story:tell:her

20.6.05



Porque, como se queixava a semana passada uma grande amiga, também me sinto a cair nos clichés todos, a fazer tick nos quadradinhos básicos da vidinha, que é boa, muito boa, mas que está lá já toda como presente e não como uma série de alternativas em futuro aberto. Porque já percebi como é que os pais têm muito menos amigos que nós. Porque a piolha faz sempre as birras comigo, respinga durante uma hora, dá dezenas de tolas na cama, obriga-me a ralhar, a palmar, a recrutar recursos pedagógicos que ninguém me ensinou, que muitas vezes não tenho. Porque eu, drained, a abandono ao pai e ela adormece cinco minutos depois. Porque eu, embora obviamente não seja soporífera, tenho muito sono. Porque as minhas vontades vêm sempre depois de todas, mesmo que pareça que mando muito. Porque os alunos não enviaram os trabalhos. Porque tenho demasiados caracóis e o secador é uma chatice ainda maior no verão. Porque na praia já não tenho momento para pensar nas estrias, nos pêlos, nas marcas do biquini. Porque todos os dias é preciso jantar e, ao fim-de-semana, almoçar. Porque acho mesmo que já fui mais inteligente, agora sou só mordaz e isso às vezes engana.