story:tell:her

2.12.05

O meu gabinete tem um ar condicionado que ainda não domino. Tenho as mãos frias. Lá fora continua miserável. Tenho uma baba de melga na testa. Só na minha casa é que ainda devem viver melgas, o que provavelmente ajuda ao argumento de que ainda não é preciso ligar o aquecimento. Sonho com a toalha de banho quentinha. A dela aqueço no radiador. Mãos frias, coração quente, amor ardente. Tirei o verniz vermelho e agora tenho umas marcas rosadas nas bermas das unhas. É mais ou menos como ter raízes no cabelo. Eu não era nada de unhas, mas agora sinto falta daquele carmim no teclado. Parece que me aliviava a pressão do que lá escrevo. Unhas carmim, trabalho pendente, cabeça ausente. Trouxe a camisola nova. É quentinha. Penso no casaco. Está-se mesmo a ver que não vou gostar de nenhum. Queria preto, por cima do joelho, cintado. E o forro, aposto que não vai haver forro de jeito. Deu-me para o preto. Eu, que não era de preto. Mas fica bem com as unhas. E com o batôn 155 da Biotherm, que não encontro em lado nenhum, só vi a amostra. Devia ter trazido a amostra. Estava nova, ninguém compra maquilhagem Biotherm. Agarro o bafo em concha. Vou saber se está melhor. Mãos quentes, coração frio, amor vadio.