, fresca. Ainda me restam umas bochechas e compenso-me com abraços apertados e aquele quentinho de cama que lhe roubo sem culpa. Temo ao pensar que qualquer dia me imporá dieta.