story:tell:her

29.7.05

Carta aberta

Queridos amigos,
Preciso de pedir-vos desculpa pela treslouquice, pela falta de notícias, pelos telefonemas entrecortados de guinchos, pelos temas fráldicos das conversas, pelo olhar deslocalizado e o discurso incoerente. Pelas migalhas que, apesar dos meus esforços de shiiva, ainda vos atingem. Pelos "temos que combinar" que nunca acontecem, pelos jantares que não partilhamos, pelos aniversários esquecidos, pelo humor inconstante.
Eu não sou a mesma. Não sou porque ninguém é sempre o mesmo e porque há 20 meses que de mim saíram duas estranhas. Ela e eu. Eu antes tinha um tempo que agora escorre, uma lucidez que desconheço. Ela exige-me aquilo que me habituei a dar-lhe, eu própria, quase toda. Sobra pouco para nós, sobra pouco para mim.
Desculpa querida S. por não conseguir desempacotar mais disponibilidade para partilhar a tua barriga, mas a minha ganhou, literalmente, vida própria. E não te impressiones que nem todas somos assim. Deve haver mães e filhas compostas, equilibradas, com casas arrumadas e pés lavados guardados em sapatos (ela às vezes não tem as meias tão sujas de andar descalça, juro). Deve haver.
Mil beijos para a Marta e um abraço alargado para ti
Ana