story:tell:her

13.6.05



Porque há memória de diversões e romarias bem dispostas, porque há 10 anos que tres/andamos juntos a sardinhas e chouriço assado, porque o imaginário se constrói de imagens no coração e não na cabeça, lá fomos. Aconcheguei-me na fé alheia e pedi ao Santo pela minha filha.

Lisboa nasceu
Pertinho do céu
Toda embalada na fé
Lavou-se no rio,
Ai, ai, ai, menina
Foi baptizada na Sé


A minha mãe nasceu em Alfama e durante anos a peregrinação era acompanhada de relatos vividos de casas minúsculas, condições sanitárias deficientes, vizinhaças e brincadeiras nas inclinações da vidinha de bairro.

Já se fez mulher
E hoje o que ela quer
É trovar e dar ao pé
Anda em desvario
Ai. Ai. Ai, menina
Mas que linda que ela é!


O meu avô não deixava as filhas ir nas marchas, porque parece que não era coisa de meninas sérias. Nós também não bailámos que a música oscilou entre a batida disco e a brasileirice popular. Não gostei nada das colunas exorbitantes, dos cachorros quentes (cachorros?!) e da sujidade desmoralizada. Pobrezinhos, mas asseados, não era? O sonho custou-me dois euros e meio, mas vá, que trazer as cadeiras da sala para o povo sujar de pimentos tem o seu preço.

Um craveiro numa água furtada,
Cheira bem, cheira a Lisboa!
Uma rosa a florir na tapada,
Cheira bem, cheira a Lisboa!
A fragata que se ergue na proa,
A varina que teima em passar,
Cheiram bem porque são de Lisboa,
Lisboa tem cheiro de flores e de mar!