story:tell:her

15.2.05


Tenho saudades da minha piolha. Já não a vejo há quase dois dias. Ouço-a quando falo ao telefone. O avô João bem se esforça para que ela fale, mas eu sei que fica com aquele ar curioso e tenta é por o telefone na boca. Cuidado para não ficar com verdete como aconteceu ao meu.
Estou a trincar um quadradinho de chocolate, que ainda não me sabe a muito, para tentar ultrapassar a carência. Apetece-me chorar um bocadinho, mas vou resistir à auto-comiseração. É claro que ela não vai ficar zangada comigo, nem por isto nem pelos esguichos de soro que lhe enfio no nariz, ou por lhe vestir as camisolas que ficam sempre um bocadinho torcidas, ou por proibir de mexer nas tomadas, por ter o gorro sempre à mão, por não deixar comer porcarias do chão, incluindo pedras da calçada, por não deixar mexer em todos os cães, enfiar as mãos na sopa ou subir as escadas sozinha. Pois não vai nada. E ainda há-de saber dizer bem Mamã.