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19.7.05

Ahead

Embora ainda esteja tanto calor, não consigo evitar de pensar na rentrée.
No emprego novo, na escola nova, na vidinha que cresce e será tão diferente de agora. Sempre que vamos ao parque, que borregamos no chão da sala ou compramos o pão de manhã penso que tenho que aproveitar, que o tempo vai ser mais curto, os dias mais escuros, se calhar até voltará a chover. A Mariana não sabe o que é chuva.
Penso se vou de carro ou de transportes, que demoro uma hora de comboio e metro (um dia tricoto, um dia leio), que nunca se sabe o que se demora de carro, que não gosto de guiar tanto, que não gosto de ser mais uma a entrar na cidade, mas que na saída ganho sobre rodas uma boa meia hora de piolhice.
Imagino a escola dela, os bibes aos quadradinhos azuis escuros (que temos que ir lá buscar, note to self), umas botas novas, a excitação de uns dias, os choros doutros, as doenças pegadas por todos, o custo de afastar o edredão nos dias cinzentos.
Recupero a memória de roupas mais próprias, mais direitas, tenho que comprar um bom fato e um blazer giraço, não cedo nos sapatos.
Já tenho mil ideias, todas igualmente absorventes, para as tarefas novas. Por este caminho é melhor contratarem já uma dúzia de eus. Preciso de um caderno de capa rija e uma agenda. Apetecia-me uma Moleskine, onde haverá?
Sorrio-me com a possibilidade de voltar a almoçar com o meu amor, de partilhar a maçã assada a ver o lago. E ela, será que gosta da comida da escola? Não é niquenta, a minha linda, mas quando não quer comer não há meio. Não gosta de bananas, tenho que avisar que não gosta de bananas.
O fato devia ser cinzento. Não muito escuro. Vou tricotar um cachecol cor de beringela. Vou encomendar as instruções do gorro e fazer um para cada um de nós. Vou ler romances e marcar as páginas com listas de compras. Vou dar-lhe banhos demorados e apertar ainda mais a trouxa de turco e menina.
Vamos ser muito felizes, de gorro.