story:tell:her

26.4.05

Abril 4 Ever



Ontem vimos Lilya. Não é um grande filme, mas não me sai da cabeça. É um filme grande, lento e doloroso, de propósito. Não entretém, documenta.

Na casa da Mrs Feeney, no quarto ao lado do meu, vivia a Marina. Era química, usava duas tranças juntas num carapito, colares de âmbar e tinha ícones ortodoxos na cómoda. A Marina era da Geórgia e contou-me como foi acordar e não ter nada de seu. A Marina era nova, mas parecia velha, de outro tempo, outro bloco.

Noutro ano, no mesmo quarto, morou um físico, mongol como nos desenhos animados do Marco Polo. Era do ***beijão/istão, que eu tive vergonha de perguntar exactamente onde ficava.

A mãe da Ângela, que está agora a trabalhar lá em casa, levanta-se todos os dias às 4h30.

Os blocos da Lilya, as roupas da Lilya, a luz, o frio, também da Suécia.

Quando eu era miúda não havia um centésimo dos brinquedos que há hoje. Não havia sequer para comprar. Os cartazes colavam-se com trinchas largas, daquelas de caiar.

O desenho lembra-me tão bem o papel manteiga, os pincéis no frasquinho de iogurte, as cores.