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9.3.08

Ontem à tarde, na mira de um croissant, atravessei o caudal docente que descia a Rua Àurea.
Cheguei à Confeitaria Nacional recuada de vinte anos, atordoada de lembranças e gula. Claro que àquela hora já não havia croissants.
Ruminei o bolo-rei e mais a minha vida, de mochila e cadernos. Na escola, sempre na escola. Curiosamente, sempre quis ser a aluna. Nem em pequenina queria ser a professora.
As minhas escolas foram sempre públicas, sou um produto do Estado Previdência, uma filha de Abril. Sou a geração PGA, a "não pagamos" das propinas universitárias.
Curiosamente, tenho um inglês excelente, made in British Council (provavelmente mais caro para a minha família do que toda a minha formação universitária junta).
Curiosamente, o meu trabalho hoje é gerir a escola, na escola. As propinas passaram a ser receitas próprias e sou uma convertida dos full costs. Porque a escola merece sustentabilidade, porque a escola é a sustentabilidade.
Mas ontem lembrei-me foi da escola onde já não vou há quase 20 anos. Que, em boa verdade, já não conheço. A minha filha ainda está resguardada no jardim. Claro que já me preocupam as escolhas. Gosto de pensar que vou (con)seguir o fio público. Mas ai os horários, ai que eu não trabalho na mesma cidade onde moro, ai que ela faz anos no fim de Novembro, ai, ai, ai.
Tive tantos professores que ja não me lembro de todos. Mas ontem parecia-me reconhecer-lhes as caras, os tons de voz, os exercícios. Eu aprendi na escola tudo o que sei. Agradeço-lhes isso para sempre.