story:tell:her

16.1.06

Depois de me guiar para os saldos a um sábado, hoje trouxe o carro para Lisboa. Questiono-me. Eu sou uma miúda do transporte público, daquelas que não era preciso levar a casa. Não gosto muito de guiar nem de insultar os outros. Aburguesei-me? Claro que vou votar à esquerda, mas desta vez isso nem é muito significativo, que são tantos.
A miúda está tússica e estava muito frio. Sucedi na primeira prova ao sair incólume da garagem. Recordo a bolha, enquanto meço Golfadas de mala. Estava tão atrasada, tão preocupada com um putativo telefonema febril, tão a uma hora de a poder resgatar. Vim.
Teorizo que uma das razões para as filas de trânsito é a condução de feira, com acelerador e travão, sem caixa. Não se percebem estas lagartas de lata no asfalto, acordeónicas, imprevisíveis. Ganhei a meia-hora que me acolchoa a culpa. Falo sobre o trânsito.
Lembro-me da tosse. Ontem fez birra para tomar xarope. Sim, para tomar mais uma vez. Acha graça à boca aberta. Estava tão instável, tão chorosa e tolinha. Cruza os braços e encosta-se às paredes, a choramingar. Uma dramédia caseira. Nem me aborreci com ela, tão ridícula era a personagem. Pobrezinha, não saiu de casa o dia inteiro, de ranho em punho. Logo vou ganhar outra meia-hora de (des)consolo e isso desculpa-me.