story:tell:her

14.12.07

Na rua principal cá da vila há uma loja de vestidos. Todos os dias, quando descemos a calçada, eu lá miro os tafetás.
É uma loja improvável, aqui no meio do bairro, ao lado da junta, antes dos frangos. Farto-me de pensar quem é que comprará aqueles vestidos. São muitas vezes compridos, folheados, pregueados, brilhantes. Suponho que sejam vestidos de casamento, de peralta, de finalista das privadas. Onde é que uma pessoa vai naquele preparo? Palavra que eu cá não tenho onde mostrar os ombros, o colo, a nuca. Não tenho.
Ninguém se casa. Não há bailes. Passo o fim de ano com camisolas de lã. Nem que me engane consigo justificar aquele curto do outro dia, cai-cai, numa seda verde escura; um laço à frente.
Mas preciso de uma camisola de gola alta.