story:tell:her

13.5.05

1+1+1

Acabei de deixar a minha piolha em casa, bem disposta, a construir blocos com a Ângela. Só volto a vê-la, a beijá-la, a esmagá-la de abraços, no domingo. Vai passar o weekend com os avós, que pediram para a gozar estes dias. Vai divertir-se à brava, lá onde há cães e galinhas e um jardim grande. Empacotei-lhe as roupas, as comidas, os livros preferidos do momento. O pai vai pedalar para Meca com os amigos, eu fico sozinha em casa, dois dias inteiros para fazer o que me apetecer. E apetece-me tanta coisa que se fizesse uma lista eles tinham que ficar fora um mês. Quero dormir até me apetecer, tomar o pequeno almoço sentada, com calma, ler o jornal, ler uma revista, ir ao cinema, passear pelas lojas de roupa, pelas livrarias, fazer um colar, comer pasta, tomate e mozarella o tempo todo, arranjar os pés, limpar o jardim e plantar os cheiros, espreitar galerias, passar pela Gulbenkian com um batido de pêra na mala. Gosto muito de estar sozinha, sempre gostei. Acho aliás que é disso que sinto mais falta depois da maternidade. E gosto de sábados temáticos, uma nóia que ficou da Escócia. Apetece-me ler num degrau (ela herdou essa mania, de usar desníveis como assento).
Sei que há mães que nunca se separam das crianças, que nunca passaram noites longe. Eu acho que sou bastante agarrada, mas não sou assim. Não calha assim e até acho bem. Custa-me muito deixá-la. Estou aqui quase a chorar. Mas sei que depois me sabe bem, que preciso de descansar, que se estou presente faço tudo, mando tudo, sou tudo. Que só a distância me cura disso. Que ela não é só minha. Os filhos não são só nossos, são filhos doutro, são netos, primos, amigos de outras pessoas. Pronto, agora já estou mesmo a chorar. Sou uma totó. Aliás, estou de totós. Apeteceu-me, hoje de manhã, segurar a solteirice com dois elásticos.