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15.2.05

Na urna, à esquerda

Acabei de consultar o site da Comissão Nacional de Eleições e já estou mais descansada: posso votar sem BI mas com carta de condução ou por atestado de identidade por parte de dois eleitores que o declarem sob compromisso de honra. Ora 1)eu tenho carta de condução e 2)os meus pais votam na mesma escola que eu e acho que me poderiam declarar eu própria sem grande esforço.
É que eu acho votar um dever. Só falhei o referendo do aborto em 98 porque estava na Escócia. Fico sempre ligeiramente nervosa quando enfrento o boletim de voto, não porque não saiba o que fazer, mas pela excitação de o fazer.
Nos anos 70/80 os meus pais eram politicamente activos. Passámos muitos serões na Secção, eles em sessões de esclarecimento e eu a transpirar brincadeiras. Lembro-me perfeitamente do primeiro recenseamento e das tostas mistas comidas às tantas da noite. Fui a muitos comícios e manifestações. Lembro-me de chorar imenso à porta da prisão de Caxias porque tinhamos lá ido gritar a não me lembro quem que era Amigo e a gente está contigo e eu de repente achei que iam prender os meus pais. Naqueles tempos comemorava-se tudo e havia sempre o recanto dos miudos com frascos de iogurtes cheios de tintas coloridas e papel manteiga. Eu sabia desenhar barcos, moinhos, cravos e um punho. Às vezes tenho saudades do voluntarismo daqueles tempos, da motivação, dos poemas e das canções, da intervenção. Hoje isso parece tudo muito demodé. Sim por não a Mariana já se manifestou duas vezes: em Monsanto contra o Santana Lopes, a Feira Popular e outras bizarrices e à frente do Palácio de Belém, por eleiçoes antecipadas. E ganhámos.