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7.3.05

Manel

Gosto muito de Manel. Do nome e deles. O pai chama-se Rui Manuel. Se a piolha fosse um piolho era Manel. O Manel era o pai da Patrícia. Um homem bonito, com uma voz forte. Vai fazer oito anos que teve que se ir embora. Parece que não gostava de canela. Mas gostava muito da Pat. Eu gostava muito que ele nos desse boleias quando saíamos à noite. Porque eram boleias de espaço, de tempo e de mimo. "Vão para onde?", "Para a Curraleira, comprar droga", respondia a Pat, naquele mau feitio encenado, que ele conhecia tão bem. Uma festa no cabelo castanho dela, mal apanhado com o elástico amarelo, um sorriso cúmplice, o sorriso mais cúmplice de todos.
Foram todos levar-nos à camioneta para Paris. Deviam estar preocupados, os pais, que é isso que os pais fazem. Recusámos o avião, mesmo depois do Manel lá ir à agência. Era mais caro do que as moedas de 200 escudos que tínhamos juntado para a viagem. E fomos, e tivémos que ir pedir ajuda aos colegas do banco de Paris quando os cartões não funcionaram.
Tratava-me por você e eu achava bonito. Lembro-me de me perguntar pelo casamento, já lá para o fim. Foi pena, não ir ao casamento. A Pat foi minha madrinha e estava tão bonita. Ela é muito parecida com ele, com as feições fortes suavizadas pela delicadeza da Glória. O Ricardo é muito parecido com ele. É muito bonito o Ricardo.
Gosto mesmo de Manel.