story:tell:her

13.11.06

Baby pink



Olhando-me, aqui no blog por exemplo, diria que sou uma mamã entre o fucshia e o lilás.
A coisa não é fácil e não é como mais nenhuma outra coisa difícil. Eu não sabia ao que ia, acho que ninguém sabe. É impossível imaginá-los e a nós e ao mundo connosco. Tem tanto de extraordinário como de aterrador. Lembro-me de um jantar, no Kalpna, onde a mulher do meu chefe, mãe de três, nos confessava, e a si própria, que os momentos mais maravilhosos e os mais devastadores lhe tinham chegado com os filhos, pelos filhos. Entre os vários serões que partilhámos (incluindo as narrativas das tentativas de depilação - dele) este é o momento que mais me ocorre. Talvez competindo com a vez em que agradeceu alegremente a garrafa de Porto privado de 1947, enquanto a limpava com um esfregão (sujinho, hem?) e vertia estrondosamente em copos de whisky.
Claro que a culpa não é dos putos, é nossa. A minha é mesmo muito minha. Muito mais minha do que de qualquer outra entidade singular ou colectiva. E o mais irritante de tudo é esta certeza de que contribuo para a propagação do equívoco, que o inflatuo e transporto, que quase o acarinho. Mil vezes estúpida. Hipoteco o humor com frustrações de cotão, (des)oportunidades pedagógicas e jantares insonsos. Culpo-me por todos os lados menos por um que é o istmo. Peninsulo-me, às vezes muito estreitinha, quase a derivar. Quero ser confiante, calma, segura, competente, alegre, sexy, divertida, inteligente e já agora ter o cabelo liso. Sou muitas vezes hesitante, instável, furiosa, desligada, olheirenta e, definitivamente, encaracolada. E isso é que é normal. Os superpoderes de almanaque trazem aos heróis uma profunda solidão.

[via mothern, para ler na Época]