story:tell:her

24.3.13

Es:tampa

A estampa estava ao baixo no banco do jardim. Travada por quadros sujos e uma estatueta africana. Já tinha um rasgão do vento e das obras.
Eu não gosto do neorrealismo, mas gosto do neorrealismo. Eram dois homens, largos, claro. Dois homens de feições duras, claro. 
Segui.
No meio das obras e do vento, voltei a procurá-los. Para confirmar que não gosto do neorrealismo e que não queria dois homens largos e duros pregados no meu estuque recuperado. Uns gaibéus com quase um metro de altura a fitar-me os florões do tecto.
Procurei o capataz do meu desassossego, esperando, claramente, um homem largo. Respondeu-me, desinteressado, que eram 50 euros. Não olhou para mim, não pegou na estampa. Disse que estava rasgada. Estava rasgada. Foi o vento e a falta de cuidado. Rasgou pelo topo da improvisada prensa colonial.
Eu nem aprecio o neorrealismo. 
Uma pessoa vai às feiras porque quem vende gosta tanto das coisas como quem compra. Porque as peças passam de mão num contínuo de respeito. 
E eu respeito muito o neorrealismo. Tenho de ir a Vila Franca.